"There's a fear I keep so deep / Knew it name since before I could speak (...) If some night I don't come home / Please don't think I've left you alone"- Keep The Car Running, Arcade Fire

quinta-feira, 31 de março de 2011

Para o resto de nossas vidas

Tive um dia cheio ontem. Depois de uma viagem ao Rio, a trabalho, ainda tive forças para fazer uma caminhada/corrida noturna. Cheguei em casa às 23h, tomei um banho e, um pouco antes de dormir, sentei no sofá, para ver minha mãe zapear entre os canais.

Demos de cara com isso:



O vídeo acima apresenta a primeira parte do filme "Peter's friends" - em português, "Para o resto de nossas vidas" -, de Kenneth Branagh - 1992. Não consegui achar a versão legendada, logo, postei a original. Difícil entender aquele inglês britânico na conversa inicial, não? Tranquilo. Mesmo assim, aguente até 3:54. A música "Everybody wants to rule the world", da dupla Tears for Fears, embala uma sequência de imagens linda, com os acontecimentos mais marcantes/importantes entre os anos de 1982-1992. Eu me arrepiei vendo... E estou arrepiado agora, revendo o vídeo enquanto vou bolando esta postagem.

Ah, talvez não seja tudo isso. É bem provável que as imagens, aliadas à música, emocionem a mim por algum motivo que, inclusive, desconheço. Um saudosismo bobo de alguém que, apesar de não ter lembranças muito claras quanto ao começo da década de 80, se recorda bem do final da "década perdida" e do começo dos estranhos anos 90.

Não bastasse o começo da película, que acabou prendendo a minha atenção, o filme é um achado. Uma obra cinematográfica fácil, uma "quase comédia".
Eu disse "quase".

A história gira em torno de um grupo de amigos ingleses, todos, egressos da Universidade de Cambridge. Separados pelo próprio andamento da vida - sempre ela... -, eles têm uma nova chance de se reencontrar, 10 anos depois do último contato, que se deu em 1982. O convite parte de Peter que, ao herdar uma mega mansão de seu pai, acredita que já é hora de rever os grandes amigos, e escolhe a passagem de ano para reuní-los.

Um final de semana não vai mudar a vida de ninguém... Ao menos é o que parece.

Uma década depois, a amizade entre os personagens continua intacta. Gosto muito da cena em que eles chegam à mansão, e todos vão se abraçando, felizes e emocionados. Depois de devidamente instalados, eles começam a conversar... E aí, aparecem os complicadores. A passagem do tempo oferece soluções para muitas coisas, mas nessa bagagem estão inclusos problemas, medos, coisas por dizer, arrependimentos etc. É pegar ou largar, companheiro. Viver é foda, morrer é difícil, concorda? Eu pego. E vamos levando.

A partir desse momento, o filme torna-se tragicômico. Você ri de várias coisas, mas sabe que, no fundo, o assunto é sério. Ah, e ainda existe um segredo que só é revelado no final... Que por sinal, é bem bonito.
"Para o resto de nossas vidas" é um filme sobre amizade e sobre a dificuldade de lidar com o começo da vida adulta. Mais do que isso: é um pequeno tratado sobre a arte de rir e chorar com os amigos, por tudo o que a vida coloca na nossa frente.

Pegue um copo, junte a sua turma e faça um brinde.
Estamos vivos.


Por Hugo Oliveira

quarta-feira, 30 de março de 2011

Discoteca Matinal Vol. 1


"Lights and music" - Cut Copy


"Crystal" - New Order


"Night by night" - Chromeo


"American boy" - Estelle


"21st century life" - Sam Sparro


"TiK toK" - Ke$ha


"Promiscuous" - Nelly Furtado


"4 minutes" - Madonna


"Groove is in the heart" - Deee-lite

Por Hugo Oliveira

segunda-feira, 28 de março de 2011

Feito água parada


Saiu de sua cabana e quedou estático mirando apatetado os flocos de neve. Afastou o capuz, abriu de leve a sobrecasaca, queria poder sentir a pele gelando. Seria o frio exterior pungente e tranquilo como o que alimentava sua alma?

Há quanto tempo não via um homem? Três, cinco anos? Ali, foragido, exilado, de que importava o tempo? O que isso significava?

Olhava em volta, tudo coberto pelo gelo. Uma rajada mais forte de um vento seco o fez regozijar-se de ainda possuir a capacidade de sentir, ainda que frio.

Em um fio de voz, balbuciou uma antiga canção de um de seus álbuns favoritos – Quanto daria para poder te ouvir, Joni! - Sentiu o peito apertado e sorriu ao imaginar suas possíveis lágrimas congelando em seu rosto. A aparição de um pensamento infantil foi como uma fugaz mornidão em meio ao frio constante.

Mas mesmo esta breve reflexão foi abafada abruptamente. Seu mandamento primeiro era não olhar para trás, para que não sentisse falta dos seus. E o vento que agora gelava sua garganta cismava de lhe trazer o passado, os motivos que o fizeram querer sumir.

Sentiu-se por um instante fragilizado. O vento, cada vez mais intenso, assemelhando-se ao mundo de outrora, parecia querer derrubar sua fortaleza feita de solidão.

Voltou então cambaleante, como se cada passo exigisse uma força muito além do seu alcance. Ao encontrar-se novamente em seu refúgio – tentativa mal sucedida de lar -, sentou em um canto, respirou fundo e fechou os olhos com força, acarinhando sua barba esbranquiçada, sabe-se lá se pela neve ou pelo tempo.


Por Ricardo Pereira

Domingo em preto e branco

Belezinha? Let’s go: o domingo por aqui foi dedicado ao cinema. Aos clássicos do cinema. Assisti a três películas em seguida. Todas de diretores famosos. A primeira é uma das grandes obras do neo-realismo italiano, “Ladrões de bicicleta”, de Vittorio De Sica – 1948. Numa Itália devastada pela 2ª Guerra Mundial, um pai de família, Ricci – interpretado pelo novato Lamberto Maggiorani –, acaba conseguindo o que muitos estão a procura: um emprego. Só tem um problema... Ele precisa de uma bicicleta para exercer sua nova função, de colador de cartazes. A mulher de Ricci, Maria – Lianella Carell –, coloca os lençóis da casa no penhor, para conseguir o dinheiro que vai patrocinar o meio de transporte. O final feliz poderia pintar a partir desse ponto, mas algo muito triste acontece. A bicicleta é roubada no primeiro dia de trabalho. O filme então se transforma numa busca desesperada pelo veículo, empregada pelo pai de família e por seu filho, Bruno – um moleque chamado Enzo Staiola, que deixa qualquer um emocionado apenas com olhar. Eles buscam pistas, conversam com possíveis suspeitos e até visitam uma vidente, na tentativa de encontrar algum indício quanto ao destino da bicicleta. Cruel, muito cruel.





O segundo filme, “Os incompreendidos”, de 1959, é o primeiro que veio ao mundo pelas mãos de François Truffaut. E não é pouco: se tornou um dos títulos indispensáveis do movimento conhecido como “nouvelle vague”. A película conta a história de Antoine Doinel – Jean-Pierre Léaud –, um pré-adolescente que leva a vida matando aula, cometendo pequenos furtos e mentindo para a família – esta, sempre ausente, por causa do trabalho. Por mais que os pais o aconselhem – e o castiguem – e os professores ofereçam punições humilhantes ao garoto, ele não consegue ver um futuro, ou até mesmo um caminho mais “digno” para sua vida. Daí em diante, ele terá que arcar com as conseqüências de seus atos... E com a dureza da sociedade.








A última película, mas não menos importante. “O sétimo selo” – 1956 – é um filme sueco, do diretor Ingmar Bergman, o ídolo supremo do nova-iorquino Woody Allen. Não é uma obra fácil. Num dos períodos mais sombrios da Idade Média, o cavaleiro interpretado por Max Von Sydon volta das cruzadas desiludido, sentindo falta de um sentido para a vida e questionando a todo o tempo a existência de Deus. Para piorar, é uma época em que uma peste vem devastando o povo, de cidade em cidade. Sabendo que sua morte é apenas uma questão de tempo, o cavaleiro, seu fiel escudeiro e uma pequena comitiva seguem sem destino pelo mundo, tendo como companheira... A morte. Sim, esse é o filme que apresenta a clássica sequência em que o homem – o cavaleiro – joga xadrez com o “senhor vestido de preto”. Inesquecível. Mesmo assim, a cena mais impactante é a de uma procissão sinistra, que mistura religiosos fanáticos e pessoas que se autoflagelam na esperança de que a peste não os alcance. Impactante.




Por Hugo Oliveira

All That You Can't Leave Behind

Muita gente alardeou por aí. “É uma volta às raízes”; outros, mais comedidos, sentenciaram. “É apenas um bom disco”. Mesmo assim, o falatório em relação a “All that you can’t leave behind”, décimo álbum de estúdio do grupo irlandês U2, lançado em 2000, não chegou a lugar nenhum. Por quê? É um CD irregular, mas com algumas canções que conseguiram jogar – novamente – uma luz sobre a carreira do conjunto, sempre marcada pela renovação... Fosse ela verdadeira ou falsa.
O quarteto vinha de um álbum que, erroneamente, foi divulgado como eletrônico, “Pop”, de 1997. Ok, continha lá os seus “blips e poins”, mas, acima de tudo, apresentava faixas normais, orgânicas, prontas para alegrar tanto casaizinhos apaixonados como roqueiros ecléticos.
Mas o papo aqui é outro. Uma música, aliada a um clipe estiloso, acabou empurrando o disco para os holofotes da mídia: “Beautiful Day”, canção que abre o álbum. Começando com uma mistura de cordas e guitarras que parecem teclados – ou vice-versa –, logo a voz de Bono Vox e a batera simples de Larry Mullen Jr. Entram em cena, organizando as “preliminares musicais” para que, em seguida, o guitarrista The Edge e o baixista Adam Clayton deitem o cabelo num refrão explosivo, de levantar estádios – Não me deixe mentir, Morumbi! Posso estar errado, mas acredito que a canção não vai sair nunca mais do repertório da banda. Saca um hit planetário? Por aí. E tem outra. Pensando em se casar? Escolhendo canções da Celine Dion ou do “grande” Kenny G para a cerimônia? Esqueça. Uma linda faixa para um lindo dia. É disso que você precisa. Vai pelo tio Hugo aqui...
“Stuck in a moment you can’t get out of”, segunda música do álbum, é uma quase balada com acentos gospel. Não se assuste: o gospel aqui não é aquele praticado por religiosos malucos que conversam com Deus como se ele fosse surdo. Estamos falando da “Igreja Bono Vox da Santa Autoajuda” – entenda como quiser. Como pastor, Bono tem uma qualidade perigosa. Consegue convencer você sobre o que ele está pregando/cantando. “I'm not afraid of anything in this world/There's nothing you can throw at me that I haven't already heard/I'm just trying to find a decent melody/A song that I can sing in my own company”, declara ele no começo da faixa, sabendo que as ovelhas irão acompanhá-lo fielmente.  
Depois do momento fofo, duas canções prontinhas para os shows do quarteto. “Elevation” e “Walk on”. The Edge toca alto no refrão da primeira, que também serve para mostrar que o lado sexy da voz de Bono continua por aí, vivo e quicando. Barulheira sob medida para as boates mais ecléticas... E para todas as casas de strip-tease que tenham um DJ antenado com o que rola. Com “Walk on”, o lance é um pouco diferente. Bonita de cabo a rabo, a música é um exemplo do que o grupo pode fazer quando está muito inspirado: emocionar. Guitarras lindonas? Tem. Baixo e bateria preenchendo tudo com bom gosto? Yes, sir. Bono cantando pra cacete e presenteando os ouvintes com uma letra cheia de lirismo? Principalmente. “And love is not the easy thing/Is the only baggage that you can bring/Love is not the easy thing/The only baggage you can bring/ Is all that you can't leave behind". Vale mencionar que a banda fez um vídeo lindão da música, no Rio de Janeiro. Rapaziada “esshperta”, essa.
Confesso que “Kite”, próxima faixa do CD, não é das melhores, em relação ao instrumental do conjunto. Mas a letra é um achado, com uma bela mensagem sobre despedida. “I want you to know/That you don't need me anymore/I want you to know/You don't need anyone, anything at all/Who's to say where the wind will take you/Who's to say what it is will break you/I don't know which way the wind will blow/Who's to know when the time has come around/I don't wanna see you cry/I know that this is not goodbye”.
O disco termina com duas trincas de canções bem distintas. “In a little while”, “Wild Honey” e “Peace on earth” fazem parte do grupo das boas faixas. Na música que inicia a sequência,  uma letra de amor casa direitinho com a batida da canção – bem diferente em relação aos padrões U2, aliás. Na que vem em seguida, outra declaração de amor, mas com uma pegada mais descontraída. Deve ser uma ótima canção para ouvir dirigindo, “on the road”. A última, “Peace on earth”, é uma música que soa muito, muito sincera. Bono e a banda abandonam aquele tom grandioso presente em grande parte de sua obra e partem para um papo intimista com o ouvinte. O vocalista parece realmente cansado de tanta tristeza, tanta dor, e pede que Jesus transmita aos homens da terra uma simples – mas importante – mensagem: paz na terra. É pretensioso pra caramba, principalmente se você, assim como eu, interpretar que a mensagem divina é passada à humanidade através de Bono. Mas, tudo bem. Já que ninguém mais quer mudar o mundo através do poder de uma simples canção, o vocalista assume essa tarefa. Desta vez, com sucesso. Com o tom que um assunto como esse merece. Esqueça a ironia destes tempos, reflita sobre a faixa e responda a si mesmo: vale a pena se transformar em um monstro para que o monstro não o destrua?
“When I look at the world” apresenta aquela mesma batida manjada que Larry Mullen Jr. cisma em repetir. Por falar nisso, essas poucas audições que eu tive, em relação ao grupo, serviram para sacar que a força do quarteto está mesmo na guitarra de The Edge e na voz e letras de Bono. Larry e Adam Clayton, o baixista, ajudaram a criar o “som U2”, não há dúvidas. Mas na prática, são apenas ótimos coadjuvantes. Tudo bem que, em muitas situações, é melhor não tocar nenhuma nota do que tocar todas. Mas ficar sempre apagado também não é nada legal. Pode ser apenas um achismo bobo de minha parte. Mas que parece, ah, isso parece. “New York”, penúltima do álbum, começa como uma verdadeira homenagem ao “bardo maldito” de Nova Iorque – tem clichê maior do que este? –, Lou Reed, que já foi o homem de frente da banda Velvet Underground. Bono emula “tia Lou” na primeira parte da canção, de forma perfeita. Depois, a canção vai crescendo, até desaguar num refrão agitado. Mesmo assim, nada demais. Por último, temos “Grace”, faixa lentinha que propõe aos ouvintes uma dissertação poética sobre a palavra graça – seus significados, seu poder etc. Uma música com vibrações positivas, mas uma péssima escolha para fechar um CD.
“All that can’t leave behind” é um disco de boas intenções. Mas é aquilo: disso, o inferno está cheio.   
   


Rapaziada, é o seguinte: nossa próxima parada é o Brasil!

Por Hugo Oliveira







sábado, 26 de março de 2011

Resenha - Collapse Into Now, R.E.M.



Quem acompanha meus textos aqui deve ter estranhado que depois de tanto alarde com cada detalhe do lançamento de Collapse Into Now, novo álbum do R.E.M., ele tenha sido lançado e nada de eu comentá-lo. É que com o R.E.M. é diferente. Nunca baixo os discos quando disponibilizados, espero sempre chegar o ‘disco físico’ para então ouvir. É uma espécie de tradição que procuro manter com algumas bandas, o que faz aumentar o prazer e a expectativa por um novo disco.

E dessa vez esta ansiedade foi ainda maior. Ouvir Mike Mills afirmar ser o melhor trabalho desde Out Of Time, imprensa e fãs em elogios quase unânimes, foi impossível não criar grandes expectativas. E felizmente recompensada, na verdade até superada.

O álbum parece equilibrar a volta às guitarras de Accelerate, a sutileza dos discos dos anos 90 e a urgência do período I.R.S. E apesar de ser uma besteira essas comparações e eu amar intensamente o Up, as primeiras audições me fazem ter vontade de afirmar ser o melhor álbum da banda desde o New Adventures in Hi-Fi, de 1996.

As pessoas sempre procuram semelhanças dos lançamentos deles com o clássico Automatic for the people, mas acho que se este disco é irmão de algum outro é do New Adventures... mesmo. Ainda é prematuro comentar faixa a faixa, mas algumas se destacam de cara. ‘Überlin’ é da linhagem dos grandes hits pop da banda; ‘All the best’ e ‘Mine smell like honey’ têm guitarras sensacionais; ‘Walk it back’ e ‘Me, Marlon Brando, Marlon Brando and I’ são típicas baladas R.E.M., melancólicas e emocionantes; ‘Oh My Heart’ é a minha preferida até agora e ‘Blue’, canção de encerramento do álbum, é quase uma mistura de ‘Country Feedback’ e ‘E-Bow the Letter’, inclusive pela participação da Patti Smith.

Algo interessante a ser observado é a mudança das letras de Michael Stipe, que vêm cada vez mais se afastando do mistério e obscurantismo do início da banda para letras mais diretas e reflexivas. Há quem veja como um defeito, não é o meu caso.

Collapse Into Now é o 15º álbum de estúdio de uma banda que está em sua quarta década de existência, e dá um orgulho danado vê-los lançando discos ainda relevantes e com essa qualidade. Um orgulho parecido com o de um pai que vê um filho crescendo e enfrentando a vida, ou melhor, o orgulho de um filho ao olhar para o pai envelhecendo, com rugas no rosto, sinais da idade, mas levando a vida com beleza e com a palavra certa, no momento certo, na hora em que você mais precisa.

Por Ricardo Pereira

sexta-feira, 25 de março de 2011

Meu caminho

Ando meio sumido esta semana, tô sem saco, sem inspiração para escrever. Mas não porque esteja mal, ao contrário, as coisas parecem começar a clarear por aqui. Muito por eu estar conseguindo cumprir metas estabelecidas por mim mesmo, esta foi provavelmente a melhor semana desde o fim das férias. Se eu fosse um disco do Bob Dylan, até o fim-de-semana passado eu seria o Blood on the tracks, agora sou o Nashville Skyline, mais leve, ‘pra cima’, sem tanta pretensão. Queria na verdade ser o Basement Tapes, mas pra isso tenho que encontrar The Band...

Aliás, 2011 tem tudo para se configurar para mim o Ano D: Dostoievski/Dylan. Ando ouvindo e me encantando com a discografia do sujeito de uma forma parecida com quando conheci de verdade os Beatles na minha adolescência. E a releitura de Os Irmãos Karamazov dez anos depois da primeira é apenas o aperitivo para minha grande empreitada literária do ano: ler a monumental biografia do Dostoievski escrita por Joseph Frank, os dois primeiros volumes (de cinco) já estão aqui!

Hoje finalmente chegou o novo REM. Devo ouvir mais umas duas ou três vezes antes de escrever sobre ele, mas já adianto que, em um primeiro trimestre de excelentes lançamentos (Radiohead, James Blake, Decemberists, Lykke Li...), o REM já dispara na frente ao posto de disco do ano!

Bom fim-de-semana para vocês.


Por Ricardo Pereira

Cheio ou vazio?


"My heart is empty", Nico


"Now my heart is full", Morrissey

Por Hugo Oliveira

quinta-feira, 24 de março de 2011

Blissed and Gone




The sun has blessed
The rays are gone
And all the kids have left their tears and gone home

Sweet 17, sour 29
And I can't explain myself
What I'd hoped to find
You were all so kind
When I was near

And if you're still feeling down
Then maybe you need me around
To love and hold you
Don't say I hadn't told you so
Maybe you need me around

I had no luck
I had no shame
I had no cause, just 17 days of rain
And you in my eyes

Just one more song to slay this earth
And I can't explain myself just what it's worth
It was all I had, but not all I'd need
And I can't escape the fact that I still bleed

And if you're still feeling down
And if this seems way too loud
Then maybe you need me around

I had no voice
I had no drive
I had no choice
I've done my time
I had myself
Had my band
I had my love
Had no hand in watching it all fall apart

And if you're still feeling down
Then maybe you need me around
To lift and scold you
To send you crashing all right now
Maybe you need me around


Por Ricardo Pereira

Boa tarde, Kinks!

... Porque nunca é demais ouvir a banda de Ray Davies, um dos gênios da música britânica feita a partir dos anos 60.


"Sunny afternoon" - ao vivo da na inglesa, em 1966


"Picture book" - ao vivo em alguma TV, em algum ano


"Lola" - no "Top of the pops" de 1970


"You really got me" - ao vivo em 1964... Em alguma emissora de TV, também

Por Hugo Oliveira

quarta-feira, 23 de março de 2011

Achtung Baby

1991. O piloto brasileiro de Fórmula 1, Ayrton Senna, conquistava o tricampeonato. No Iraque, as forças armadas dos Estados Unidos invadiam o país, dando início à Guerra do Golfo. No último dia do ano, a URSS deixava de existir, e antes, em janeiro do mesmo, o Brasil sediava a 2ª edição do Rock in Rio. Rock. Palavrinha aparentemente desimportante, não? Depende: levando com alguma ironia e uma boa dose de despretensão, até passa. O disco que o quarteto irlandês U2 lançou no começo da citada década, “Achtung baby”, que o diga. Tudo bem que não dá para fechar o conceito do CD apenas com essas motivações – seria injusto, até. Mas faz sentido. Depois de álbuns, digamos, “sérios” – “The unforgettable fire”, de 1984, e “The Joshua tree”, de 1987 –, o grupo deu um passo mais descontraído na carreira, com “Rattle and hum” – 1988 –, um disco recheado de covers espertas e ótimas composições autorais. E aí, a bomba... No bom sentido. “Cuidado baby”, estampava o quarteto no título do seu mais novo trabalho. A sonoridade “Madchester” – indie rock + dance music –, de bandas como The Stone Roses e Happy Mondays, ainda estava em alta; por outro lado, o grunge americano lançava sua pedra fundamental em setembro daquele ano, com o CD “Nevermind”. O álbum de Bono Vox – voz –, The Edge – guitarras –, Adam Clayton – baixo – e Larry Mullen Jr. – bateria – nasceu no meio disso tudo. E muito mais.
Tomei um susto quando ouvi a primeira faixa, “Zoo station”. Sabe a ironia citada no começo deste texto? Pois é: ela continua viva em 2011, já que na turnê do combo irlandês que passará pelo Brasil neste ano, a banda de abertura é o trio inglês Muse, um grupo que poderia facilmente ser o “pai” da música em questão. O vocal de Bono aparece mergulhado em distorções e efeitos, acompanhando os beats que complementam a bateria simples de Larry. “Time is a train makes the future the past / Leaves you standing in the station”, canta Bono, em determinado trecho da faixa. No meio do caminho tem o The Edge... Tem o The Edge no meio do caminho. Sim, você vai ouvir falar muito do guitarrista do grupo neste texto. Também pudera: é ele quem manda no CD. A voz poderosa e sexy de Bono – sem contar as ótimas letras – e a cozinha que ajudou a moldar o “U2 wall of sound” estão lá, marcantes, mas são as cordas do “homem-delay” – alusão a um dos efeitos mais usados por The Edge – que fazem do disco uma peça importante na discografia do conjunto. Quer um exemplo, aliás, um ótimo? “Even better than the real thing”, minha música predileta no álbum – rivalizando diretamente com “Who’s gonna ride your wild horses?”. O guitarrista contribui com o espírito da canção esticando as notas de forma bem parecida com o que Keith Richards, guitarrista do Rolling Stones, fez na obra-prima “Gimme shelter”, soltando farpas psicodélicas para todos os lados. Mesmo assim, não é aquele psicodelismo circa 67, 68: é atual, moderno, conectado com o tempo. Difícil fazer um troço desses. Mais de uma vez, é quase impossível. A próxima faixa do CD, “One”, é um dos motivos pelos quais o U2 sempre será lembrado. Um clássico. Uma música que começa pequena, mas vai crescendo, através de guitarras e teclados, e então explode num clímax tocante, com a voz de Bono mais emocionada do que afinada – e isto é um elogio. “You say one love, one life / It's one need in the night / One love, we get to share it / Leaves you, darling, if you don't care for it”, diz a letra, aberta a interpretações diversas. Só vejo um ponto negativo na canção: ela não se encaixa no conceito do disco. Parece um corpo estranho no meio da maioria das outras faixas – embora seja esbelto, lindo. É como se o U2 avançasse para o futuro... Mas deixasse o dedo mindinho nos anos 80. Depois, duas faixas memoráveis. “Until the end of the world” e “Who’s gonna ride your wild horses?”. A primeira apresenta um registro vocal que remete ao Bowie da fase alemã, mais especificamente, de “Heroes”. Normal. O trabalho do “camaleão do rock”, dessa época, influenciou quase todo mundo do pós-punk inglês. E as coincidências não param por aí. O álbum começou a ser gravado em Berlin, e a produção contou com ninguém menos do que Brian Eno – acompanhado de Daniel Lanois. Peraí: coincidências ou algo proposital? Não importa. O que realmente conta é a grandiosidade da canção... E as várias guitarras de The Edge, apontando para todos os alvos e acertando na mosca. Sempre.
Não quero escrever nada sobre “Who’s gonna ride your wild horses?”. É a canção mais especial do CD, ao menos, na minha modesta opinião. E coisas especiais devem ser, mais do que tudo, sentidas. Fim de papo. Descubra por você mesmo, caro leitor. É demais para mim.
“So cruel” vem em seguida e, apesar de pisar no freio, não compromete o andamento do disco. Quem manda na faixa, mais do que os teclados, são as palavras do vocalista. “Oh, love, you say in love there are no rules / Oh, love, sweet-heart, you're so cruel”. Matador.
Outra dobradinha inesquecível. Sussuros e riffs sujos marcam “The fly”, enquanto “Mysterious ways” ricocheteia diretamente na cintura dos ouvintes. São duas faixas para as pistas de danças de qualquer lugar do planeta, para pular até cansar. On your knees, boys and girls.
Tryin' to throw your arms around the world” e “Acrobat” são músicas menores no disco – embora a segunda apresente outra ótima performance do guitarrista. Entre elas, “Ultra violet (light my way)”, uma canção memorável do quarteto... Num CD lotado de músicas memoráveis. “Sometimes I feel like I don't know / Sometimes I feel like checking out. I wanna get it wrong / Can't always be strong / And love, it won't be long”, desabafa o vocalista, escorado pelas guitarras inspiradas de The Edge – olha ele aí, de novo.
Apesar da sujeira, das batidas dançantes e das palavras urgentes de Bono, o álbum é finalizado de forma calma, ao menos, instrumentalmente falando. “Love is blindness” decreta que o amor é cegueira. Que é um relógio em funcionamento, aço frio.
Bono diz que, mesmo assim, não quer enxergar isso. Eu também não.


Confusão, mistura e ironia: seja bem-vindo aos anos 90

Por Hugo Oliveira


 

                

terça-feira, 22 de março de 2011

Feito pra acabar

Para alguns, futebol é só um jogo, uma distração para o fim de semana, e o time, uma escolha por simpatia, inércia ou influência familiar. Não para mim. Acredito que há um perfil definido para o torcedor de cada clube e o Botafogo é mais do que uma escolha, é prioridade, parte fundamental na minha vida. O mais próximo que cheguei do amor que os pais dizendo sentir pelos filhos.

Vivo o dia-a-dia do clube e mudanças de técnico são sentidas por aqui, para o bem ou para o mal. São meses acompanhando as declarações e atitudes de uma pessoa que te representa e acaba assumindo mesmo a função de comandante. Às vezes chego a comparar a saída de determinados técnicos a fins de namoros, com toda a saudade e alívio decorrentes.

Escrevo isto, obviamente, pela saída de Joel Santana em sua terceira passagem pelo Botafogo. Sinto-me feliz com este rompimento, mesmo gostando bastante da figura do Natalino. Nunca esquecerei este período, marcado em seu início e fim por um confronto com o Vasco. Janeiro de 2010, fui assistir ao clássico e voltei acachapado com uma derrota de seis a zero, poucas vezes me senti tão humilhado na vida. Não só pelo resultado, mas pela postura da equipe e por algumas outras circunstâncias... Fiquei praticamente uma semana sem sair de casa e sem dormir até que o Joel fosse anunciado.

E por mais otimista que eu tentasse ser, não esperava o que estava por vir. Ele transformou o clima em General Severiano e fez uma equipe mediana proporcionar duas vinganças maravilhosas. Primeiro, ganhando a Taça Guanabara sobre o mesmo Vasco que havia acabado de me humilhar e depois a Taça Rio sobre o Império do Mal, que havia nos derrotado por três anos seguidos em que o diabo resolveu se meter com esportes. Ok, um título carioca não é quase nada, eu sei, mas nessas circunstâncias, meu amigo... Pense em Kill Bill, Old Boy ou qualquer outro clássico sobre a Vingança que entenderás como me senti!

E por esse título e pelo levante da autoestima da equipe e dos torcedores sou muito grato ao Joel, nunca esquecerei mesmo.

O problema é que não estava mais aguentando a falta de padrão de jogo do time atual do Botafogo, só chutões para o alto, sem uma trama de jogadas, nada. Até nas vitórias, ver jogo do meu time estava me aborrecendo. Sinal de que algo estava errado, desgaste na relação.

Sei das limitações da equipe e já posso prever um 2011 complicado para nós, mas torço sinceramente para que o próximo técnico consiga trazer um pouco de ofensividade e inteligência para um plantel que é melhor do que o do ano passado.

E desejo toda a sorte ao Joel, tem suas limitações, mas também um carisma e estrela admiráveis. Eu, se presidente do Fluminense, não pensaria duas vezes em chamá-lo. É o técnico certo para um time em crise e precisando de resultados ‘para ontem’.

Ah, se todos os términos de relação fossem assim...

Quero não saber de cor também. Pra que minha vida siga adiante...
 Por Ricardo Pereira

domingo, 20 de março de 2011

Caminhando e cantando U2

Beleza? Seguinte: hoje eu vou começar a minha preparação pessoal para o show do U2 - 13 de abril, no Estádio do Morumbi, em São Paulo. Estou com vários discos da banda no Ipod e eles servirão como trilha sonora para as minhas caminhadas/corridas.

A meta é ouvir todos os álbuns lançados pela banda, publicar minhas impressões neste blog e... Emagrecer alguns quilos!

Grosso modo, já assisti a quase todos os "grandões" dos anos 80. R.E.M? Três vezes - duas no Rio e uma em Buenos Aires. Echo & The Bunnymen? Uma vez, no FIB, em Benicàssim - Espanha. Morrissey? No Rio. Presenciar Bono e sua trupe em Sampa vai ser ótimo. Mais do que isso: surpreendente.

Eu nunca fui um grande fã da banda. Sim, conheço todos os "arrasa-quarteirões" do grupo, aquelas canções que estão na boca do povo por muito tempo, mas faltava um tempo para me dedicar aos CD's de uma forma séria, provando as particularidades e nuances de cada trabalho. A hora chegou.

Vou ali comer um sanduíche de peito de peru com queijo minas - acompanhado de um copo de Mate Leão zero - e já volto. Quer dizer, volto, não: já vou, pois parou de chover e a hora de caminhar é esta!


Por precaução, vou levar um casaco com capuz!

Por Hugo Oliveira

sábado, 19 de março de 2011

When You're Strange - a film about The Doors

Ontem assisti com meu pai a When You’re Strange, documentário de Tom DiCillo sobre a banda The Doors. A questão, antes de assistir, era: é possível se envolver mais uma vez com uma história que já se sabe praticamente tudo, a partir de livros e dezenas de reportagens lidas?

E o filme mostrou que sim. Primeiramente porque é a visão de um fã incondicional da banda, que consegue mostrar o que todo admirador espera. Há várias imagens até então inéditas e mesmo as já conhecidas são aqui valorizadas por enriquecerem o bom texto – narrado por Johnny Depp – que relembra os principais momentos da banda e de Jim Morrison, intercalados com os acontecimentos políticos e sociais mais relevantes da época.

Algumas imagens mostram um Morrison mais descontraído do que o retratado por parte dos documentaristas e os trechos de apresentações da banda são sensacionais. Um detalhe que gostei bastante foi poder assistir a banda em estúdio, gravando os discos que tanto me influenciaram. É como poder compartilhar por instantes da intimidade de uma de suas bandas preferidas.

Considero Jim Morrison a representação perfeita do rockstar: bonito, carismático, doidão e extremamente talentoso em equilibrar lirismo e revolta em letras algo enigmáticas. O filme, aliás, mostra o quanto os Doors eram diferentes do que rolava na época, tanto pelas temáticas quanto pela sonoridade, que misturava músicos de estilos e influências diferentes e que acabaram compondo o clima perfeito para os versos de Jim.

E podemos perceber também de forma mais aprofundada o quanto o abuso do álcool mais do que qualquer outra droga foi responsável pela degradação física e emocional do vocalista e consequentemente pelo fim de sua vida. Algumas cenas são impressionantes ao retratarem seu estado de espírito deprimido quando passou a abusar da bebida.

Hugo já falou aqui da influência da banda em nossa adolescência. Assistíamos compulsivamente ao filme do Oliver Stone. No auge da empolgação, mais de uma vez por semana, e aquela visão romantizada de tudo foi importante demais para nossa formação. Mas ontem fiquei imaginando, se este documentário existisse na época, o quanto não teria nos influenciado ainda mais, acho que o assistiríamos diariamente!

Recomendo aos que ainda não conhecem a banda. Poder se iniciar com esta visão mais próxima de como as coisas realmente aconteceram é uma experiência e tanto. E para os que já são fãs então, é praticamente obrigatório. Estes dificilmente escaparão de sentir um aperto no peito em sequências como a que o final da história é narrado ao som de ‘The Crystal Chip’. Foi como viajar no tempo quinze ou quarenta e três anos, tanto faz. O tempo não importa no indefinido palácio do exílio.

Death makes angels of us all and gives us wings where we had shoulders smooth as raven's claws

Por Ricardo Pereira

sexta-feira, 18 de março de 2011

Tarantino's Mind - partes 1 e 2

E já que a última postagem foi dedicada aos curtas-metragem, esta também vai na mesma onda, mas com um diferencial: o assunto aqui é diversão.

Os atores da película, Selton Mello e Seu Jorge, brilham numa história sobre um possível código incluso nos filmes do diretor americano Quentin Tarantino, o que faria com que todas as obras do nerd máximo do cinema fossem interligadas. Quer saber? Faz sentido... Embora eu não acredite.

Vai fundo.


Parte 1


Parte 2

Por Hugo Oliveira

Ilha das Flores

Assisti ao curta-metragem "Ilha das Flores", de Jorge Furtado, ainda no ginásio, no Colégio Estadual Nazira Salomão - Angra dos Reis. Foi um choque para mim, mesmo sendo bem jovem para entender tudo o que se passava na tela. Se você não viu, a hora é essa. Continua atemporal. E vai continuar sendo.



Por Hugo Oliveira

quinta-feira, 17 de março de 2011

Sem nome

Alguma coisa pulsando aqui dentro. Uma inquietação, mas no bom sentido. Vontade de escrever algo que eu ainda não sei o que é. Que não tem nome.

Infelizmente - ou felizmente -, eu não sou Kerouac. Não dá para sair digitando loucamente e, no final, ter alguma coisa digna de publicação.

Aliás, eu já falei pra você o quanto escrever é difícil? Demais. Se engana aquele que pensa nesse ofício árduo como apenas uma questão de criatividade e talento. Tem muito suor nisso tudo, também. E luta. Você luta para vencer seus medos e inseguranças, luta contra os seus próprios limites e clichês... Enfim, é uma batalha cruel: você contra você.

Mas o assunto aqui é outro - embora eu não saiba ao certo qual.

Vou chutar. Talvez, o motivo destas palavras confusas seja justamente a certeza de que as coisas, pouco a pouco, vão se acertando.

A gente costuma ter medo da sinceridade, né? Assusta, eu sei. Mas pode consertar muita coisa. Pode mudar uma vida. Ou duas.

Tudo pode acontecer. Sempre. Apesar de pautarmos nossa existência, na maioria das vezes, pelo planejamento, o acaso mora ao lado. 

O acaso é aquele mendigo bêbado que eu vi, em Ipanema, cantando "Walk on the wild side".  É  o álbum de fotografias/recortes do filme "Up - altas aventuras", com um lindo lembrete escrito.

O acaso são aqueles 15 minutinhos na fila do banco, num dia normal. Nada vai acontecer, ok? Vai nessa.

Depois do acaso, o novo. E agora, Josés e Marias? Como lidamos com a novidade?

1 - Medo ( )
2 - Excitação ( )
3 - Ansiedade ( )
4 - Esperança ( )
5 - Expectativa ( )
6 - Todas as respostas anteriores (x)

Perdoe-me por ter esquecido de outras possíveis respostas. Mas eu acredito que o básico está aí. Esses vocábulos certamente vão continuar povoando nossos corações e mentes, por muito tempo. Mas existe algo.

Existe o entendimento. Não aquele da boca pra fora, falso. Mas o real. Todas as cartas na mesa. Jogo limpo. Nada por omitir, por mais aparentemente dolorido que isso possa parecer aos envolvidos.

O entendimento deveria ser a primeira placa de sinalização que você enxerga quando dobra logo ali, à esquerda, onde as ruas não têm nome.

A estrada pode ser longa, média ou curta. Pode não ter saída. Pode ter várias. Ou apenas uma.

Não importa. Tente guiar o seu automóvel com tranquilidade e segurança. Afinal, o que todos querem é completar essa viagem maluca chamada vida.

De preferência, com alguém especial do nosso lado.


Meu carro


Por Hugo Oliveira

Cartas de Amor

Em ‘Almanaque’, o eu - lírico buarqueano pergunta filosoficamente ‘pra onde vai o amor depois que o amor acaba’. Pra onde vai não sei, ninguém sabe, mas sei onde encontrar os melhores recortes, as melhores lembranças dos amores que se foram: nas cartas trocadas pelos amantes enquanto o amor os habitava.

Hoje, a tecnologia praticamente sepultou o costume de trocar cartas, o que é uma pena. Basta um clique e a outra pessoa tem, no mesmo momento, seus escritos, sentimentos na tela do seu computador, celular, ou o que seja. Óbvio que é uma beleza quando pensamos em praticidade, mas perde-se o cuidado ao escrever, a preocupação com a apresentação e, principalmente, a espera e a maravilha que é receber uma carta. São indescritíveis os momentos que antecedem a leitura, a expectativa e ansiedade do ritual. Lembro de algumas vezes, assim como a protagonista do ‘Felicidade clandestina’, postergar o prazer, adiando o momento de ler, carregar o envelope o dia inteiro, fingindo esquecer que estava comigo e só à noite me entregar à curiosidade e partir para a cartinha.

Até hoje gosto de mandar cartas, até porque me expresso melhor pela escrita do que pela fala. Mas houve pelo menos dois relacionamentos em que a troca de correspondências foi fundamental. Um deles com uma grande amiga por quem fui apaixonado, o grande amor da minha infância/adolescência e que nunca passou de amizade não sei bem o porquê, mas não era mesmo pra ser, a vida nos afastou de várias maneiras. De qualquer forma, é bom reler as cartas e reviver momentos como a gente assustadão de estar fazendo 17 anos (!!), dividindo nossas angústias quanto ao futuro e declarações de amor veladas, só se permitindo um pouco mais ao falar de saudade.

O outro foi mais tarde, meu namoro mais duradouro até hoje. As cartas eram fundamentais, pois existia a distância física, era uma média de dez dias separados para um encontro de três dias. E através das correspondências, mais do que dos telefonemas, expressávamos nossa saudade, ansiedade para o próximo encontro e relembrávamos com detalhes cada momento dos dias que passávamos juntos. É só eu reler qualquer carta desse período para ver que era realmente especial. Ali já havia grandes declarações de amor e um romantismo de fazer inveja a qualquer aspirante a Werther. 

Gosto às vezes de reler as cartas recebidas ou os rascunhos das que enviei para relembrar nostalgicamente minha juventude e o quanto as coisas eram mais simples (?).

Há também cartas escritas que acompanharam discos que gravei e mandei por correio, cartas de fim de relacionamento e uma linda que recebi do meu pai na época do começo da faculdade e que até hoje não respondi, por não me sentir preparado. Mas isso já é outro assunto.

Tive muita relutância a ter e-mail no começo, por achar que não poderia me emocionar com uma mensagem recebida na tela de um computador. A falta de todo o ritual já citado, para mim, tiraria toda a graça. Claro que o tempo e a inevitabilidade da modernização me fizeram mudar de ideia e são incontáveis as vezes que me emocionei com e-mails recebidos ou textos lidos pelo computador.

E até uma conversa por MSN, recurso a que ainda apresento bastante resistência, conseguiu me emocionar dia desses. Dois no mesmo estado de espírito, entre lamentações e boas lembranças, a constatação de que o amor pode permanecer após o fim das relações. E quando eu falei algo como me lamentar por termos nos encontrado no momento errado, recebi como resposta: “mas eu não seria quem sou se não tivesse te conhecido naquela época.” 

Foi como se a tela do computador se convertesse em uma folha de papel desgastada de tanto relida e eu fosse novamente o Ricardo emocionado com mais uma carta fundamental para minha vida.

"I read your letters to feel better...
 Por Ricardo Pereira

quarta-feira, 16 de março de 2011

Angles - The Strokes

 
Desde o início, sempre gostei bastante dos Strokes. O primeiro, Is this it, uma bela coleção de hits rock n’ roll como não aparecia há um tempo, marcou bastante aqui e foi trilha sonora de vários bons momentos. Room on fire é o que mais gosto deles, o equilíbrio perfeito, “enxuto, simples, bom de qualquer maneira”, como definiu minha amiga Ingrid. São dois discos fortes, urgentes com canções curtas e poderosas.

Neles encontramos a síntese do ‘som Strokes’ – que, eu sei, não é nada original, arremedo do melhor produzido pelo pós-punk americano, mas funciona que é uma beleza – bons riffs, letras com frases curtas e algo adolescentes, e vocal intenso e amargurado, lembrando Jim Morrison nos momentos em que a banda pisa o freio. No terceiro álbum, First Impressions of Earth, eles vieram mais ambiciosos, buscando mudanças na sonoridade e receberam críticas por isso. Reconheço que é uma disco irregular, mas ainda assim gosto bastante dele, há grandes canções e julgava saudável a banda lutar para não virar auto-paródia. 

Mas ao ouvir o novo disco, Angles, não sei se o que pensar mais disso. Pois pela primeira vez, um disco deles me decepciona. Parece um rascunho do que o álbum poderia ter sido, deixou-me com uma impressão de desleixo por parte da banda. ‘Machu Pichu’ inicia os trabalhos em um clima algo reggae e tem até uma letra interessante, não é uma música ruim, mas não diz a que veio, poderia ter sido lado b de algum single. ‘Under cover of darkness’ é a que mais se aproxima da sonoridade dos dois primeiros e é fácil entender porque foi escolhida para primeira música de trabalho, muito boa, hit certo. ‘Two kind of happiness’ é a pior do disco, começa oitentista, parte para um refrão fraco, confuso, indigno do legado construído por eles. A próxima, ‘You’re so right,’ é outra faixa que parece perdida, indefinida, repetitiva, vocal robótico, salva-se apenas o solo de guitarra. E a primeira parte do disco fecha com ‘Taken for a fool’, que surge como um alívio depois de duas decepções seguidas. É uma canção ok, ‘pra cima’, com uma letra interessante e bom refrão.

O lado dois começa com ‘Games’, a que mais se parece com Phrases for the Young, o bom disco solo de Julian Casablancas. Estão aqui os sintetizadores, o vocal característico e a falta proposital de guitarras . ‘Call me back’ é uma que os fãs mais tradicionais vão reclamar, é a lentinha do disco, bem diferente do resto do conjunto de canções, mas me agradou bastante. ‘Gratisfaction’ possui um refrão empolgante, mas não é nada demais, uma faixa preguiçosa. ‘Metabolism’ lembra o terceiro disco e é das que mais gostei nessas primeiras audições, vocal angustiado e um clima arrastado compõem uma boa canção, apesar de serem provavelmente estas as características citadas por quem não vai gostar. E a última, ‘Life is simple in the moonlight’, é a minha preferida do disco. Influenciada por música brasileira - mas nada de bossa nova como alguns vêm dizendo por aí! –, possui boa letra e dinâmica interessante, vai crescendo em ritmo e intensidade.

A segunda parte melhora, no entanto não salva o disco de ser frustrante. Até acho que com mais audições vai crescer um pouco, mas depois de dois 10 e um 8, um álbum que circula entre 5 e 6 deve ser visto sim como uma decepção. Talvez seja o momento da banda delimitar os limites para a experimentação, Casablancas é um grande compositor pop e pode mais do que isso. Recuperação neles!

Por Ricardo Pereira

Bom dia, topetudos!

Aproveitando a energia positiva que os dois últimos textos do Ricardo conseguiram passar - quem leu sabe do que eu estou falando -, é hora de deixar as complicações da vida de lado, respirar fundo e permitir que a música comande. Ao menos, por alguns minutos. Sim, porque as complicações sempre estarão por aí. Temos que aprender a conviver com elas. Pacificamente.

Bon voyage!

Obs: o processo de escolha dos vídeos foi muito simples. Apenas separei os cantores/artistas topetudos que eu mais gosto.


"Blue hotel", Chris Isaak - Elvis ficaria honrado...


"Since I dont have you", Brian Setzer Orchestra - Como eu queria ter a manha de soltar esses falsetes!


"Deus", Deus - Deus


"You have killed me", Morrissey - Moz e sua gangue


"Valentine", Richard Hawley - Ao vivo no FIB 2008... Que começo de show, não?


"C'mon everybody", Eddie Cochran - o rebelde original

Por Hugo Oliveira

terça-feira, 15 de março de 2011

Hear Me Lord

“Não é Deus que não aceito, entende isso, é o mundo criado por ele, o mundo de Deus que não aceito e não posso concordar em aceitar. Faço uma ressalva: estou convencido, como uma criança, de que os sofrimentos hão de cicatrizar e desaparecer, de que toda a injuriosa comédia das contradições humanas desaparecerá como uma miragem deplorável, (...), de que, enfim, na consumação do mundo, no momento da eterna harmonia, acontecerá e aparecerá algo tão precioso que bastará a todos os corações, para suavizar todas as indignações, para redimir todas as perversidades dos homens, todo o sangue por eles derramado, chegará para que seja possível não só perdoar como também compensará tudo o que aconteceu com os homens – oxalá, oxalá tudo isso aconteça e se revele, mas eu não o aceito nem quero aceitar!” – Ivan Karamázov

Venho há alguns meses tomando porrada. De vários lados, de várias formas. E invariavelmente reajo dramaticamente ou baixando a cabeça. Mas não agora. Reconheço o quanto sou responsável pelo aparecimento de alguns problemas ou pelo crescimento de outros. E a hora é de reagir, partindo de uma mudança de dentro para fora.

Nesse tempo pude perceber quem realmente gosta de mim, ver também um bando de aproveitadores e pessoas ‘querendo fazer graça’, mostrando uma coisa e agindo de outra forma. Faço questão de não esquecer nenhum desses e nenhuma dessas situações. Conversando com meu primo Fábio, ele comentou o quanto vem me achando pesado, amargurado, o quanto preciso ‘abrir meu coração’. Desculpe, Fabinho, não agora! Meu rancor será o combustível da minha reconstrução.

E, além disso, a fé em Deus. Sinto que me aproximar da espiritualidade pode ajudar a me salvar de mim e fazer com que eu cresça. Isso já vem causando polêmica só de ser cogitado. Para estes, é preciso entender que independente de religião ou crença, quero Jesus guiando meus passos neste processo de reedificação. Pode parecer piada pelo tanto que sou debochado, mas é a mais pura verdade nesse momento.

Vou precisar me afastar de elementos importantes da minha vida, hábitos e convicções arraigadas na imagem que construí em todos estes anos. Quem gosta de mim de verdade e está do meu lado, vai continuar. Os outros, quero mais é que se afastem.

“Em segundo, quanto mais tola mais direta. Quanto mais tola, mais clara. A tolice é curta e ingênua, já a inteligência tergiversa e se esconde. A inteligência é um canalha, mas a tolice é franca e honesta. Levei a questão até a beira do meu desespero, e quanto mais tola tenha sido sua condução, mais proveitoso terá sido para mim.” (Idem)

You know I'm not dead

 Por Ricardo Pereira

Três coisas

No sábado eu fui ao cinema com o meu pai e a namorada dele. Assistimos ao filme "Turistas". Uma grande bobeira, mas me distraiu um pouquinho. Na volta, dentro do carro, eles engataram uma conversa. Num determinado momento ela pediu desculpas ao meu pai, por não ter dado atenção a ele durante a semana. Ele disse que não tinha problema, e que eles se encontrariam na semana que estava por vir - algo do tipo. Eles se olharam, cumplicidade nos olhos, e foi isso.

***

Anteontem eu fiz uma caminhada, em Angra. Fui do Aterro do São Bento até a Praia das Gordas. Alguns quilômetros. Desde quando sai de casa, liguei o meu Ipod. O botão responsável por aumentar o som está ruim... E eu só gosto de ouvir no máximo, volume no talo. Da minha casa até o começo "oficial" da caminhada, devo ter apertado o botão ums 757 vezes. Não estava dando certo. Olhei para o céu, que apesar de nublado, estava bonito, e pedi a Deus para que ele me ajudasse. Apertei uma, duas... E na terceira vez, funcionou.

Você queria um milagre? Está aí. Deus existe... E aumentou o meu Ipod.

***

Hoje almocei em casa. Depois de comer e tirar uma soneca rápida, comecei a me arrumar, para voltar ao trabalho. Um dos alunos de minha mãe - ela dá aula particular para crianças, 1ª, 2ª, 3ª e 4ª séries - estava chegando no momento em que eu estava saindo. Ele entrou pela porta dos fundos e chamou. "Tia!". Minha mãe respondeu. "Já estou indo". Fui até a copa da minha casa, para pegar os meus sapatos. O garoto - devia ter uns 9, 10 anos - estava lá. Sentado, mochila nas costas. Na mão, uma bolinha, que ele quicou por três vezes e segurou novamente nas mãos. Olhou para a janela, que estava aberta, e sorriu, sozinho.

Tive quase certeza de que ele era feliz.

***

Por Hugo Oliveira

domingo, 13 de março de 2011

Gonna See My Friend


Amizades não são apenas para porres ocasionais, companhias para shows, futebol, churrasco, tédio... Tudo isso é maravilhoso e importante, mas não são nesses momentos que percebemos o valor de uma amizade. Não apenas. Este fim-de-semana vivi um desses momentos em que um Amigo faz jus à definição da palavra.

Ontem acordei em um dia em que tudo parece desmoronar, em que o desespero é quase palpável. Vem acontecendo há uns dias, mas vinha ficando fora de controle. E nesse estado de alma cheguei a Niterói para encontrar meu amigo Pedro Henrique. Parecia que o mundo desabava na minha cabeça. Assim que cheguei chovia bastante, mas, parafraseando Lobão, ‘eu estava chovendo muito mais do que lá fora’.

Mas aos poucos as coisas foram se acertando, e não só pelas excelentes cervejas e músicas. E sim por uma leitura das situações que, compartilhada na cumplicidade, faz com que percebamos com mais clareza do que na solidão do desespero. E às vezes mesmo quando ouvimos o que não queremos, saímos agradecidos por ouvir de alguém que realmente se importa.

Além disso, algumas coisas não tem como dar errado. Fizemos a maratona R.E.M. ouvindo os discos do Fables of the Reconstruction (85) até o Automatic for the People (92), analisando cada um cuidadosamente, percebendo a evolução da banda, as letras e detalhes de cada canção. Teorias plausíveis como a da sequência ‘Everybody Hurts’ – morte, ‘New Orleans Instrumental Nº1’ – luto, ‘Sweetness Follows’ – funeral, e a importância da instrumental no meio ‘quebrando’ as outras duas. Enfim, essas pequenas bobagens tão importantes para nós.

(A quem interessar, nossa análise em notas:

Fables of the reconstruction – 8,0
Lifes Rich Pageant – 9,0
Green­ – 8,5
Document – 8,0 [8,5 para PH, se bem me lembro...]
Out Of Time – 10
Automatic for the people – 11)

À noite ainda saímos, eu, Pedro e Isabela e, já em um clima bem mais leve pudemos rir bastante, filosofar sobre letras de pagode e falar sério também, acho... E ainda terminamos na madrugada ouvindo Sopra tomando café com licor, uma beleza!

Voltei mais leve, os problemas ainda estão todos por aqui, mas ao menos parecem mais fáceis – ou menos difíceis – de serem resolvidos. E este texto é para agradecer a um Amigo por, em um fim-de-semana, ter salvado minha vida. Por mais que eu escreva, não será suficiente. Obrigado.

 Yeah, yeah we were altogether Lost in our little lives.
 
Por Ricardo Pereira

sábado, 12 de março de 2011

Manhattan

Revi um dos clássicos do diretor Woody Allen durante o carnaval, "Manhattan" - 1979. Na primeira vez que assisti ao filme, apenas gostei. Na segunda, curti bem mais. A película, toda em preto e branco, narra as desventuras amorosas de Isaac Davis, um homem que, depois de perder a mulher - para outra mulher -, tenta retomar o "fio da meada amorosa" em dois relacionamentos bem distintos.

O primeiro, com uma garota bem mais nova, já começa de uma forma pessimista - ao menos para Isaac. Ele não vê futuro na relação, e encoraja Tracy - muito prazer, Mariel Hemingway! - a se relacionar com rapazes de sua idade; o segundo, com a intelectual - é no pejorativo mesmo - e problemática Mary, interpretada pela atriz Diane Keaton, começa a engatar a partir do momento em que a própria para de sair com o melhor amigo de Isaac, com quem tinha um caso.

Confusão formada. Merda atrás de merda. Alguns diálogos memoráveis. Cenas inesquecíveis. Uma lição a ser aprendida? Não sei.

Minha parte predileta é a do final. Isaac conversando com Tracy, a menina mais nova, voltando atrás em relação a tudo o que falou e implorando para que ela não vá para Londres.

Eu não vou estragar o filme e contar o que rola - aliás, eu sou mestre nisso. Mas quando Tracy fala a Isaac que "serão apenas seis meses" e que "nem todo mundo se corrompe", fica difícil não se emocionar com o sorriso sem graça que Allen, intérprete de Isaac, oferece à menina.


Continuo com Woody, nesta semana.


Um cheeseburguer, uma coca e um revólver, por favor. Troco para US$ 50


Por Hugo Oliveira

quinta-feira, 10 de março de 2011

It was your birthday yesterday

Vá à merda, Richard Hawley... Esse lance de ser Morrissey, Sinatra, Costello e Orbison, ao mesmo tempo, ainda vai acabar influenciando as pessoas. Positivamente.

A gente se fala. Abraços.

Obs: até o "Rei" poderia regravar essa música. Fácil, fácil.



For your lover, give some time
It was your birthday yesterday
I gave a gift that almost took your breath away
But to be honest I nearly left it on the train
For your lover give some time
You talk forever on the phone
To your mother and with my thoughts I'm left alone
Now and then I think : how strange our love has grown
For your lover give some time

I will give up this cigarette
Stay at home and watch you mend the tears in your dress
Have your name in a rose tattooed across my chest
And be your lover for all time

Maybe I will drink a little less
Come home early and not complain about the day
And give you flowers from the graveyard now and then
For your lover give some time

instrument

I think of places that I've seen
A skipping stone across the ocean I have been
A ruthless man with no one else to share my dream
And for my lover gave no time

Here's is a toast to you Helen
To all the cinemas we ran in from the rain
Laughing clutching soaking newspapers to your face
And for your love you gave some time

I will give up this cigarette
Stay at home and watch you mend the tears in your dress
Have your name in a rose tattooed across my chest
And be your lover for all time

Maybe I will drink a little less
Come home early and not complain about the day
And give you flowers from the graveyard now and then
And for my lover give some time
For your lover give some time



Por Hugo Oliveira

a shell for you

Há muito não me emocionava tanto com um filme. Acabei de assistir a Minhas mães e meu pai e o filme mexeu com um monte de coisas por aqui. E aconteceu justamente por espelhar virtudes e defeitos meus nos diferentes personagens. Nem vou falar da trama, se não assistiram ainda, procurem e vejam se gostam, a trilha sonora é foda, atuações na medida, uma reflexão boa demais sobre o casamento, uma cena de/sobre a Joni Mitchell que me arrebentou até pela minha ligação com o Blue, que ouço agora enquanto escrevo isso aqui. E termina com a música que mais gosto do MGMT.

Andei até assistindo a filmes melhores ultimamente, mas esse acabou batendo mais forte. Acordei e coloquei o filminho e nem estava preparado, mas tá valendo, melhor assim.

Preciso achar um sentido pra isso aqui tudo. Meus discos – mais até do que os livros no momento – me salvam da insanidade, mas preciso de mais do que isso. Reconheço, mas não sei por onde começar, qual o passo devo dar primeiro... Alguns eu sei, mas o desânimo e uma preguiça de tudo me impedem de fazê-los. Outras medidas importantes são mais difíceis de serem feitas, pois mexem com coisa mais séria, não vai ser só força de vontade que vai me ajudar,

Não sei o que fazer, meus amigos. Desculpem esses textos de merda, voltarei ao ritmo normal. Não sei quando, nem como, mas logo.


Por Ricardo Pereira

Bem-vindo a mais uma semana de trabalho!

Depois do carnaval, impossível não lembrar de Elvis Costello:



Por Hugo Oliveira

terça-feira, 8 de março de 2011

Reverso do Carnaval IV - JP Cuenca

E pra terminar a série, crônica do João Paulo Cuenca publicada em 2008, acho. Sempre trabalho em sala quando a matéria é crônica.

Feliz 2011 pra todos!

Carnaval já passou

Queria escrever uma crônica para os que passaram um carnaval triste. Para os que acordaram na quarta-feira cinzenta, sozinhos outra vez, com gosto de semana passada na boca. Para os que, inicialmente tímidos e depois desesperados, viram seu amor-próprio desmoronar à medida da seqüência inevitável de rejeições, de tocos, de não-me-toques, de olhares gélidos lançados pelas colombinas, indiazinhas, diabinhas e bailarinas.

Uma crônica para o exército de reserva dos tamborins, para os coadjuvantes fora de quadro, para os que perseguiram o encontro e, mesmo abandonando o que conheciam por critério, acabaram a folia com um zero a zero estampado no placar e na testa. Para todas as moças que se perfumaram e fantasiaram, e dançaram com samba no pé, e distribuíram olhares, e viraram o pescoço, e imaginaram tanto… E nenhum único vem cá meu bem. E nada.
Escrever uma crônica dedicada aos pierrôs que descobriram seus amores nas mãos do alheio, a boca aberta em outra, fazendo gargarejo com suas lágrimas. A todos os que flagraram a desejada beijando lividamente um anônimo arlequim, entre centenas de corpos em movimento, sob uma tempestade de confetes e a batucada acelerada de um bloco que, a partir dali, ganhará um sentido de vertigem insuportável. Uma crônica aos que sofreram as insídias do amor durante o carnaval nublado, e que tudo viram com olhos metafísicos, numa percepção aguda da realidade que o latão de cerveja quente jamais vai mitigar.

Aos bêbados que choraram confissões às sombras nas paredes. Aos que lamberam a calçada, beijaram o poste, abraçaram o gelo-baiano. Às mulheres que por aí esqueceram calcinhas e partes irrecuperáveis de si. Aos foliões reflexivos que, no meio do refrão, pararam e se perguntaram: “afinal, o que diabos estou fazendo aqui?” Ao ritimista que atravessou, levou um pescotapa do mestre e foi expulso da bateria no meio do desfile. Aos que se sentem distantes de tudo, mesmo no meio de uma muvuca atroz no Terreirão do Samba da Praça Onze. Aos que foram barrados na porta do camarote da cervejaria. Às passistas de corpo esculpido carregando as flechas de tantos olhares sabendo que nenhum, nenhum deles, realmente a quer de verdade – pois elas, como todas as mulheres, são outras que nenhum, nenhum deles, jamais conhecerá.
Aos melancólicos senhores e senhoras com os cotovelos apoiados nas janelas de Laranjeiras, a quem o carnaval faz lembrar certa pureza esquecida, de bailes em Paquetá, de lança-perfumes e marchinhas de uma cidade que não mais existe – de uma vida que se aproxima do fim. Aos persistentes infelizes por vocação que lotaram salas refrigeradas de cinema, livrarias e cafés tentando fingir que o carnaval não existiu.

Uma crônica que faça uma homenagem aos rebaixados na passarela, que preste tributo aos que tiveram o samba derrotado, que dê consolo aos turistas que foram assaltados e esculachados na cidade maravilha. Um alento aos fracos que desistiram da multidão do Bola, que tiveram medo da Rio Branco noturna do Cacique, que afrouxaram a garganta no único momento que poderia lhes salvar do carnaval triste. Uma crônica que tire um pouco do peso daqueles para quem o término do carnaval é sinônimo de nada mais restar, é caldo de fim de feira às margens do precipício, é tristeza e medo pelo que virá no resto do ano. Porque o ano, depois do carnaval, é resto. É o pouco que sobra.

Acabou, e sempre acaba cedo demais, chega rápido o último dia. Depois, só no ano que vem. Já acabou: as cinzas de quarta-feira caem sobre nossa última dança. Os ambulantes arrastam seus carrinhos, as baterias recolhem suas peças, o eco das notas do samba derradeiro flutua sobre nós. Sob o grave de um surdo solitário, acaba o carnaval. Já limpam as ruas, os carros já vêm. Calam os subúrbios escuros. Calam as avenidas fechadas. Calamos nós. Acabou. Logo amanhece, e já não seremos mais quem fomos. Como agora, sem carnaval, vamos nos justificar? E até o próximo, o que será de nós?

- João Paulo Cuenca

Por Ricardo Pereira

O usual


Queria conseguir escrever um texto ‘pra cima’, otimista, para colocar aqui, mas minha cabeça tá jogando contra. Aqueles dias de preguiça da vida e não, não vem um texto ranzinza sobre o carnaval, a culpa tá longe de ser dele.

“Everybody's going out and having fun
I'm a fool for staying home and having none.”

“Neil, homem velho, será que você tem tantas angústias quanto eu?”  Ontem poderia ter saído, ou pro carnaval com a Loo, pra Garatucaia ouvir música de verdade e falar aquele tanto de besteira com Cecel, ido pra Niterói pra casa do Pedro e fazer a maratona R.E.M., ouvindo seus vinis em sequência... Peço desculpas a todos pela ausência, mas me bateu uma imobilidade, cansaço de quase tudo e não que eu estivesse deprimido. À noite saí pra comer alguma coisa, depois ouvi o primeiro Ben Kweller, li um pouco antes de dormir, enfim, as coisas que me fazem bem, me divertem... Mas...

(Tenho uma espécie de bloqueio, uma espécie de limite de qualidade. Na verdade, pra postar o que escrevo, tenho que ter a certeza de que não parece com os textos de uma pessoa específica. E, pela primeira vez, talvez esteja dando motivos pra alguém pensar isso, o que me aflige, mas que se foda, ao menos dessa vez.)

Meu problema é a idealização, por mais que eu cresça, continua sendo o que me fode. Quando criança/adolescente sonhava ter só uma mulher na minha vida, aquelas histórias bonitas praticamente inexistentes, sabe? E isso é uma frustração que vou carregar sempre comigo...

Outra coisa é como lidar com a vida. Antes eu pensava que bastava ser um cara educado, honesto, respeitar as pessoas e andar no ‘caminho correto’ – que porra é essa? – que tudo se resolvia, que a vida faria justiça a isso. Dá até vontade de rir, desculpa aí se quem estiver lendo isso sentir aquela espécie de ‘vergonha alheia’ por esse texto... Ignorem, é um desabafo bobo, mas necessário agora. Daqui a pouco, bons textos, vídeos bacanas vão aparecendo e isso vai ficar soterrado pra eu reencontrar daqui a alguns anos e provavelmente me envergonhar.

Dostoievski é um dos grandes leitores da alma humana, isso não é novidade (ou não deveria ser) pra ninguém. Trecho de Os Irmãos Karamazov: “Agora eu me vou, mas fique sabendo que a senhora realmente só ama a ele. E o ama tanto mais quanto mais ele a ofende. Eis a sua mortificação. A senhora o ama precisamente tal qual ele é, ama-o sendo ofendida por ele. Se ele se emendasse, a senhora o largaria imediatamente e deixaria de amá-lo de vez. (...) Oh, há muito de rebaixamento e humilhação aí, mas tudo isso vem do orgulho...”.

Eu sei, ando obcecado por esse tema, mas é a pura realidade, gostaria de alguém que pudesse me explicar de verdade porque é assim.

“De repente o medo de morrer sozinho me incomoda mais do que o usual”. Pra fechar esse desabafo, a frase do último disco do Superguidis que me persegue como um fantasma. Há drama, exagero, essa merda toda aqui, mas medo também... e mágoa também, muita. 

I am the book and you are the blinding.
 Por Ricardo Pereira