"There's a fear I keep so deep / Knew it name since before I could speak (...) If some night I don't come home / Please don't think I've left you alone"- Keep The Car Running, Arcade Fire

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Um gigante e porcos-espinhos

Um policial competente, a um passo da aposentadoria. No último dia de trabalho, durante uma festa de despedida organizada pelos amigos, uma ocorrência. Menina. Dez anos. Vestido vermelho. Estuprada. Morta. Um suspeito. Um interrogatório – seguido de uma confissão duvidosa. Uma falha. Revólver em mãos. Suicídio. Menos um “demônio” na terra.

Caso encerrado.
Caso encerrado?

Somos transportados por completo ao mundo do tira Jerry Black – Jack Nicholson – já nos primeiros minutos do filme “A promessa”, de Sean Penn. Não há escapatória. Impossível que corações e mentes passem incólumes pela saga de um policial que, mesmo após pendurar as chuteiras, não consegue se esquecer da promessa que fez aos pais de uma garotinha assassinada.

Tudo seria muito fácil caso Jerry fosse preguiçoso ou descomprometido com a sua profissão, por exemplo. Mas não. Ele é experiente. É contestador. Obsessivo, até. Então, quando tudo parece resolvido, o novo aposentado da praça acaba enxergando além, e em sua visão, as coisas podem não ser tão simples quanto parecem.

O ex-policial entrevista parentes e amigos da vítima. Procura por casos similares, ocorridos nas redondezas. Traça um novo cenário para a sombria trama. De concreto apenas um gigante. Um gigante e porcos-espinhos. É o que basta para Jerry e para nós, felizardos espectadores. Dali em diante, o que se vê na tela é uma luta ininterrupta – e angustiante – para provar que o “e se...”, na verdade, é.

Citar pagode – Os Morenos – em texto sobre cinema? Isso só pode ser influência do professor Ricardo. Lá vai: pediu pra parar, parei! Eu explico. Se continuar escrevendo sobre o andamento do filme, estarei sendo “absolutamente filho da puta” – versão light: sacana – com os leitores do TATP. Não quero. Tive a minha “porção de prazer” – versão Falando de Sexo com Sue Johanson: gozada – com a película. E não foi mixaria, não. Seria uma baita injustiça de minha parte atrapalhar você, leitor/leitora. Seria inveja, já que, apesar de ter a certeza de que assistirei ao filme novamente, nada será tão impactante como da primeira vez.

Menti. Tem uma coisa que certamente vai manter a força, independente de quantas vezes a obra for exibida por aqui. O final do filme. Nem tente não gostar. É forte. É surpreendente. É tão inventivo quanto assustador. Ok, pode ficar decepcionado (a) por um minuto... Contanto que, após esse curto período de tempo, sua boca comece a balbuciar algo do tipo “Ggg... Geee... Genial!".

Do contrário, saberei que você não viu o mesmo filme que eu.

Por Hugo Oliveira

Obs: poderia ter escrito que o elenco – principalmente Mickey Rourke, Benicio Del Toro e Vanessa Redgrave – é ótimo, que Sean Penn está se revelando cada vez mais um senhor diretor e que existem outras partes antológicas na película. Não precisa. Você vai sacar. No mais, isso também pode virar assunto para outras postagens...


Isso, baby. Deixa eu tomar uma cervejinha que depois... Ué, cadê a menina?


4 comentários:

  1. Acabei de assistir ao filme, muito bom mesmo! Eu, Cecel e a Mah (do meio pro final) fomos nos envolvendo como imagino que tenha acontecido com você e a Carol!

    O que gostei é que não é um filme frenético, rapidão como achei que fosse. É lento, às vezes até arrastado, mas no bom sentido, porque nos faz sentir exatamente o que o personagem sente/pensa. O filme é muito bem dirigido.

    Acabei lembrando de uma parte da entrevista do Arnaldo Jabor pra Playboy do mês passado:

    "Uma das coisas que eu acho mais estranhas no cinema atual é que ele ficou muito videoclipado. Você não vê filmes com planos de mais de 3 segundos. É um inferno. Você não consegue falar as coisas importantes num ritmo de superficialidade. O cinema mais antigo, dos anos de ouro, dava ao espectador a chance de contemplar a imagem. Hoje em dia, o cinema de Hollywood, principalmente, não dá tempo de pensar. É um cinema pra te manipular. O cinema de um Antonioni, que deixava a imagem ali para você observar, criticar, você não vê mais."

    E "A Promessa" tem esse ritmo mais lento, 'clássico', e isso é fundamental para sua força narrativa e psicológica.

    Aliás, tô doido pra assistir "A Suprema felicidade", do Jabor. Assim que for ao Rio, vou tentar assistir!

    Valeu mesmo pela indicação!

    Abraço!

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  2. Ah, e pra quem for de Angra e quiser assistir, tem na Cayman. Devolverei segunda, pega lá. rs

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  3. Rapaz!
    O filme é de uma tenção-calma muito agoniante!
    Meu telhado já é desfalcado, depois do filme acho que fiquei mais careca ainda...

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  4. Pô, é muito bom, Cecel! Eu gosto muito de suspenses policiais, cara. E com finais assim, surpreendentes, melhor ainda. Duas dicas: "O segredo dos seus olhos" - o melhor que assisti neste ano - e "Zodíaco" - destruidor, e com um final muito "polêmico", também.

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