"There's a fear I keep so deep / Knew it name since before I could speak (...) If some night I don't come home / Please don't think I've left you alone"- Keep The Car Running, Arcade Fire

domingo, 3 de abril de 2011

Os Irmãos Karamázov



Há exatos dez anos eu começava a ler pela primeira vez Os Irmãos Karamázov, magistral romance de Dostoievski. Lembro da extraordinária impressão que a leitura deixou no Ricardo de então, prestes a começar a faculdade, cheio de angústias e incertezas.

E, hoje, ao terminar minha segunda leitura do mesmo romance (desta vez, a excelente edição da Editora 34, com tradução de Paulo Bezerra direta do original russo, o que faz muita diferença) e sentindo a força e poder do mesmo, compreendo perfeitamente a extraordinária influência da obra de Dostoiévski em mim.

O romance, último do autor, condensa as qualidades e temas recorrentes de sua obra e ambiciona um painel da Rússia do final do século XIX, mostrando a deterioração moral da nobreza russa em meio ao crescimento do capitalismo no país. E o faz a partir da família Karamázov em um apanhando impressionante das características de seus integrantes: o pai, Fiódor Pavlovitch, devasso, irresponsável e exagerado; Dmitri Fiódorovitch, inconsequente, impulsivo, ambicioso e agregador de uma fúria e senso de honra aparentemente paradoxais; Ivan Fiódorovitch, intelectual, niilista e questionador; e Alieksiêi, o rapaz portador de um amor ao ser humano e um senso de sinceridade e justiça, que o fazia querido e considerado por todos.

Este último, Aliócha, o herói do romance, segundo o narrador desde o começo da história, em determinado momento de sua vida aproxima-se do convento, para afastar-se do desvario e da maldade que ele via entre os homens. E muito por isso, torna-se a figura a que os demais recorrem nos momentos de crise, em que precisam de uma palavra justa e sincera.

É possível perceber o gênio do autor não só na caracterização dos personagens – cada um possui ideias e formas de expressão absolutamente distintas entre si, de acordo com a respectiva personalidade – mas também no desenvolvimento do romance. Cada fato narrado é de fundamental importância para o desfecho da trama e as situações e personagens secundários inseridos na narrativa possuem um vigor e força que fazem com que o leitor mantenha sempre o interesse no que está sendo contado.

E isso fica evidente na parte final, quando o autor consegue nos deixar ligados e em expectativa crescente ao narrar um julgamento que dura um dia inteiro na história e 121 páginas, em que, mesmo já sabedores do que realmente aconteceu, somos tragados ao recinto a julgar os discursos de acusação da promotoria e de defesa de um orador espetacular. Até eu, que não costumo ter paciência para filmes ou literatura com passagens jurídicas, peguei-me lendo avidamente cada depoimento e argumento apresentado.

Se tivesse que escolher um grande romance da história da literatura mundial, provavelmente ficaria com Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, por sua amplitude e, principalmente por sua linguagem inovadora e incomparável. Mas não sem consciência pesada, pois o relato das desventuras da família Karamázov fica ali, inconformado com o segundo lugar de minha inútil lista hipotética. É meu romance preferido de Dostoiévski, o melhor contador de histórias que já tive a oportunidade de ler.

E ainda resta o inconformismo de saber que o autor morreu tendo como projeto em andamento uma continuação de Os Irmãos Karamázov. Contentemo-nos com o que ficou, uma obra formidável, cuja leitura recomendo vivamente a todos.

 Por Ricardo Pereira

4 comentários:

  1. Descobriu-se recentemente uma continuação dos irmaos karamazov

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  2. Absolutamente fabuloso,professor.Só faltou (em minha singela opinião de aluno) citar as fontes da corrupção moral russa,especilmente o niilismo ocidental tão irresponsavelmente propagado pelos revolucionários com uma submissão intelectual quase canina.Do seu amigo e grande admirador,
    Luigi Amendola

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  3. Absolutamente fabuloso,professor.Só faltou (em minha singela opinião de aluno) citar as fontes da corrupção moral russa,especilmente o niilismo ocidental tão irresponsavelmente propagado pelos revolucionários com uma submissão intelectual quase canina.Do seu amigo e grande admirador,
    Luigi Amendola

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  4. Absolutamente fabuloso,professor.Só faltou (em minha singela opinião de aluno) citar as fontes da corrupção moral russa,especilmente o niilismo ocidental tão irresponsavelmente propagado pelos revolucionários com uma submissão intelectual quase canina.Do seu amigo e grande admirador,
    Luigi Amendola

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