Saiu de sua cabana e quedou estático mirando apatetado os flocos de neve. Afastou o capuz, abriu de leve a sobrecasaca, queria poder sentir a pele gelando. Seria o frio exterior pungente e tranquilo como o que alimentava sua alma?
Há quanto tempo não via um homem? Três, cinco anos? Ali, foragido, exilado, de que importava o tempo? O que isso significava?
Olhava em volta, tudo coberto pelo gelo. Uma rajada mais forte de um vento seco o fez regozijar-se de ainda possuir a capacidade de sentir, ainda que frio.
Em um fio de voz, balbuciou uma antiga canção de um de seus álbuns favoritos – Quanto daria para poder te ouvir, Joni! - Sentiu o peito apertado e sorriu ao imaginar suas possíveis lágrimas congelando em seu rosto. A aparição de um pensamento infantil foi como uma fugaz mornidão em meio ao frio constante.
Mas mesmo esta breve reflexão foi abafada abruptamente. Seu mandamento primeiro era não olhar para trás, para que não sentisse falta dos seus. E o vento que agora gelava sua garganta cismava de lhe trazer o passado, os motivos que o fizeram querer sumir.
Sentiu-se por um instante fragilizado. O vento, cada vez mais intenso, assemelhando-se ao mundo de outrora, parecia querer derrubar sua fortaleza feita de solidão.
Voltou então cambaleante, como se cada passo exigisse uma força muito além do seu alcance. Ao encontrar-se novamente em seu refúgio – tentativa mal sucedida de lar -, sentou em um canto, respirou fundo e fechou os olhos com força, acarinhando sua barba esbranquiçada, sabe-se lá se pela neve ou pelo tempo.
Por Ricardo Pereira
Ta ficando bom nisso heim caro mano..rsrs
ResponderExcluirAbração
haha Valeu, cara!! Gostei desse texto também,
ResponderExcluirAbraço!
"Sabe-se lá pela neve ou pelo tempo"... Lindo! Bjs!
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