"There's a fear I keep so deep / Knew it name since before I could speak (...) If some night I don't come home / Please don't think I've left you alone"- Keep The Car Running, Arcade Fire

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Something else by The... Kinks(?!)



Vez ou outra sou vítima de um sonho delicioso enquanto dura e frustrante quando desperto. Sinto-me em uma loja de discos e encontro algum álbum inédito de uma das bandas de que mais gosto, um bootleg desconhecido com versões alternativas de canções conhecidas e outras inéditas. Já tive sonhos tão reais sobre isso na adolescência que chegava a despertar e procurar pelo disco sonhado na minha coleção até me tocar de que não era real. Posso, inclusive, recordar capas sonhadas de discos imaginários do Radiohead e do Doors.

Pois este ano o sonho, de certa forma, tornou-se realidade quando resolvi me aprofundar no universo da banda inglesa The Kinks. Ao ouvir pela primeira vez o Something Else by The Kinks, tive a sensação de estar em contato com um disco inédito dos Beatles gravado ali logo após o Rubber Soul. Toda aquela inventividade, belas melodias e excelentes letras só poderiam ser obra dos Fab Four - é ou não é o Paul McCartney cantando "Afternoon Tea"? A verdade é que encontrei em Ray Davies um compositor da linhagem da melhor tradição do rock inglês, capaz de compor canções tão impactantes quanto as de Lennon, McCartney ou Pete Townshend. 

Nunca havia me interessado em conhecer mais do Kinks. Conhecia apenas "All day and all of the night" e "You really got me" e, apesar de serem boas músicas, não me instigavam a querer mais. Imaginava o Kinks como banda de bons riffs, rockinhos divertidos e nada mais. Por isso, ao me deparar com as maravilhas contidas em Something Else by The Kinks, fiquei tão impressionado. O álbum, lançado em 67, viaja na contramão dos rivais Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, Are you experienced?, Forever Changes ou The Doors. Para os irmãos Davies não havia o deslumbramento lisérgico, o desejo de ser vanguarda ou "atravessar para o outro lado". Ao contrário, cantam a nostalgia, a manutenção de uma certa tradição inglesa, o desejo da paz de um campo gramado ou mesmo da solidão. E são, ao mesmo tempo, dotados da típica ironia que associamos ao melhor humor inglês. 

O disco todo é bom. Ray Davies é excelente letrista, compunha crônicas da vida proletária inglesa com talento admirável, como em "David Watts", "Two Sisters" ou "End of the season". De cara, encantei-me por duas canções, a chapada "Lazy Old Sun" e a belíssima "Waterloo Sunset", que fecha essa pequena obra de arte do rock inglês.

Encantado com o disco, fui ao próximo, The Village Green Preservation Society, de 68, e encontrei um trabalho ainda melhor, mais coeso e bem resolvido. Os temas trabalhados no álbum anterior aparecem aqui de forma ainda mais brilhante, como a elegia aos encantamentos da infância na faixa-título; a amarga reflexão sobre os amigos de infância que se distanciam em "Do you remember Walter"; as críticas (cada vez mais atuais) sobre os que se preocupam mais em registrar os momentos do que vivê-los contidas em "Picture Book" e "People take pictures of each other"; e a divertida "All of My Friends Were There", que parece saída de um filme do Monty Python, sobre o medo do palco. Há ainda as nostálgicas "Last of the Steam-powered Trains", "Sitting by the Riverside" e "Village Green", bons rocks como "Johnny Thunder" e "Starstruck", e a esquisitamente graciosa "Phenomenal Cat". Uma obra-prima.

No momento, venho conhecendo o temático Arthur (Or the Decline and Fall of the British Empire) e o algo country Muswell Hillbillies. Dois outros bons álbuns que volto a falar quando estiver mais íntimo. Por enquanto, sigo sonhando acordado com discos tão maravilhosos quanto subestimados desta grande banda.

God Save The Kinks!
Por Ricardo Pereira

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Rick, o lutador

Estou completamente voltado às questões profissionais. A vida vai dando um giro monstruoso por aqui, e a possibilidade de usufruir do chamado ócio criativo é quase nula.

Escutar música? Raramente, tirando algumas audições de discos específicos, a caminho do trabalho - "Jessico", da banda argentina Babasonicos, e "Young Americans", de David Bowie.

Filmes? Consegui assistir ao "O Hobbit", e gostei bem. Mas ficou por isso mesmo.

Livros? Parado em dois volumes - "2666", de Roberto Bolaño, e "Os Últimos Soldados da Guerra Fria", de Fernando Morais.

Discos, filmes, livros... Coisas que eu adoro, mas que estão em segundo plano.

As amizades? Continuam fundamentais.

Esta postagem é dedicada a um grande amigo. Ricardo Pereira, parceiro de blog e da vida. Ele faz aniversário hoje. Como de costume, não poderia deixar de prestar uma simples homenagem.

Grande mano: este ano foi difícil pra cacete, né? Muita gente, em muitos momentos, não conseguiu enxergar o quanto você lutou contra os seus problemas. Ficar dando sugestões e conselhos, como muitas vezes eu fiz, é fácil. Quero ver é encarar as dificuldades de frente. Acordar, viver e dormir com fantasmas te acompanhando, o tempo inteiro. Lidar com a pressão cruel da vida, que não entende e não espera.

Peço perdão por todos os momentos em que não soube te ajudar. Mais ainda: por não ter enxergado em você, em muitas ocasiões, o grande lutador que realmente foi. E é. Mea maxima culpa.

De qualquer forma, não tem muito jeito, amigo: o sol só volta a brilhar depois de muito sangue, suor e porrada na cara.

Você passou por tudo isso. Está vivo e pronto para ter um ano fodidamente bom pela frente, em todos os sentidos.

Parabéns!



Por Hugo Oliveira

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Não aprendi dizer adeus


No Ao vivo no morro, do Revelação, ao apresentar a canção título de seu último álbum de estúdio, “Aventureiro”, Xande de Pilares discursa: “Muita gente diz que essa música é machista. Não é machista, não! Acho que quando a gente não tá a fim, tem que falar mesmo: ‘não quero mais’. Ser sincero não é vergonha. Ser aventureiro também não é vergonha. Basta ser um aventureiro sincero”.

Com sensatez, seu mantra ainda adverte: “muita calma nessa hora!”. Gostaria mesmo de possuir a calma para levar melhor esse momento. Acostumou-se a ser deixado na maioria das vezes, e nem percebia o quanto era fácil fazer-se de vítima, portar-se como um personagem de uma música do Weezer ou do Sopra. Faz um drama, viu que perdeu e chora, ainda tinha a desculpa perfeita para chafurdar no cancioneiro brega que tanto apreciava.

Nunca imaginara o quanto era mais difícil estar do outro lado. A culpa, o incômodo, a sensação de estar errado fazendo o que julgava certo. Não é tão fácil ser um ‘aventureiro sincero’ quando a outra pessoa é tão gente boa, preenche os requisitos imaginados para ser sua verdadeira paixão. Não conseguia deixar de pensar o quanto é pior magoar do que ser magoado.

Sentia-se impotente perante os desígnios das trilhas do amor. Havia deixado o amor entrar na sua vida, conseguira viver o presente, sem se importar com o passado. Sentia o coração radiante, num daqueles momentos em que o amor parece sem fim. A gente sabe, no auge da paixão, sentimo-nos capazes de tudo, e nada de pensar em despedida...

... no entanto como entender as linhas traçadas pelo compasso do amor? As artimanhas de um destino insensato acabaram o levando a novos tempos. Era preciso realmente muita calma para conseguir enxergar através das grades do coração, deixar acontecer naturalmente e entender que as coisas acontecem do jeito que a vida quer.

Os amigos o bombardeavam com todo tipo de conselho, acusavam-no de medo de amar, pediam que ele baixasse a guarda de seu coração blindado. Que esquecesse de esquecê-la, pois poderia nunca mais encontrar a pura essência da paixão.

Talvez, quem sabe? Mas não adiantava mais ficar se culpando. Se tivesse o poder, faria com que tudo fosse mais fácil, mas, como não era o caso, ajoelhou tem que rezar: era o momento de seguir em frente, vestir o manto de sua sinceridade aventureira e errar como todo mundo, afinal o show tem que continuar e sempre podemos escolher entre a madrugada fria e a luz do alvorecer. 


Por Ricardo Pereira

domingo, 16 de dezembro de 2012

Revisitando Twin Peaks


Apenas dois anos após ter assistido a série completa, retornei a Twin Peaks. Foi uma experiência ainda melhor acompanhá-la já sabendo tudo sobre o enredo, sem nenhuma outra preocupação a não ser aproveitar aquela cidadezinha cativante e seus estranhos personagens. O grande desperdício para quem se dispõe a percorrer todos os episódios é se ater à premissa da série, brilhantemente trabalhada no episódio piloto: descobrir o assassino de Laura Palmer. Ainda que tenha sido este mistério o responsável pela 'febre' Twin Peaks durante sua exibição, o grande mérito do programa é expor as singularidades e recessos ocultos por uma aparente normalidade dos moradores de uma pacata cidade interiorana.

Nosso guia pelos tortuosos caminhos de Twin Peaks, o agente especial Dale Cooper, magistralmente interpretado por Kyle MacLachlan, é uma espécie de espelho do espectador, pois vamos descobrindo e encantando-nos com a cidade a partir de seu olhar, suas descobertas, emoções e curiosos métodos de investigação. Sempre bem vestido e com penteado impecável, Cooper vai, pouco a pouco, identificando-se com a simplicidade e beleza que encontra na pequena região. Ao mesmo tempo, os mistérios e excentricidades encontrados revelam a existência de um lado sombrio por trás de tanta 'tranquilidade'. Black Lodge, White Lodge, pedrinhas pretas e brancas. Alguém falou em Lost?

Já se tornou clichê afirmar o quanto de Twin Peaks há em Lost, Fringe, Arquivo X e diversas outras séries. Não só por emendar mistérios, segredos, instigando o espectador a imaginar o que está por vir, criando o perfil de 'viciados' em série tão comum hoje em dia, mas também por englobar uma multiplicidade de gêneros. Como classificar Twin Peaks? Há humor, suspense, drama, terror, romance, nonsense, muitas vezes todas estas características ao mesmo tempo. Ou seria tudo apenas uma grande propaganda de café, como já chegou a se especular?

Outro destaque do programa é a trilha sonora. Angelo Badalamenti criou a atmosfera perfeita para o clima da série, com música soturna, enigmática, envolvente, muitas vezes dialogando emocionalmente ou realçando o mistério das cenas assistidas. E, provavelmente, é a série com o elenco feminino mais bonito da história. Mädchen Amick, Lara Flynn Boyle, Peggy Lipton, Sherilyn Fenn (Ah, Audrey Horne...), todas lindíssimas.  

É opinião quase unânime que a primeira temporada é superior à segunda. No entanto, assistindo pela segunda vez, notei algo que pouco se comenta. A primeira temporada é muito curta - apenas sete episódios, além do piloto - e, se levarmos em conta o mesmo número de episódios da segunda fase, encontramos oito capítulos tão bons ou melhores do que os de apresentação. O problema é que os produtores foram obrigados a revelar a identidade do assassino de Laura Palmer e, depois disso, os criadores da série, David Lynch e Mark Frost, afastaram-se e o programa perde parte da força. O motivo é que o  bizarro lynchiano  e as características surrealistas presentes até então perdem-se em momentos constrangedores como a "volta à infância" de Nadine ou o ridículo ataque da doninha. 

Apesar desses contratempos, a temporada mantém o interesse simplesmente porque o mundo de Twin Peaks é fascinante demais e mesmo episódios menos interessantes são acompanhados com prazer. Sem contar que David Lynch retorna nos capítulos finais e termina brilhantemente com um episódio final destruidor, absurdo e brutal. E ainda deixa um gancho excelente para uma terceira temporada que nunca veio. Devido à queda de audiência, o seriado foi cancelado, deixando um final instigante e perturbador, e, mais do que isso, aberto aos meandros criativos de cada turista habitante desta cidade sombria e encantadora.


Por Ricardo Pereira

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Não faz assim que eu posso até...

E o sujeito se descobre apaixonado pela mulher e descobre, via Trabalho Sujo, que ela anda cantando Beatles/Lennon por aí... 


Tomorrow never knows / Within You Without You

And your bird can sing

(Just Like) Startin' Over

Aí o negócio começa a ficar sério... Onde assino??

Por Ricardo Pereira

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Estrela Solitária: Ben Kweller no Rio

Quando confirmada a vinda de Ben Kweller ao Brasil, foi grande a expectativa. Conheci seu trabalho em 2004 através do segundo disco, On my way, até hoje meu preferido de sua discografia. Em um clima setentista, alternavam-se bons rocks, folks e belas baladas com letras acima da média. Só depois fui conhecer sua estreia, Sha Sha, outro discaço, com sonoridade mais indie e letras mais descontraídas. A partir daí, fui acompanhando sua carreira disco a disco. Veio o terceiro, Ben Kweller, apostando no power pop, um bom álbum, talvez com a produção limpa demais. O quarto lançamento bateu forte por aqui, o country rock Changing Horses chegou na época em que eu conhecia Gram Parsons e o Flying Burrito Brothers e, por isso, suas dez belas canções foram ouvidas incansavelmente por mim. Este ano, foi o lançado seu mais recente álbum, Go Fly a Kite, um apanhado das diversas fases de sua carreira, contendo desde gemas pop como "Gossip", "Free", baladas belíssimas como "I miss you" e faixas com a sonoridade country do disco anterior como "Full Circle" e "You can count on me".

Houve uma certa baixa na expectativa para o show quando soube que o cantor viria só, sem sua banda. Cheguei a achar que a apresentação seria meio 'frouxa' para quem esperou tanto tempo para vê-lo ao vivo, mas felizmente não foi o que aconteceu. Ben Kweller proporcionou um grande espetáculo apenas com seus violões, ora 'puros', ora com distorção nos números mais agitados, o piano e sua voz. Engraçado que, por ter começado muito cedo sua carreira, o compositor é sempre referido como "menino prodígio" ou outros adjetivos juvenis, quando, na verdade, ainda que não pareça, ele já passou dos trinta. E essa maturidade é claramente percebida no palco, por um músico com total domínio do público e do espetáculo.

A primeira música, "Commerce, TX", até dava a impressão que a banda faria falta, mas, na maior parte do show, Ben conseguiu suprir a falta de acompanhamento de forma admirável, apresentando as canções com energia e interpretações vigorosas. O clima no Imperator era o melhor possível, e até o fato de estar vazio - cerca de 500 pessoas - tornou tudo mais especial. Era como ter um artista que admiramos tocando no quintal de casa. O repertório não deixou a desejar, "Walk on Me" veio fazer valer o show logo de cara e seguiu-se um festival de excelentes refrãos e melodias: "Run", "Fight", "Family Tree", "Jealous Girl", "Sawdust Man". Senti falta de "Hospital Bed" e "In other words" - esta, exclusão imperdoável. Mas em compensação fomos surpreendidos com emocionantes versões de "Gypsy Rose", "On her own", "Falling" e "Believer", uma das baladas mais bonitas de todos os tempos e que eu sinceramente não esperava ouvir no show, além do final arrebatador com "Penny on the Train Track".

Como um show inesquecível não se faz só de música, não posso deixar de comentar que tive o prazer de encontrar amigos de longa data e assisti a todo o show com Pedro e Carol, que estiveram comigo no Morrissey, R.E.M. e com quem venho me divertindo cada vez mais a cada show compartilhado. No mais, histórias engraçadas, boas cervejas, polêmicas sobre a firmeza alheia, Marcel ampliado e bigode. Mais? Espero que no próximo, com a banda completa.


Por Ricardo Pereira

Aos pés da Musa

Não é novidade que Céu é a voz feminina mais importante da música brasileira atual. Já era apaixonado por ela como artista e, ao assistir ao show dela transmitido pela MTV nesse fim-de-semana, encantei-me também por ela como mulher. Além de linda, há tempos não via uma cantora com uma performance tão sensual, que me despertasse tanto desejo - pra ficar em uma palavra que não descambe para o mau gosto. Veja se não tenho razão: Por Ricardo Pereira

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Sonho de transatlântico


E foi lançado o Santo Graal de um dos discos da minha vida! Se liga:

MELLON COLLIE & THE INFINITE SADNESS

DELUXE BOX SET:

-5CD +DVD
-Physical Tracks:  106, Digital Tracks: 92
-Original album remastered for the first time
-64 bonus tracks of previously unreleased material or alternate versions of Mellon Collie era songs
-DVD featuring live show filmed at Brixton Academy, London (1996) & bonus performances from Rockpalast (1996)
-Housed in a 12 x 12 lift-top box with magnetic closure, reimagined cover art and velvet-lined disc holder
-2 books containing personal notes, lyrics,  new collage artwork plus a Decoupage kit for creating your own scenes from the Mellon Collie  universe.



Por Ricardo Pereira

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Para o pé do Fado, mais longe que os deuses

Angra dos Reis, 05 de dezembro de 2012

E aí, como anda a vida?

Senti vontade de escrever uma daquelas nossas cartas intermináveis e aqui estou. A dificuldade maior é que tínhamos uma espécie de fórmula pré-definida em que começavamos as missivas a comentar ou simplesmente rememorar os últimos encontros. E, agora, encontros recentes não há.

Andei pensando bastante em você recentemente por conta de conversas com amigos sobre a passagem do tempo e como cada um lida com isso. Por enquanto, envelhecer não tem sido tão difícil, até gosto mais do Ricardo dos trinta do que daquele dos vinte. Uma ou outra má circunstância se faz perceber, mas nada que me traga aflição... ainda.

Devido a problemas recentes por que passei e que não cabe detalhar aqui, andei pensando sobre as vantagens e desvantagens de estar bem ou mal. John Lennon já 'dizia': "No one I think is in my tree, I mean, it must be high or low." É por aí. Quando não estou bem, costumo ver a maioria das pessoas acima do que sou. Já quando estou melhor, como recentemente, meu ego costuma extrapolar a realidade, trazendo uma auto-suficiência que corteja muitas vezes desnecessariamente a arrogância.

Há que se buscar o equilíbrio. O que nem sempre é fácil, pois as boas fases vêm acompanhadas também de doses maiores de álcool, o que, convenhamos, não ajuda a me posicionar realisticamente quanto ao mundo ao meu redor.

Sigo acreditando em que possa haver relacionamentos bonitos, que valham a pena, ainda que mesmo um olhar menos atento teime em me fazer reconsiderar esta possibilidade. Observo casais e suas fragilidades, fissuras entranhadas de forma tão visível ao olhar externo e aparentemente invisíveis internamente. Ou perceptíveis e fingidamente ignoradas, vai saber...

... o que fica, muitas vezes, é uma imagem - idealizada, reconheço - de que com a gente era diferente, um bloco maciço e seguro de amor e infalibilidade. E, por falar em idealização, ando me curando desse mal, o que talvez, mesmo que tardiamente, torne-me mais suscetível ao encantamento e à realização. A conferir.

Esses dias, conheci uma pessoa e me encantei, senti-me atraído, ainda que daquele deslumbramento inicial e por isso tênue se não desenvolvido. Nada aconteceu, ela está em um relacionamento, sendo que, nesse momento, à distância: encontram-se a treze horas um do outro. Tentei me aproveitar dessa brecha, ainda que sem ser invasivo, pelo fato de ter realmente tido vontade de conhecê-la melhor. Daí que um amigo me criticou, acusando-me veladamente de 'canalhice', que deveria procurar me colocar do outro lado. E, não vou negar, isso não me fez bem, por um momento me vi agindo contra o que sempre acreditei. Embora a curiosidade e vontade digam sim; por ora, abraço, desconfiado de que posso estar errado, o não.

Recentemente, uma pessoa querida afirmou que via em nós, daqui alguns anos, O amor nos tempos do cólera. Achei bonita a imagem, lembrei de quando te dei esse livro, no dia em que comprei o primeiro do Strokes, que... (digressiono...) E, mesmo não acreditando nisso, pelo tanto que deixamos passar, por termos mantido o amor, mas transformado a paixão em amizade, e também pela chegada de sobrinhos (não de meus irmãos ainda, mas como se fossem), andei pensando em como vai ser estranho o dia em que você me der a notícia de que está esperando um filho. A seus amores, já me acostumei; como, certamente, acostumou-se aos meus. Mas nunca havia imaginado você mãe do filho de outro alguém.

Então, me diga, viver é ou não é muito perigoso?

Espero que esteja feliz,

       a noite, enfim, não veio para nos preservar jovens.

E por querer dizer o indizível, garrafas ao mar!

once upon a time
Por Ricardo Pereira