Venho, cada vez mais, descobrindo o prazer das releituras. Da segunda vez que lemos um livro, por já sabermos do enredo, percebemos melhor as nuances e os aspectos formais da narrativa. E com os filmes acontece o mesmo. Já sem a pressa de saber o que vai acontecer, redescobrimos e encantamo-nos ainda mais com a obra. Foi o que aconteceu comigo na quinta passada ao assistir em sequência a Bastardos Inglórios e ao primeiro O Poderoso Chefão.
Bastardos Inglórios pode não ser o melhor Tarantino, talvez seja mesmo Pulp Fiction ou Cães de Aluguel, mas é certamente o meu preferido. A primeira cena é uma das minhas preferidas de todos os tempos, perfeita em tudo, diálogos, atuações (quando somos apresentados ao ‘caçador de judeus’ Hans Landa, interpretado de forma brilhante por Christoph Waltz) e sutileza. Torna-se a introdução perfeita para um filme magistral. Assisti pela primeira vez a cerca de um ano, e o filme não só manteve o interesse em suas mais de duas horas e meia de duração como me deixou ainda mais encantado. É Tarantino puro em sua forma e conteúdo, mas aqui o humor e até a violência aparecem depurados e incluídos cirurgicamente sempre a favor do que está sendo contado. E, no final, quando Aldo Rayne afirma “Sabe de uma coisa? Acho que foi minha obra prima!”, é como se pudéssemos ouvir o próprio Tarantino metalinguisticamente orgulhoso de sua própria criação.
E uma coincidência besta, mas importante para um botafoguense supersticioso, é que assisti a esse filme pela primeira vez na véspera da final da Taça GB do ano passado e, encantado, assisti novamente logo na manhã seguinte. O filme de certa forma reconta a história, corrigindo com igual violência o massacre contra os judeus, é um filme de vingança. Era o primeiro Botafogo x Vasco depois da goleada de seis a zero sofrida e, mais tarde, o Botafogo venceu o Vasco, ganhou o primeiro turno e arrancou para o título Carioca. Coincidência? Duvido...
Mas voltando. Mal terminado o Bastardos Inglórios, fui jogado para um dos melhores filmes da história do cinema. Muito já foi falado sobre O Poderoso Chefão e não vou ficar repetindo os diálogos e cenas antológicos. Basta dizer que é a perfeita definição de ‘clássico’, a cada vez que assisto, o filme me parece melhor. Além das atuações perfeitas, trilha sonora magnífica, direção na medida certa, ritmo ágil e envolvente de forma que não sentimos passar as três horas de duração, há também um algo mais, um clima diferenciado, uma espécie de cumplicidade com o espectador.
E este vínculo é fundamental para todo o mito que cerca a série e faz com que fiquemos irreversivelmente do lado da máfia ao assistirmos, encantados com o glamour presentes no clã dos Corleone, extasiados com a extrema dedicação à família e também com seu poder e até com a violência praticada. Essa glamorização da violência e da criminalidade, aliás, é uma das críticas aos filmes. Mas vejo mais como qualidade e mérito de Coppola, por transpor os romances de Mario Puzo contando a máfia a partir do ponto de vista ‘deles’ e, é claro, pelo carisma e as inacreditáveis interpretações de Al Pacino e Marlon Brando.
Por Ricardo Pereira
É, é possível que Bastardos Inglórios seja o meu favorito também, embora ache o Pulp Fiction melhor.
ResponderExcluirVerdade, aquela primeira cena é muito boa, tem uma tensão envolvente, impossível não ficar na pele daquele francês (que eu não me lembro o nome) e ficar aflito, desconfiado, e tentando imaginar se o Hans sabe realmente o que está fazendo ou se está só "jogando vermelho".
Confesso que não assisti O Poderoso Chefão, e depois que li um artigo do Fredric Jameson não fiquei com tanta vontade de assistir. Um que ele faz uma análise semiológica dos dois filmes do Poderoso Chefão e do Moby Dick.