"There's a fear I keep so deep / Knew it name since before I could speak (...) If some night I don't come home / Please don't think I've left you alone"- Keep The Car Running, Arcade Fire

domingo, 7 de novembro de 2010

As crianças, o amor e o cinema

Odeio filmes de luta, de carros e de bichinhos simpáticos. Fora isso, acho que dá para aproveitar muita coisa, em qualquer gênero. Sempre mexem comigo aqueles que retratam crianças – ou pré-adolescentes, vá lá – descobrindo o amor.

Se não me falha a memória, o primeiro que vi foi “Meu primeiro amor”. O filme foi lançado em 1991, mas como em Angra dos Reis – cidade onde vivo – as coisas chegam com certo atraso, devo ter assistido em 1992, no saudoso Cine Araribóia. A história é simples: Vada – Anna Chlumsky – é uma menina de 11 anos, que vive com o pai, Harry – Dan Aykroyd –, um agente funerário. Sua mãe morreu. A morte dá o tom na casa. As coisas começam a mudar quando tanto ela quanto o pai começam a se apaixonar – ela pelo professor de inglês; ele pela maquiadora de cadáveres, interpretada por Jamie Lee Curtis. A paixão pelo professor não dá certo. Já o relacionamento de seu pai com a maquiadora parece engatar, embora Vada, ao menos no começo do namoro, tente atrapalhar de todas as formas – o que rende ótimas cenas. No meio disso tudo aparece Thomas – Macaulay Culkin –, amigo da menina, que compartilha das tristezas e das alegrias dela. Manja Nando Reis? “O teu amor pode estar do seu lado”? É isso. Ou mais ou menos isso, já que a morte volta a dar as caras no filme... E tudo vira um turbilhão de lágrimas e emoção. Lembro bem dessa “parte triste”. Quem me levou ao cinema foi o meu pai, meu querido companheiro de telão nesses primeiros tempos. Nunca vou me esquecer daquele nó na minha garganta. Nem dos meus pensamentos. “Ei, o que é que está acontecendo comigo? Por que essa vontade de chorar desgraçada? Meninos não choram!”. Não chorei. Prendi o choro, pois achei que não pegaria bem deixar as lágrimas rolarem na frente do meu pai. Hoje, só de escutar “My girl”, canção tema do filme, já fico “na mão do palhaço”... Do palhaço chamado coração.


Trailer de "Meu primeiro amor"

Há alguns anos, zapeando com o controle remoto pela madrugada, acabei parando na Globo. Era uma sessão tipo “corujão”. O filme? “A inocência do primeiro amor” – no título original, “Lucas”. Foi lançado em 1986, e o elenco era composto de futuras estrelas – Corey Haim, Charlie Sheen e Winona Ryder, em seu primeiro papel. Clichê dos bons: aluno nerd, de 14 anos, se apaixona pela colega linda e popular, de 16. Diferença de idade mínima? Vai nessa! Nesse período da vida, ter um ano a menos, ou a mais, pode ser fatal... As garotas que o digam, não?
Voltando ao filme: o mundo de Lucas – interpretado por Haim, um verdadeiro símbolo cinematográfico de toda uma geração – começa a desmoronar quando ele percebe que sua amada está se apaixonando pelo capitão do time de futebol americano, Cappie – Charlie Sheen. Aí, danou-se. Lucas não vê alternativa e, interiorizando o ditado “se não pode vencê-los, junte-se a eles”, tenta entrar no time de futebol do colégio, na intenção de mostrar que sim, ele também pode. Não pode, infelizmente. Quer dizer... Assista! Chorei sozinho, na sala, lá pelas 3h da manhã, numa cena em que o menino e sua paixão conversam embaixo de uma espécie de ponte, sobre a relação deles. Simples e certeiro.


Trailer de "A inocência do primeiro amor"


O último, mas não menos importante: “ABC do amor”, de 2005. Meu Deus. Que filme. Que trilha sonora. Que atuação do “casal” formado por Gabe – Josh Hutcherson, que vai muito longe – e Rosemary Telesco – a linda Charlie Ray. O básico: um moleque de 10 anos, que gosta de jogar basquete, andar de patinete e de outras atividades típicas dessa idade. Os pais dele são informalmente separados, mas vivem no mesmo apartamento. A vida ia transcorrendo de forma normal, até que, num belo dia, durante uma aula de karatê, ele reencontra uma antiga colega da escola. Pobre Gabe... Mal sabia que, a partir daquele momento, seu mundo ia virar de pernas para o ar. Sem escapatórias, garoto. É hora de sorrir e chorar, de sonhar e de amaldiçoar, de amar e odiar. A história do primeiro amor de Gabe não vai causar mudanças apenas ao próprio, mas sim, modificar todos os que estão ao seu redor, de forma positiva. É bem provável que modifique você também, leitor (a). “ABC do amor” funciona perfeitamente. Cada palavra, cada expressão facial, cada sentimento, tudo está em seu devido lugar, sem tirar nem pôr. Ah, e ainda tem a cidade onde tudo se passa, Nova York, que funciona como um tipo de personagem do filme. Em algum lugar, Woody Allen suspira. “Como eu gostaria de ter feito esse filme”. O diretor da película, Mark Levin, agradece, mas não se surpreende com a beleza de sua obra: ele já mostrou a que veio quando era co-produtor de “Anos incríveis” – “The Wonder years”, no original –, tendo feito a edição de alguns dos primorosos roteiros da série. Sinta o drama: eu fico sempre emocionado quando assisto a última cena do filme. Sempre. Gabe relembrando dos momentos que teve com Rosemary, dos ótimos momentos. Lágrimas. No fundo musical, “In my life”, dos Beatles, numa ótima versão de Matt Scandell. Lágrimas. E sorrisos.


Trailer de "ABC do amor"


E de repente, viver, com todos esses filmes por perto, é bom pra cacete.

Por Hugo Oliveira

4 comentários:

  1. Pô, legal! 'Meu primeiro amor' é bem bonito, 'Lucas' eu ainda não assisti e 'ABC do Amor' eu adoro, o final com 'In my life' chega a ser sacanagem... rs

    Tem um que acho maravilhoso e poderia estar na sua lista, 'Ponte para Terabítia', é arrebentante!

    Abs

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  2. Tino: dica anotada, cara. Vou procurar o filme que você citou! Abraços e a gente se fala!

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  3. Que bonitinho, Hugo! Bonitinho mesmo. Post muito fofinho!!!

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  4. Fiquei emocionada com este post lá no início, eu assisti "meu primeiro amor" no Cine Araribóia, rs. Tinha uns 11 pra 12 anos, tinha acabado de me mudar para Angra, lebro-me bem... Eu e minha prima debulhadas em lágrimas na sessão, cantávamos a música tema do filme direto e uma outra também onde ela fica estalando os dedos, rs. Coisa boa aquele tempo. Não conheço os outros filmes que vc citou, mas vou conferir. Valeu!

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