"There's a fear I keep so deep / Knew it name since before I could speak (...) If some night I don't come home / Please don't think I've left you alone"- Keep The Car Running, Arcade Fire

terça-feira, 30 de abril de 2013

Crônica de uma morte anunciada


Quase três anos de vida: este foi o tempo de existência do Talk About The Passion, blog que mantive com meu grande amigo, Ricardo Pereira, até esta semana.

As conversas a respeito de um possível fim para o diário virtual foram tranquilas, mas foi impossível não sentir uma espécie de desconforto ao falar sobre a ação.

Numa comparação grosseira, ultimamente era como se fôssemos três irmãos. Eu, Ricardo e o blog, sendo que o último se encontrava em coma profundo, respirando através de aparelhos, na UTI de algum hospital.
“E aí, vamos dar um basta ao sofrimento do blog?”, questionava Ricardo. “Pô, vamos sim, cara. Está sendo difícil encontrar tempo para cuidar dele”, eu respondia.

Só não sabia – e não sei – dizer o motivo pelo qual me sentia mal ao falar a respeito do término do diário. E ainda me sinto. Ao escrever este texto, por exemplo. Sabe aquele lance de “fim da inocência”? É mais ou menos por aí.

Muitas coisas aconteceram durante o tempo em que o blog existiu. Minha vida tomou rumos inesperados durante esses quase três anos. Chorei, sorri e vivi pra caramba. E está tudo aí, nessas postagens. Ora nas entrelinhas, ora de forma direta. Medo, esperança, culpa, alegria, saudade, ódio e, acima de tudo, paixão. Absolutamente baseado em fatos reais, mas com uma roupagem de cultura pop. Canções, filmes e livros a serviço de nossas existências. E vice-versa.

Ricardo foi fundamental quanto à decisão de finalizar o blog. E eu me orgulho muito disso. Talvez ele não saiba, mas, quando comecei a construir este espaço virtual que tanto me deu orgulho, minha intenção não era apenas ter um lugar para escrever sobre o show do Morrissey ou a respeito da biografia do poeta curitibano Paulo Leminski.

Eu queria, com todas as forças, ajudar o meu grande amigo. Fazer com que ele enxergasse uma luz, mesmo que pequena, no fim de um túnel chamado depressão. Não é muito, eu sei, mas era o que eu podia fazer. Colocá-lo em atividade através de algo que ele faz brilhantemente: escrever.

E foi isso o que aconteceu. Na resenha de um disco, nas opiniões sobre determinado filme, numa crônica ou num conto, Ricardo encheu este espaço de genialidade e talento literário.

De alguma forma, quando o Ricardo é o primeiro a escrever um texto sobre o fim do Talk About The Passion, só posso me orgulhar dessa atitude. Acho que cumpri minha missão.

Ou melhor, cumprimos.

A todos que deram ao menos uma passadinha por aqui, em algum momento de suas vidas, nossa eterna gratidão.

Até logo.


Por Hugo Oliveira

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Imitação da vida


"The greatest lost track of all time:
The Late Greats' "Turpentine"
You can't hear it on the radio
You can't hear it anywhere you go


The best band will never get signed
K-Settes starring Butcher's Blind
Are so good, you won't ever know
They never even played a show
You can't hear 'em on the radio"


- The Late Greats, Wilco


Não é fácil dizer adeus. Seja a pessoas queridas que passam por nossas vidas, bandas que deixam de existir, o ídolo do seu time que se transfere, séries que acompanhamos por anos, despedidas são sempre desconfortáveis. Da mesma forma, o que deveria ser algo corriqueiro, relegar o About the Passion ao cemitério de blogs, não foi uma decisão tomada tranquilamente.

Há alguns meses não conseguimos nos dedicar a este espaço como nos acostumamos. Não importam os motivos, a verdade é que Hugo e eu, pouco a pouco, fomos deixando de registrar nossas impressões sobre o que nos interessa. Da minha parte, por exemplo, não saíram do campo das ideias textos sobre o fim de Fringe; Woody Allen – a documentary, excelente filme sobre meu diretor preferido; A febre do rato e o papel de Cláudio Assis no cinema nacional  de hoje em dia; The Wire, série fantástica nível Sopranos de qualidade; meu aprofundamento e encantamento com a carreira de John Coltrane e com uma série de grandes nomes do country-rock, dos quais tomei conhecimento tardiamente. Sem contar pelo menos os oito discos citados na postagem anterior, que em outras épocas mereceriam textos caprichados no blog.

Foram pouco mais de dois anos e meio, quase quinhentas postagens, homenagens a ídolos da arte e da “vida real”, grandes momentos, alguns embaraçosos, é verdade. Mas, acima de tudo, foi a impressão de dois caras de trinta e poucos sobre a vida, algumas certezas, muitas incompreensões e perplexidades, a dificuldade de crescer, encarar a vida adulta chegando tardiamente em decorrência da adolescência esticada pelas vidas dedicadas à cultura pop.


E talvez a grande importância deste blog seja o fato de ter sido o primeiro empreendimento que eu e Hugo conseguimos levar à prática juntos. Nos conhecemos há mais de quinze anos e vez ou outra tínhamos (temos) ideias de projetos ligados à cultura, mas invariavelmente estes ficam nas mesas de bar entre cervejas, recomendações musicais, nostalgia e muitos risos.

E a ideia de um lugar onde depositássemos em textos parte do que jogávamos fora em conversas de bar em bar conseguimos, bem ou mal, levar em frente nesse espaço. E entre poucas discordâncias, muita admiração recíproca, o blog fortaleceu nossa amizade. Que pode ser sintetizada – mas não resumida – na situação corriqueira do reconhecimento no olhar misto de encantamento e culpa de quem esfrega as mãos de ansiedade e afirma ser um box de cds mais importante do que um carro.

O Talk About the Passion começou despretensiosamente e conseguiu mais do que imaginávamos a princípio, ainda que pairasse a sensação, em alguns momentos, de que poderia ter ido mais longe. Não é verdade, foi o suficiente.

Aqui celebramos – desde o titulo – as canções, filmes, livros, ideias, pessoas que nos influenciam, que nos fazem seguir em frente. Obrigado aos que se fizeram presente comentando, elogiando, sugerindo, indo atrás de nossas recomendações.

Pra terminar, parafraseando Saramago,

“encontramo-nos noutro sítio”.  


Por Ricardo Pereira

Antes do fim

O blog respira por aparelhos. Antes de desligá-los, as canções preferidas dos melhores álbuns internacionais lançados em 2013.

Pale Green Ghosts - John Grant


Shaking the Habitual - The Knife


The Next Day - David Bowie


AMOK - Atoms for Peace


The Invisible Way - Low


 Regions of Light and Sound of God - Jim James


Muchacho - Phosphorescent


E dos nacionais? É o que temos, da Bárbara Eugênia. Todo ele.


Por Ricardo Pereira

domingo, 7 de abril de 2013

John Grant - Live Concert Ancienne Belgique

John Grant é responsável por um dos discos do ano até agora, o lindíssimo Pale Green Ghost. Vale tirar uma hora e meia do seu dia para assistir a este concerto de um dos grandes compositores pop da atualidade!


Por Ricardo Pereira