"There's a fear I keep so deep / Knew it name since before I could speak (...) If some night I don't come home / Please don't think I've left you alone"- Keep The Car Running, Arcade Fire

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Harry Potter e as Relíquias da Morte pt. 1


Finalmente, consegui a proeza de entrar na sala de cinema certa e assistir ao novo Harry Potter. É curioso como comecei a gostar da série. Apesar de recomendações entusiasmadas de um grande amigo e do meu afilhado, relutava em ler os livros, assistia aos filmes, achava divertido e só.

Até que, em 2007, uma das primeiras vezes que saía com uma ex-namorada, conversávamos sobre literatura e ela mostrou-se fanática pelos livros do bruxinho. Brincando, falei que se ela lesse um Saramago, eu leria todos os Harry Potter. Mal sabia que daí a uns meses estaríamos namorando e como promessa é dívida... Ela leu o ‘Ensaio sobre a cegueira’ e eu, em seis meses, li os sete livros da série.

Confesso que achei os dois primeiros fracos, incipientes. No entanto, a partir do terceiro, a autora, J. K. Rowling, começa a melhorar. Mostra maior domínio das técnicas narrativas, cria situações melhores, mais envolventes e tem o mérito de criar um mundo ficcional que encantou milhões de pessoas pelo mundo. Para isso, utiliza diversas ‘referências’ certeiras. Dentre as mais explícitas, estão lá as Novelas de Cavalaria, a Bíblia e fatos históricos recentes, como o Nazismo. E bons personagens. Além de Potter, Rony e Hermione, descobri-me encantado, durante a leitura, por coadjuvantes como Sirius Black e Luna Lovegood.

Como não sou fã xiita, gosto bastante das adaptações cinematográficas. Agradam-me a forma como os efeitos especiais são utilizados para retratar o mundo mágico dos livros, que, sim, são muito superiores a qualquer dos filmes. E deve-se ressaltar o bom trabalho do diretor dos últimos filmes, David Yates, que conseguiu ‘traduzir’ o clima mais sombrio que a série vai ganhando à medida que vai chegando ao fim. Na sessão de cinema que fui, pude notar crianças mais novas “incomodadas” com o filme, enquanto os pais pareciam mais interessados.

E a escalação dos atores é muito boa. Não tem como, depois de assistir ao filme, ler os livros e não imaginar, por exemplo, o professor Snape com a cara do ator Alan Rickman. Daniel Radcliffe pode ser mau ator – e sim, continua muito fraco – mas o cara É o Harry Potter. E tem como não se divertir com as caras de medo – e de babaca apaixonado agora – de Rupert Grint, o Rony? Sem contar a Emma Watson (Ah, Emma Watson...) como Hermione, a inteligência e sensibilidade feminina fundamentais em vários momentos da narrativa.

Mas o que descobri, no cinema, foi que os filmes do Harry Potter preenchem uma lacuna para mim, a dos bons filmes de aventura, que andam em falta hoje em dia. Com as reversões de expectativa criadas pela escritora, o heroísmo medieval do Jesuzinh..., quer dizer, Harry Potter, faz com que, mesmo já sabendo o enredo, eu sinta parecido com como me sentia, na infância, quando assistia ao Indiana Jones ou aos primeiros Star Wars. E isso não é pouco.

Por Ricardo Pereira
Hermione e as Relíquias... do que mesmo??

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Toque a nossa música, Sam

No último domingo o mundo ficou um pouquinho mais triste. Faleceu o ator canadense Leslie Nielsen, famoso por filmes de comédia escrachados como "Apertem Os Cintos, O Piloto Sumiu!" e principalmente pelos longas da série "Corra Que A Polícia Vem Aí" - três, no total.

Algumas coisas que eu não sabia sobre o "velhinho sempre engraçado": ele tinha  84 anos. Nem parecia. Vai ver que é a tal magia do cinema. O camarada faz milhões de espectadores se escangalharem de rir, em todo o mundo, e como prêmio, recebe a eterna juventude.

Ok, menos. Já no primeiro filme de Leslie que assisti, o cara era grisalho. De repente, ele ganhou mesmo é a capacidade de se eternizar na telona. Acha isso pouco? Vai nessa.

É correto afirmar que o trecho em que o cavaleiro joga xadrez com a morte, no filme "O Sétimo Selo", de Ingmar Bergman, ou o momento em que descobrimos que a palavra "rosebud", balbuciada por Charles Foster Kane, no leito de morte, é, na verdade, uma alusão ao paupérrimo trenó que ele tinha quando menino - no clássico "Cidadão Kane", de Orson Welles -, são cenas sempre presentes no inconsciente coletivo cinéfilo. Inesquecíveis. Mas isso não quer dizer que um gênero considerado por muitos como menor - este jornalista incluso - não tenha os seus momentos sublimes.

Outra coisa: Leslie começou a carreira em produções dramáticas para a televisão. Consegue imaginar a figura que interpretou o hilário tenente Frank Debrin tentando fazer com que os espectadores cheguem às lágrimas? Eu não. É o tal "efeito Cabeção". O cara fica marcado por um tipo de papel ou personagem - se você nunca assistiu a um episódio de "Malhação", um que o tal "Cabeção" tivesse participado, não pode ser deste mundo.

Momentos sublimes relacionados às atuações do ator? Vários. Destaco o seguinte: o tenente Frank, na continuação de "Corra Que A Polícia Vem Aí". Ele está dentro de um bar, com uma mulher. Climão rolando. E aí, homenageando/sacaneando um dos grandes marcos do cinema, "Casablanca", ele pede que o pianista, "Sam", toque a música deles. O pianista obedece, faz uma linda introdução e... Ataca com uma música muito da escrota, nada romântica. Frank fala algo do tipo. "Essa não, Sam. A outra". Para passar mal de rir.

Resumindo: o que todas essas pessoas querem dizer - Leslie, Didi, Jerry Lewis, Mazzaropi, Jim Carey e outras milhares - é que a vida não deve ser levada muito a sério.

E que rir, em muitas ocasiões, é sempre o melhor remédio.

That's all, folks!

Descanse em paz, Leslie. Ah, em paz nada: toque o terror no céu!



O radialista - e amigão do peito - Rodrigo Camacho já deve estar se mijando de rir




Por Hugo Oliveira

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

De Hogwarts ao Rio

Eu sou uma besta. Saí de casa para ir ao cinema assistir ao novo Harry Potter, queria algo leve, para me divertir e só, já estava até pensando que escreveria um texto sobre minha relação com a série, mas... entrei na sala errada e me peguei assistindo a ‘Tropa de elite 2’ – como eu consigo essas coisas, errar sala de cinema, parece até mentira...

Foi como sair para um show da Tulipa Ruiz ou da Orquestra Imperial, errar a casa de shows e descobrir-se, na hora em que a banda está no palco, frente a frente com o Joy Division.

O fato de não esperar, de pensar estar ali para algo leve só aumentou o impacto daquilo tudo. Saí do cinema com uma tristeza filha da puta... Vou comentar o filme não, muito já foi escrito por aí, é muito bom mesmo, o protagonista parece outro em relação ao primeiro filme e dá realmente o que pensar.

Juntando o caos que o Rio vive esses dias com a semana turbulenta pessoal por que passei (e que o filme de certa forma ecoa, mas em outro contexto) foi como uma bomba detonada. Podem me chamar alienado, escapista, o que quiserem, mas me faz um mal terrível o acesso à maldade das pessoas, à falta de ética e respeito reinantes, tudo isso que a gente tá cansado de saber.

Ingênuo pra cacete isso aí, eu sei...

Não sei como terminar este texto, pois nem planejei escrevê-lo... Vamos lá, estou nesse momento ouvindo um disco pela primeira vez: ‘Queen of Denmark’, do John Grant, minha primeira impressão é a melhor possível, músicas lindas. Depois dele vai entrar o ‘You are not alone’, da Mavis Staples, um dos melhores que ouvi esse ano.

E hoje é aniversário do Henrique, meu irmão. Amo você, cara!

Por Ricardo Pereira

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Para Ricardo

Old Friends/Bookends
Old Friends
Old Friends
Sat on their park bench like bookends
Newspaper blowin' through the grass
Falls on the round toes
Of the high shoes
Of the old friends


Old Friends
Winter companions the old men
Lost in thier overcoats
Waiting for the sunset
The sounds of the city sifting through trees
Settle like dust
On the shoulders of the old friends


Can you imagine us years from today
Sharing a park bench quietly?
How terribly strange to be seventy...


Old Friends
Narrowly brushes the same years
Silently sharing the same fear


(Musical Interlude)


A time it was
It was a time
A time of innocence
A time of confidences


Long ago it must be
I have a photograph
Preserve your memories
They're all that's left you


Velhos amigos / Finais de livros
Velhos amigos
Velhos amigos
Sentavam-se em seu banco de praça como num final de livro
Um jornal voando pela grama
Cai nas pontas arredondadas
Dos sapatos caros
Dos velhos amigos


Velhos amigos
O inverno acompanha os velhos
Perdidos em seus sobretudos
Esperando pelo pôr-do-sol
Os sons da cidade trespassando as árvores
Pousando como poeira
Nos ombros dos velhos amigos


Você pode nos imaginar daqui a anos
Dividindo um banco de praça tacitamente?
Qual terrivelmente estranho ser septuagenário...


Velhos amigos
Movem-se juntos pelos mesmos anos
Compartilhando em silêncio o mesmo medo


(Interlúdio)


Uma época foi-se
Foi-se uma época
Uma época de inocência
Uma época de confiança


Deve ter sido há muito tempo
Eu guardo uma foto
Preserve suas memórias
Elas são tudo o que sobra de você



Por Hugo Oliveira

A day in the life

Dizem que, quando um homem está em crise, deve procurar Deus. Acho que, inconscientemente, foi o que fiz quando fui ao Morumbi no domingo para o show do Paul McCartney.

Fui com meu irmão, Henrique, e meu primo, Fábio. Passamos um dia muito divertido antes do show com nossos amigos Pedro Henrique, João Paulo, Sandro e o Felipe, que não via há muito tempo.

É difícil escrever sobre um show como esse, porque é totalmente diferente de qualquer outro espetáculo artístico. Uns dez minutos antes de o show começar, o telão começa a passar imagens de várias fases da carreira do Paul, desde os Beatles, passando por Linda até os dias de hoje. E é impossível não mexer com qualquer um que tenha a mínima ligação com a banda.

Quando Paul e sua banda entram no palco, é algo simplesmente inexplicável. O tempo para, é como se tudo entrasse em outra dimensão. Naquele momento, nada importava para mim, problemas no trabalho, derrota(s) do Botafogo, frustrações emocionais, qualquer detalhe pessoal parecia pequeno na presença daquele homem tocando as canções tema da minha vida.

Paul McCartney é o meu terceiro beatle preferido, se contarmos música, personalidade, atitudes, seu histórico, enfim. Mas não era isso que importava, na verdade, nada importava naquele momento. Não vou falar tecnicamente do show, pois como bem disse o Dapieve em sua coluna da semana passada, tudo já foi dito sobre Paul McCartney e nada nunca será o suficiente.

Posso dizer que em ‘And I love her’ lembrei do Ricardo pré-adolescente com os encartes dos discos dos Beatles tentando traduzir as canções com o dicionário bilíngue do lado. Que durante ‘The long and winding road’ e ‘My love’, só consegui ficar em silêncio, emocionado, numa perplexidade muda. Que durante o show inteiro pensei em meu pai, meu exemplo e modelo de vida, que me apresentou aos Beatles e que moldou (e molda) o meu caráter. Que em ‘Blackbird’ pensei em cada vez que ouvi o Álbum Branco – meu preferido da banda. Em ‘I’ve Just seen a face’ estava junto com meu amigo Pedro, mesmo que separados por alguns metros de distância. Que em ‘Helter Skelter’ queria que o Hugo estivesse ao meu lado, assombrado com como aquele senhor consegue ainda cantar daquele jeito. E que me emocionei com o deslumbramento do meu irmão a cada canção e toda vez que o meu primo xingava o Paul a cada intervalo de música por estar fazendo um show tão perfeito na nossa frente.

O sonho acabou e os dias seguintes vieram me acordar de uma forma urgente e cruel. Mas, no meu coração, ainda ecoam os últimos acordes de um espetáculo que me fez, ao seu final, ter o privilégio de assistir ao vivo a um dos versos mais simples e emocionantes da música pop: “And in the end, the love you take is equal to the love you make”.

Por Ricardo Pereira

obrigado, você.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Perto do palco - amigos no show do Paul (3)

Parece que o negócio foi bom ontem, em São Paulo, quando o ex-baixista dos Beatles, Paul McCartney, se apresentou no estádio do Morumbi.

Os amigos que estavam lá, e que prometeram mandar mensagens falando sobre as impressões da apresentação, não entraram em contato. Estão desculpados. Eu entendo perfeitamente como deve ter sido.

Aliás, a Rede Globo deu uma prévia do show, exibindo algumas músicas da apresentação após o Fantástico. Fiquei assustado com a quantidade de pessoas, com o fanatismo do público e com a naturalidade com que McCartney lida com a plateia: uma infinidade de gente e ele ali, como se estivesse tocando em algum clubinho com capacidade para 50 pessoas.

Repertório? O que falar sobre um músico que criou coisas como "Yesterday", "Let It Be" e "Helter Skelter", que participou do grupo mais importante do cenário pop/rock mundial e que ajudou a levar a música pop a outro patamar, o de obra de arte? 

Não sou um profundo conhecedor dos Beatles. Muito menos da carreira solo de Paul. Mesmo assim, precisa ser muito burro para não reconhecer a importância do cara para a música.

E aí, hoje de manhã, no trabalho, um amigo mandou a pérola. "Ah, esse Paul McCartney é mais ou menos. Só aquele música, 'Live And Let Die', é que é legal... Mas ficaria melhor com uma batida house".


"House? Meu camarada: acho que você precisa de um drink... E rápido"


Por Hugo Oliveira

domingo, 21 de novembro de 2010

Perto do Palco - amigos no show do Paul (2)

18:48:46 - “A cinco metros do palco, rumo à grade” – Pedro Henrique, abrindo caminho na multidão vip para chegar ainda mais perto de Paul. Ele consegue, certamente!


19:44:56 - “A dois metros do palco... Cada vez mais perto de Deus” – Pedro Henrique ruleia!

Vou ali tomar uma "água". Já volto...

Por Hugo Oliveira

Perto do Palco - amigos no show do Paul

"Estou a 10 metros do palco, Hugão. Minha intenção é ficar ainda mais perto. Abraços!" - o engenheiro químico - e baixista - Pedro Henrique, amigão deste que vos escreve, transmitindo pelo telefone a emoção de estar no local do show.


Dois detalhes importantes: Pedro já assistiu ao show do Paul, em Londres; Pedro está no Morumbi, neste domingo, na Pista Vip.

Logo abaixo, a minha música predileta dos Beatles, "She's Leaving Home", oriunda da mágica parceria entre Lennon & McCartney, numa versão matadora do... Roupa Nova (?!?).

Eu, que nunca pensei que ia ficar chapado com algo do Roupa Nova, queimei minha língua.



Perdoe o palavreado chulo... PUTA QUE PARIU!

Por Hugo Oliveira

Domingo é dia de Paul - e outras coisas

Se ligou? Nem poderia ser diferente: neste domingo o ex-baixista dos Beatles, Paul McCartney, faz o primeiro de dois shows em São Paulo - no Estádio do Morumbi. Nas duas apresentações, hoje e amanhã, amigos estarão presentes,sempre mandando atualizações em relação aos concerto - que serão devidamente postadas aqui!

Sim, eu vou perder. Mesmo assim, por enquanto eu não estou triste. Tem muita gente que eu considero demais por lá. E eles merecessem cada nota, cada refrão, cada canção que será apresentada pelo "Macca". OK: se eles quiserem dedicar "Eleanor Rigby" para mim, na hora em que a própria for tocada, ficarei imensamente agradecido.

No mais, a vida continua... Mesmo sabendo que perdi a oportunidade de conferir a performance de um dos músicos mais importantes de todos os tempos. Let it be...

Paul McCartney: se ele fosse brasileiro, certamente torceria para o Fluzão!

Obs: sabe o "outras coisas" do título desta postagem? Seguinte: na brincadeira, peguei o meu violão, preparei a voz - mais ou menos -, liguei o gravador portátil e tentei fazer uma "versão da versão de 'Careless Whisper'", essa, postada no vídeo abaixo, com a assinatura de Ben Folds e Rufus Wainwright.  Acesse o link e divirta-se... Em todos os sentidos!

http://www.4shared.com/audio/fav4Lacd/Careless_Whispers_Hugo_Oliveir.html
Aceito propostas para tocar em casamentos, aniversários e velórios - preço a combinar

Por Hugo Oliveira


sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Para animar a tarde

Rufus Wainwright e Ben Folds, juntos, numa versão para "Careless Whisper", de George Michael.



Este é um mundo cheio de glamour, não?

Por Hugo Oliveira

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Teach your children

Algumas coisas na vida, não escolhemos. Não escolhi torcer para o Botafogo, a Estrela Solitária me escolheu para torcedor. Um dos meus passatempos preferidos é andar por estantes de bibliotecas esperando que um livro ‘me escolha’ e mude o Ricardo de alguma forma.

Da mesma forma, não escolhi ser professor. Ao contrário, quando terminei a faculdade, vivia afirmando categoricamente que não daria aulas. Cheguei a escrever uma carta (ingênua, ingênua...) para uma das professoras inesquecíveis da universidade dizendo que, se um dia fosse dar aulas, queria mudar a vida de pelo menos um aluno por ano, como ela conseguiu mudar a minha ao me apresentar ao mundo saramaguiano. Com o tempo, penso que a profissão me escolheu mais do que eu a ela.

Hoje, o que me dá mais prazer no trabalho é conseguir mexer de alguma forma com os alunos, através dos livros, discos, filmes que os apresento. E uma das críticas que mais me incomodam é a de que ‘eu converso demais em sala de aula’, como alguns alunos e/ou seus pais às vezes dão a entender. Como dar aula de Português/Literatura sem debater com os alunos os temas que julgo relevantes? Para mim, é tão importante que uma das minhas alunas mais brilhantes não goste tanto de Rubem Fonseca quanto o fato de ela ter amado ‘Reparação’, por exemplo.

Na minha visão de educação, tão (mais?) importante do que o aluno entender de advérbios ou saber utilizar corretamente as orações subordinadas é que ele seja crítico e saiba interpretar o que lê, ouve, assiste. Seria mais fácil (e agradaria mais pessoas) tornar-me um reprodutor de conteúdos, mas não é para isso que fui escolhido. Ao menos, prefiro pensar assim...

Desculpem-me este desabafo tão pessoal, mas para que serve um blog se às vezes não servir como um exercício de egocentrismo?

Por Ricardo Pereira

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

A propósito - sobre erudição, sutileza e porra-louquice

Depois de escrever o texto abaixo, sobre o show do Belle & Sebastian no Rio, fiquei pensando em exemplos de artistas que conseguem "rockar" com tesão e inteligência, com charme e descontrole. Aquele lance de misturar erudição, sutileza e porra-louquice, na mesma música.

Achei vários, felizmente. Mas aí, ao passar pelo blog "With Lasers", de Paulo Terron -http://withlasers.blogspot.com/ -, encontrei um vídeo que dispensa palavras. Ao menos, muitas palavras.


Bruce Springsteen cantando "Because The Night", parceria dele com a musa do pré-punk, Patti Smith. Bruce cantando como se carregasse toda a dor e o amor do mundo em seu peito. Sofrendo, sentindo, urrando. Alternando momentos de lucidez e selvageria. Romeu, Einstein, Bandeira e Ron Jeremy. Romântico, gênio, poeta e pirocudo. Tudo na mesma pessoa.

Não conheço quase nada do "Boss". Mas essa é de matar.

Por Hugo Oliveira

Sonífera – e mágica – ilha

Erudição e sutileza nunca foram as moedas correntes do rock... Pelo menos, não as mais populares. O negócio sempre foi chocar: o guitarrista do Led Zeppelin, Jimmy Page, inserindo pedaços de cação na vagina de uma groupie; integrantes do Sex Pistols no programa do apresentador Bill Grundy, na TV inglesa, falando pela primeira vez, em rede nacional, a palavra “fuck”; mais recentemente, Chorão, vocalista da banda Charlie Brown Jr., socando o principal cantor e compositor do Los Hermanos, Marcelo Camelo, por não ter gostado de um comentário do último. Ah, a rebeldia... Parece que, no imaginário popular roqueiro, é isso que fica. Que tem que ficar. 

Corta para o Rio de Janeiro, sexta-feira, dia 12 de novembro de 2010.

A banda escocesa Belle & Sebastian, nascida na segunda metade da década de 90, em Glasgow, volta ao Brasil para dois shows, exatamente como foi em 2001, quando o conjunto tocou em São Paulo e no Rio, no extinto Free Jazz Festival. Estou do lado de fora do Circo Voador – local marcado para a apresentação carioca –, localizado na Lapa. Não vejo ninguém caindo de bêbado. Nem vestido em trapos. Ok, vez por outra, sinto o cheiro de maconha, mas nenhum sinal de usuários de outros tipos de drogas ilícitas – e mais pesadas. Ao meu redor, apenas gente bem vestida – camisas listradas, óculos de aros grossos e blazers dominando –, com cara de ter acabado de chegar de Londres – inglês impecável, inclusive – e com uma ansiedade indisfarçada estampada no rosto – algo em comum, finalmente! Assim como eu, muitos deles irão assistir ao septeto indie-folk-pop-rock-barroco (?!?) pela primeira vez; diferente de mim, é bem provável que eles saiam do Circo deslumbrados, independente da performance do grupo.

Comigo não, camarada.
Tudo bem, eu me rendo: mais ou menos.


Um pouco mais de 30 minutos de atraso, e a banda entra. Ingressos esgotados, mas tranquilidade “quase” que total para assistir ao show – dançarinos desengonçados que tomam um espaço fora do normal para sua, digamos, “arte”, deveriam morrer lentamente. No palco, doze pessoas – banda, quarteto de cordas e uma musicista que se revezava em pelo menos três instrumentos. O “bailão melancólico” é aberto com “I Didn’t See It Coming”, do último trabalho, “Write About Love” – 2010 –, que vem seguida da ótima “I’m A Cuckoo”, do subestimado “Dear Catastrophe Waitress”, de 2003. Um começo maravilhoso, que ficou ainda melhor com “Step Into My Office” – também de “Dear” – e “Like Dylan In The Movies”, do segundo CD do grupo, “If You’re Felling Sinister” – 1996. Cartase coletiva... Mas meio que contida, se é que isso é possível. Aliás, “contida” é uma palavra que tem muito a ver com a banda. O público, que por sinal foi o principal responsável pela realização do show no Rio, através da campanha “Queremos Belle & Sebastian no Rio”, estava ali para deixar a bola na marca do pênalti, para o conjunto chutar e ir para a galera. Mesmo assim, demorou um pouquinho para rolar uma “troca de passes ensaiada”. O som, que no geral eu achei bem baixo, na verdade, deve ser uma característica da banda. É quase uma “bossa folk rock”. Para completar, quando parece que o conjunto vai engrenar, buscando músicas mais agitadas para o repertório, os integrantes ouvem uma voz interna que diz. “Comportem-se, garotos. Isso lá são modos?”. E aí, somos brindados com coisas do tipo “I’m Not Living In The Real World” – até rapidinha, mas chata –, “Piazza, New York Catcher” – linda, mas em versão inferior, meio country – e “The Loneliness Of A midle-distance Runner” – um lado B descartável. De repente, surge “I Want The World To Stop”, do disco mais recente. Eba, o show vai voltar aos trilhos! Não, não: o público ainda tinha pela frente “Sukie In The Graveyard”, “Lord Anthony”, “The Wrong Girl” – essa, “da boa”, mas levada só ao violão e encurtada – e “(I Believe In) Travellin Light”... Além de um pedido de casamento feito por um fã da banda à namorada, que até foi bonitinho, mas não ajudou em nada quanto ao andamento da apresentação. Circo Voador ou “Sonífera Ilha”? Confesso que fiquei tentado a escolher a segunda opção, mas felizmente, existe uma luz que nunca se apaga. Eis que o grupo acorda. “Dear Catastrophe Waitress” surge poderosa, com destaque para o quarteto de cordas. Muita gente dançando em “Write About Love”, “Dirt Dream Number 2” e “The Boy With The Arab Strap” – a última, inclusive, contando com fãs dançando no palco. O conjunto vai levando, numa mistura de empolgação genuína, com a loirinha da banda, Sarah, parecendo não acreditar na histeria do público, e um pouco de “bocejo” por parte do grupo – no caso do guitarrista e vocalista Stevie Jackson, literalmente. Quem sabe eu não estou enganado, e a apatia do septeto, na verdade, não seria apenas mais uma particularidade do Belle & Sebastian? Uma banda que só “se joga” para dentro? Bobeira. Deve ser coisa de jornalista que quer encontrar teorias super criativas e/ou geniais para tirar onda com outros colegas de profissão – como se jornalista tirasse onda com alguém... –, ou papo de trintão que já passou da época de se descabelar por um bando de músicos medianos. Independente da conclusão, declaro que a emoção bateu forte quando a faixa “If You Find Yourself Caught In Love” foi apresentada. Se não bastasse ser uma das músicas mais bonitas da banda – e das letras, justiça seja feita –, o vocalista do conjunto, Stuart Murdoch, ainda fez questão de deixar o clima ainda melhor no Circo: desceu à plateia, caminhou entre ela, sem seguranças, e finalizou o passeio no “andar de cima” do local, cantando com o povo, a plenos pulmões, como se fosse um de seus fãs. Ninguém parecia acreditar no que estava acontecendo. Flashes, muitos flashes. Nesse momento, nesses minutinhos em que a mágica se fez presente, agradeci mentalmente aos amigos Amanda – por ter me apresentado oficialmente ao grupo – e Ricardo – que sempre enxergou a importância da banda –, infelizmente, ausentes naquela noite; por outro lado, fiquei contente por dividir aquilo com meu irmão, minha namorada e com meu novo/velho amigo, o grande Hugo Bastos – onde você estava, hein? –, todos eles, fãs do conjunto. Porque o Belle & Sebastian tem a ver com amizade, amor e saudade, essas coisas que andam fora de moda no cenário rock/pop atual – existem exceções, graças a Deus! O jogo estava ganho, sem dúvidas. Ainda assim tinha mais. Uma dobradinha matadora com “Judy And The Dream Of Horses” e “Sleep The Clock Around” – uma do segundo e a outra do terceiro disco, respectivamente – fechando o set list. No bis, quase perfeição. Belle & Sebastian tocando a primeira música de “Tigermilk”, estreia da banda em disco. “The State I Am In”. Obrigado, Deus! E eu, que há muito tempo não decoro mais letras de bandas internacionais, lembrei quase que inteirinha dela, como se estivesse novamente no meu quarto, com um pequeno micro system ligado, CD rolando e encarte nas mãos. Coisa linda. Outra canção estupenda, “Another Sunny Day”, do antepenúltimo álbum, “The Life Pursuit”. É uma pena que a versão ao vivo tenha saído capenga, magrinha, mesmo com uma cacetada de cordas e vozes. E aí, chega a hora do grand finale, com “Get Me Away From Here I’m Dying”, do segundo trabalho do grupo. Os primeiros versos não poderiam ser mais diretos. “Tire-me daqui, estou morrendo / Toque uma canção para me libertar / Ninguém mais as escreve como elas deveriam ser”. Para um garoto que, como eu, amava os Smiths e o Clash, escutar a citada música naqueles “primeiros dias”, reforçava a minha fé na erudição e na sutileza dentro da música pop.

No show do Circo, eu constatei que estava certo... Embora um pouquinho de porra-louquice não faça mal a ninguém.

Por Hugo Oliveira


Até a próxima, "musos moderados" - Nick Kent mode on

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Homem trabalhando... Homem cansado... Não perturbe!

O Ricardo já cantou a pedra - resenha/texto sobre o show do Belle & Sebastian no Circo Voador, na sexta, dia 12 de novembro, escrita por este que vos digita... E que estava lá.

Ainda assim, peço apenas um tempinho para colocar as ideias em ordem. O texto vai bem, obrigado, mas ainda não está finalizado. Vai ser publicado hoje, sem falta.

Fui vencido pelo cansaço. Como diria Robert Smith, do The Cure, "let's go to bed"!

Como não poderia deixar de fazer alusão ao assunto, segue o vídeo de uma música que, na minha humilde opinião, representa o conjunto de forma perfeita, para o bem e para o mal.


"Get me away from here I'm dying", última música do show no Circo Voador. Fofura!

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Para cada ação...

Ainda bem que assisti a este filme antes de fechar minhas listas da década. Falo de ‘Antes que o diabo saiba que você está morto’, de Sidney Lumet. O filme, de 2007/2008, teve críticas e recomendações excelentes, mas acabei perdendo no cinema e só agora encontrei em dvd...

O filme é espetacular. Dois irmãos com problemas financeiros decidem assaltar a joalheria de seus pais. Este roubo passa a ser a referência temporal do filme, as cenas vão se sucedendo sempre a partir daí, dois dias antes, uma semana depois. E o filme apresenta uma segurança narrativa louvável, pois vai apresentando os diferentes pontos de vista dos envolvidos através de quebras narrativas que te fazem ficar cada vez mais ansioso.

Depois do roubo da joalheria, o filme apresenta uma sucessão de merdas impressionante. É um problema atrás do outro, numa gradação, acima de tudo, angustiante para o espectador. Há um momento em que tudo que você deseja é que aquilo tudo acabe, em uma intensidade próxima a dos personagens. Verdadeiramente claustrofóbico.

Além da segurança narrativa, temos grandes atuações de Philip Seymour Hoffman (como sempre, né?) e Ethan Hawke – os irmãos -, de Marisa Tomei - carência e insegurança no ponto certo – e de Albert Finney, o pai.

O filme dá o que pensar sobre consequências, culpa, consciência, ética. E, ao menos comigo, conseguiu mexer ‘com os nervos’ como poucos filmes da atualidade conseguem, fiquei com a impressão de ter assistido a uma tragédia moderna sobre o caos de nossa época. Não sei em que posição, mas estará certamente na minha lista de filmes da década. As listas? Lá pra final de dezembro, começo de janeiro, começam a aparecer por aqui. Antes, preciso de férias.

Por Ricardo Pereira

Que você esteja no paraíso por meia hora, antes...



sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Older Chests

A essa hora, nosso amigo Hugo deve estar se preparando para ir ao show do Belle and Sebastian. Como não pude ir, vou falar sobre minhas expectativas, de como gostaria de um show deles. Antes, é preciso voltar uns doze, treze anos...

1998 mais ou menos... Uma banda da Escócia, com um monte de integrantes, carregando com orgulho a pecha de ‘pequena’, músicas levadas ao violão, boas letras cheias de referências literárias, lindas capas dos discos. Esta era a Belle and Sebastian. E não tinha como não fazer um estrago em rapazes e moças melancólicos com cerca de 20 anos, fãs de Smiths, literatura e música pop.

Lembro bem a primeira vez que ouvi. Na época não tínhamos a facilidade de baixar discos pela internet como hoje, já tinha lido sobre a banda e era doido pra conhecer. Até que Hugo conseguiu os discos e me chamou para ouvir na sua casa. Posso ver como numa fotografia desbotada os dois deslumbrados com o poder da simplicidade daquelas canções, comentando as letras, discutindo as preferidas. De repente, Angra dos Reis parecia ter se transformado em um pedacinho da Escócia.

O tempo passou.. Tanto eu quanto Hugo não somos mais (infelizmente?) tão deslumbrados, a banda já não é mais a mesma, mas a influência dela em nossas vidas é inegável e impossível não ouvir com carinho aquelas canções, nem que seja como encontrar velhas fotografias esquecidas em uma gaveta. Torço para que o show, ao menos em alguns momentos, consiga transportar os presentes hoje ao Circo Voador novamente à inocência de seus vinte anos.

E para finalizar, o que seria meu repertório perfeito:

- The State I Am In
- She’s Losing It
- I Could Be Dreaming
- My Wandering Days are Over
- Seeing Other People
- Belle & Sebastian
- Me and the Major
- The Fox in the Snow
- Judy and the dream of Horses
- It Could Have Been A Brilliant Career
- Sleep The Clock Around
- A Summer Wasting
- The Model
- The Wrong Girl
- If She Wants Me
- You Don't Send Me
- If You Find Yourself Caught In Love
- Another Sunny Day
- I Want The World To Stop
- Write About Love
- I Can See Your Future

Por Ricardo Pereira
 
You used to make me smile when I was down

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Se for baixar um disco...

Título: Pet Sounds


Banda: Beach Boys


Ano de lançamento: 1966


País: Estados Unidos


Som: rock/pop/surf music/psicodelia

Talvez eu esteja escrevendo este pequeno texto sobre um dos discos mais importantes do rock dos anos 60 porque estou lendo o livro “The Dark Stuff”, de Nick Kent, que apresenta vários perfis de músicos famosos – Brian Wilson, o gênio da banda em questão, está bem representado num deles; por outro lado, o que motivou estas linhas pode encontrar origem na minha mais nova aquisição: tomei vergonha na cara e comprei o “Pet Sounds”, em versão stereo + mono – US$ 7,90 na Second Spin, com frete grátis! Não, não foi por nenhum desses motivos citados. Escrevo sobre o álbum porque ele é uma obra-prima da música pop, da boa música popular americana. Depois de lançarem álbuns cheios de canções ensolaradas, com letras sobre meninas e surf, os “garotos de praia” - os irmãos Brian, Carl e Dennis, o primo Mike Love e o chapa Al Jardine – resolveram radicalizar. Brian à frente. Tchau, temática juvenil; olá, “sinfonias adolescentes para Deus”. Sim, aquele espírito californiano da época ainda estava lá, mas de um jeito diferente, único. Você coloca o CD para rolar e já fica chapado logo de cara, com “Wouldn't it be nice”. A letra é simples, e versa sobre como seria bom se o personagem da canção pudesse ficar com o seu amor, casar com ele e ser feliz. Mas a música... Surpreendente. Mudança de ritmos, harmonias vocais perfeitas, instrumental rico e exótico: um novo modelo a ser seguido, copiado e homenageado. Depois disso, só deleite. “Sloop John B.” te leva para navegar num barco tão agitado quanto psicodélico; “Caroline No”, uma das mais bonitas canções do disco, usa um corte de cabelo como metáfora para a perda da inocência. Ah, e ainda tem “God Only Knows” que, segundo o ex-baixista dos Beatles, Paul McCartney, é a melhor música escrita em todos os tempos. “Pet Sounds” ainda oferece mais oito músicas ao ouvinte. A maioria delas, inesquecível. Depois disso, Brian, que já vinha “capengando” quanto à sanidade, seguiu ladeira abaixo – felizmente, recuperando-se na última década. Mesmo assim, o estrago, ou melhor, a revolução já havia sido feita. Nossos corações e ouvidos agradecem.

Por Hugo Oliveira


"Pet Sounds", da banda Beach Boys


quarta-feira, 10 de novembro de 2010

For No One




Your day breaks, your mind aches,
You find that all her words of kindness linger on,
When she no longer needs you.

She wakes up, she makes up,
She takes her time and doesn't feel she has to hurry,
She no longer needs you.

And in her eyes you see nothing,
No sign of love behind the tears cried for no one,
A love that should have lasted years.

You want her, you need her,
And yet you don't believe her,
When she says her love is dead,
You think she needs you.

And in her eyes you see nothing,
No sign of love behind the tears cried for no one,
A love that should have lasted years.

You stay home, she goes out,
She says that long ago she knew someone but now,
He's gone, she doesn't need him.

Your day breaks, your mind aches,
There will be times when all the things she said will fill your head,
You won't forget her.

And in her eyes you see nothing,
No sign of love behind the tears cried for no one,
A love that should have lasted years.

Por Ricardo Pereira

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Como se o mar

Era como se, de uma hora para outra, a lucidez florescesse timidamente no campo improdutivo de sua insanidade. Sua fraqueza, que sempre considerou uma lástima, emergia clara e limpidamente como uma benção.

Sou fraco!! – tinha vontade de gritar, levantar sua rouquidão acostumada aos tons menores. Desafiar, com sua impotência, um mundo inexequível, que exige força e segurança, só possíveis aos que olham, mas não enxergam.

E resolveu levantar a bandeira de sua fraqueza. Fazia seu trabalho, cultivava os poucos amigos, imputava aos livros uma importância fundamental, como se cada capítulo, cada página, cada frase bem construída pudesse compensar a felicidade que o mundo lhe negava.

Ao mesmo tempo, trancava-se. Não era um fracasso com as mulheres, mas até certo ponto. Estava longe de ser o macho alfa que elas diziam precisar. Então ficaria só com sua fraqueza, fingindo adorar a solidão.

Porém, em mais um sábado solitário, fora traído por sua fraqueza. A seiva ignominiosa do isolamento era algo palpável em seu sangue, em seus ossos.

Saiu de casa sem um rumo certo. Quando deu por si, estava sozinho à noite na praia. Foi andando até o final do píer, o vento gelado não o incomodava. O mar parecia o chamar com um desejo de integração, como se precisasse do sal de suas lágrimas, como se a fraqueza deste homem fosse o complemento perfeito para sua majestosa imensidão.

Queria poder se jogar e deixar que o peso de suas mágoas o levasse para o fundo. Suportaria a lenta agonia do fim da respiração, até não mais sentir. Nada sentir.

Mas foi embora. Nunca fora tão fraco. No entanto, desta vez, vazio, infeliz. O mar existiria sempre dentro de si como uma falta, uma lacuna. E continuaria sua vida, como em uma antiga canção, com as janelas abertas pra que entrem todos os insetos.

Por Ricardo Pereira

É doce morrer no mar?

domingo, 7 de novembro de 2010

As crianças, o amor e o cinema

Odeio filmes de luta, de carros e de bichinhos simpáticos. Fora isso, acho que dá para aproveitar muita coisa, em qualquer gênero. Sempre mexem comigo aqueles que retratam crianças – ou pré-adolescentes, vá lá – descobrindo o amor.

Se não me falha a memória, o primeiro que vi foi “Meu primeiro amor”. O filme foi lançado em 1991, mas como em Angra dos Reis – cidade onde vivo – as coisas chegam com certo atraso, devo ter assistido em 1992, no saudoso Cine Araribóia. A história é simples: Vada – Anna Chlumsky – é uma menina de 11 anos, que vive com o pai, Harry – Dan Aykroyd –, um agente funerário. Sua mãe morreu. A morte dá o tom na casa. As coisas começam a mudar quando tanto ela quanto o pai começam a se apaixonar – ela pelo professor de inglês; ele pela maquiadora de cadáveres, interpretada por Jamie Lee Curtis. A paixão pelo professor não dá certo. Já o relacionamento de seu pai com a maquiadora parece engatar, embora Vada, ao menos no começo do namoro, tente atrapalhar de todas as formas – o que rende ótimas cenas. No meio disso tudo aparece Thomas – Macaulay Culkin –, amigo da menina, que compartilha das tristezas e das alegrias dela. Manja Nando Reis? “O teu amor pode estar do seu lado”? É isso. Ou mais ou menos isso, já que a morte volta a dar as caras no filme... E tudo vira um turbilhão de lágrimas e emoção. Lembro bem dessa “parte triste”. Quem me levou ao cinema foi o meu pai, meu querido companheiro de telão nesses primeiros tempos. Nunca vou me esquecer daquele nó na minha garganta. Nem dos meus pensamentos. “Ei, o que é que está acontecendo comigo? Por que essa vontade de chorar desgraçada? Meninos não choram!”. Não chorei. Prendi o choro, pois achei que não pegaria bem deixar as lágrimas rolarem na frente do meu pai. Hoje, só de escutar “My girl”, canção tema do filme, já fico “na mão do palhaço”... Do palhaço chamado coração.


Trailer de "Meu primeiro amor"

Há alguns anos, zapeando com o controle remoto pela madrugada, acabei parando na Globo. Era uma sessão tipo “corujão”. O filme? “A inocência do primeiro amor” – no título original, “Lucas”. Foi lançado em 1986, e o elenco era composto de futuras estrelas – Corey Haim, Charlie Sheen e Winona Ryder, em seu primeiro papel. Clichê dos bons: aluno nerd, de 14 anos, se apaixona pela colega linda e popular, de 16. Diferença de idade mínima? Vai nessa! Nesse período da vida, ter um ano a menos, ou a mais, pode ser fatal... As garotas que o digam, não?
Voltando ao filme: o mundo de Lucas – interpretado por Haim, um verdadeiro símbolo cinematográfico de toda uma geração – começa a desmoronar quando ele percebe que sua amada está se apaixonando pelo capitão do time de futebol americano, Cappie – Charlie Sheen. Aí, danou-se. Lucas não vê alternativa e, interiorizando o ditado “se não pode vencê-los, junte-se a eles”, tenta entrar no time de futebol do colégio, na intenção de mostrar que sim, ele também pode. Não pode, infelizmente. Quer dizer... Assista! Chorei sozinho, na sala, lá pelas 3h da manhã, numa cena em que o menino e sua paixão conversam embaixo de uma espécie de ponte, sobre a relação deles. Simples e certeiro.


Trailer de "A inocência do primeiro amor"


O último, mas não menos importante: “ABC do amor”, de 2005. Meu Deus. Que filme. Que trilha sonora. Que atuação do “casal” formado por Gabe – Josh Hutcherson, que vai muito longe – e Rosemary Telesco – a linda Charlie Ray. O básico: um moleque de 10 anos, que gosta de jogar basquete, andar de patinete e de outras atividades típicas dessa idade. Os pais dele são informalmente separados, mas vivem no mesmo apartamento. A vida ia transcorrendo de forma normal, até que, num belo dia, durante uma aula de karatê, ele reencontra uma antiga colega da escola. Pobre Gabe... Mal sabia que, a partir daquele momento, seu mundo ia virar de pernas para o ar. Sem escapatórias, garoto. É hora de sorrir e chorar, de sonhar e de amaldiçoar, de amar e odiar. A história do primeiro amor de Gabe não vai causar mudanças apenas ao próprio, mas sim, modificar todos os que estão ao seu redor, de forma positiva. É bem provável que modifique você também, leitor (a). “ABC do amor” funciona perfeitamente. Cada palavra, cada expressão facial, cada sentimento, tudo está em seu devido lugar, sem tirar nem pôr. Ah, e ainda tem a cidade onde tudo se passa, Nova York, que funciona como um tipo de personagem do filme. Em algum lugar, Woody Allen suspira. “Como eu gostaria de ter feito esse filme”. O diretor da película, Mark Levin, agradece, mas não se surpreende com a beleza de sua obra: ele já mostrou a que veio quando era co-produtor de “Anos incríveis” – “The Wonder years”, no original –, tendo feito a edição de alguns dos primorosos roteiros da série. Sinta o drama: eu fico sempre emocionado quando assisto a última cena do filme. Sempre. Gabe relembrando dos momentos que teve com Rosemary, dos ótimos momentos. Lágrimas. No fundo musical, “In my life”, dos Beatles, numa ótima versão de Matt Scandell. Lágrimas. E sorrisos.


Trailer de "ABC do amor"


E de repente, viver, com todos esses filmes por perto, é bom pra cacete.

Por Hugo Oliveira

Lira Rara

Era uma quinta-feira. Estava em casa corrigindo provas há horas. Cansado já, resolvi dar uma parada e, ao olhar na janela, vi que a luz da casa do Cecel/Loo estava acesa.

Só um parêntese. Moramos no mesmo prédio e, pela janela, conseguimos nos comunicar e a luz acesa é como “o assobio do Ney”, a certeza de que se está em casa. Ainda vamos sentir saudades dessa época daqui a uns anos...

Fui dar uma passada lá, Loo estava na faculdade e Cecel estava em casa. Ficamos conversando e nosso papo foi pro lado de nostalgia, dificuldade de crescer, lembranças... Então Cecel colocou um disco pra gente ouvir, “Romaria”, álbum do Renato Teixeira, de 1978.

Começou pelo lado B (o mais bonito do disco) e foi imediato. Aquelas canções mexeram comigo instantaneamente, trazendo à minha alma “um não sei quê, que nasce não sei onde, vem não sei como e dói não sei porquê”...

Desde então, venho ouvindo o disco sem parar e, a cada audição, fico mais encantado. Não sou muito ‘da terra’, no entanto a sensibilidade sertaneja, quando bem expressa, mexe bastante por aqui. Culpa, certamente, de Guimarães Rosa, o maior escritor do Brasil, em minha opinião, e um dos maiores do mundo.

Em Renato Teixeira, assim como nos textos rosianos, o que aquele sertanejo canta não é apenas local, é universal. “O Sertão é o mundo.” Quando, em ‘Alforje’, ele canta:

“Quem inventou essa tristeza em que me roço
Essa solidão soberba onde me escracho
Esse salão de sinuca onde me gasto
Feito um capacho velho de pensão

Eu sou um homem calmo sertanejo
Escapo pela vida como posso
Mas me fizeram agir feito escravo
Que executa sonhos de outros homens”,

eu não apenas gosto ou acho bonito, eu sinto, me identifico.

Além disso, há a interpretação simples, baixa, perfeita para o que se está cantando. E uma sensibilidade e uma delicadeza que perpassam todas as canções do disco.

Gostar tanto deste álbum me faz pensar o quanto devemos nos afastar dos preconceitos. Talvez eu nunca ouvisse com tanta atenção por achar que não gostaria por ser sertanejo, brega ou o que fosse. (Isso me lembra uma reunião quando ainda morava na casa dos meus pais e o Marcel – irmão do Hugo – reclamou quando falei que ia colocar Sérgio Sampaio, achou que era dupla sertaneja ‘Sérgio e Sampaio rs’, mas foi só começar e, no mesmo dia, voltou para casa com uma cópia do disco e fã do genial compositor capixaba).

Agradeço ao Cecel por mais esta excelente indicação. E termino deixando a letra de uma das que mais gosto por enquanto:

“Feito um menino que permite ao coração
Sair correndo sem destino ou direção
Que vire vento e sopre feito um furacão
Que nesse fogo por amor eu ponho a mão
E até permito as cantorias da paixão

O velho barco toda vez que vê o mar
Fica confuso, com vontade de zarpar
E ver o mar às vezes bem que é preciso
Pra ter certeza de ainda estar-se vivo
Mesmo que o casco esteja velho e corroído

Como uma estrada que vai dar não sei aonde
Por meu destino o coração é quem responde
Braços abertos pra se ver a luz do peito
Com grande amor que seja puro amor refeito
Olhos profundos não me olhem desse jeito”

Por Ricardo Pereira

"E quando o sol raiar desentendido eu vou ferir a vista no amanhã..."

sábado, 6 de novembro de 2010

Photoshop da Alma

Comentando o excelente texto do Hugo sobre o filme “A Promessa”, citei um trecho da entrevista do Arnaldo Jabor para a Playboy do mês passado. Considero o Jabor um dos melhores textos da imprensa nacional, que faz com que admire seu estilo até quando não concordo com o conteúdo, e uma das maiores cabeças pensantes desse país que cada vez parece pensar menos...

Alguns outros trechos interessantes da entrevista:

“Porque se trata a sexualidade como se ela não tivesse nenhuma relação com o inconsciente e com as dificuldades da vida. Não é fácil. Sexualidade é uma coisa inquietante. É uma coisa que tá muito em moda hoje em dia, “tudo é normal”. O sujeito vai e dá uma entrevista: “Eu tenho hábito de estuprar cadáveres no Instituto Médico Legal, mas numa boa, entende, Jô? Numa boa. Eu faço isso porque eu sou assim”. O outro fala: “Eu gosto muito de transar em banheiros da rodoviária, em mictórios, porque é uma coisa que me dá certa alegria. Numa boa, Jô!” Então eu acho esquisito. Não é que seja imoral, é irreal. Não é verdade que a sexualidade seja uma coisa assim tão fácil, não é uma brincadeirinha. Pode até ser uma coisa leve, e eu acho que deve ser, mas não é um joguinho, é uma coisa mais complicada. Eu acho que se está tirando do mundo da sexualidade a dimensão do inconsciente, como se a sexualidade não dependesse disso.”

“Eu acho que uma das razões (da banalização da sexualidade) é que as possibilidades de realização pessoal estão ficando mais fechadas. Quantas pessoas você conhece que aparecem na mídia, mas não fazem nada? Não têm profissão, não são cantoras, mas aparecem na mídia porque inventaram uma maneira para isso. A sexualidade virou uma espécie de triunfo, uma taça que você ganha, um orgulho a mais.”

“Porque hoje em dia tudo o que é dúvida e angústia é tirado pelo Photoshop da alma. A angústia não é comercial. Tristeza não é comercial. Virou a alegria obrigatória.”

Essa última citação lembra a cena de ‘A era do rádio’, de Woddy Allen, em que o personagem diz: “lembro da minha infância como muito bonita” e a cena corta para uma praia em um dia chuvoso. Normalmente as pessoas riem, pois uma lembrança bonita TEM que ser ensolarada, não vislumbram a possibilidade de identificação com a melancolia.

E, já que falei do Woody Allen, termino este texto cheio de citações com uma dele, do livro ‘Conversas com Woody Allen’:

“Não tenho grande respeito pelas instituições. Realmente acho que o traço mais marcante da existência humana é a desumanidade do homem com o homem. Olhando de longe, se fôssemos observados por gente no espaço, acho que a conclusão seria essa. Não acho que eles ficariam deslumbrados com a nossa arte ou com tudo o que realizamos. Acho que ficariam de certa forma assombrados pela carnificina e pela burrice.”

Por Ricardo Pereira

Boa tarde, mulheres fodonas!

Às favas com o título nada educado desta postagem. Mas, então: como é que você classificaria esses seres tão maravilhosos destacados nos vídeos a seguir? Ótimas cantoras? Competentes musicistas? Não mesmo: elas são fodonas. Como o meu post anterior destacou muitos artistas masculinos, agora é a vez da mulherada destruir os corações alheios. E não tenha dúvidas de que elas são capazes de fazer isso!

Como diria Neguinho da Beija-flor: mulher, mulher, mulher (repetir infinitamente).


No filme “Quanto mais idiota melhor”, quando o personagem Wayne – Mike Myers –, em determinada cena numa loja de instrumentos musicais, pega uma guitarra e começa a dedilhar “Stairway to heaven”, do Led Zeppelin, um atendente o impede de seguir adiante, mostrando uma placa que avisa: proibido tocar “Stairway to heaven”. Pois bem. Todas as cantoras do mundo deveriam ser proibidas de cantar “I’d rather go blind”, imortalizada por Etta James. Sim, todas... Até a Beyoncé, que fez um bom trabalho coverizando a canção no filme “Cadillac Records”. Com o sagrado não se mexe, gente...


Isso aqui acaba comigo, num certo sentido. Eu não quero escutar essa música no natal... NUNCA! É difícil escrever alguma coisa sobre essa canção, uma obra-prima no meio de outras obras-primas, reunidas num mesmo disco, “Blue”, de 1971. É uma música para a vida toda. E eu nunca vou enjoar dela... NUNCA! Joni Mitchell é deusa!


“Make your own kind of music”, imortalizada na voz da ex-vocalista do The Mamas & The Papas, Mama Cass, eu só fui conhecer através do seriado “Lost”. Não sei se os compositores da canção, Barry Mann e Cynthia Weil, fizeram especialmente para Mama, mas é o que parece. Coisa fina.


O nome dela é Judy Collins; o da música é “Turn, turn, turn”. O cara no violão e na voz de apoio é Pete Seeger, compositor da canção. Precisa de mais alguma informação? Música tocada na formatura de Deus.


Trio ternura total. Duas delas, Joni e Mama, já estão devidamente representadas neste post. A loirinha da ponta direita, Mary Travers, era do grupo folk Peter, Paul & Mary. Neste vídeo, elas cantam a clássica “I shall be released”. Emocionante, principalmente se pensarmos que Mary e Mama já não estão mais entre nós. Ao menos, fisicamente. Um grande “descanse em paz” para as duas... E um imenso “vida longa” para Joni.

Por Hugo Oliveira

Bom dia, anos 60!

Seu dia começou com chuva? Céu nublado por aí? Esquenta não: a rapaziada nos vídeos logo abaixo consegue deixar tudo ensolarado. Boa viagem!


Coisa linda...


Num mundo justo, o The Zombies teria muito, muito sucesso.


Sinfonias adolescentes para Deus: Brian, nós te amamos!


Emocionante é pouco...


...



Colocaram alguma coisa muito boa na água dessa galera...


Até o pessoal do Ramones gostava!


Não achei um vídeo para a canção acima. Precisa?


Só para finalizar, aquele The Who esperto...

Por Hugo Oliveira

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Um gigante e porcos-espinhos

Um policial competente, a um passo da aposentadoria. No último dia de trabalho, durante uma festa de despedida organizada pelos amigos, uma ocorrência. Menina. Dez anos. Vestido vermelho. Estuprada. Morta. Um suspeito. Um interrogatório – seguido de uma confissão duvidosa. Uma falha. Revólver em mãos. Suicídio. Menos um “demônio” na terra.

Caso encerrado.
Caso encerrado?

Somos transportados por completo ao mundo do tira Jerry Black – Jack Nicholson – já nos primeiros minutos do filme “A promessa”, de Sean Penn. Não há escapatória. Impossível que corações e mentes passem incólumes pela saga de um policial que, mesmo após pendurar as chuteiras, não consegue se esquecer da promessa que fez aos pais de uma garotinha assassinada.

Tudo seria muito fácil caso Jerry fosse preguiçoso ou descomprometido com a sua profissão, por exemplo. Mas não. Ele é experiente. É contestador. Obsessivo, até. Então, quando tudo parece resolvido, o novo aposentado da praça acaba enxergando além, e em sua visão, as coisas podem não ser tão simples quanto parecem.

O ex-policial entrevista parentes e amigos da vítima. Procura por casos similares, ocorridos nas redondezas. Traça um novo cenário para a sombria trama. De concreto apenas um gigante. Um gigante e porcos-espinhos. É o que basta para Jerry e para nós, felizardos espectadores. Dali em diante, o que se vê na tela é uma luta ininterrupta – e angustiante – para provar que o “e se...”, na verdade, é.

Citar pagode – Os Morenos – em texto sobre cinema? Isso só pode ser influência do professor Ricardo. Lá vai: pediu pra parar, parei! Eu explico. Se continuar escrevendo sobre o andamento do filme, estarei sendo “absolutamente filho da puta” – versão light: sacana – com os leitores do TATP. Não quero. Tive a minha “porção de prazer” – versão Falando de Sexo com Sue Johanson: gozada – com a película. E não foi mixaria, não. Seria uma baita injustiça de minha parte atrapalhar você, leitor/leitora. Seria inveja, já que, apesar de ter a certeza de que assistirei ao filme novamente, nada será tão impactante como da primeira vez.

Menti. Tem uma coisa que certamente vai manter a força, independente de quantas vezes a obra for exibida por aqui. O final do filme. Nem tente não gostar. É forte. É surpreendente. É tão inventivo quanto assustador. Ok, pode ficar decepcionado (a) por um minuto... Contanto que, após esse curto período de tempo, sua boca comece a balbuciar algo do tipo “Ggg... Geee... Genial!".

Do contrário, saberei que você não viu o mesmo filme que eu.

Por Hugo Oliveira

Obs: poderia ter escrito que o elenco – principalmente Mickey Rourke, Benicio Del Toro e Vanessa Redgrave – é ótimo, que Sean Penn está se revelando cada vez mais um senhor diretor e que existem outras partes antológicas na película. Não precisa. Você vai sacar. No mais, isso também pode virar assunto para outras postagens...


Isso, baby. Deixa eu tomar uma cervejinha que depois... Ué, cadê a menina?


Não sou perfeito: eu não esqueço.

“veio um golfinho do meio do mar roxo
veio sorrindo pra mim
hoje o sol veio vermelho como um rosto
vênus diamante-jasmin
veio enfim o emeio de alguém

veio a maior cornucópia de mulheres
todas mucosas pra mim
o mar se abriu pelo meio dos prazeres
dunas de ouro e marfim
foi assim, é assim, mas assim é demais também

odeio você, odeio você, odeio você
odeio

veio um garoto do arraial do cabo
belo como um serafim
forte e feliz feito um deus, feito um diabo
veio dizendo que sim
só eu, velho, sou feio e ninguém

veio e não veio quem eu desejaria
se dependesse de mim
são paulo em cheio nas luzes da bahia
tudo de bom e ruim
era o fim, é o fim, mas o fim é demais também

odeio você, odeio você, odeio você
odeio”


“The greenest trees you’ll ever see
are the ones in your mind.
And all the answers and the dreams
will come to you in time.

Yeah, you are living life
the way you feel.

I know the world around you,
everyone shares the sky.
You never see darkness,
you are the daylight.

Yeah, you are living life
the way you feel.

Go away with a smile.
Don’t forget about the past.
Don’t keep yourself from giving.
I am always watching you
be yourself and stayin’ true
‘cause it makes me feel like worth living.

The way you feel.

I’ve never minded where you’re going,
I know that change is a part of you.
I’m not gonna hide anymore, I’m gonna listen to myself
and maybe one day I can be real too.

Yeah, you are living life.
Yeah, you are, you are living life.
Don’t you know that you are living life.
the way you feel.
and that is real.”


Por Ricardo Pereira (quem dera...)

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O coração do homem-bomba

Não, não é como ‘a metamorfose’. Não acordou de um dia para o outro disposto a se tornar um terrorista de si mesmo. Foi um processo. Lento, desencantado, desgastante, às vezes. Não queria mais fingir que lutava para se adequar ao mundo.

“Se o mundo é mesmo parecido com o que vejo, prefiro acreditar no mundo do meu jeito”, quase não ouvia mais, mas cantava. Apostou muito num relacionamento que, obviamente, daria errado. No entanto fez seu papel, para delírio da corja que aplaudiu entusiasmada, assistindo até o fim.

Mas agora seria diferente. Tal qual um homem-bomba, armara-se de explosivos, mas estes com uma peculiaridade: só poderiam causar algum mal a si mesmo, a mais ninguém.

O que em qualquer outra época o colocaria pra baixo, agora o orgulha. A ordem é ser ridículo mesmo, o máximo possível. “Fuja de mim, eu não sou um cara legal pra você”, berra o cantor de sua coleção de discos, seu troféu para uma guerra sem vencedores.

Gosta de rir de sua própria ingenuidade. A mente e o coração ainda adolescentes - “mesmo que o tempo diga não” - resultado dos anos de uma doce tortura, que inundou sua mente dos mais variados clichês pops.

“Sozinho eu vou ficar melhor”. Será? “Todo amor que eu amei, no fundo eu dediquei a mim e a mais ninguém.” É possível. Egocêntrico, narcisista, fosse judeu e nova iorquino seria um Singer, Davis ou qualquer outro Allen...

Não leva mais a sério a própria tendência ao drama, ainda vai rir de tudo isso. Mas não agora. Hoje se orgulha de ter encontrado um verdadeiro rival em si mesmo. Acredita que não vai ceder, que vai ficar são, mesmo se for só...

Por enquanto, se agarra ao que pode: discos, livros, amigos e seu discurso metido a besta, que não esconde, no fundo, a ansiedade para que a vida, como um canto torto feito faca, o desarme novamente.

Por Ricardo Pereira

Desculpa "cabeça de limão"



Apesar do combinado, quanto ao lance de escrever sobre o filme "A promessa", vou ficar devendo: o trabalho acabou de me convocar!

Mesmo assim, nada de choro. Enquanto eu não posto por aqui as minhas considerações em relação à película, sugiro uma conferida no texto que o jornalista André Barcinski escreveu não apenas sobre a obra em questão, mas sobre outros filmes que, segundo ele, são impossíveis de parar de assistir. Sabe quando você está trocando os canais sem esperança e, de repente, pinta um "Forrest Gump"? É mais ou menos por aí. Foi a partir do post do Barcinski que resolvi conferir o DVD. E valeu muuuuuuito! Leia e tente não ficar maluco para alugar LOGO o filme: http://tinyurl.com/2w3mz8x


Para finalizar, como um tipo de pedido de desculpas, deixo também publicado o clipe da música "If I Could Talk I'd Tell You", da ótima banda de power pop Lemonheads. Não é linda a música? Perfeita para começar o dia num ótimo astral.

Fui... Mas volto!

Por Hugo Oliveira

Collapse Into Now

Saiu o nome do próximo disco do R.E.M: “Collapse Into Now “. Acredito que, para a maioria de vocês, isso não faça muita diferença, mas pra mim é o começo de um processo muito legal que é a expectativa por um novo disco. Pra rapaziada hoje em dia isso não faz muito sentido porque o conceito de álbum completo anda meio perdido, baixam algumas músicas, ouvem de qualquer maneira, em qualquer ordem. Encarte, qualidade sonora... pra quê?

Comparo o processo de conhecimento de um novo trabalho das bandas que mais gosto com a fase de começo de namoro. O envolvimento lento, em que cada novo detalhe conhecido é comemorado, o nome do disco, depois a capa, a intimidade vai crescendo, vem o primeiro single. De bandas como REM, Radiohead, não costumo baixar quando os discos ‘vazam’ em mp3, prefiro encomendar o meu e esperar chegar. Pra que antecipar as coisas?

Gosto de olhar o encarte antes, ler os agradecimentos, ficha técnica e aí sim conferir as canções que vão ser trilha sonora dos próximos capítulos da minha vida. Que venha ‘Collapse Into Now’, é grande a expectativa por aqui!

Por Ricardo Pereira

Santificado seja o Vosso nome...

Tonight The Streets Are Ours - Richard Hawley


O tal vídeo que comentei, no meu último post. Divirta-se!

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Tudo ao mesmo tempo agora

Primeiramente, gostaria de pedir desculpas por me ausentar deste espaço no feriadão... Ao menos parcialmente, já que, mesmo não contribuindo com textos para o TATP, sempre que possível dava uma espiada no blog. Aliás, gostaria de parabenizar o meu amigo Ricardo, que não deixou a peteca cair e, pelo contrário: publicou ótimas postagens neste diário virtual.

O feriado de Finados, ao menos para mim, começou dentro de um ônibus. Aliás, dentro de vários. Primeiro, de Angra dos Reis ao Rio de Janeiro; depois, do Rio a Petrópolis. Isso sem contar com outros dois ônibus de linha – para chegar, finalmente, na casa da mãe da minha namorada. Mesmo assim, a empreitada valeu. E muito! Durante todo o percurso, ouvi muitas coisas no meu Ipod. O último disco lançado pelo Arcade Fire, “The Suburbs” – muito bonito, mas um pouco cansativo –, o mais novo álbum do Belle & Sebastian, “Write About Love” – irregular, mas com boas canções –, e "Lady’s Bridge”, de Richard Hawley, CD que foi lançado em 2007 e que eu só fui descobrir há dois meses, infelizmente. Hawley é um cara estiloso. Acima de tudo, é um cantor e compositor talentoso ao extremo. No trabalho dele, as influências de Roy Orbison, Johnny Cash, Morrissey e dos Elvis – Costello e Presley – são muito bem costuradas, e resultam num folk/rockabilly/country de qualidade, lindo de doer. Difícil não ouvir por trocentas vezes músicas como “Valentine”, “Serious” e “Tonight The Streets Are Ours”, esta última, uma das coisas mais bonitas que eu ouvi recentemente... Ouvi e também assisti, aliás: fiquei sabendo da existência de Hawley através do blog “Trabalho Sujo”, que estampou um vídeo da citada canção sendo apresentada ao vivo, no “Later With Jools Holland” – o melhor programa de/sobre música do mundo. Emoção pura. Hawley com seu topete e suas costeletas fora de moda, com seu violão e seu terno prateado. Hawley e sua banda tocando sem pose alguma, sem afetação. Hawley com sua voz límpida e profunda, brindando a plateia com uma declaração de amor dos nossos tempos, matadora. Talvez eu esteja viajando, já que, na opinião da minha namorada, a música lembra alguma coisa do Odair José. Eu discordo, mas afirmo que se ela citasse o Wando, faria mais sentido: esse cara merece uma saraivada de calcinhas, em todos os shows!

Saindo da música e indo para o terreno literário, durante a viagem fui devorando aquele que é considerado o volume mais importante do escritor mineiro Fernando Sabino, “O encontro marcado”. Já havia lido “O menino no espelho”, um livro sobre a infância, que é capaz de amolecer os corações mais duros – o meu, como não se encaixa nessa definição, já havia derretido na página cinco. Mesmo assim, o volume vai além, tratando não apenas da primeira etapa de nossa existência, mas dos anos em que nos sentimos perdidos, inseguros. Devo seguir qual direção? O que vai ser de mim? Qual é o sentido disso tudo? Minha definição sobre a ideia central da obra pode até parecer abrangente, mas não é. Sabino oferece, através de seu inesquecível personagem – Eduardo Marciano –, uma prova da dor que todo o ser humano sentiu/sentirá durante o período em que esteve/estiver por “essas bandas” – leia-se vida. Está sentindo essa dor agora? Mais um para o clube.

                               
Ah, sim: já em Niterói, na casa da minha namorada, assisti a dois filmes. O primeiro foi muito bom, e contava a...

Peraê: muito bom o cacete! “A promessa” é um filme tão, mas tão perfeito, que merece um post a parte. E ele será publicado amanhã, sem falta.

Eu ia falar do feriado e acabei escrevendo mais sobre o tempo em que fiquei dentro dos ônibus. Também pudera: fiz tantas coisas legais que teria que ficar aqui a noite toda, escrevendo. Vamos por partes, como diria Jack, O Estripador.

Por Hugo Oliveira



Deus existe? O Diabo, com certeza