"There's a fear I keep so deep / Knew it name since before I could speak (...) If some night I don't come home / Please don't think I've left you alone"- Keep The Car Running, Arcade Fire

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Filmes de 2011

Alguns andam perguntando pela minha lista de filmes do ano passado, e, ao pensar nisso, primeiro acabo me espantando com quantos deixei de assistir. Nesses estão Drive, Melancolia, O garoto da bicicleta, Tio Boonmee, que pode recordar suas vidas passadas, Cópia fiel, O Vencedor, Incêndios e Medianeras, entre outros. Há aqueles sobre os quais criei grande expectativa e não corresponderam como, a despeito dos belos momentos, A árvore da vida, Um lugar qualquer e Blue Valentine.

Dos que mais gostei, sem ordem de preferência, destaco Cisne Negro, Bravura Indômita, Super 8, Um conto chinês, A árvore e George Harrison – Living in the material world. No entanto, os maiores destaques do ano foram os lançamentos de dois favoritos de sempre: Woody Allen e Almodóvar.

A pele que habito é, provavelmente, meu filme preferido de 2011. Chama atenção de cara por parecer pouco Almodóvar, mesmo sendo muito Almodóvar. É um filme mais “frio”, sem as cores marcantes ou o humor melancólico de sua filmografia costumaz, mas, ao mesmo tempo, os temas recorrentes estão ali, só que em outro tom. O filme é de deixar o espectador tenso e expectante o tempo inteiro, muito pela extrema habilidade narrativa apresentada, as idas e vindas temporais e a excelente trilha sonora. Recentemente, conversando com um grande amigo, falávamos sobre certa frustração deixada ao fim de Bravura Indômita porque depois de Oldboy qualquer filme de vingança parece menor. Tive que rever essa ideia ao sair do cinema dessa vez – não, não é melhor do que Oldboy, e vingança é apenas uma das facetas de A pele que habito. Grande filme, entra num top 3 do diretor pra mim, certamente.

Já em Meia noite em Paris, a sensação que fica é que tudo está no lugar certo, tudo funciona do jeito que deveria ser. Desde a abertura, com imagens deslumbrantes de Paris, lembrando a abertura de Manhattan, e a lindíssima “Si tu vois ma mère” de trilha sonora, somos transportados para o clima romântico, sonhador e saudosista proposto por Woody Allen. Há sim um pouco de A rosa púrpura do Cairo e Owen Wilson muitas vezes emula demais o jeito de Allen interpretar os personagens, o que não compromete nada o resultado final. São excelentes os retratos de Cole Porter, Hemingway, Zelda e Scott Fitzgerald, Picasso, Buñuel, entre outros – aliás, a piada com os surrealistas é ótima! – e a ideia da insatisfação constante com o presente é bem trabalhada. Saí da sessão imaginando um moleque assistindo a esse filme daqui a alguns anos e desejando voltar a Nova York em meados dos anos 70 e de repente ter contato com Bob Dylan, John Lennon, Alex Chilton, Marlon Brando e ... Woody Allen.


"Eu não sou o que sou, eu sou o que faço com as minhas mãos".
Por Ricardo Pereira

Rubber Ring


Desde que começaram a circular na internet boatos de que o cantor inglês Morrissey, ex-vocalista da banda The Smiths, vai se apresentar no Brasil neste ano, não consigo pensar em outra coisa. Certo: é obsessão mesmo, coisa de fanático. Mas não dá para negar a importância de um cara que escreveu coisas como “There is a light that never goes out”, “Charming man”, “Hand in glove” e “Bigmouth strikes again”, entre outras.

Moz vai se apresentar em três cidades brasileiras em março. Dia 7 em Porto Alegre, dia 9 no Rio de Janeiro e dia 11 em São Paulo. O show que me interessa é o do Rio, que acontecerá na Fundição Progresso. Confesso não ser muito fã da acústica da casa – no Circo Voador seria o ideal –, mas fazer o quê? Quer outra confissão? Vamos lá: não tenho mais muito saco para apresentações ao vivo. É sempre bom dar aquela conferida em determinada banda, ok, mas o meu negócio é mesmo o disquinho para ouvir em casa, saboreando cada detalhe.

A apresentação do topetudo vai ser uma exceção. Suas músicas, e principalmente as de sua antiga banda, foram as que eu mais ouvi na vida. Continuo ouvindo. Mais uma ocasião para concluir que valeu a pena dedicar tempo e grana por um artista pop do outro canto mundo, mas que fala diretamente ao canto esquerdo do peito de garotos e garotas de todo o planeta.

Morrissey elevou o nível das letras no cancioneiro rock. Seus escritos vão da melancolia ao humor ácido em questão de segundos. Coisa de gênio, de quem respirou música pop desde novo e que sabia como o jogo funcionava. O encontro com o músico Johnny Marr, que seria o guitarrista de seu famoso grupo, descambou naquela que talvez seja a última grande dupla de compositores nos moldes de Lennon/MacCartney, Jagger/Richards e Plant/Page – pelo menos, em relação ao rock.

Muito já foi falado sobre o cantor. É difícil escrever algo sobre sua vida, seu trabalho musical e seu legado. Neste momento, por exemplo, estou aqui me torturando. Cada palavra digitada implica um pensamento do tipo. “Que merda... Isso não é digno do cara e de sua obra”. Por aí dá para entender o tamanho da encrenca.

É por isso que pretendo não ser redundante. Já li biografias e revistas especializadas. Já escutei discos – com os Smiths e em carreira solo.  Já assisti ao show que o cantor realizou em 2000, no antigo ATL Hall, no Rio. O jeito é apelar para o pessoal.

Morrissey me transformou num cara melhor. Através dele conheci bandas e artistas como New York Dolls, Patti Smith, Magazine, Bowie e T.Rex. Por causa do cantor descobri os livros de Oscar Wilde. Compartilhei suas canções com amigos e amores.

Sigo dançando, rindo e vivendo. Penso nele com carinho. Não poderia ser diferente.
Morrissey continua no canto do meu quarto, segurando uma tocha e perguntando se eu consigo ouvir sua voz.

Claro, cara. Alta e clara.

Já estava com saudades, amigo...

 Por Hugo Oliveira

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Paranoia de lista

Já falei por aqui o quanto adoro listas, não passo um ano que seja sem ranquear os discos, livros, filmes lançados. Mas, ao mesmo tempo, tendo a me arrepender assim que as organizo ao perceber “injustiças” cometidas ao organizá-las. Na minha recente sobre os discos internacionais do ano passado, por exemplo, já me incomoda o fato de o disco do Jayhawks estar tão abaixo do que ‘deveria’. O álbum me agrada mais a cada audição, é tudo tão bonito, tão cuidadoso, e suas qualidades vão se revelando maiores à medida que a intimidade cresce, que se acostuma com a ordem das faixas, que os detalhes vão se impondo. Veja, “Guilder Annie”, por exemplo, que beleza de canção:


O Suck it and see, do Arctic Monkeys é outro que gostei de cara e que vem me acompanhando cada vez mais. Não passo um dia sem que alguma das músicas dele esteja comigo. Na verdade, penso que as últimas cinco faixas formam a ‘sequência perfeita’ em um álbum lançado em 2011. Em um disco simples, básico de rock n’ roll, elas trazem uma intensidade emocional que apontam para uma banda mais lírica e emocionante que pode estar surgindo ao passo em que os integrantes vão, pouco a pouco, abandonando a urgência juvenil dos primeiros lançamentos. Fique com “Love is a laserquest”, mas poderia ser a faixa título, ou a linda “Piledriver Waltz”, ou...


Porém a maior injustiça da minha lista – por enquanto – é a não inclusão do Bad as me, do Tom Waits. Por mais que aprecie os momentos mais pesados e cáusticos do disco, são as baladas que andam batendo mais forte. “Back in the crowd’, “Kiss me” possuem seu encanto, força, até o momento, lá pelo finalzinho, em que o disco chega em “Last Leaf”,


, e o mundo parece ficar em suspenso, enquanto Waits e Keit Richards passeiam por versos como:

“I fight off the snow
I fight off the hail
Nothing makes me go
I'm like some vestigial tail

I'll be here through eternity
If you want to know how long
If they cut down this tree
I'll show up in a song

I'm the last leaf on the tree
The autumn took the rest
But they won't take me
I'm the last leaf on the tree”

O ouvinte para e pensa de repente que nada tão bonito foi lançado em 2011, mas essa sensação dura pouco, cerca de quatro minutos, o tempo de chegar a última faixa do álbum, “New Year’s Eve”. Literatura e música confundem-se num quase conto maravilhoso em uma interpretação irrepreensível. Como se um disco insistisse em possuir duas faixas 7.


Por Ricardo Pereira

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Brendan Benson - Bad for Me


Boa dica de Hugo Oliveira, esta é a nova canção de Brendan Benson, parte do álbum What kind of world, a ser lançado em abril e que vem suceder o excelente My old familiar friend, de 2009. Enquanto espera o disco, você pode baixá-la aqui.

Por Ricardo Pereira

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

sábado, 21 de janeiro de 2012

Sobre estar só - Graham Nash & David Crosby, 1972



As obras de arte, normalmente, prestam-se a múltiplas interpretações. Podem despertar uma infinidade de sentimentos a depender de quem as consome, do momento vivido, entre outras circunstâncias. Porém, há algumas cujo sentimento é expresso de forma tal que o mesmo se impõe independente do momento pessoal ou do contexto de recepção. É o caso de Graham Nash & David Crosby, de 1972: um álbum sobre a solidão.

A primeira canção, “Southbound Train”, é um country tradicional de retorno ao sul (a morte?), em que Graham Nash (nos) pergunta quase a desafiar: “Can you carry the torch that'll bring home the dead?”; expõe as feridas (“Are you angry and tired that your point has been missed?”) e, na última estrofe: “Fraternity failing to fight back the tears / Will it take an eternity breaking all the fears?”. Em “Whole Cloth”, entre guitarras rascantes, mais questionamentos: em que você baseia a vida? Sozinho, em uma noite fria e tempestuosa, que estrela guia seu olhar? E entre o reconhecimento de autoenganos e acomodação, a quase súplica por um espelho em que o eu-lírico possa voltar a se enxergar. Já deu pra sentir o clima, não?

Após as duas primeiras pancadas, uma curta balada metalinguística ao piano, “Blacknotes”, desemboca em “Strangers Room”, canção dolorida, com o primor vocal característico da dupla, apresentando um homem perdido em uma sala de estranhos, a suplicar ajuda, sem conseguir encontrar a luz ou ao menos saber pra onde vai, do que está fugindo. Em “Where Will I be?”, David Crosby sintetiza o disco em letra, música, delicadeza e angústia, numa interpretação assombrosa de uma canção que poderia fazer parte de “If I could only remember my name”, seu primeiro lp solo. Fechando a primeira parte, uma das mais belas do álbum, “Page 43”, uma reflexão melancólica sobre aproveitar o que a vida nos apresenta, apesar da repetição da mesma velha história...

O lado b abre com “Frozen Smiles”, mais “animada” ritmicamente, no entanto continuando o peso temático das demais, é um conselho para um amigo que vive “entre muros”, isolado, levando a vida de forma muito dura, para que o mesmo tente se abrir mais e acreditar em si mesmo. Em “Games”, um fim de relacionamento é a senha para reflexão do quanto os “jogos” (de poder, do conflito, do ‘querer mais’) matam o amor. A número nove (que deveria ser a 7) é mais uma balada nashniana, em que um homem solitário vê mais um ano passar, tentando ficar bem enquanto aguarda seu ressurgimento, procurando confiar no tempo, tentando encontrar “a girl to be on my mind”. A seguinte, “The Wall Song”, retoma a espécie de figura recorrente do álbum, um homem “emparedado” em uma cerca feita de lágrimas onde não pode ser ouvido, um ser a caminhar, tropeçando meio cego e seco como o vento. A última canção, “Immigration Man”, mostra um homem tendo problemas com um oficial da imigração para entrar em outro país. Pode destoar um pouco da minha interpretação para o disco, mas não deixa de ser solitário alguém preso na fronteira, sem poder entrar no território desejado.

Nessas onze canções, David Crosby e Graham Nash conseguiram, através de um misto de escuridão (desde a capa, aliás) e beleza, um panorama atemporal de um homem angustiado, reflexivo e, acima de tudo, solitário.

Por Ricardo Pereira

Wilco - Message From The Mid-Bar

Da série "músicas que eu gostaria de ter escrito":


Por Ricardo Pereira

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Brinquedo de gente grande

Tem gente que gosta de baixar discos pela internet. Eu entendo, e até dou minhas "downloadeadas" quando quero muito ouvir algo novo que vazou ou alguma raridade disponibilizada na rede.

Ainda assim, não existe MP3 que pague esse prazer:




Por Hugo Oliveira

Só para o seu coração

Dia 07 do mês que vem será lançado o novo álbum do Ben Kweller, Go Fly A Kite. Um álbum que provavelmente não vai figurar na lista de melhores do ano das revistas "descoladas", não vai causar hype nem mudar a vida (por uma semana) de ouvintes novidadeiros, muito menos ser considerado a salvação do rock ou algo parecido. Mas chega com o potencial de ocupar um lugar de destaque numa discografia até agora irrepreensível, de um cara com poucos admiradores, mas com o dom de compor grandes e emocionantes canções. Quanto a mim, espero que o novo disco siga a trilha country-rock do anterior Changing Horses - seu melhor álbum, ainda que meu preferido seja o segundo, On My Way.


1. Mean To Me
2. Out The Door
3. Jealous Girl
4. Gossip
5. Free
6. Full Circle
7. Justify Me
8. The Rainbow
9. Time Will Save The Day
10. I Miss You
11. You Can Count On Me

 Por Ricardo Pereira

Übersetzer unersetzlich

"Todos os dias José passava uma parte do seu tempo lendo na Biblioteca, e mesmo ao entrar para o curso ginasial, quando trabalhava durante o dia e estudava à noite, conseguia arranjar tempo para ir lá. Nas ocasiões em que tinha muita pressa, para voltar ao trabalho ou ao colégio, que também ficava no centro da cidade, ele preenchia rapidamente uma ficha de pedido de livro, sentava-se numa das cadeiras marrons do imenso e acolhedor salão de leitura, e enquanto aguardava o livro, que era entregue por um funcionário, entretinha-se a olhar as fileiras de estantes superpostas até o teto, que na época podiam ser vistas do salão, e sentia como era bom viver. Ficar, por menos que fosse o tempo, no meio daquela infinidade de livros do mundo inteiro era, para José, como estar no paraíso. Ele considerava da maior importância os inúmeros tradutores anônimos que verteram para o português os livros que lia então, escritos nas línguas que não conhecia. Sem o tradutor não existiria isso que se chama literatura universal. Tem, até hoje, uma espécie de broche usado num congresso de tradutores, na Alemanha, que diz, com razão, Übersetzer unersetzlich - o tradutor é insubstituível."

(Trecho de José, de Rubem Fonseca)

Por Ricardo Pereira

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Somos quem podemos ser

Os cartazes dos filmes “Compramos um zoológico”, “Os Muppets”, “Amanhecer – parte 1” e “Happy Feet 2 – O pinguim” estavam expostos na entrada do Angra Shopping, em Angra dos Reis. Grandes, coloridos e chamativos, eles anunciavam a programação atual dos cinemas que funcionam no estabelecimento.
Espremido entre eles, um cartaz com o tamanho de uma folha A4 estampava a frase “O Palhaço”, acompanhada da silhueta de um homem. Ah, havia a divulgação de um horário também, 21h, em letras “garrafais” – lembra daquelas garrafinhas de Coca-cola minúsculas, que eram distribuídas como brinde nos anos 80?
É bem provável que nada disso tenha sido intencional, mas a situação serve perfeitamente para ilustrar o tipo de obra que o ator Selton Mello, também diretor da película, quis fazer.
“O Palhaço” é um filme pequeno, sem qualquer significado pejorativo. Pequeno e bem amarrado. São 88 minutos conduzidos por doçura e emoção, para que o espectador conheça a história do Circo Esperança e de sua trupe.
Os artistas circenses são liderados por Valdemar, dono do circo – interpretado pelo ator Paulo José –, e por seu filho, Benjamin – Selton Mello. Juntos, eles formam a dupla de palhaços Puro Sangue e Panguaré, que é responsável pela trama principal.
Benjamin pensa em desistir do picadeiro e do nariz vermelho. A vida dita “normal”, com um emprego das 8h às 17h, esposa e comodidades materiais começa a parecer mais vantajosa para o jovem palhaço. É nesse ponto que a figura de um ventilador consegue resumir o dilema do rapaz: conhecer novos – e aparentemente melhores – ares ou continuar seguindo conforme o vento?
O engraçado – e melancólico – intérprete de Pangaré só vai descobrir a resposta a posteriori. Antes disso, exemplos dos prós e contras da vida circense são levados ao telão, enquanto uma verdadeira homenagem aos artistas do circo vai sendo feita através de cenas que mostram a beleza lúdica do espetáculo – em detrimento às dificuldades pelas quais passam as estrelas do show.
Cada integrante do elenco de “O Palhaço” desempenha o seu papel com maestria, independente do tamanho e da importância da cena. O mesmo vale para as participações especiais, divertidíssimas – a do ator e cantor Moacyr Franco, como um delegado corrupto, e a do ator Ferrugem, como um funcionário gozador, são as melhores. O ator Paulo José, por sua vez, não precisava nem falar: cada olhar e cada expressão valem mais do que mil palavras... E fica difícil não se emocionar quando pai e filho, que formam a dupla de palhaços, se reencontram no picadeiro, depois de um período afastados.
Um grande amigo que assistiu ao filme junto comigo e com minha namorada disse ter achado a obra pessimista. Eu respeito, mas discordo. Acredito que “O Palhaço” é sobre ter fé e esperança nas escolhas que fizemos para nossas vidas, apesar de tudo. Mesmo em níveis e trajetórias diferentes, todos sentem calor e também têm que suar a camisa para adquirir o tão sonhado “ventilador”.
O gato bebe leite, o rato come queijo e eu sou jornalista. Simples assim? Nem tanto... Mas a vida segue.


Você teria um sutiã sobrando para me arranjar?

Por Hugo Oliveira 

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Hoje é tudo amanhã

O assunto mais comentado das últimas semanas? O cantor Michel Teló e a música “Ai, se eu te pego”, que vem ganhando notoriedade pelo mundo através das zilhões de versões devidamente disponibilizadas na internet, em vários idiomas. 

Quem pariu o “Menino Jesus da popularidade/Anticristo do bom gosto” foi a cantora e compositora Sharon Acioly – Dança do Quadrado, lembra? –, com uma ajudinha do empresário Antonio Dyggs, dono de uma casa noturna em Feira de Santana, na Bahia.

A música nasceu como um funk carioca (?!?). Ao escutar a canção, em Porto Seguro, Dyggs resolveu fazer umas modificações na obra, para que a banda Meninos do Seu Zeh, de forró, pudesse levar a música aos palcos – ele era o empresário do grupo.

Pronto. Serviço feito. Para formalizar todo o processo que desaguaria no maior hit musical brasileiro de 2011, Dyggs entrou em contato com Sharon. Mostrou as modificações feitas e sugeriu uma parceria. Proposta aceita, “Assim você me mata” se transformou em “Ai, se eu te pego”.

Antes de se tornar esse monstro pop que todos conhecem, a canção fez sucesso no Nordeste, por meio de gravações de artistas diversos. Um loirinho que estava em Salvador, participando como cantor de uma festa de São João, no ano passado, escutou um conjunto tocar a música. Resolveu gravar. Deu no que deu.
Seja por sorte, trabalho duro ou cafajestagem, o sucesso acontece. Mas, e agora: o que acontecerá com Michel Teló?

Nem adianta afirmar que a citada canção foi boa para a carreira dele. Ela foi ótima, sim. Está sendo. Por enquanto. Não existe mais “carreira”. Ao menos, não como conhecemos.

Você já deve saber, mas não custa repetir: foi-se o tempo em que as gravadoras investiam de forma pesada na carreira dos artistas, visando não apenas o lucro imediato, mas o estabelecimento de um produto... Para que ele pudesse render continuadamente.

Hoje é tudo amanhã. O novo se transforma em velho em menos de três minutos, tempo de uma canção. “Ai, se eu te pego”, por exemplo. Você se lembra de quando o grupo NX Zero e o cantor Luan Santana eram novidades? Pode acreditar: não são mais. Eles vão levando, faturando uma boa nota com shows aqui e ali, mas daqui a pouco pimba!, chega o próximo da lista. Tem certeza que você leu “novidade”? Pisque os olhos. Ah, eu confundi. “Velharia” tem o mesmo número de letras, foi por isso.

Você ainda tem o seu perfil no Orkut? Consegue se lembrar dos ex-BBBs que participaram da sétima edição do reality show? Ainda acha o vídeo de “Larica dos Moleques” engraçado? Seu tênis quadriculado continua fazendo sucesso?

Eu respondo. Não tenho mais Orkut. Não me lembro de muitos ex-BBBs – da sétima edição então, nem pensar. “Larica dos Moleques” já começa a causar um pouco de vergonha alheia. Meu tênis quadriculado ainda “causa” um pouquinho, mas só porque é da Lacoste.

Você, leitor, deve estar pensando que eu vou terminar este texto com uma afirmação do tipo “a internet mudou tudo”.

Não mesmo. Não existe vida antes da internet. Não existe passado, e muito menos presente.
Só nos importa o amanhã.

Ai, se eu te pego, futuro...

Por Hugo Oliveira

Uma banda e uma canção: The Rapture com “How Deep is Your Love?”

Lançado no segundo semestre de 2011, “In The Grace of Your Love”, terceiro álbum cheio da banda americana The Rapture – eles lançaram um mini álbum e um EP antes do primeiro disco, de 2003 –, dá continuidade à linha “disco/punk/quase eletrônico” traçada pelo grupo ao longo da carreira. Uma das faixas do CD, “How Deep Is Your Love?” – 10ª –, mostra o atual trio ainda mais voltado à pista de dança, mas sem perder aquela crueza que só o rock é capaz de transformar em qualidade. Os quase seis minutos e meio da canção, algo que poderia ser definido como “Gang of Four tocando no Studio 54”, não deixam dúvidas quanto ao poder de apelo da música não apenas em relação aos iniciados, mas a qualquer que seja o público. Pianinhos com cara de dance music careta, bateria marcando o ritmo, ruídos que precedem um baixo “de mentira” delicioso e a voz esganiçada do vocalista e guitarrista da banda, Luke Jenner, contando uma historinha manjada sobre ser salvo pelo amor de alguém. Nem parece grande coisa, certo? Mas é. Uma pequena grande coisa. E é assim, sem estardalhaço e qualquer resquício de grandiosidade fake, que o conjunto vai criando climas ao longo da faixa. Um quase refrão que entoa “Let me hear that song” marca as subidas e descidas da música, até que, quando a canção chega à metade, uma paradinha estratégica e um sax punk nocauteiam até o mais desanimado dos ouvintes: é hora de dançar, pogar, pular ou pelo menos mexer os pés, pensando: que vontade de dançar desgraçada!
“How Deep Is Your Love?” é uma canção para fazer passinhos desengonçados com um grupo de amigos, bêbado, em alguma balada cheia de gente blasé; também pode ser usada numa entrada triunfal de alguma pista de dança – com um resultado possivelmente brega e/ou vergonhoso. É uma música para não se levar a sério. É para dançar.
Não se engane: o nome disso é rock.



Por Hugo Oliveira

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Coachella 2012: eu quase fui

Pois é, camarada: os responsáveis por um dos maiores festivais de música "alternativa" do mundo, o Coachella, realizado na cidade de Indio, Califórnia, divulgaram o line-up de 2012. 
Em dois finais de semana consecutivos - 13, 14 e 15 de abril e 20, 21 e 22 do mesmo mês, com as mesmas atrações em cada -, os aficionados por música poderão curtir muitas apresentações de grupos consagrados e shows de bandas e artistas que deverão provar se são mesmo merecedores de um lugar de destaque no cenário mundial.
Sim, porque o Coachella, com o passar dos anos - e das edições -, se tornou um tipo de "atestado de relevância musical". Quem se apresenta no festival geralmente teve, tem ou terá algo a dizer para a molecada - ok, para os nem tão moleques também.
Eu comprei um ingresso para o festival ainda no meio de 2011, para os shows que vão acontecer no segundo final de semana. Não vou poder ir. O motivo? Grana curta. Assim que saiu o line-up, me dei conta de que vou perder algumas apresentações fodas. A do Pulp, por exemplo. Embora tenha começado as atividades no final dos anos 80, na Inglaterra, o grupo liderado pelo gênio - e figuraça - Jarvis Cocker ganhou notoriedade nos anos 90, quando Oasis e Blur deram início, mesmo que não intencionalmente, a um movimento musical conhecido como britpop. O disco "Different Class" é o ponto alto, com canções espetaculares como "Disco 2000", "I Spy" e "Common People". A banda se separou em 2001, e ano passado resolveu retornar aos palcos.
Outros shows que adoraria assistir: The Rapture, Girls, Arctic Monkeys, Cat Power, Horrors, Bon Iver, The Shins, Buzzcocks, Yuck, Vaccines, At The Drive In, Justice, Beirut e Hives - ufa! O cartaz oficial com as bandas e artistas que vão se apresentar segue logo abaixo. Tire suas conclusões.
Por enquanto, só consigo suplicar em silêncio que algum milagre aconteça... E que a grana das passagens acabe sendo depositada na minha conta por alguma boa alma!

Perdi, playboy...


Por Hugo Oliveira

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Pearl Jam Twenty



Minha relação com o Pearl Jam nunca foi de fã, mas sempre admirei o trabalho da banda. Ouvi o Ten quando o mundo inteiro ouviu. Embora, na época, achasse a banda boa, um rock clássico, calcado no hard rock, não percebia sinceridade ali, principalmente em relação à visceralidade do Nirvana.  Depois veio o Vs, meu preferido deles até hoje, e apesar de acompanhar a discografia da banda, - minha canção preferida é “Off he goes”, do No Code - outro disco deles que fui gostar mesmo foi o Yeld, de 98.


Assistindo a Pearl Jam Twenty, de Cameron Crowe, documentário em comemoração aos vinte anos de carreira da banda, o primeiro “preconceito” a cair foi o da falta de sinceridade. Podem acusá-los de muita coisa, mas não de não serem honestos com sua carreira e sentimentos. Minha visão de um Eddie Vedder meio Bono Vox felizmente foi desfeita ao assistir ao filme.

O documentário é muito bem dirigido, intercalando os principais acontecimentos desses vinte anos com grandes performances ao vivo. Aliás, mesmo com grandes álbuns, sempre senti o Pearl Jam como uma banda de palco e isso é totalmente confirmado, tanto na qualidade das apresentações quando no cuidado na organização dos set-lists. O fato de não repetirem o mesmo show faz com que os fãs acompanhem várias apresentações da mesma turnê, como meu amigo Pedro Henrique fez recentemente, ao assistir aos cinco shows da turnê brasileira, cada um com repertório e clima diferentes um do outro.

São muitos os momentos interessantes destacados: a rixa ‘criada’ entre o Pearl Jam e o Nirvana e a aproximação deles depois de um tempo – a cena de Cobain tirando Vedder para dançar nos bastidores de uma entrega de prêmios dessas é impagável; a disputa pelo poder na banda; os conflitos com a Ticketmaster; a aproximação com Neil Young e o quanto ele os ajudou a conduzir a carreira após o suicídio de Cobain e as cobranças comerciais; a maturidade com que os integrantes lidam com os percalços da carreira. Aliás, envelhecer só fez bem à banda.

Senti falta de mais cenas de bastidores das gravações dos discos e penso que deveria ter sido dado um destaque maior à “pirataria oficial”, os bootlegs lançados oficialmente, o que considero uma boa sacada do Pearl Jam, uma forma de aproximação e respeito com os fãs. E esse é o lance do filme, mostrar o quão especial é a relação da banda com seus admiradores, o quanto de identificação e fidelidade foi criado principalmente a partir do fim da explosão do grunge e dos novos caminhos trilhados disco após disco.

Pearl Jam Twenty é um bom documentário de rock n’ roll, não vai me tornar fã – mesmo gostando da imprevisibilidade com que conduzem a carreira, ainda os considero tradicionais demais para o meu gosto, o que, pensando bem, talvez seja seu maior mérito – mas me fez admirar ainda mais a banda e deixa, ao término do filme, aquela vontade de revisitar suas grandes canções.


Por Ricardo Pereira

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Contando estrelas

Há quem colecione casos, contabilize beijos, quantifique sexo e dessa matemática pessoal retire a equação do bem estar e da autoestima. Mas quantos destes momentos são memoráveis? Quantos destes encontros são lembrados com carinho e nostalgia ao fim de um ano?


“and I’m just trying to walk with you between the raindrops”

Em uma segunda-feira cansativa de trabalho, recebeu uma mensagem: teria companhia na cidade fantasma em que residia. Foi o tempo de passar em casa e ir encontrá-la. O curioso é que possuíam grande identificação musical, cinematográfica, no entanto, menos contato do que poderiam. Até então.

Entre chopps, conversas, encantamentos pelos mesmos discos, desencanto com o mundo por razões parecidas, as sutilezas compartilhadas dos Allens e Kar-Wais preferidos, arriscaram até tocar em temas pessoais, expondo, no caso dele, seu coração danificado.

A praça da cidade deserta do meio da noite parecia cenário de filme. Ainda encontraram um amigo comum e riram e divertiram-se como se crianças fossem. Era tarde, deixou-a em casa, um abraço desajeitado, novo ânimo para a semana de trabalho, e a sensação de que o mundo, às vezes, vale a pena.


“talk to me now I’m older
friday nights have been lonely
change your plans and then phone me”

Mais uma sexta-feira entediante. Seu telefone pisca com uma urgência contrastante ao clima lento do ar parado de seu quarto: “Como está você? Me tira de casa, por favor”. Convidou-a para sua casa, poderiam ouvir um som, conversar, beber alguma coisa. Sinceramente, não esperava que viesse... e foi docemente surpreendido.

Conheciam-se há cinco anos, mas nunca tiveram oportunidade de estreitar contato. E, ali, juntos, fizeram as horas voarem. Com a companhia de Ben Kweller e Cat Power, falaram sobre a vida: planos futuros, problemas presentes, ternura recíproca.

Um disco da Fiona, o clube dos corações solitários e a constatação, na simplicidade de uma noite mais do que agradável, do quanto menos pode ser mais, ou, nos versos de uma canção de FM que não toca no rádio, “felicidade é só questão de ser”.


Num mundo tão vazio, em que as pessoas apaixonam-se e desapaixonam-se como quem troca de canal, sentia-se privilegiado por ter vivido momentos como estes, mais até do que os pequenos casos que vivera recentemente. Houve desejo? Provavelmente, ainda que platônico, fragmentado, em algum momento, sim. Mais do que isso, foi a identificação e o compartilhamento que fizeram estes dois encontros tão especiais. Duas estrelas a trazer um pouco de beleza a um céu cansado da escuridão.

Por Ricardo Pereira

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

2012

2011 foi o ano das caminhadas e corridas, sozinho, à noite. Passadas movidas a ódio, amor, medo, esperança, arrependimento, ansiedade, reflexão, culpa, beleza e vida.

2012 continuará sendo um ano de esforço físico. De todos os esforços. Sem ódio, medo e arrependimento, por favor.

Para todos aqueles que cultivam o bem, um ano novo repleto de coisas boas!

Este blog está de volta!

Por Hugo Oliveira