"There's a fear I keep so deep / Knew it name since before I could speak (...) If some night I don't come home / Please don't think I've left you alone"- Keep The Car Running, Arcade Fire

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Realismo convincente

Empolgado pelo belo Gosto de Cereja, ando procurando conhecer mais da filmografia de Abbas Kiarostami. E, assim, cheguei a Cópia Fiel, de 2010, primeiro filme "ocidental" do diretor iraniano. Nele, Elle (Juliette Binoche, lindíssima, em interpretação sublime) assiste a uma palestra do escritor inglês James Miller, que, em seu último livro, discute a originalidade e autoria artística.


E questiona: se uma cópia perfeita de uma obra de arte for capaz de emocionar do mesmo modo que a original, por que aquela deve ser considerada 'menor', menos valorosa do que esta? Não estariam as duas cumprindo a mesma finalidade, atingindo o mesmo efeito?

Os dois personagens encontram-se, saem em um passeio de carro pela cidade italiana onde se passa a história enquanto conversam longamente sobre estes e outros temas. Mais uma vez, o diálogo dentro de um automóvel, com realce nas paisagens, recurso utilizado também em Gosto de Cereja e, pelo visto, característico da obra do diretor.

Ao pararem em um café, são confundidos com marido e esposa e passam a agir como tal, tornando-se, então, cópia fiel de um relacionamento em crise. Acabam de tal forma envolvidos em tal representação, as discussões são tão vivas, sentidas, que acabamos nós, espectadores, com a ligeira dúvida sobre a veracidade ou não do que acompanhamos.

Um brilhante desenvolvimento do tema do livro fictício e do próprio filme, que nos põe a refletir ainda o quanto também, em muitas situações, somos nós ali ou uma representação, cópia fiel de um espelho de origem desconhecida, cacos amalgamados de idealização.

Eu, máximo, único, nenhum.
 Por Ricardo Pereira

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Com a perna no mundo


Assim como Hugo, também gostei de À beira do caminho. É um filme que trata de questões pesadas: perdas, dores, traumas, solidão. E o faz de forma bela, ainda que pouco original. As semelhanças com Central do Brasil, por exemplo, são por demais evidentes.

O diretor, Breno Silveira, o mesmo de 2 Filhos de Francisco, na verdade, evita correr riscos. Mesmo com todo o silêncio e certa lentidão, é um filme eminentemente popular. Sem surpresas ou grandes viradas narrativas, entrega exatamente o que o espectador médio espera. O que não chega a ser problema para quem se deixar levar pela emoção.

O que não é difícil, muito devido às grandes interpretações de João Miguel - baita ator! -, mais uma vez excelente; o menino Vinicius Nascimento, com sua simplicidade e carisma, e Dira Paes, além de talentosa, cada vez mais bonita.

No entanto, mais do que qualquer coisa, o grande fator sentimental do filme são as canções de Roberto e Erasmo Carlos. Assim como as frases de caminhão que pontuam momentos importantes da narrativa refletindo os sentimentos do protagonista João, as histórias cantadas/escritas por Roberto guiam o espectador pelos caminhos emocionais dos personagens, sendo grande trunfo narrativo.

Fosse outra trilha sonora, o filme não falaria tão alto ao coração. Por mais que espumem os detratores, Roberto Carlos é a verdadeira voz do Brasil, a que mais representa a alma, o sangue de um povo heterogêneo, mestiço, misturado em tão grande território. Possível síntese emocional de nossas contradições.

E, no final das contas, À beira do caminho é mais uma prova do poder destas canções.

Essas recordações me matam
Por isso eu venho aqui...
 Por Ricardo Pereira

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Cumplicidade silenciosa


Um homem dirigindo um caminhão. Esta é a primeira cena de “À beira do caminho”, novo filme do diretor Breno Silveira. Ele está sozinho na estrada. Não há diálogos, palavras soltas ao vento ou pensamentos altos. O silêncio só é quebrado pela canção “A distância”, de Roberto Carlos, que começa a tocar dentro da cabine.

Nunca mais você ouviu falar de mim
Mas eu continuei a ter você
Em toda esta saudade que ficou...
Tanto tempo já passou e eu não te esqueci

Nem precisa chegar ao refrão. Temos alguém com um coração partido. Uma história mal resolvida. Pausa na música: um pneu do veículo acaba furando. É necessário fazer uma parada para consertá-lo. Ao visualizar a peça que deve ser trocada, o homem ouve um barulho na carroceria. Lá dentro, um menino que viajava escondido é descoberto. Ele revela que só queria uma carona para São Paulo, na intenção de encontrar o pai que ele não conhece.

Prontinho. O encontro inusitado entre o motorista João – João Miguel – e o menino Duda – Vinicius Nascimento –, “dois fodidos”, é tudo que o espectador precisa para embarcar numa viagem tocante, de pouco mais de 1h30. No trajeto, nada de explosões, tiroteios ou efeitos especiais mirabolantes. Apenas um homem e um garoto numa cabine, espremidos entre a culpa do primeiro e a esperança que o segundo carrega. Em algum momento alguém vai ter que descer.

Não existem grandes mistérios relacionados ao longa. As pistas sobre o que aconteceu e o que está por vir na vida da improvável dupla vão sendo apresentadas de forma simples... Como se o filme pudesse ser resumido numa frase de parachoque de caminhão. “Espere o melhor, prepare-se para o pior, aceite o que vier”. Um lugar comum inescapável. E absolutamente crível.

O que faz “À beira do caminho” entrar diretamente na lista de grandes filmes brasileiros de 2012 é a interpretação dos protagonistas. Despidos de maiores afetações e tons exagerados, os atores criam, cena após cena, uma cumplicidade silenciosa. E emocionante. Cada informação oferecida através da película alimenta nossa relação com os personagens. E chegamos ao final querendo mais, desejando abraçá-los, viajar ao lado deles ouvindo “O portão”, clássico do “Rei” que demarca o término de uma história. E o começo de outra.

Enquanto houver vida, haverá sorrisos e lágrimas, redenção e remorso. Os livros, as experiências, os conselhos, o amadurecimento, a religião, nada, nenhum deles poderá nos proteger.

Porque viver é mesmo desenhar sem borracha.



Por Hugo Oliveira

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Direto

Você acha mesmo que eu vou ousar escrever algo depois do texto lindão que o Ricardo postou? Vai nessa. "Alumbramento" não é apenas mais uma postagem do blog: é a representação máxima do diário virtual. Tudo o que a gente queria dizer, mas de uma talagada só, cowboy.

Sinceramente? Um cara que produz um troço genial e emocionante como esse é capaz de qualquer coisa nesta vida.

Feche a conta e passe a régua. Divirta-se antes que tudo acabe em chamas.








Por Hugo Oliveira

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Alumbramento


Sempre tive a nostalgia como companheira. Desde minha infância, sentindo saudades de uma época que não vivi ao assistir a Anos Incríveis ou ouvindo os discos de meu pai. Agora dei para ter nostalgia das séries a que venho assistindo. Sopranos bateu forte e deixou um vazio, sinto saudades dos personagens, até sonho com eles. Esta semana acabei Six Feet Under e, pelo visto, vai acontecer o mesmo. Acabei, durante o seriado, me apaixonado pela Claire, mas gostaria de alguém como a Maggie para casar, mas isso é outra história...


Quero a cumplicidade do Henrique na época de alojamento, pizza “à moda” em dias de jogo, sua companhia nos shows do Caetano ou do António Zambujo; ouvir o Paul McCartney cantando “The long and winding road” abraçado com meu pai num Engenhão quase onírico; cantar “Sem Fantasia” com minha mãe – eu, Chico, ela, Bethânia –, compartilhando vinhos e intimidades; levar Sofia ao Maracanã pela primeira vez e ver seu botafoguismo aflorando.

Quero, em dias de ensino fundamental, sentar ao lado do Rodrigo ‘Mosquito’ no colégio, descobrindo que a diferença de personalidades não é impedimento para aproximação e amizade; viver novamente ao menos uma das várias despedidas da minha turma da oitava série, despedindo-me de Bangu sem saber o que Angra me reservava; encontrar Alexandra, minha Winnie Cooper - primeiro amor de cartas, saudades e distância - na rodoviária de Campo Grande e sentir o afeto oriundo de outra vida em seu sorriso.

Quero andar pelo condomínio com o Rodrigo, alma alvinegra que se foi tão cedo, descobrindo nossas parecenças e angústias infantis; falar besteira e ‘não fazer nada’ com Maycon, Nelsinho, André em dias que pareciam tão mais longos; beber meu primeiro uísque com Gláucio e me sentir andando nas nuvens.

Quero tocar “Meu amigo Pedro” no aniversário do Pedro Henrique, dar sorte em decisões do Vasco contra times de camisa azul ao lado dele e de seu pai; estar com o Rodrigo no lançamento do Bloco do Eu Sozinho num Canecão pela metade; conhecer o Hugo através do gosto compartilhado por Doors e Smiths e, bem mais tarde, tentar aprender a virar adulto vivendo fases parecidas; apresentar Sérgio Sampaio ao Marcel e poder viver ao menos um dos dias da fase louca que será sempre recordada; estar no show do R.E.M. no Rock in Rio com Virgílio, grande botafoguense; discutir a diferença entre tristeza e melancolia com Cecel, quando ambos ainda tínhamos cabelo; virar a noite com Schrit rindo de vídeos engraçados; estar com o Cadu no show do Nervoso, discutindo pré-requisitos jovemguardistas para melhor aproveitamento do espetáculo; ouvir o Roma executar o hit “Celulite” em um violino imaginário; ir para a festa do peão com o Matheus sem saber onde ficar; fugir com o Rodrigo de algum evento no colégio de Garatucaia enquanto nos conhecíamos e aprendíamos a lecionar; trocar confidências com a Carol em um bar no Bracuhy, enquanto percebia ela se transformar em grande amiga; fazer propagandas insanas com a Mariana num bar ou enxergar o que só nós víamos num buraco no muro do Aquidabã; estar com a Nina e a Liana em conversas intermináveis.

Quero sair do cinema em Juiz de Fora com a Isabella sentindo o mundo só nosso e acreditando pela primeira vez no “pra sempre”; ler Baudelaire para a Bárbara no meu quarto do alojamento em um romance de filme; compartilhar com a Camila um vinho de grande simbologia para meus pais em uma bonita noite em Resende; deixar a segurança do meu mundo por uma paixão arrebatadora pela Amanda; viver um dia dos namorados perfeito com a Hortencia, compartilhando o carinho e cumplicidade do meu provável relacionamento mais maduro.

Quero um dia de garrafas de vinho, grandes canções e a confirmação de uma conexão que independe de distância com a Ingrid; encontrar Lívia e Daniel num show do Pato Fu e começar daí uma bela amizade; quero sair sem rumo com Marcella, minha irmã de loucuras e depois ouvir as repreensões da Patrícia, mãe de nós dois; estar com a Rosane na mesa em frente à faculdade ouvindo sua história de amor pela internet que acabou virando casamento; chegar à noite no alojamento e ficar no corredor conversando com o Ramon por muito tempo sobre o Botafogo; acompanhar as maluquices da Renata; beber com o Leo em silêncio numa quinta-feira, dia da morte de George Harrison e, depois, já embriagados, cantar suas canções com um misto de dor e emoção.

Quero chegar na casa do Fábio, assistir a vários Woody Allens e tirar dali o substrato de nossas reflexões, queixas e divertimentos; dividir segredos com a Luisa, sair com ela do show do Moptop bebendo de bar em bar Botafogo a dentro; ir ao cinema com a Juliana, perder a primeira sessão, então aproveitar para que os dois primos mais fechados se aproximassem; ouvir minha madrinha Eugênia falar sobre a vida, discos e livros; conhecer melhor Acílio, meu padrinho, trabalhando com ele em pesquisas; ir ao show do Skank com Renato e perceber, orgulhoso, seu crescimento; voltar do trailer de madrugada com a Giane, minha segunda mãe, ou sentar em frente sua casa, bebendo cerveja e cantando Roberto Carlos na altura; receber o abraço de criança do Junior não querendo que eu vá embora; ver o Joaquim nascendo.

Quero chorar bêbado ouvindo Fagner no meu aniversário, sentindo-me só rodeado de pessoas queridas; assistir ao final da terceira temporada de Lost sem saber o que me esperava; travar conhecimento da obra de Saramago via Levantado do Chão enquanto minha namorada de então fazia uma prova de concurso; sentir minha alma em fogo ao terminar o último parágrafo de Cem anos de solidão; ouvir o John Lennon cantando alguma coisa, qualquer coisa; descobrir o Radiohead falar por mim, mesmo quando não há palavras.

Quero assistir a uma aula de Literatura Portuguesa da Mônica Figueiredo; emocionar uma turma com o que me emociona; comprar o jornal sexta para ler uma coluna do Dapieve; conhecer Riobaldo e me embrenhar irreversivelmente no sertão roseano.

Quero um texto sentimental, sem a mínima ambição literária, me fazendo reviver por segundos em flashes ininterruptos grandes momentos da minha vida.

Quero o mundo e quero agora.

Quero poder sentir todas estas sensações de uma só vez nos meus últimos sete segundos de vida. E ao chegar ao outro lado, caso outro lado exista, quero ser recebido pela Jade; conhecer meu avô Valter; abraçar minha avó Maria e conversar longamente com seu Joaquim; assistir a futebol com Otávio; beber cerveja com tio Rui e tia Terezinha; conhecer melhor tia Nice e, se me for permitido, secar uma garrafa de uísque num bar celestial discutindo amenidades e a eternidade com Vinicius de Moraes. 


Por Ricardo Pereira

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

A hora da estrela

Hoje estou explodindo de felicidade! Acabei de conhecer Joaquim, filho da Luisa e Cecel, meus amados primos, amigos, irmãos! Poucas vezes senti tanta alegria no meu coração!

Saúde, paz e muita vida é o que desejo para esse menino já tão querido.




               "ele está pronto pra mudar a sua vida pra sempre"

Por Ricardo Pereira

domingo, 12 de agosto de 2012

Twilight on the frozen lake



"espere baby não desespere
não me venha com propostas tão fora de propósito
não acene com planos mirabolantes mas tão distantes
espere baby não desespere
vamos tomar mais um e falar sobre os mistérios
da lua vaga
dylan na vitrola dedo nas teclas
canto invento enquanto o vento marasma
espere baby não desespere
temos um quarto uma eletrola uma cartola
vamos puxar um coelho um baralho
e um castelo de cartas
vamos viver o tempo esquecido do mago merlin
vamos montar o espelho partido da vida como ela é
espere baby não desespere
a lagoa há de secar
e nós não ficaremos mais a ver navios
e nós não ficaremos mais a roer o fio da vida
e nós não ficaremos mais a temer a asa negra do fim
espere baby não desespere
porque nesse dia soprará o vento da ventura
porque nesse dia chegará a roda da fortuna
porque nesse dia se ouvirá o canto do amor
e meu dedo não mais ferirá o silêncio da noite
com estampidos perdidos"

(chacal)

"É, os velhos tempos se foram para sempre e os novos não ficam muito para trás."
Por Ricardo Pereira

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Vem coisa boa por aí - The xx

Já havia cantado a pedra por aqui, mas não custa nada repetir: a banda inglesa The xx é uma das coisas mais legais que apareceram nos últimos tempos, em se tratando desse tal rock indie.

O primeiro disco, lançado em 2009, desce muito bem. Minimalismo cool, climão soturno e instrumental esparso. O resultado final surpreende.

Agora, o grupo está prestes a lançar o sucessor do disco homônimo. As expectativas são altas, e algumas pistas já dão a entender que vem coisa boa por aí. Novamente.

A canção aí de baixo, "Chained", é uma delas.


Por Hugo Oliveira

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Vazio e Momento


Este fim-de-semana, assisti a um filme que não me sai da cabeça: Gosto de Cereja (Ta’m e Guillas, 1997), do diretor iraniano Abbas Kiarostami. Nem sei se me sinto à vontade para recomendá-lo, imagino que muitos achariam chato, cansativo. O que, é claro, não invalida uma obra, como vem defendendo Hermano Vianna.

A trama é de grande simplicidade. Badii, um homem de meia idade, circula de carro em uma desértica Teheran procurando alguém que o ajude em seu intuito: pretende suicidar-se e quer a garantia de ser enterrado pela manhã ou resgatado caso ainda esteja vivo. Nisso se resume o enredo, nem ao menos temos acesso aos motivos que o levam a querer despedir-se da vida. Importa a busca por quem o ajude em seu objetivo.

E, assim, somos levados a acompanhar as reações dos candidatos à tão insólita proposta, caronas temporárias nas angústias do protagonista. Um jovem e assustado soldado; um seminarista cujos princípios religiosos o impedem de compactuar com o plano de Badii; e, por fim, o senhor Bagheri, velho taxidermista turco que, com uma mistura de sapiência e simplicidade, discursa longamente em defesa da vida, a partir de uma tentativa de suicídio que não levou em frente graças ao gosto de amoras, à vivência da natureza. Nesse ponto específico não pude deixar de pensar em Riobaldo.

Apesar da forte carga temática, o filme não resvala em sentimentalismos. Ao contrário, o tempo todo predomina a razão, representada pela aridez da paisagem e pelos olhares e silêncios do protagonista. Inclusive nos momentos primorosos que expressam a angústia da possível morte vindoura, como as vezes em que o homem se pega a observar as aves sobrevoando cadáveres de animais, ou quando, agachado no meio de uma obra, as sombras das pedras desabando simulam magistralmente seu próprio sepultamento.

Há um epílogo desnecessário, com uma cena dos bastidores da filmagem em um clima de leveza antitético ao que fora mostrado até então. Causa certa estranheza, mas não diminui os efeitos de uma obra de grande impacto reflexivo.

Maybe you did. Maybe you walk. / Maybe I drive to get off, baby.
 Por Ricardo Pereira

Tá legal, eu aceito o argumento...

Acompanhando a obsessão recente do Hugo com a apresentação do Bruce Springsteen e, depois de assistir ao vídeo postado aí embaixo e não me sentir tocado da mesma forma que ele, pensei em quais apresentações recentes me deixaram impressionado, alucinado de vontade de estar naquele show. E me senti meio "traidor do movimento" por nenhuma delas exercitar um espetáculo de rock n' roll básico...

O que me veio à mente:

                                               Portishead em momento sublime

                               Radiohead em uma de suas melhores criações recentes

                                   Sufjan Stevens numa de minhas preferidas do Adz

Claro que há diversos outros artistas de rock n' roll que me emocionariam demais ao vivo, mas não sei se nem perto desses três exemplos aí. 
Fora o Wilco (meu concerto sonho de consumo), claro...

Por Ricardo Pereira

Bobby Jean

Uma paradinha no especial sobre Britpop. Ando assistindo desesperadamente ao blu-ray "London Calling - live in Hyde Park", de Bruce Springsteen. E é o melhor show que eu já vi na vida.

Eu queria escrever sobre o espetáculo. Quero. Mas é uma tarefa por demais ingrata. Encontrar as palavras corretas para descrever emoções tão intensas, tão variadas... Complicado.

O senso crítico vai para a vala quando aperto o play e Bruce e sua banda entram no palco. Eles usam roupas fora de moda. São, em sua maioria, músicos calejados, velhos de guerra, velhos de corpo. Mas jovens no coração.

Tenho apenas um registro oficial do "Boss", o aclamado "Darkness on the Edge of Town". Um presente de aniversário dado pelo meu irmão. Havia escutado umas três vezes. Prometo que agora voltarei a ele, Marcel!

Ao vivo, Bruce faz todo o sentido do mundo. Como em "Bobby Jean", umas das emocionantes faixas do blu-ray.

A letra é um achado. Numa interpretação rápida, pode soar como uma história de alguém fugindo. De uma cidade, de um futuro indesejável ou até mesmo de uma paixão que não daria certo. A pessoa que fica, um amigo ou um amor,  não foi avisado da brusca partida. E resolve escrever uma canção sobre o que aconteceu.

Existem versões que indicam uma declaração de amizade e saudade ao guitarrista da banda de Bruce,  Steve Van Zandt, que decidiu sair do conjunto no período de gravação da canção.

Não importa. Qualquer que seja o assunto, Bruce acertou na mosca. Ao escutar essa música, lembro dos amigos que foram embora de Angra dos Reis e dos que ainda vão. Das pessoas tão importantes e especiais que passaram pela minha vida.


Maybe you'll be out there on that road somewhere
In some bus or train traveling along
In some motel room there'll be a radio playing
And you'll hear me sing this song
Well if you do you'll know I'm thinking of you and all the miles in between
And I'm just calling one last time not to change your mind
But just to say I miss you baby, good luck goodbye, Bobby Jean

Uma canção é pra isso: emocionar.
Por Hugo Oliveira

domingo, 5 de agosto de 2012

cold water


Errei uma vez, não por (não) enxergar o breu como a cegueira patológica, ou a cegueira branca saramaguiana: a cegueira vermelha da paixão. Errei e paguei por meus erros, paguei de repente mais até do que merecia, no entanto menos do que poderia ter me custado. Não há, pois, muito a reclamar.

Não sou adepto de auto-piedade, penso que a gratidão deve vir antes da mágoa (quando possível – depois de um tempo é  quase sempre possível) e reconheço perfeitamente as relações de causa e consequência em cada ato pensado ou impensado que escolhemos. Ainda assim, tantas vezes insistimos em estradas parecidas, torcendo para que desemboquem em paragens mais amenas. E, como num labirinto, deparamos com cenário semelhante (o mesmo? não! “mas não estava claro que assim seria?” – argumenta a consciência, nessas horas agindo com a inutilidade de um comentarista de arbitragem.) nunca é claro. no fim, é tudo sempre igual, quase sempre quando se insiste em acreditar em flores rompendo o asfalto fora da poesia.

“Na prática..." (fecham-se as cortinas, garganta seca em mim. no público? agora quem é quem?

Um estalo - o joelho que arrebenta para evitar (adiar que seja) caminho vacilante rumo a novo erro. 

"the same old rain?

Lê-se muito sobre o amor, fala-se muito, assiste-se a filmes com diferentes abordagens e, no fundo, entende-se porra nenhuma.

“passará depois em cada despedida
nos romances e mistérios dessa
clareira que há de nos iluminar”

Para trazer um pouco de coerência a este confuso desabafo dominical, mais uma beleza do primeiro Guilherme Arantes, que ando ouvindo sem parar:


Que a próxima cegueira seja como a de Borges, não a real,

Por Ricardo Pereira

Meu mundo e nada mais

Guilherme Arantes me traz fragmentos da infância, de domingos de som dos meus pais e, pouco mais tarde, das fitas gravadas para as viagens de férias Rio-Angra. No entanto, ouvindo hoje, percebo em suas canções um compositor pop como poucos em atividade no mundo. Estava escutando seu primeiro álbum ontem e pensei no quanto Chris Martin não daria para escrever pérolas como aquelas. Veja o primeiro grande hit, "Meu mundo e nada mais". Melhor, mais bonita e emocionante do que qualquer coisa de Coldplay, Travis, Keane ou dezenas de bandas até boas incensadas pela "sensibilidade" e capacidade de compor belas melodias.


Por Ricardo Pereira

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Pequenas grandes canções do Britpop - "Common people", Pulp

Grupo oriundo de Sheffield, o Pulp nasceu no final dos anos 70, logo ali entre a consolidação do punk britânico e o início do pós-punk. São mais de 30 anos em atividade, embora o conjunto tenha dado uma parada após o disco “We Love Life”, de 2001, retomando o caminho dos palcos somente em maio do ano passado. Dos nomes mais famosos do Britpop, foi o último que eu dei atenção. Uma pena, pois o trabalho do vocalista e letrista Jarvis Cocker só encontra comparação nos escritos de gente como Morrissey – The Smiths – e Ray Davies – Kinks. Exagero? A canção “Common people”, carro-chefe do disco “Different Class”, lançado em 1995, é um belo exemplo. Craque em observações não apenas relativas ao cotidiano inglês, mas inerentes ao ser humano, Jarvis narra a historinha incrível de uma estudante de arte que, apesar de rica, quer ser uma pessoa comum, passar pelas mesmas dificuldades que todos os pobres mortais passam. Amparado por uma sonoridade kitsch, com direito ao órgão delicioso de Candida Doyle e um crescendo sonoro que resulta numa quase punk rock, Jarvis recheia a letra de tiradas fantásticas e conclusões amargas. E elas servem principalmente àqueles que, ao se depararem com baratas subindo nas paredes de um “apertamento” vagabundo, numa área nada nobre da cidade, não vão poder chamar o papai para ajudá-los. Triste e verdadeiro. Como a vida. “Common people” é um belo soco na cara daqueles que enxergam beleza e poesia na vida ordinária, mas que não tem que passar por dificuldades com as contas no final do mês. Afinal, falar é muitíssimo fácil quando os empréstimos e as cobranças não são emitidos em seu nome. “Quem gosta de miséria é intelectual, pobre gosta de luxo”. É por aí, Joãozinho Trinta. Por Hugo Oliveira

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Outrora agora

        

Pobre velha música!
Não sei por que agrado,
Enche-se de lágrimas
Meu olhar parado.

Recordo outro ouvir-te.
Não sei se te ouvi
Nessa minha infância
Que me lembra em ti.

Com que ânsia tão raiva
Quero aquele outrora!
E eu era feliz? Não sei:
Fui-o outrora agora.

- Fernando Pessoa

Por Ricardo Pereira

Pequenas grandes canções do Britpop – “Live forever”, Oasis

Lançado em 1994, o álbum de estreia do grupo Oasis, “Definitely Maybe”, atraiu a atenção da mídia mundial para a Inglaterra, mesmo que a maioria dos holofotes estivesse apontada para Seattle, onde bandas como Nirvana e Pearl Jam já desfrutavam de grandioso sucesso por conta do tal “movimento grunge”. Eram cinco caras comuns de Manchester, oriundos da classe trabalhadora. Feiosos, nada estilosos e sem qualquer pinta de estrelas do rock. Parecia não ter como dar certo, mas deu. Os primeiros singles do disco, “Supersonic” e “Shakermaker”, chegaram a fazer algum barulho, mas nada comparado ao poder de “Live forever”, terceiro lançado. Foi a canção que transformou o conjunto num verdadeiro símbolo do rock dos anos 90. “Live forever” começa com um “Yeah” cantado baixinho, quase sussurrado, pelo vocalista da banda, Liam Gallagher. Segue-se uma marcação de bateria, pratos, surdo e bumbo, numa pequena introdução para o lindo trabalho de guitarra feito por Noel, irmão de Liam. Distorção, tom grandioso – embora nascido no underground – e marra, muita marra. Pronto: nascia uma canção inesquecível que, parodiando a própria letra, estaria fadada a “viver para sempre” no imaginário coletivo dos fãs de rock. Depois do lançamento da música, as engrenagens começaram a funcionar para a banda. Lançaram um álbum tão bom quanto o primeiro, “What’s the story morning glory?”, no ano seguinte; fizeram shows memoráveis, como os de Knebworth, na Inglaterra, nos dias 10 e 11 de agosto de 1996, com um total de 250 mil entradas vendidas. Além disso, os irmãos Gallagher, conhecidos pelo temperamento explosivo e pelas constantes brigas, transformaram-se no xodó/ódio nacional do país, muitas vezes tendo suas declarações repercutindo mais do que as lindas canções compostas pelo conjunto. Fodam-se as polêmicas. O negócio é mergulhar fundo na obra do grupo. Certamente, “Live forever” é o melhor começo. Por Hugo Oliveira