"There's a fear I keep so deep / Knew it name since before I could speak (...) If some night I don't come home / Please don't think I've left you alone"- Keep The Car Running, Arcade Fire

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Roberto Carlos 1974 - 1979

Agora estamos chegando no meio da década de 70. Roberto Carlos é o maior ídolo pop do Brasil, seu amadurecimento na transição de representante da juventude iê-iê-iê para ícone romântico o encaminha para a figura mítica que o Brasil carrega como patrimônio não só cultural, mas emocional. Seus discos, lançados a cada Natal, tornam-se tradição de fim-de-ano  e batem a marca de um milhão de cópias vendidas, chegando ao dobro disso no final da década.

Roberto Carlos - 1974

 
Este é um dos maiores sucessos da discografia de Roberto Carlos. É um disco recheado de sucessos como ‘O Portão’ e seu refrão antológico; a delicada ‘Você’; ‘É preciso saber viver’, cuja versão original tem muito mais vitalidade do que a que os Titãs cometeram, ‘Quero ver você de perto’, de Benito de Paula; e ‘Eu quero apenas’, em que o Rei canta o desejo de ter um milhão de amigos.

É aqui também que Roberto se estabelece como grande intérprete romântico, vertente que prevaleceria em sua obra pelos próximos anos. E é nesta seara que o Rei brilha em uma versão enxuta de ‘A deusa da minha rua’ e na dobradinha de cortar os pulsos ‘Ternura antiga’, de Dolores Duran, e ‘Você’.

Destaco duas escondidinhas ali no lado B que sempre me emocionam. ‘Jogo de damas’, de Isolda e Milton Carlos, e ‘A estação’, de Roberto e Erasmo, canções intensas com refrãos fortes, bons de cantar junto.

Roberto Carlos - 1975

 
O disco começa muito mal com uma regravação desnecessária e pasteurizada de ‘Quero que vá tudo pro inferno’, uma inocente ‘O quintal do vizinho’ e ‘Inolvidable’, uma canção em espanhol que nada acrescenta. Felizmente, a partir da quarta faixa o disco mostra a que veio com as boas ‘Amanheceu’ e ‘Existe algo errado’ e a belíssima ‘Olha’, que fecha o primeiro lado.

O segundo é bastante melhor. Começa com a balançada ‘Além do horizonte’ (e Deus perdoe o Jota Quest pela tenebrosa regravação), tem a boa ‘Elas por elas’ e a interessante ‘Desenhos na parede’. O grande destaque do disco é a melhor canção sensual de Roberto e Erasmo, ‘Seu corpo’:

“E embora eu já conheça bem os seus caminhos
Me envolvo e sou tragado pelos seus carinhos
E só me encontro
Se me perco no seu corpo”.

O disco fecha com uma boa releitura de ‘Mucuripe’, extraordinária canção de Fagner e Belchior, mas deixa a sensação de um álbum menor entre os da década de 70.

 Roberto Carlos - 1976

 
Para quem acha Roberto Carlos brega, esse álbum pode facilmente ser usado como argumento, a começar pela capa, cafona até não poder mais...

Nesse disco temos o bom rock ‘Ilegal, imoral ou engorda’; ‘Os seus botões’, canção de forte apelo sexual; e a maravilhosa ‘Um jeito estúpido de te amar’, de Isolda e Milton Carlos. Mas o disco fica marcado mesmo é pela “bregaria”, em momentos de gosto duvidoso, mas que gosto bastante, como ‘Comentários’; ‘A menina e o poeta’, do Wando; e ‘Pelo Avesso’, que consegue ser mais Wando que o próprio.

A grande canção dos disco é ‘Você em minha vida’. Com belos metais, bom refrão e Roberto cantando muito, destaca-se em um disco mediano, talvez um passo a frente do anterior.

Roberto Carlos - 1977

 
Após dois irregulares, Roberto volta com um disco irrepreensível, seu melhor desde 72 e um dos melhores da carreira, o primeiro de três discaços para o fim da década.

Já começa com ‘Amigo’, declaração de amizade a Erasmo, um clássico! Temos lindas baladas como ‘Nosso amor’, ‘Falando sério’, ‘Sinto muito, minha amiga’ e a monumental ‘Cavalgada’. Boas versões de ‘Pra ser só minha mulher’ e ‘Ternura’, a carta de intenções ‘Muito romântico’, de Caetano, ‘Outra vez’, que é da Isolda, mas é muito, muito Roberto Carlos, a nostálgica ‘Jovens tardes de domingo’...

Enfim, um disco para se ouvir inteiro, sem pular nenhuma faixa!

Roberto Carlos - 1978

 
Roberto segue seu bom momento nesse disco, que começa com ‘Fé’, uma de suas canções religiosas de que mais gosto, acerta nas baladas como ‘Mais uma vez’, ‘Música suave’, a ótima ‘Todos os meus rumos’, de Fred Jorge, que encerra o disco, e a dilacerante ‘Tente esquecer’.

É o disco que tem a versão mais bonita de ‘Força estranha’, de Caetano Veloso; a clássica ‘Café da manhã’ – auge da fase “música de motel” (“Pensando bem amanhã eu nem vou trabalhar / Além do mais temos tantas razões pra ficar” é uma beleza!) e ‘Lady Laura’, música que Roberto escreveu para sua mãe e toda vez que ouço me emociono ao pensar na minha.

Roberto Carlos - 1979

 
O disco de 79 confirma a boa fase, fechando uma das melhores sequências de álbuns da carreira de RC. Há a belíssima ‘Abandono’; a meio abolerada ‘Desabafo’, que adoro; mais uma nostálgica, ‘Voltei ao passado’; a homenagem agora para seu pai, ‘Meu querido, meu velho, meu amigo’ e duas “fórmulas de sucesso” que funcionam, ‘Na paz do seu sorriso’ e ‘Me conte a sua história’.

Mas o grande destaque são as duas últimas do disco. ‘Costumes’, uma música perfeita sobre separação, em que o eu - lírico cita “certos velhos costumes” do casal e o quanto estes fazem falta e expressa a dor da perda em versos como:
“De repente ser livre até me assusta
Me aceitar sem você certas vezes me custa
Como posso esquecer dos costumes
Se nem mesmo esqueci de você”, e a última ‘Às vezes penso’, outra daquelas pérolas perdidas na discografia, uma das canções de saudade de que mais gosto. Não importa se eu tenha ou não motivo, sempre sinto o que está sendo cantado.

Por Ricardo Pereira

4 comentários:

  1. A segunda matade dos anos 70 eu não ouvi sistematicamente, embora reconheça e ame os clássicos. Vou tomar fôlego e mergulhar nessa sequencia.
    Abç

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  2. Amigo, até que seus comentários não são ruins, mas sugiro você ouvir mais atentamente o disco de 1975. Um disco que tem "Além do horizonte", "Mucuripe", "Amanheceu", "Existe Algo Errado", "Desenhos na Parede" e principalmente "Olha" (uma das melhores músicas da dupla em todos os tempos) não pode ser colocado como um disco "menor", conforme vc colocou.
    Disco menor nos anos 70 são o de 1972 e o de 1976, os mais bregas do Roberto na década, embora eles ainda tragam alguns bons momentos.

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  3. Vou ouvir o 75 com mais atenção sim. E provavelmente me expressei mal mesmo, o disco cresce bastante, o começo sim acho fraco. E só de relembrar os dois, é certo que é melhor que o 76.

    Abs

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  4. Conheço tudo do Cara!!!
    ele sem duvida nenhuma é oque ainda existe de melhor no Brasil.

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