"There's a fear I keep so deep / Knew it name since before I could speak (...) If some night I don't come home / Please don't think I've left you alone"- Keep The Car Running, Arcade Fire

terça-feira, 24 de maio de 2016

Julieta Venegas aconteceu para mim


Vez por outra pintam alguns artistas que cantam em espanhol no meu fone de ouvido. Entendo aqueles com dificuldades relacionadas ao idioma, mas vale ressaltar que, passada essa fase inicial de adaptação, o novo mundo musical que se abre oferece discos e canções inesquecíveis. Caso de Algo Sucede, da cantora mexicana Julieta Venegas.

Lançado em agosto do ano passado, o álbum oferece 12 canções quase irrepreensíveis. Pop, no bom sentido, até dizer chega... Ou melhor, repeat. A sonoridade das músicas acena um pouco à década de 80, mas turbinada por timbres e levadas que também remetem ao indie pop deste novo milênio. Tudo isso com o frescor latino-americano de Julieta, que faz toda a diferença quando as canções começam a aparecer.

Aliás, a primeira faixa já dá a medida do que vem pela frente. “Esperaba” bebe na fonte de “Lisztomania”, da banda francesa Phoenix. Dançante, delicada e com uma letra que homenageia o cantor e compositor argentino Charly García. “Las canciones de Charly sonando en tu casa / Me hacían flotar sobre Buenos Aires / Sobre el mundo enterro / Sobre el universo.”

Daí em diante, até a sexta faixa do disco, nenhuma canção é dispensável. Da baladinha fofa com refrão lindo “Tu Calor”, passando pelo balançado – e ótimo – primeiro single do disco, “Esse Camino”, e pelo pop cheio de teclas de “Algo Sucede”, que dá título ao álbum, Julieta bate no peito e chama para si a responsa de fazer música pop elegante e dançante, mesmo que isso não vá curar as agruras do mundo. Ao menos, do exterior.

Sim, porque música também é exorcismo. Principalmente, dos nossos demônios interiores. Neste quesito, “Uma Respuesta” e “Buenas Noches, Desolación” compõe uma dobradinha matadora. Enquanto a primeira, uma balada agridoce que fala sobre a necessidade de cantar a sua dor e de entender que para muitas coisas não há explicação – Esa es la vida, la realidad se impone / Sobre la melodía –, a segunda, parceria entre Julieta, Ale Sergi e López, oferece uma mensagem tão bonita e positiva que fica difícil não se emocionar.

“Buenas noches, desolación / Ya no quiero nada contigo, no / Buenas noche y desde hoy / Volveré siguiendo otro caminho / En verdad nunca me arrepentí / Todo lo vivido me ha servido / Todo viene y va, y yo sigo entero aqui / Ya no necesito, de tu compañía”, canta Julieta no trecho mais belo da canção, que ofereço a todos aqueles que têm passado por problemas aparentemente irresolúveis, às vezes, em sequência. Um brinde ao sol que vai nascer logo, logo.

“Dos Soledades” e “Se Explicará” vêm em seguida. Apesar de não apresentarem nenhum defeito aparente, não conseguem manter o nível das faixas anteriores. De qualquer forma, as próximas canções retomam o bom ritmo do álbum. Movida por cordas e piano, “Porvenir” mostra a cantora exibindo sua pequena voz, mas muito segura de si; “Parte Mía” soa um pouco mais eletrônica e pop, com uma batidinha clichê para grudar nos ouvidos.

O disco chega ao fim com duas ótimas canções: “Explosión” volta à batida das primeiras canções do álbum, com maestria e alto teor dançante. Em seguida, Julieta desacelera novamente, mas por um bom motivo. Na balada “Todo Está Aquí”, ela defende mais uma letra curta e direta, mostrando que a vida, apesar de tudo o que nos atrapalha, é urgente. “Todo esta aquí / Todo esta aquí / No me hagas pensar en lo que vendrá después.”

Fui. Vou ali ser feliz e já volto.






 Por Hugo Oliveira

quinta-feira, 19 de maio de 2016

O adeus das coisas

Numa cena do filme Beleza Americana (1999), o personagem Ricky Fitts, um adolescente que nas horas vagas gosta de traficar drogas e filmar o cotidiano com uma câmera, mostra à vizinha, Jane Burnham, a gravação de uma sacola de plástico flutuando à força do vento. “Foi nesse dia que percebi haver toda uma vida nas coisas e uma força incrivelmente benéfica que queria que eu soubesse que não há razão para ter medo. Existe tanta beleza no mundo que mal consigo me aguentar, e sinto o coração quase arrebentando”, diz o garoto, emocionado.

Medo, vida nas coisas e beleza no mundo, mesmo com todas as injustiças, tragédias e tristezas: é sobre isso que o mais novo livro da cantora, escritora e poetisa norte-americana Patti Smith, Linha M (2016), trata. Escrevendo ‘sobre o nada’, Patti rememora passagens de sua vida e dá prosseguimento à existência, viajando para ministrar palestras, visitar túmulos de escritores famosos ou simplesmente assistir a seriados policiais em solitários quartos de hotéis. Quase sempre movida a café preto, torrada com azeite e emoção.

Solta no mundo e ao mesmo tempo presa a memórias e objetivos, Patti consegue transmitir ao leitor estranheza e lirismo. Utilizando-se de detalhes e subtramas aparentemente superficiais em seus escritos, revela-se mestre na arte de traduzir sentimentos ininteligíveis, tocando-nos em trechos que, lidos fora do contexto – ou escritos por outra pessoa –, não significariam muita coisa.

Não existe uma história linear em Linha M. O livro é como a vida. Somos jogados de lá para cá, em tormentas e dias de sol que mais confundem do que explicam. Por mais que tenhamos a impressão de que estamos aprendendo com o tempo ou adquirindo vasta experiência no assunto, o volume de Patti Smith nos mostra que tudo vai continuar sendo como é: misterioso, mágico e dolorido. Vão-se as lágrimas e os sorrisos... Precedendo o adeus das coisas.






Por Hugo Oliveira 

terça-feira, 17 de maio de 2016

Sessões Talk About The Passion apresenta… "Tropicália"

Criado pelo jornalista Hugo Oliveira e pelo professor Ricardo Pereira, responsáveis pelo blog Talk About The Passion, o “Sessões Talk About The Passion” é um evento voltado à exibição de documentários e filmes inseridos no universo da cultura pop, com a realização de um bate-papo após cada sessão, entre os responsáveis pela iniciativa e o público.

As sessões acontecem na sala de vídeo do CCTM, em Angra dos Reis, Rio de Janeiro – no mesmo prédio do Teatro Municipal. O próximo documentário a ser exibido no “Sessões” será Tropicália (2012), de Marcelo Machado, sobre o movimento musical que bagunçou o coreto cultural do país no final dos anos 60. A exibição vai acontecer no sábado, 25 de junho, às 18h. A Entrada é gratuita, com os ingressos sendo disponibilizados ao público a partir das 16h. Classificação etária: 12 anos. Duração do filme: 90 minutos.


Sinopse: uma análise sobre o importante movimento musical homônimo, liderado por Caetano Veloso e Gilberto Gil no final dos anos 1960. O documentário resgata uma fase na história do Brasil em que cena musical fervilhava e os festivais revelavam vários novos talentos. Ao mesmo tempo, o Brasil sofria com a ditadura dos generais no poder, o que fez com que Caetano e Gil fossem exilados do país.



Por Hugo Oliveira

terça-feira, 10 de maio de 2016

Janet Malcolm e os outros jornalismos possíveis

O livro 41 Inícios Falsos, da jornalista norte-americana Janet Malcolm, não é para qualquer um.  Lançado no Brasil em fevereiro deste ano, através da coleção Jornalismo Literário – Companhia das Letras –, o volume apresenta textos que vão além de reportagens e críticas sobre personalidades ligadas ao mundo da arte, utilizando-se da erudição e da criatividade da autora para fazer com que os escritos revelem muito mais do que o trivial.

E numa época em que o jornalismo abraça a trivialidade ao mesmo tempo em que manda beijos apaixonados para o que é superficial, ler Janet equivale a medir forças com a ignorância que grassa não apenas pelo país, mas por todo o mundo. É tarefa difícil, quase impossível para um “brasileiro médio” como eu, captar suas variadas referências, acompanhar sua linha de pensamento e entender as nuances que permeiam seu trabalho. Ainda assim, desistir estava fora de cogitação.

Confesso que, apesar de ler com muita rapidez, fiquei quase três meses voltado ao livro em questão. Os textos da jornalista são, na verdade, ensaios. Eles estão sempre abertos a formatos e estranhezas literárias mil, no bom sentido. Janet consegue produzir textos curtos e certeiros, seja para descrever o método de trabalho do jornalista Joseph Mitchell ou defender a importância dos cinzeiros na obra do escritor J.D. Salinger; alonga-se também, com maestria, como no escrito que dá título ao livro ou na obra-prima A garota do Zeitgeist, um documento de quase cem páginas onde se cruzam fontes e pontos de vistas, resultando num texto interessantíssimo, a respeito da editora de uma famosa revista de arte vanguardista.

Fui chamado por uma amiga da cidade onde moro, Angra dos Reis, para falar sobre a minha profissão na escola onde ela leciona. Será um tipo de feira estudantil voltada à questão profissional.  Vou falar sobre como entrei na área, os prós e os contras, o mercado de trabalho e os pré-requisitos que ajudam na escolha do jornalismo como meio de sobrevivência. Além disso, faço questão de inserir um novo tópico na minha explanação: outros jornalismos possíveis.





Por Hugo Oliveira