"There's a fear I keep so deep / Knew it name since before I could speak (...) If some night I don't come home / Please don't think I've left you alone"- Keep The Car Running, Arcade Fire

quinta-feira, 3 de março de 2011

Conversa fiada

Acabei de rever um conhecido. Ok, quase um amigo. O nome dele é Richard Hawley. O cara canta, toca - guitarra e violão - e compõe que é uma beleza. Lançou alguns discos elogiados pela crítica especializada, mas continua humilde que só. Nem precisava: ele é incrível.

Mas não parecia muito bem, o Richard. O sorriso meio canastrão estava lá, como se fosse uma marca registrada. Mas alguma coisa nos olhos dele denunciava um tipo de tristeza, uma dor que não tinha origem física.

Comecei um papo com o topetudo - aliás, nisso nós também combinamos. Banalidades, apenas. Puxei um pouco o saco dele, tenho que confessar. Mas fui sincero. Disse que adorava o CD "Lady's bridge", que ele havia lançado em 2007. Ficou feliz em saber. Aproveitei a ocasião e contei a ele que, inclusive, havia escutado o álbum dois dia antes, na casa de um amigão. Deu um tapinha nas minhas costas e sorriu, meio sem jeito, antes de caminhar até um bar, para acender um cigarro. Não havia dito uma só palavra.

Voltou com a expressão séria. Taciturno da cabeça aos pés, se é que isso é possível. E aí, quando eu ia perguntar a ele o que havia acontecido, resolveu abrir a boca. Deu nisso:

Open up your door
I can't see your face no more
Love is so hard to find
And even harder to define
Ooh open up your door
Cause we've time to give
And I'm feeling it so much more
Open up the door
Open up your door

Open up the door
I can't hear your voice no more
I just want to make you smile
Maybe stay with you a while
Ooh open up your door
Cause we've time to give
And my feelings aren't so obscure
Open up the door
Open up your door

So open up your door
Cause we've time to give
And I'm feeling it so much more
Open up your door
Ooh open up your door
Love is so hard to find
And even harder to define
Ooh open up your door
I've never been so sure
Ooh open up your door
Open up the door

Não soube o que dizer. Fiquei olhando para o rosto dele, naquele momento, enfumaçado por um belo trago - Marlboro vermelho. Assim que a nuvem de fumaça se dissipou, e ameacei esboçar algum comentário esdrúxulo, voltou a falar. Ou melhor, cantar.

I wrote you a letter
Late last night
The words on the paper
My true heart's desire

Now in this bright morning
Oh, what did I find?
No sign of the letter
Ashes on the fire

This morning brought sorrow
This morning brought tears
They bloomed like a flower
From deep-seated fears

My words like an arrow
Aimed so much higher
My bow broke asunder
Ashes on the fire

I know that you weary
Of this life we've made
In silence I sit here
And read the flames

Come sit down beside me
You ghosts of the pyre
And nightly remind me
Ashes on the fire

Ashes on the fire

Ashes on the fire
 

Caminhei até o bar com as pernas bambas. Os olhos, marejados. Pedi uma cerveja ao atendente, minha voz soando nervosa. "Dois copos, por favor", falei ao senhor que estava atrás do balcão. Quando voltei ao Richard, mostrei a garrafa e coloquei minha mão no seu ombro, como se quisesse falar "Calma, campeão... Isso acontece com todo mundo". Escutei uma risada. Vinha do bar. Olhei para trás e o mané que me atendeu balbuciou algo. "Bichonas", acho eu. Fiquei puto e, quando estava fazendo meia volta para perguntar o motivo do comentário, Richard se virou um pouco também. Sem tirar o cigarro da boca e os óculos escuros, falou:    


"Macho music is stupid"


Por Hugo Oliveira

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