Algumas coisas na vida, não escolhemos. Não escolhi torcer para o Botafogo, a Estrela Solitária me escolheu para torcedor. Um dos meus passatempos preferidos é andar por estantes de bibliotecas esperando que um livro ‘me escolha’ e mude o Ricardo de alguma forma.
Da mesma forma, não escolhi ser professor. Ao contrário, quando terminei a faculdade, vivia afirmando categoricamente que não daria aulas. Cheguei a escrever uma carta (ingênua, ingênua...) para uma das professoras inesquecíveis da universidade dizendo que, se um dia fosse dar aulas, queria mudar a vida de pelo menos um aluno por ano, como ela conseguiu mudar a minha ao me apresentar ao mundo saramaguiano. Com o tempo, penso que a profissão me escolheu mais do que eu a ela.
Hoje, o que me dá mais prazer no trabalho é conseguir mexer de alguma forma com os alunos, através dos livros, discos, filmes que os apresento. E uma das críticas que mais me incomodam é a de que ‘eu converso demais em sala de aula’, como alguns alunos e/ou seus pais às vezes dão a entender. Como dar aula de Português/Literatura sem debater com os alunos os temas que julgo relevantes? Para mim, é tão importante que uma das minhas alunas mais brilhantes não goste tanto de Rubem Fonseca quanto o fato de ela ter amado ‘Reparação’, por exemplo.
Na minha visão de educação, tão (mais?) importante do que o aluno entender de advérbios ou saber utilizar corretamente as orações subordinadas é que ele seja crítico e saiba interpretar o que lê, ouve, assiste. Seria mais fácil (e agradaria mais pessoas) tornar-me um reprodutor de conteúdos, mas não é para isso que fui escolhido. Ao menos, prefiro pensar assim...
Desculpem-me este desabafo tão pessoal, mas para que serve um blog se às vezes não servir como um exercício de egocentrismo?
Por Ricardo Pereira
Exercício de Egocentrismo? Adorei esta. é verdade, rs. Também não me imaginei professora, mas meus alunos foram me tornando uma... Parece ingênuo crer que isso aconteça sempre, mas algumas palavras realmente têm o poder de mudar vidas... E mudam.
ResponderExcluirSe te consola, eis aqui a vida de um aluno que você conseguiu mudar: A minha.
ResponderExcluirSim,professor,mudou mesmo. Mudou pra melhor, modificou a maneira como eu entendo e absorvo a literatura em suas mais variadas formas e cores. Mudou a minha visão sobre o que é literatura, me mostrou que não precisa ser chato e velho. Me mostrou que a literatura está em todo lugar e até mesmo no lugar nenhum.
É realmente uma pena que determinadas pessoas julgam o trabalho (muito bem feito) de alguns profissionais apenas porque este não se encaixa nos 'padrões' de ensino que temos na nossa sociedade,quero dizer, tendo o professor como um mero reprodutor de conhecimento.
Deixo aqui registrado o meu agradecimento a você ,prof Ricardo,por ter sido mais que um reprodutor de conteúdo, e apesar de ter mudado de colégio, posso afirmar que o meu sucesso na escrita e na literatura como um todo no vestibular e na minha vida se deve inteiramente a você.
Um abraço, Yuri Athayde Belmock Mascarenhas Costa.
Me revolta saber que um aluno tenha mais autoridade que um professor num colégio. É como se você, mesmo lecionando no ensino médio, nunca tivesse abandonado o ensino fundamental ou uma série inferior a esta, pois tais comportamentos são semelhantes ao de um aluno de jardim de infância. Não duvide da sua capacidade. Todas as suas conquistas se deram por mérito.
ResponderExcluirRaquel
Uso as mesmas palavras que o Yuri e a Raquel usaram. Você deve ter sido o professor que mais mudou minha vida, não só com a literatura, português e redação, mas sim com a cultura pop em geral. Pode ser que tenha alguém que ache que são em vão suas indicações de filmes, livros e músicas, mas pra mim nada disso foi em vão, sempre anotei as indicações e depois ouvi/vi/li, com isso fui me tornando uma pessoa um pouco mais crítica e pensadora. Por essa junção de literatura, música e filmes, coisas que fazem parte da minha vida, sua aula foi se tornando a melhor para mim. Obrigada por tudo, te desejo muito sucesso, pois você merece. Um abraço de uma aluna que você conseguiu mudar a vida. Eduarda C. Colombiano.
ResponderExcluirYuri, Raquel e Eduarda: deu até vontade de ser professor de vocês! Ricardo deve estar muito feliz - e emocionado - lendo seus comentários.
ResponderExcluirAbraços e muito obrigado pela visita ao blog.
Ah, sim: o Ricardo é fera mesmo. Não é apenas um professor que muda vidas, mas também, um amigo.
É por aí mesmo, Norielem.
ResponderExcluirYuri, Raquel, Eduarda, fiquei muito emocionado com os comentários de vocês, de verdade. Lendo o que escreveram, percebi que estou certo em meus princípios e que poder mudar a vida de alguém assim, mesmo que um pouquinho, vale todas as dificuldades do magistério.
Yuri, esses dias falei em sala o quanto você faz falta no segundo ano desse ano. Quero agradecer também a todos que estão me dando apoio nesses dias complicados, além dos três, Yasmin, Pedro, Kauanna, Diana, Zé Humberto, Amanda, Duda (s), Vitória, Lucas... A lista só cresce e me sinto muito grato por isso. Escreverei sobre isso depois.
Vocês são os alunos que fazem isso tudo valer à pena, nunca me esquecerei desse momento.
Valeu, Hugo. Parafraseando você mesmo: mais do que um amigo, um irmão.
O que está acontecendo com o senhor é a maior injustiça que eu já vi dentro daquele colégio. Além disso, estão ainda juntando assuntos da sua vida pessoal como se aumentasse a grande culpa de você ter nos apresentado um autor tão importante da literatura brasileira. Saiba que você é um dos professores preferidos da turma e que os seus comentários e indicações nos acompanharão muito além do vestibular. Digo isso em nome da turma porque sei que todos compartilham da mesma opinião que eu. Estamos com você, professor.
ResponderExcluirFernanda, sabia que isso de citar os nomes me complicaria, não poderia ter esquecido de falar de você! Mas vou escrever um post sobre isso quando a poeira abaixar.
ResponderExcluirObrigado pelas palavras, isso é muito muito importante pra mim!
Não sei como as coisas ficarão, mas, se eu realmente não der aula de literatura para vocês ano que vem, será uma frustração enorme para mim.
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ResponderExcluirVamos lá... Tem muitas coisas que as palavras simplesmente não conseguem dizer, mas a gente tenta. Para mim, o êxito de um professor não são as boas notas no final do ano, isso é muito simples. Uma vez eu escrevi que uma pessoa só morre realmente quando a última pessoa neste mundo se esquecer completamente dela. O êxito de um professor é então, permanecer vivo nos seus alunos, mesmo que não esteja mais lecionando para eles. E isso, Ricardo, você conseguiu. Porque quando eu ouvir "Cara estranho" vou lembrar de quem me apresentou aos Los Hermanos. Quando eu contar aos meus filhos meu livro preferido (e eu sempre vou chorar com um ollho pela maestria do Ian e com o outro, pela inveja de nunca poder escrever assim), vou me lembrar de quem me indicou. E com certeza, toda vez que eu encontrar alguém de bigode ou com uma pinta no rosto, vou lembrar de quem me fazia rir durante a aula. Vou lembrar também do cara chato que me disse que quem escreve usando parênteses não sabe escrever, que repetição de palavras é crime gravíssimo e que parnasianismo é insuportável. Então, não se abale com as críticas, elas servem apenas para a nossa evolução. E nunca deixe alguém duvidar da sua capacidade como professor, pois muitos escolhem esta profissão, mas poucos são escolhidos por ela e o que você consegue fazer dentro de uma sala de aula com 30 cabeça-ocas, ninguém mais consegue. Mesmo que tenha uma pedra no seu caminho (Drummond :D) e você não possa dar aula para nós ano que vem, pense pelo menos que você cumpriu sua missão. E se um dia eu publicar um livro (que provavelmente só será lido pelos meus pais e um ou dois amigos)vou escrever um conto sobre o Ricardo, o professor que me esinou a ler. "And when the night is cloudy,
ResponderExcluirThere is still a light that shines on me" - Let it be, Beatles.
Beijos, Laura Cibele.
Laura, não sei nem como agradecer, é lindo o que você escreveu. Conseguiu me emocionar de verdade, esse reconhecimento vale mais do que dinheiro ou qualquer outra coisa.
ResponderExcluirInfelizmente não serei mais o professor de vocês ano que vem. Mas, se existe uma pedra no meio do caminho, fui eu que coloquei... Errei e estou sendo punido pelos meus erros também, não foi por maldade - e é importante que as pessoas saibam disso - mas errei e vou aprender (já estou aprendendo - olha o parênteses aí rs) muito com isso.
Muito obrigado por tudo, foi um privilégio ser seu professor nesses últimos anos. E quando você escrever um livro, estarei entre os leitores!
Eu gosto demais da turma de vocês, já estou tendo ideias para o ano que vem, de repente um curso aberto que faça um link com cinema e literatura. Se em conseguir um espaço, quem sabe? De repente é uma outra forma de darmos continuidade ao trabalho.
Beijo e obrigado, mais uma vez - olha a repetição rs, pelas lindas palavras.
VIDA
ResponderExcluirCaminhos tortuosos, amores, decisões, impulsos. Razão ou emoção? Tudo p/ decidir em segundos. Difícil né? Não se assuste com os acontecimentos, fazem parte. Essa é a graça da vida, a volta por cima. Você que gosta tanto de futebol, qual a melhor vitória? Lógico é a virada. Para você foi difícil, eu sei foi novidade, surpresa, ingratidão, várias reflexões questionadas. Para mim que já vivi experiências piores, você sabe fazem parte. Qual a vantagem de se eternizar em um lugar, emprego? Você nasceu p/ o mundo, p/as diversidades, novas experiências. Tem pessoas que nascem p/ um único grande amor, voce nasceu p/ vários (em todos os sentidos).
Quando seu avô lia Dostoieviski, Dumas, Eça e outros, eu menino não entendia como uma pessoa semi analfabeta gostava tanto de ler clássicos. Hoje eu tenho a resposta DNA PURO, observando os acontecimentos e a solidariedade prestadas só me enchem de orgulho e confirmam a certeza de que seu caráter foi bem forjado. Siga seu caminho sem medo voce está em boa companhia.
AVOHAI
Tio Toninho: Você merece todas as "rumbeiras" do mundo... É o pai do meu melhor amigo. Mais do que isso: é meu amigo, também. Que família foda! Sabia que o meu pai estava no caminho certo...
ResponderExcluirEu não vou deixar um abraço, não. Eu vou deixar um beijo pra você. Depois que eu vi o Ricardo te beijar, quando eu ainda trabalhava com você, decidi que ia me aproximar mais do meu pai também. Que ia beijá-lo. Declarar o meu amor da melhor forma possível. E assim está sendo. Beijos, tio!
Pai, muito obrigado, não só pelas palavras, mas por tudo, sempre! Sempre me emociono quando você cita meu avô lendo as mesmas coisas que leio hoje, queria muito que ele estivesse aqui pra gente conversar sobre isso. Um dia vai rolar, de alguma forma.
ResponderExcluirTer você e minha mãe por perto, a certeza do apoio de vocês sempre, torna qualquer coisa mais fácil de levar!
E o que o Hugo falou aí é bonitão.
Nunca achei que perder um emprego pudesse me deixar tão orgulhoso. rs