"There's a fear I keep so deep / Knew it name since before I could speak (...) If some night I don't come home / Please don't think I've left you alone"- Keep The Car Running, Arcade Fire

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A day in the life

Dizem que, quando um homem está em crise, deve procurar Deus. Acho que, inconscientemente, foi o que fiz quando fui ao Morumbi no domingo para o show do Paul McCartney.

Fui com meu irmão, Henrique, e meu primo, Fábio. Passamos um dia muito divertido antes do show com nossos amigos Pedro Henrique, João Paulo, Sandro e o Felipe, que não via há muito tempo.

É difícil escrever sobre um show como esse, porque é totalmente diferente de qualquer outro espetáculo artístico. Uns dez minutos antes de o show começar, o telão começa a passar imagens de várias fases da carreira do Paul, desde os Beatles, passando por Linda até os dias de hoje. E é impossível não mexer com qualquer um que tenha a mínima ligação com a banda.

Quando Paul e sua banda entram no palco, é algo simplesmente inexplicável. O tempo para, é como se tudo entrasse em outra dimensão. Naquele momento, nada importava para mim, problemas no trabalho, derrota(s) do Botafogo, frustrações emocionais, qualquer detalhe pessoal parecia pequeno na presença daquele homem tocando as canções tema da minha vida.

Paul McCartney é o meu terceiro beatle preferido, se contarmos música, personalidade, atitudes, seu histórico, enfim. Mas não era isso que importava, na verdade, nada importava naquele momento. Não vou falar tecnicamente do show, pois como bem disse o Dapieve em sua coluna da semana passada, tudo já foi dito sobre Paul McCartney e nada nunca será o suficiente.

Posso dizer que em ‘And I love her’ lembrei do Ricardo pré-adolescente com os encartes dos discos dos Beatles tentando traduzir as canções com o dicionário bilíngue do lado. Que durante ‘The long and winding road’ e ‘My love’, só consegui ficar em silêncio, emocionado, numa perplexidade muda. Que durante o show inteiro pensei em meu pai, meu exemplo e modelo de vida, que me apresentou aos Beatles e que moldou (e molda) o meu caráter. Que em ‘Blackbird’ pensei em cada vez que ouvi o Álbum Branco – meu preferido da banda. Em ‘I’ve Just seen a face’ estava junto com meu amigo Pedro, mesmo que separados por alguns metros de distância. Que em ‘Helter Skelter’ queria que o Hugo estivesse ao meu lado, assombrado com como aquele senhor consegue ainda cantar daquele jeito. E que me emocionei com o deslumbramento do meu irmão a cada canção e toda vez que o meu primo xingava o Paul a cada intervalo de música por estar fazendo um show tão perfeito na nossa frente.

O sonho acabou e os dias seguintes vieram me acordar de uma forma urgente e cruel. Mas, no meu coração, ainda ecoam os últimos acordes de um espetáculo que me fez, ao seu final, ter o privilégio de assistir ao vivo a um dos versos mais simples e emocionantes da música pop: “And in the end, the love you take is equal to the love you make”.

Por Ricardo Pereira

obrigado, você.

9 comentários:

  1. Inveja, doce - e saudável - inveja!

    Abraços, mano!

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  2. Gosto muito daquela versão que o Paul fez de uma música do Kiko Zambianchi, Hey Two. Muito boa!

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  3. Eh rapaz...q Show maneiro...Inesquecivel

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  4. É caro mano. Foi bom demais. Deu saudade muito rápido.

    Bem, demorei mas vim ler o blog. Agora vou acompanhar direitinho.

    Po, muito bonito o Teach your children. Bonito mesmo.

    Mas ai, agroa tem q fazer um facebook.rs

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  5. Ricardo, que emocinante seu texto... Sobre essa coisa de buscar Deus, acho que é por aí mesmo, Ele é quem nos encontra, nas coisas mais loucas da vida!!

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  6. Até prefiro a do Zambianchi a dos Beatles: "hey two, não fique assim" lindo lindo e ainda me lembra top model, grande novela!

    Fabinho por aqui!!!!!!!!!!!!! Facebook nesse momento? Melhor esperar um pouco rsrs

    Verdade, Norielem! Deus é sempre importante, seja qual for sua manifestação, em uma oração, um amigo, um livro, uma canção... E que bom que gostou do texto!

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  7. Ricardo,
    também estive lá, não do Domingo, na Segunda-feira. Uma chuva ... um trânsito ... mas quando coloquei os pés no Morumbi já dava para sentir uma energia devastadora! Quando Paul entrou com Magical Mystery Tour ... também tive essa sensação de ser transportada para outra dimensão. Pensei ... chove! Pode chover! Chove mais! Tá tudo lindo.rsrsr
    Posso dizer com convicção que foi umas das melhores performances que já presenciei. Fomos eu e meu primo Marquinhos - companheiro de cervejas, shows e cinemas. Comentávamos o fato impressionante do Paul ter 68 anos e esbanjar energia em três horas. Daí, pensamos o inverso, e quando nós chegarmos aos 70? "Certamente, estaremos na platéia dos shows de rock vendo o Bono de bengala."
    Também pensei nas pessoas queridas da minha vida: The long and winding road, lembrei do meu irmão; minha mãe adora "Yesterday", meu sobrinho de um aninho ia adorar ob-la-di, ob-la-da, Tio Carlinlhos (que trouxe os Beatles a minha casa) ficaria louco com Day Tripper, Blackbird e Here Today para amigos especiais. Aliás, que música linda essa última, composta para John Lennon.
    Difícil demais falar desse show. Quando tocou A day in the life tive certeza de ter rompido a fronteira do tempo e do espaço. Há quem diga que é exagero, mas quem esteve presente sabe.
    Eu me senti realizada e completa. Sabe aquelas coisas que vc precisa fazer antes de morrer? Ver um Beatle ao vivo ... FEITO!

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  8. É, Amanda, um show inesquecível mesmo! É quase inacreditável a ideia de ter assistido a um Beatle, a carga emocional é enorme.

    Viu que 9 de abril vai ter U2 em SP??

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