Terminei de ler recentemente a biografia do Bob Dylan, escrita por Howard Sounes. Na verdade, Dylan era uma dívida que eu tinha, conhecia menos do que deveria dois ou três discos clássicos, mas faltava aquela análise aprofundada na obra. Ele sempre esteve presente por aqui por ser ídolo dos meus ídolos, citações a músicas, momentos marcantes e o poder influenciador desse cara sempre são citados em entrevistas. Isso tudo começou por aqui ano passado quando ganhei de presente do Marcel o ‘No Direction Home’ e fiquei maluco, passei a assistir direto.
A biografia não aprofunda tanto, dá uma geral na vida e obra, revela um ou outro dado importante de um artista genial, mas que sempre procurou se resguardar quanto à vida pessoal e por isso é tão boa de ler. O grande lance pra mim foi conhecer os discos com mais profundidade e me jogar de forma irreversível pra morar neles. É que repeti o procedimento que adotei ao ler a biografia dos Beatles, por Bob Spitz: à medida em que os discos ‘chegavam’ na narrativa, eu parava e ia ouvir com atenção, letras, músicas, tudo, com os detalhes de sua criação e gravação recém adquiridos. A diferença é que enquanto eu já era íntimo de toda a obra dos Beatles, do Dylan eu só conhecia bem o Blood on the tracks, meu preferido, e superficialmente o Highway 61 Revisited e o Blonde on Blonde. E foi fascinante conhecer a obra inteira, acompanhar com as letras fez toda a diferença. Sou um cara que dou muito valor a bons letristas e o Dylan – e isso eu já sabia, mas ainda assim mostrou-se ainda maior do que eu esperava – é dos melhores que existem. Sempre disse que o Belchior era nosso Dylan, e até acho que musical e tematicamente se aproximam mais, porém a comparação melhor é com Chico Buarque, nosso melhor letrista. Assim como com o Chico, a maioria de suas letras funciona que é uma beleza no papel, mesmo sem acompanhamento musical.
Recomendo a leitura, tanto aos que já são especialistas em Dylan quanto aos que precisam conhecer urgentemente. É interessante ver o crescimento do garoto fanático por Woody Guthrie, a confiança em seu talento e a certeza de que viveria de música, a soma dos fatores que fizera que Dylan fosse o homem certo, no lugar certo, na hora certa e a influência recíproca entre ele e os Beatles, enquanto a banda passou a se dedicar com mais cuidado às letras de música, Bob se aproximou novamente do rock n’ roll. É impressionante a confiança e independência de um cara que fazia sempre o que queria, independente do que as pessoas pensavam ou esperavam. Pra mim, por exemplo, mais significante do que o cantor folk que choca o mundo ao pegar em guitarras é o momento de virada em que ele se volta para o country em dois discos belíssimos, John Wesley Harding e Nashville Skyline. Outra característica que me impressionou é o magnetismo e fascínio que ele exerce sobre as pessoas, parecido com o que vi em Chet Baker, ao ler sua biografia. Algo que extrapola o fato de serem geniais, provavelmente o que chamam de estrela.
Play a song for me, I'm not sleepy and there is no place I'm going to. |
Por Ricardo Pereira
Ricardo, já que você está, pelo visto, numa fase folk/rock... Escutou o Bert - o Bert tem letras fantásticas também? E conhece o John Renbourn? Jackson C. Frank? Davey (ou Davy) Graham? Roy Harper e Nick Drake você deve conhecer. Não sei se tu gostas de vocal feminino, a Shirley Collins é linda **. Escuta Pretty Saro, ela cantando com o Davy. Ah e tem o bandinha british (irish and scotch) The Pentangle, é o Bert e o John tocando juntos, mas com vocal feminino. Bem, tudo isso é muiiiito mais folk do que country/rock/folk que o Dylan inventou ^^.
ResponderExcluirJúlia
Júlia, quantas recomendações! Nem sei por onde começar... Mentira, sei sim, tô baixando 'Bert and John', de 66, que aí pego dois desses de uma vez. 'Needle of death' é linda!!
ResponderExcluirObrigado pelas dicas,
Beijo