Comentando o excelente texto do Hugo sobre o filme “A Promessa”, citei um trecho da entrevista do Arnaldo Jabor para a Playboy do mês passado. Considero o Jabor um dos melhores textos da imprensa nacional, que faz com que admire seu estilo até quando não concordo com o conteúdo, e uma das maiores cabeças pensantes desse país que cada vez parece pensar menos...
Alguns outros trechos interessantes da entrevista:
“Porque se trata a sexualidade como se ela não tivesse nenhuma relação com o inconsciente e com as dificuldades da vida. Não é fácil. Sexualidade é uma coisa inquietante. É uma coisa que tá muito em moda hoje em dia, “tudo é normal”. O sujeito vai e dá uma entrevista: “Eu tenho hábito de estuprar cadáveres no Instituto Médico Legal, mas numa boa, entende, Jô? Numa boa. Eu faço isso porque eu sou assim”. O outro fala: “Eu gosto muito de transar em banheiros da rodoviária, em mictórios, porque é uma coisa que me dá certa alegria. Numa boa, Jô!” Então eu acho esquisito. Não é que seja imoral, é irreal. Não é verdade que a sexualidade seja uma coisa assim tão fácil, não é uma brincadeirinha. Pode até ser uma coisa leve, e eu acho que deve ser, mas não é um joguinho, é uma coisa mais complicada. Eu acho que se está tirando do mundo da sexualidade a dimensão do inconsciente, como se a sexualidade não dependesse disso.”
“Eu acho que uma das razões (da banalização da sexualidade) é que as possibilidades de realização pessoal estão ficando mais fechadas. Quantas pessoas você conhece que aparecem na mídia, mas não fazem nada? Não têm profissão, não são cantoras, mas aparecem na mídia porque inventaram uma maneira para isso. A sexualidade virou uma espécie de triunfo, uma taça que você ganha, um orgulho a mais.”
“Porque hoje em dia tudo o que é dúvida e angústia é tirado pelo Photoshop da alma. A angústia não é comercial. Tristeza não é comercial. Virou a alegria obrigatória.”
Essa última citação lembra a cena de ‘A era do rádio’, de Woddy Allen, em que o personagem diz: “lembro da minha infância como muito bonita” e a cena corta para uma praia em um dia chuvoso. Normalmente as pessoas riem, pois uma lembrança bonita TEM que ser ensolarada, não vislumbram a possibilidade de identificação com a melancolia.
E, já que falei do Woody Allen, termino este texto cheio de citações com uma dele, do livro ‘Conversas com Woody Allen’:
“Não tenho grande respeito pelas instituições. Realmente acho que o traço mais marcante da existência humana é a desumanidade do homem com o homem. Olhando de longe, se fôssemos observados por gente no espaço, acho que a conclusão seria essa. Não acho que eles ficariam deslumbrados com a nossa arte ou com tudo o que realizamos. Acho que ficariam de certa forma assombrados pela carnificina e pela burrice.”
Por Ricardo Pereira
Cacete, mano. Essa citação final, do Woody, é matadora.
ResponderExcluirCarnificina e burrice continuam reinando, né? Infelizmente. Abraços!