"There's a fear I keep so deep / Knew it name since before I could speak (...) If some night I don't come home / Please don't think I've left you alone"- Keep The Car Running, Arcade Fire

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Roberto Carlos 1968 - 1973

Como prometido, vamos às breves análises dos álbuns de Roberto Carlos de 1968 até 1979. Nesse post vamos ao período de 68 a 73. Antes de analisar os discos, já me antecipo a possíveis críticas por ter começado por 68 e ter deixado de fora pelo menos dois discos acima da média e muito importantes para a carreira de Roberto Carlos. Por mais que reconheça a qualidade dos discos de 66 e - principalmente - do Roberto Carlos em Ritmo de Aventura, discos que, juntos, possuem clássicos da Jovem Guarda como 'Namoradinha de um amigo meu', 'Quando', 'Como é grande meu amor por você', 'Você não serve pra mim' entre outras, preferi me ater aos discos que considero mais relevantes para mim, os que mais ouço.

O Inimitável


Em uma época em que o cantor Paulo Sérgio fazia sucesso emulando Roberto desde as canções às capas de disco, o Rei lançou este O Inimitável. E não poderia estar mais certo quanto ao nome do álbum, por mais imitadores querendo tirar casquinha de seu sucesso na época, nesse nível só mesmo o próprio.

O disco começa matador com ‘E não vou mais deixar você tão só’, ‘Ninguém vai tirar você de mim’ e ‘Se você pensa’, canções de grande energia e frescor pop. Só posso imaginar o impacto que tiveram para os jovens da época.

Aqui, as canções de Roberto e Erasmo começam a alcançar outro patamar. Além de ‘Se você pensa’, temos a belíssima ‘As canções que você fez pra mim’ e se você é dos que reclamam das versões frouxas de Marisa Monte e que o próprio RC faz hoje de ‘Eu te amo, te amo, te amo’, ouça a original e reveja sua opinião!

Ainda há as versões definitivas de ‘Não há dinheiro que pague’, ‘Nem mesmo você’ e ‘Ciúme de você’, além da polêmica – pra época – ‘É meu, é meu, é meu’, em que o eu - lírico diz que tudo o que é de sua amada também pertence a ele. Vai listando as partes do corpo de sua menina e arremata – em 1968! – “tudo o que eu falei, meu bem, e o que não falei também (...) é meu, é meu, é meu”.

Roberto Carlos - 1969

 
Este é um álbum de transição. Bem mais introspectivo do que os anteriores, anuncia a vinda da década de 70, minha preferida da carreira de Roberto Carlos. A capa, mostrando o cantor com um cachimbo, sentado na areia da praia reflexivo anuncia tal introspecção.

É dos meus preferidos. Aqui, percebemos um cuidado maior com o conceito de álbum, um Roberto cantando cada vez melhor, mais seguro. As canções descontraídas da Jovem Guarda vão ficando pra trás, dando lugar a peças melancólicas como ‘As flores do jardim da nossa casa’, ‘Quero ter você perto de mim’ e a brilhante e contundente ‘Sua estupidez’.

E o que era um flerte com o soul, vira namoro sério em números como ‘Nada vai me convencer’, ‘Não vou ficar’, de Tim Maia, e a clássica ‘As curvas da estrada de Santos’, perfeita em tudo, arranjo, execução e interpretação.

Roberto Carlos - 1970

 
Talvez por estar localizado, na discografia, entre dois discos muito superiores, este álbum não seja muito considerado. Voltado para o soul/funk é um tanto irregular, mas apresenta grandes momentos, além de representar um salto em relação à produção.

Gosto muito de ‘Uma palavra amiga’, do hitmaker Getúlio Cortes; da lasciva ‘Vista a roupa, meu bem’, com voz abafada e um clima de música dos anos 20, o funk ‘Se eu pudesse voltar no tempo’; de ‘Preciso lhe encontrar’ com a beleza que é seu arranjo de cordas; e da romântica ‘Maior que o meu amor’, de Renato Barros.

O disco ficou marcado por conter a primeira canção religiosa gravada por Roberto Carlos, o poderoso gospel ‘Jesus Cristo’. Mas minha favorita é ‘120... 150... 200 km por hora’, uma canção quase cinematográfica sobre o desespero, na qual acompanhamos um homem fugindo de um passado que insiste em atormentar sua mente. Acompanhamos este sujeito acelerar seu carro à medida que a angústia domina seu coração e, sem perceber, sofremos junto com ele.

Roberto Carlos - 1971

 
Se você deseja conhecer a obra de Roberto Carlos e nunca ouviu nenhum disco de estúdio dele, é por aqui que deve começar. É o melhor álbum de sua carreira, um clássico da música brasileira, desde a capa à qualidade das canções.

O disco começa com ‘Detalhes’, “A” canção de fim de relacionamento. Por mais desgastada que esteja pela repetição, sempre me emociona ao colocar o disco pra tocar. Mal nos recompomos das reminiscências que trarão as lembranças do antigo amor e o disco segue com ‘Como dois e dois’, maravilhosa canção de Caetano que, aqui, aparece como um blues, em sua melhor versão.

E assim o disco segue, porrada atrás de porrada. Não há uma música ruim, talvez ‘I love you’, que eu rejeitava por ser brega demais e hoje entendo como um exercício de estilo, uma canção com “cara velha” para um sujeito antiquado.

Nesse disco temos ‘Traumas’, uma das melhores canções do Rei; a homenagem a Caetano, ‘Debaixo dos caracóis dos seus cabelos’; souls-funks primorosos como ‘Todos estão surdos’, ‘Eu já tenho um caminho’ e o R&B ‘Não sabe o que vai perder; e as baladas. O que dizer das baladas? ‘Se eu partir’, ‘De tanto amor’, ‘A namorada’, algumas das melhores de sua obra.

Achou brega? Ok, respeito. Mas saiba que amar é brega, meu amigo. E eu também.
 
Roberto Carlos - 1972


Se o 71 é o melhor Roberto Carlos, este 1972 é o meu preferido. Fica ali, junto com o V, Kid A, Automatic for the people, White Album, Blood on the tracks, naquela estante especial dos discos da minha vida.

É o seu disco mais melancólico, “fechadinho”, gosto de cada detalhe dele, a começar pela capa, a mais bonita de todas. Sua primeira canção, ‘À janela’, tem um significado especial para mim (e acho que para meus pais também) por ter marcado minha saída de casa.

Tem ‘Como vai você’, uma das interpretações mais inspiradas de RC; ‘À distância’, outro hit magnífico, a leve crônica do cotidiano ‘Quando as crianças voltarem de férias’; momentos ora desiludidos como ‘Você já me esqueceu’, ora pesados como ‘Por amor’.

Mas, acima de tudo, é o disco que contem ‘O divã’, a obra prima da dupla Roberto/Erasmo, na minha opinião. Assim como em ‘Traumas’, do disco anterior, podemos perceber uma abertura pessoal, nesta, Roberto serve-se do consultório psicanalítico para relembrar seu passado humilde, citando inclusive o acidente sofrido aos seis anos na linha férrea. E quando ele canta “essas recordações me matam”, acredite, ninguém mais poderia cantar dessa forma.

Indispensável.

Roberto Carlos - 1973

 
Este disco não está no nível dos comentados acima. O ouvinte que já tenha algum tipo de preconceito e vai ouvir, provavelmente desistirá de cara, pois a primeira, ‘A cigana’, é cafona até não poder mais...

Mas se esse permanecer ouvindo, na segunda faixa talvez já comece a mudar sua opinião, ‘Atitudes’ possui um belo refrão, cortesia de Getúlio Cortes. Há ‘O moço velho’, de Sylvio César, em uma das melhores interpretações de RC; e a versão mais bonita que já ouvi de ‘El dia que me quieras’.

Roberto e Erasmo estão presentes com uma de suas melhores músicas de fim de relacionamento, ‘Palavras; uma das declarações de amor mais bonitas da dupla, ‘Proposta’; e a canção que fecha o álbum, ‘Rotina’.

Essa é uma que não aparece em nenhum Greatest Hits, mas tem uma letra adorável. Conta a rotina de um casal apaixonado, a ansiedade do homem que, durante o trabalho, não vê a hora de chegar em casa para estar novamente com sua amada. Outros tempos, em que poucas mulheres trabalhavam fora. Uma beleza de canção.

Por Ricardo Pereira

5 comentários:

  1. Acertadíssimo. Lí atentamente. Não mudo uma vírgula sequer e assino embaixo.
    Abç

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  2. Valeu, Cadu! Sua aprovação é importantíssima pra mim, ainda mais se tratando do Rei!

    Abs

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  3. Gosto é gosto, né... hehe... sou profundo admirador de Roberto Carlos, principalmente entre 1968 e 1982, mas mesmo nesse meio ele acabou dando umas escorregadas.
    Pra mim, o disco de 1972 (desculpe, justo o seu preferido) é o pior dele na década. O motivo? Excesso de canções fracas e bregas. Colocar no mesmo disco "Quando as crianças saírem de férias", "A Montanha", "Agora eu Sei" e principalmente "Você é linda" é abusar da paciência até dos fãs mais ardorosos. "Você é Linda" é uma das piores e mais bragas canções que já ouvi em toda a minha vida... tão feia que acaba criando uma imagem negativa do cantor.
    Depois de trabalhos tão memoráveis como os de 1969 e o de 1971, aparecer com um disco desse é triste... e mal sabíamos nós que ele pioraria sua qualidade mais tarde, lá pela metade dos anos 80 (a partir de "Caminhoneiro")... e muito mais ainda nos anos 90 e 2000, né?
    E olha que eu sou um dos maiores fãs do Roberto, heim... falo muito sério.

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  4. Caro Fabio Henrique, obrigado pelo comentário. Já ouvi isso de outros fãs do RC também, mas minha paixão por esse 72 é daquelas além da racionalidade. Como escrevi, a primeira canção marcou um momento pessoal importante, e confesso gostar bastante das canções 'bregas' deste disco(ok, 'você é linda' não dá mesmo rs).

    Abraço

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  5. Esse Fábio Henrique tem um conceito meio esquisito de brega. Deve achar When I'm Sixty-four dos Beatles, Lady Jane dos Stones, Lay lady Lay do Dylan, Man on the Moon do REM ou People Are Strange dos Doors brega tmb!! No Brasil existe essa paranoia, trauma sei lá o que sobre o que é brega. Passaram a chamar toda música com linguagem romântica direta por esse rótulo que para mim tem mais a ver com mau gosto e exagero!! E, PQP, "Agora Eu Sei" ruim???????????? Junto com Eu Só Tenho Um Caminho de 71, À Janela e É Preciso Saber Viver de 74, foi precursora de canções com temas familiares, conflitos de gerações e reflexivos mais tarde explorados pela geração anos 80. Ouve Agora Eu Sei com mais atenção ou então compra cotonete lá na loja da esquina.

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