"There's a fear I keep so deep / Knew it name since before I could speak (...) If some night I don't come home / Please don't think I've left you alone"- Keep The Car Running, Arcade Fire

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Meu amigo Jim

Angra dos Reis, 28 de fevereiro. Quase 22h. Nada que preste na TV. Telefone fora de área. Sem saco para ler. Resolvi colocar uns discos antigos na vitrola, quer dizer, no PC. Escolhi vários. Todos do The Doors, grupo californiano nascido nos anos 60. A banda que me fez querer cantar. O conjunto que eu amei, e amo. A trilha sonora definitiva da minha adolescência.

Caralho... Como é bom voltar a esses caras!

Um quarteto. Um tecladista de formação clássica, que também fazia as linhas de baixo - nas teclas. Um batera simples, mas que sentia a música, participava das canções de forma conceitual. Um guitarrista que sacava tanto de flamenco quanto de "bottleneck", também conhecido como...

Só um instante: tocando "Indian Summer" agora, do disco "Morrison Hotel". Emocionante. Um monte de lembranças dançando ao som psicodélico/fofo da faixa. O dia em que eu conheci o Gláucio, futuro guitarrista da minha primeira banda. Ele trabalhava numa banca de jornais, e tinha uma pasta recheada de recortes do grupo. Amizade instantânea. Para o resto da vida. A ocasião em que eu ouvi algumas canções do box set do grupo, na casa do Ricardo - ele mesmo, o do blog! Meus olhos ficaram cheios de lágrimas durante uma versão mais jazz de "Queen of the highway". O momento em que eu adquiri a biografia "Daqui ninguém sai vivo", versão em português de Portugal - li numa tacada só... Começando de tarde e terminando à noite. Coisas simples. Nada de espetacular. Mentira. Tudo muito, muito especial. Nunca vou me esquecer. Nunca.

As pessoas são estranhas, companheiro (a). Estão sempre querendo dizer o que é realmente importante na vida. O que merece nossa atenção e nosso sagrado suor. Geralmente, isso não inclue as lembranças que eu citei no parágrafo acima. Inclue, sim, um carro do ano, uma casa com piscina e um punhado de notas de 100 na carteira. Cidadão modelo, burguês padrão. É bom. Eu também quero, claro. Mas não abro mão daquilo que me traz felicidade, que me faz sentir realmente vivo no meio desse monte de gente chata pra cacete.

Que ingenuidade a minha, não? O problema é meu. Ser ingênuo, num mundo de espertalhões, tem lá as suas vantagens. Não sei explicar como, mas tem. Eu sinto.

Faço 33 anos em maio de 2011. Escuto "People are strange" e pronto: tenho 23... E o mundo é meu de novo. Só meu.

Sei que nós, que trilhamos o caminho agridoce da música pop, também sofremos muito. Músico profissional, músico amador, crítico, fã... Todo mundo fodidão, em várias ocasiões. Emocionalmente, principalmente. Culpe a poesia, o lirismo, essa beleza assustadora que nos dá a ilusão de que vamos viver para sempre... E que a música nunca vai acabar.

A vida é chata, mas ser plateia é pior. Muito pior.

Meu show é esse: ser enganado conscientemente por canções de três minutos e meio. Levar a sério, muito a sério, obras cinematográficas de 1h30 de duração. Dedicar semanas - até meses, às vezes - a livros que a maioria das pessoas que eu conheço nunca vão ouvir falar. Sou um puta chato de galochas. Arrogante, pedante e bem ignorante, também - em todos os sentidos.

Foda-se. Sou eu quem paga. E não é barato.

Troco o CD. "The soft parade". Disco confuso. Mesmo assim, adorável.

Now, I'm gonna love you
'Til the heaven stops the rain.
I'm gonna love you
'Til the stars fall from the sky
For you and I


... Porque é importante ser doce nesses tempos tão cruéis.


Os Doors são sobre isso: crueldade e doçura. De vez em quando, na mesma canção.
E então chegamos a "The soft parade" - a música. Já não quero escrever mais nada. Ele chegou.


Arte do chá (Paulo Leminski)
   ainda ontem
convidei um amigo
   para ficar em silêncio
comigo

   ele veio
meio a esmo
   praticamente não disse nada
e ficou por isso mesmo  

Por Hugo Oliveira




The Decemberists - Down by the Water - with Peter Buck



Por Ricardo Pereira

Fora o baile

Hoje vou arrebentar, não vejo a hora do João chegar pra gente quebrar tudo nesse Carnaval! Fiz até hora extra na academia pra ficar tinindo. Comprei três garrafas de vodka, mas não qualquer merda, que é pra impressionar.

João chegou e vamos pra guerra, ela tá forte pra caralho, tem o peitoral mais bonito que já vi. Combinamos nossas estratégias, vamos encher a cara e arrastar umas boyzinha pra finalizar. Não vai ser difícil, a gente tá foda, bombadão, estrondando. Olho pro João e penso “que mulher não gostaria de dar pra ele?”.

Antes de ir pros blocos, vamo parar no posto de gasolina. João abre o porta-malas e bota a música bombando, irado, trance mesmo, não importa que é Carnaval. Tem estilo, o cara. Lá encontramos o Lacraia, o Bittencourt e o Jonas, já no esquema. Vamo ter que beber rápido pra chegar no nível dos cara.

Finalmente na praia, já chegamo arrastando geral. Foda-se se a mulher não quer, com nós cinco junto não tem essa. Quatro montanhas cercando e um pegando. Umas fingem que não gostam, se fazem de difícil, mas a gente sabe que é isso que elas querem! E quando é da boa, todo mundo pega!

Lacraia me chama pro banheiro. “Porra, Lacraia, isso é pó!”. “Qual é, vai arregar?! Tu vai ficar ligado, brother.” Fui nessa então.

Cansei de pegar essas piranhas. É hora de eu e João escolher as que vamo finalizar. “Tá vendo aquelas vagabundas com camisa de futebol? Tão doida na gente, vamo com tudo!”. “Podicrê, a tricolor é falsa tímida, deve ser maior metedeira. E a vascaína, olha o naipe, tá na cara que é safada”.

Fiquei aliviado delas estarem com camisa de clube. Pra arrastar, tem que trocar ideia, pelo menos vou ter assunto, tirar onda com meu Mengão, claro. Não entendo nada dessa porra, mas todo mundo na academia é Flamengo, não quero ficar de fora! Sem contar que jogo é micareta, vai todo mundo zoar junto, estrondar geral. Às vezes é uma merda esperar o jogo acabar, mas sempre vale a pena no final. Na verdade gosto até mais quando o Mengão perde, porque é mais fácil sair na porrada depois, todo mundo neurótico.

Nem foi tão difícil, as vagabunda não resistiram ao nosso desenrolo, em meia hora távamos no carro. João dirige bonito pra caralho, relaxadão, braço pra fora do carro, gesticulando, é o cara. A vodka tá descendo malzão, mas não posso demonstrar... “Aí, João, tá fraco, hein?! Me dá essa porra aí, vamo beber!” Dei um gole sinistro, no gargalo mesmo. Tá foda...

Fomos os quatro pro quarto do João, ele já chegou com tudo pra cima da tricolor, mulher de sorte, João deve mandar benzão! Não posso demonstrar, mas tô sem condições... Essa vascaína é mó gata, mas tô com nojo dos corno dela. Agora não importa, não posso decepcionar meu brother. Já começo querendo acabar, disposição zero. Enquanto isso, João e a mulherzinha dele se atracam ferozmente e a voz dela chamando ele de gostoso ecoa em minha mente. Já não ligo mais pra porra nenhuma. “Rala!” A mulher pulou de cima de mim, esboçou um protesto e saiu do quarto cambaleante.

Parto pra cima da mulher de João, curvada sobre ele. Por um segundo, ela imagina que quero participar da brincadeira, até sentir o zunido em seu ouvido. A primeira porrada na cara jogou ela longe. “Que isso, mermão?!”, e a voz de João parecia distante, assustada. Agora nada mais vai me parar, começo a chutar a cara daquela desgraçada repetidamente e ao ver o sangue escorrer melando meu corpo, me sinto excitado de verdade pela primeira vez naquele dia.

Só paro quando seu rosto vira uma espécie de maçaroca, totalmente desfigurado. Encosto minha testa suada na janela do quarto – nenhum sinal de João – e, sem pensar em nada, me divirto orgulhoso admirando o reflexo de meu corpo e sentindo meu coração desacelerando.


Por Ricardo Pereira

I'll take the rain

Atualmente, a chuva tem um significado muito especial para mim. Muito. Na música pop não é diferente. Várias músicas já falaram sobre isso, e artistas e bandas vão continuar escrevendo canções sobre o assunto. Na cidade onde moro, Angra dos Reis, chove bastante desde ontem. Parece que vai continuar. Tudo bem que, de uns tempos para cá, aqueles pingos, tão simpáticos no verão, se transformaram em uma enxurrada de medo e insegurança - vide a tragédia que se abateu sobre Angra, no começo de 2010 -, mas, ainda assim, fica difícil não enxergar esse fenômeno da natureza com bons olhos... Ou até mesmo olhos poéticos. Seguem alguns exemplos que eu adoro:


"Happy when it rains", Jesus & Mary Chain - belezura dark.


"Only happy when it rains", Garbage - ah, Shirley Manson...


"Chove chuva", Jorge Ben - classe e balanço a serviço do samba rock.


"Falando da chuva", Frank Jorge - simples e lindona: Frank ruleia!


"O ritmo da chuva", versão de Fernanda Takai e Rodrigo Amarante - coisa linda, baby...

É isso. Fui ali ver a chuva e já volto.

Por Hugo Oliveira

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Cidadão Instigado - Andrea Doria e Tempo Perdido

Achei no You Tube os vídeos do show de ontem:

Andrea Doria:




Tempo Perdido:



Por Ricardo Pereira

Vingança - Notícia

E pra começar a semana, duas pérolas sobre a vingança, de dois compositores geniais: a primeira de Lupicínio Rodrigues e a segunda de Nelson Cavaquinho. Cada uma trata de uma situação diferente e são visões até certo ponto distintas deste sentimento infelizmente tão comum, que pode se manifestar de diversas formas. Se vocês lembrarem de outra boa, fiquem à vontade para citar!
 


Vingança (Lupicínio Rodrigues)

Eu gostei tanto,
Tanto quando me contaram
Que lhe encontraram
Bebendo e chorando
Na mesa de um bar,
E que quando os amigos do peito
Por mim perguntaram
Um soluço cortou sua voz,
Não lhe deixou falar.

Eu gostei tanto,
Tanto, quando me contaram
Que tive mesmo de fazer esforço
Prá ninguém notar.

O remorso talvez seja a causa
Do seu desespero
Ela deve estar bem consciente
Do que praticou,
Me fazer passar tanta vergonha
Com um companheiro
E a vergonha
É a herança maior que meu pai me deixou;

Mas, enquanto houver força em meu peito
Eu nao quero mais nada
Só vingança, vingança, vingança
Aos santos clamar

Ela há de rolar como as pedras
Que rolam na estrada
Sem ter nunca um cantinho de seu
Pra poder descansar



 

Notícia (Nelson Cavaquinho / Norival Bahia / Alcides Caminha)

Já sei a notícia que vens me trazer
Os seus olhos só faltam dizer
O melhor é eu me convencer
Guardei até onde eu pude guardar
O cigarro deixado em meu quarto
É da marca que fumas
Confessa a verdade, não deves negar

Amigo como eu jamais encontrarás
Só desejo que vivas em paz
Com aquela que manchou meu nome
Vingança, meu amigo, eu não quero vingança
Os meus cabelos brancos
Me obrigam a perdoar uma criança

Vingança, meu amigo, eu não quero vingança
Os meus cabelos brancos
Me obrigam a perdoar uma criança...


Por Ricardo Pereira 

Cidadão Instigado e o tempo

Mês passado assisti ao show de lançamento do disco de estreia do Marcelo Jeneci no Rio e, por mais que esperasse um bom show, tive mais do que isso. Foi mais bonito do que eu esperava, o cara reproduziu todo o disco no palco, com cordas e metais, em versões muito bonitas e emocionadas. Além disso, participações de Tulipa e Marcelo Camelo abrilhantaram o concerto. Lembro de ter achado bacana o Jeneci e o Camelo cantando juntos, um novo compositor, que acabara de lançar um dos grandes discos nacionais do ano passado com outro que é responsável por alguns dos discos mais importantes de música brasileira recente.

Ontem, fui assistir ao Cidadão Instigado no Rival e confesso que minha expectativa era ainda maior. Penso que é a melhor banda em atividade no Brasil e ainda não havia os visto ao vivo. Fui com meu amigo Cadu e não nos decepcionamos, um showzaço. Lembro que desde a abertura, com ‘Doido’, comentei que nenhuma banda ‘normal’ abriria daquela forma e o show prosseguiu com interpretações magistrais de pérolas como ‘Deus é uma viagem’ e ‘Como as Luzes’, até Catatau chamar uma participação especial: Dado Villa-Lobos. Ficamos agradavelmente surpresos, até porque não estava no roteiro. Gostei ainda mais que ele tocou ‘Homem Velho’, das minhas preferidas do último álbum da banda, uma tocante homenagem a Deus, quer dizer, Neil Young. Mas nem podíamos imaginar o que vinha depois...

Já tinha visto o Dado tocar em shows de outras bandas e é sempre legal, mas dessa vez foi diferente. Ele entrou no palco com a simplicidade de sempre, parecendo congelado no tempo, vestindo uma camiseta do Blur e após a bonita interpretação de ‘Homem Velho’, a banda emendou inacreditavelmente com uma das melhores canções da Legião Urbana, ‘Andrea Doria’, em versão fiel à original. Foi especial porque bateu tudo muito forte ali, assistir aquela canção ao vivo, com o guitarrista da banda que mais ouvi na minha adolescência junto com a banda que mais admiro atualmente. E o fato de ver o Catatau cantando era como se cada um de nós cantasse ali no palco, por ele representar o oposto do comportamento messiânico de Renato Russo. Ainda tocaram ‘Tempo Perdido’, “um dos momentos mais lindamente melancólicos da história da música pop”, como definiu Hermano Vianna, e a música da Legião que meu pai mais gosta.

Tudo é questão de feeling, o lugar certo, na hora certa, e naquele momento foi como se um filme da vida passasse em minha mente. Foi significante ver o Cidadão Instigado tocando Legião com o Dado, o encontro de referências importantes para mim, situados em espaços tão distintos de tempo. Pelo inesperado, pela nostalgia, foi daqueles momentos inesquecíveis. E, significativamente, a próxima música que a banda tocou foi ‘O Tempo’ e versos como “olha pra mim, eu já não sou mais o menino que você deixou” ou “o tempo é um amigo precioso” fizeram ainda mais sentido.

Poderia falar do quanto a banda ainda é mais criativa no palco do que no estúdio; que Catatau só confirmou o que eu já sabia, que é o melhor guitarrista de sua geração; que Dado ainda voltou para tocar com muita empolgação mais músicas do Cidadão... Mas prefiro deixar essa última imagem, a torrente de sentimentos que me invadiu naquele momento: Cidadão Instigado, Legião Urbana, ‘Andrea Doria’, ‘O Tempo’, o tempo...


Por Ricardo Pereira

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Misantropia no metrô

Duas horas de conversa com um grande amigo, irmão de alma, sobre a vida, música, angústias, a importância e dificuldade de suportar o mundo sem algum tipo de refúgio, plano de fuga. Uma hora agradável em uma loja de discos em que o clima, o cheiro, os vendedores pareciam habitar outro mundo, outra época.

O caminho até a estação de metrô já foi tortuoso. Centenas de zumbis arrastando-se na rua, ostentando a euforia, a alegria obrigatória, a uma semana do Carnaval. Ao entrar no vagão, ouviu um coro bêbado de jovens cantando algo sobre alguém ser ‘devagar’, só falar e não ‘pegar’ ninguém. Portavam copos com fanta laranja, uma garrafa de vodka pela metade e um saco de gelo. Pareciam bem nascidos, estavam eufóricos, os olhos brilhando de ebriedade. Vestiam-se de forma parecida, agiam com a mesma espécie de idiotia e, ao olhar com mais atenção para um deles, sentiu pena, nojo, raiva, tudo ao mesmo tempo.

O grupo desceu para seu pré-carnaval e, mesmo com os lugares vagos, nosso passageiro ficou em pé a observar as pessoas. Viu o cansaço no semblante de quem voltava do trabalho: jovens adultos parecendo mais velhos em suas roupas sociais; mulheres mais velhas com o olhar perdido, talvez a procurar no vazio o rastro devastador da passagem do tempo; homens gordos de semblante entediado e terno amarrotado. No que pensavam, pra onde iam, o que sentiam?

Reparou que muitos esperavam sua estação de destino absortos no telefone celular, alheios ao que acontecia a sua volta, olhar fixo no aparelho, dedos ágeis teclando freneticamente. Um deles, rapaz aparentemente saudável, ao perceber-se observado, instintivamente desviou o olhar de seu aparelho por alguns segundos, fitou o desconhecido com olhar apatetado e voltou ao seu autismo.

Passou a observar as mulheres presentes, imaginando por quais delas se apaixonaria, suas prováveis qualidades e encantos. No entanto, sorriu ao vislumbrar não ser correspondido por não possuir a estupidez e agressividade que todas buscam, ainda que inconscientemente.

E se as pessoas pudessem enxergar e por acaso olhassem em sua direção, veriam um homem com um olhar de uma beleza cansada e ressentida, humilde e arrogante, agarrado à barra de sustentação do metrô, como se esta sustentasse não seu corpo, mas sua dignidade, sua solidão.

"Sorrindo, distante, de fora, no escuro. Minha lucidez nem me trouxe o futuro."

Por Ricardo Pereira

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Palco Sunset - Rock In Rio

Até agora a escalação do Rock In Rio não me anima. Faltam nomes que me empolguem de verdade, o dia melhorzinho até agora é o que tem Coldplay e Skank... Nem precisa falar nada, não é?

Mas ontem foram divulgada as atrações do Palco Sunset, um palco menor, que vai promover encontros entre bandas diferentes. E a perspectiva melhora um pouco. Há bons números isolados como 'Móveis Coloniais de Acaju + Orkestra Rumpilezz + Mariana Aydar', no dia 23, 'Tulipa Ruiz + Nação Zumbi', no dia seguinte e 'João Donato + Céu', dia 30/09.

Porém fiquei animado com a escalação dos dois últimos dias de festival, melhor do que as do palco principal até agora. Dá uma olhada:

Dia 1/10, sábado
Cidadão Instigado + Júpiter Maçã
Tiê + Jorge Drexler
Zeca Baleiro + Concha Buika
Erasmo Carlos + Arnaldo Antunes

Dia 2/10, domingo
The Monomes + David Fonseca
Mutantes + Tom Zé
Titãs + Xutos & Pontapés
Marcelo Camelo + Convidado

Ainda falta muito para me animar com o festival, mas confesso que alguns desses encontros já despertam minha curiosidade...

Cidadão Instigado - mereciam palco principal fácil!

Por Ricardo Pereira

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Perspectivas

Afinal de contas, urgência e feeling não fazem mal a ninguém, né? (2)

Radiohead - Bangers & Mash


R.E.M. - Leave


The Smashing Pumpkins - I Of The Mourning



Por Ricardo Pereira

Três é o número


"You keep me hanging' on", The Supremes


"Pull shapes", The Pipettes


"God help the girl", God help the girl


Por Hugo Oliveira

Deus salve o punk rock!

Influenciado por uma de minhas últimas aquisições musicais - "Damned, damned, damned", do grupo punk Damned -, resolvi postar aqui alguns dos hinos da geração que bagunçou o coreto no final dos anos 70. Tudo muito simples, tosco até. Mas apresentado como se o mundo fosse acabar no outro dia. Afinal de contas, urgência e feeling não fazem mal a ninguém, né?


"In the city", The Jam - Guitarra e baixo rickenbacker, terninhos e uma performance visceral.


"Anarchy in the UK", Sex Pistols - A maior armação de todos os tempos. E isso é um elogio.


"I fought the law", The Clash - Inesquecíveis, imbatíveis, imortais.


"Blitzkrieg bop", Ramones - um, dois, três, quatro... ROCK!


"Ever fallen in love", Buzzcocks - Quando o punk encontra o pop.


"Teenage kicks", Undertones - Para pogar com um sorriso no rosto.

Por Hugo Oliveira

Ele é popular... E está morto

A Rolling Stone Brasil deste mês publicou uma matéria sobre o jornalista e escritor sueco Stieg Larsson, responsável pela famosa trilogia Millenium, composta de volumes policiais que o tornaram o autor mais vendido do planeta. Ah, sim: Larsson faleceu em 2004, aos 50 anos, vitimado por um ataque do coração.
A reportagem é muito boa. Mais ainda são os livros escritos pelo fundador da revista "Expo". Três publicações que levam o leitor à loucura, no bom sentido. Li "Os homens que não amavam as mulheres", "A menina que brincava com fogo" e "A rainha do castelo do ar" em uns dois meses. Freneticamente. A dupla formada pelo jornalista Mikael Blomkvist e pela hacker Lisbeth Salander entra em cada roubada que, às vezes, fica difícil acreditar que eles vão conseguir se safar. Aliás, será que eles conseguem? Leia e a depois a gente conversa.
Gênero policial é aquilo: é quase sempre a mesma coisa, mas diverte pacas. os livros de Larsson, por exemplo, apresentam um cenário muito rico para os profissionais de jornalismo, já que o personagem principal é o editor de uma revista. Tem aquela  mentirada danada, também, mas faz parte. Por outro lado, realidade e fantasia também acabam se confundindo na obra do jornalista, já que, tanto na vida real quanto na literatura, Larsson escrevia sobre temas que eram quase uma obssessão para ele - extrema direita, nazismo, rascismo e preconceito. 
A versão cinematográfica para o primeiro livro do escritor, que é apenas ok, já está disponível nas locadoras. É até legal ver Mikael e Lisbeth na telona, mas nada se compara aos volumes. Página por Página, Larsson cria um universo interessante ao leitor, e no final da trilogia, é inevitável não ficar triste pelo fim da saga - principalmente por saber que não haverá outros livros. De qualquer forma, fica a dica... E o agradecimento a Larsson, pela criação de um universo inesquecível. E por vezes, possível.


Descanse em paz, Larsson. De verdade.
    
Por Hugo Oliveira

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Tire o pé do chão!

Nada melhor do que um Hot Chip para finalizar um dia de trabalho... Ao vivo, soa ainda melhor do que em estúdio.



Por Hugo Oliveira

domingo, 20 de fevereiro de 2011

E do nada...

me deu uma saudade do Pato Fu das antigas e resolvi ouvir o maravilhoso Rotomusic de Liquidificapum, disco de estreia, de 93. Que disco foda, que banda foda! Deixo pra vocês duas das minhas preferidas. O segundo vídeo tá tosco, mas vale conferir, depois da introdução com 'Tribunal...', há uma versão matadora de 'Meu coração é u'a privada'.


Meu pai, meu irmão
Nunca estou suficientemente bão
Meu pai, meu irmão
Eu pelejo contra a força que eu tenho
Meu pai
E luto, e luto só com carne e com osso
Meu irmão
A luta que sei lutar
Meu pai meu irmão, meu pai meu irmão
Meu pai meu irmão, meu pai meu irmão
Meu pai meu irmão!

Não tem jeito de entender a Terra como ela é
Ainda mais que eu sou bem maior que ela
Seu filho e seu irmão
Seria bão ser bão
Nisso de ficar quieto
De não dar na vista quando quebro
Os ossos dos dedos da minha mão
Quando soco as paredes
Meu pai meu irmão!


Coisinhas de nada
Têm feito um grande estrago
Dentro do meu coração
Eu piso em baratas
Sujo meus sapatos
Tenho raiva de quem ama
Tenho pena de quem mata

Então risco as paredes
Sujo o meu tapete
Com as porquêra lá da rua
E as porquêra da empregada
Então embico a criada
Rasgo meu cachorro
Quebro uma criança
E machuco a minha mão

Mas se você encostar sua orelha no meu peito
Você vai ouvir um barulhinho: chuá, chuá
Você vai ouvir um barulhinho: chuá, chuá
Eu tenho medo que você não goste
Mas é barulho de descarga
E ela vem bombeando meu sangue, meu sangue
Sanguinho azul de barata, oh meu deus!

Não vou deixar você encostar
Sua orelha, seu ouvido
No meu peito, no meu coração

Por Ricardo Pereira

Resenha - The King of Limbs, Radiohead

  
Mandando a coerência às favas, vou tentar também minha análise precipitada do novo disco do Radiohead, The King of Limbs.

Antes, algumas considerações. Considero o Radiohead a banda mais importante do mundo hoje. Nos últimos dez anos, é fácil a banda que mais ouvi. Nos últimos cinco, talvez só perca pra o Wilco. Ontem, conversando com meus amigos Hugos (Bastos e Oliveira), comentei que temia não ter senso crítico quando o assunto era Radiohead, que amava qualquer coisa que eles lançassem. Prefiro pensar que não é assim. Mas saiba que há o risco de você ler uma análise de um desses idiotas que acham que é o disco do ano antes mesmo de o mesmo ter sido lançado...

Outra, amo o álbum solo do Thom Yorke, The Eraser. Considero esse cara um gênio e, junto com James Murphy e Steven Ellison, um dos que melhor trabalham com a eletrônica a favor das canções. As batidas certas na hora certa, criando climas e sensações indescritíveis. E muitos andam chamando The King of Limbs de The Eraser 2, o que pra mim é um elogio.

Não adianta ouvir qualquer novo trabalho do Radiohead se não tiver absorvido a ruptura pós Kid A. The Bends e Ok Computer são dois dos melhores discos que ouvi na vida. O primeiro até hoje me acompanha em momentos de desabafo emocional, adoro a capa, as letras, as guitarras, a urgência. É o tipo de disco que deveria ter feito Bono Vox mudar de carreira e Chris Martin ter virado médico ou advogado antes de ter cogitado formar uma banda. Ok Computer é um dos melhores discos conceituais da história do rock e envelhece muito bem, cada vez mais atual e relevante. Quem me conhece desde a época sabe o impacto que o Kid A teve para mim desde seu lançamento. Foi dos grandes momentos de deslumbre da vida do Ricardo, talvez só comparado à descoberta dos Beatles na infância/adolescência ou ao conhecimento das obras de Borges, Saramago e Dostoievski. A partir daí, o Radiohead passava de uma banda de grandes canções para uma banda ‘construtora de mundos’, a partir da manipulação de climas e atmosferas. Muita gente – meu irmão, por exemplo - demorou a absorver isso, alguns – meu pai, acho - não engolem até hoje e outros – meu companheiro de blog, Hugo, é um deles – reconhecem o valor e a importância, mas não escutam, não entram no mundo proposto.

Ouvir o Kid A pela primeira vez foi como deve ter sido para os ouvintes da época, os quais tanto invejo, ter escutado o Revolver quando de seu lançamento. Excitação e orgulho de presenciar uma banda atingir outro patamar. Se insisto sempre na comparação Beatles-Radiohead é porque, e já falei isso por aqui, eles são os meus Beatles. A banda que espero, no futuro, orgulhoso e nostálgico, ver meu filho descobrir em meio a minha coleção de discos.

Após este enorme preâmbulo, vamos ao disco. John Lennon, em sua última entrevista, afirmou que não queria grupos de elite os seguindo, queria se comunicar da forma mais ampla possível, imaginava ser essa a ideia do rock and roll. Penso que Thom Yorke almeja o contrário, pois os discos do Radiohead, cada vez mais, exigem atenção, paciência e um cuidado por parte dos ouvintes que o ritmo frenético dos tempos modernos parece negar à maioria das pessoas.

O disco é claramente dividido em duas partes. As quatro primeiras, mais urgentes, e as outras quatro, mais calmas, contemplativas, que talvez agradem mais aos admiradores tradicionais.

A primeira do disco, ‘Bloom’, começa com timbres fantasmagóricos e batidas quebradas, desapontando de cara os que vivem a esperar uma ‘volta às raízes’ da banda. Thom Yorke entra trazendo um pouco de humanidade e lá pelos 2:50 a música ‘abre’, encantando com a entrada de cordas e mais efeitos. Depois vem ‘Morning Mr. Magpie’, com mais minimalismo eletrônico, um Thom Yorke mais rascante e um dos destaques do disco (na verdade da banda), os baixos maravilhosos de Colin Greenwood. A guitarra praticamente ‘marca’ o ritmo das batidas. O vocal sussurrado do final é uma beleza! ‘Little by Little’ vem sendo chamada de o baião do Radiohead. Não chega a tanto, mas há certo clima ‘pra cima’ (em se tratando deles, não se esqueça) de certa forma surpreendente nessa primeira parte do álbum. A parte dos 2:20 aos 3:03 explicam o porquê de eu amar tanto esta banda mais do que qualquer palavra que eu tente aqui. ‘Feral’ é um instrumental nervoso, torto, eletrônico, com samples de vocais servindo de instrumento e mais entre tantos efeitos que fecham o primeiro segmento do álbum.

A segunda parte do disco é mais palatável, principalmente aos que nunca se adaptaram à transformação sofrida pela banda. E começa justamente com a música de trabalho, ‘Lotus Flower’, uma canção perfeita, com uma das melhores letras do disco. A dancinha do clipe acaba ofuscando o quão boa é essa música, a banda está impecável, há elegância e sensualidade, tudo está no lugar certo. E chegamos a ‘Codex’, para muitos fãs, o grande destaque das primeiras audições. Vejo beleza, há emoção, mas ainda não me ‘pegou’. Lembra demais ‘Pyramid Song’, a canção que menos gosto de Amnesiac. Pode crescer com o tempo. Quem sabe de minha fixação pelo número sete pode imaginar o quanto fiquei feliz de a 7 ser ‘Give Up the Ghost’, uma canção delicada, de bonita melodia, a única que eu conhecia antes de o disco ser lançado. Levada ao violão, com a voz de Yorke forte, reinando acima do coro de ‘don’t hurt me’ e de um clima bucólico, onírico, me encanta a cada audição. A última, ‘Separator’, é a minha preferida por enquanto, possui tudo que me encanta no Radiohead. Adoro a bateria, a linha de baixo, as imagens da letra, a beleza de guitarra que entra aos 2:32, o jeito stipeano de Thom Yorke cantar ‘wake me up, wake me up...’. Enfim, um fecho perfeito para o álbum ou para a primeira parte dele, como muitos especulam.

De mais importante nisso tudo, pessoalmente falando, o lançamento desse disco me fez sentir-me vivo como não me sinto há algum tempo, constituindo uma das semanas mais interessantes da minha vida. Na segunda-feira nem imaginava que estava pra sair um disco novo do Radiohead, não esse mês, não agora. De repente veio a notícia, a capa, me habituar ao nome, sabendo que The King of Limbs entraria para meu vocabulário emocional tanto quanto Kid A, In Rainbows, Construção, Ventura, Strange Days, Rubber Soul ou Automatic for the People são tão comuns quanto meu nome ou o nome dos meus amigos. Depois ouvir, ficar empolgado e tão encantado quanto ficavam o Ricardo menino ou adolescente ao descobrir um disco. Ver que ainda posso sentir isso depois de tanto tempo, de tantas frustrações e desilusões é mais importante do que qualquer outra coisa na minha vida hoje.

Por Ricardo Pereira

sábado, 19 de fevereiro de 2011

O disco que eu mais ouvi na vida

Era uma missão quase impossível: achar algum CD dos Smiths numa loja de Angra dos Reis, em 1998. Ok, coletâneas como "The Best" - 1 ou 2 -  e/ou o recém-lançado "Singles" estavam à disposição, mas eu queria mais. Queria um disco de carreira, algo do tipo.  E consegui... Mais ou menos.
O segundo álbum lançado pela banda, "Hatful of hollow", é um tipo de compilação de luxo. Versões diferentes e faixas gravadas em programas da BBC - John Peel e David Jensen - poderiam deixar até o mais fanático dos admiradores com a pulga atrás da orelha. Enrolação? Disquinho caça-níquel? Não mesmo. Trata-se de um trabalho perfeito. Sem falhas. Música pop de primeira, que faz dançar, pensar e querer mais. Daquele momento em diante, aquela seria a minha banda predileta. Quase 13 anos depois, continua sendo.
Comprei o CD numa loja localizada no segundo piso do Angra Shopping. O estabelecimento não existe mais; o shopping ainda vive, mas com um movimento bem pequeno. O disco? Vai bem, obrigado, rodando no leitor do meu pc, neste momento.
Eu tinha 20 anos de idade quando ouvi o álbum pela primeira vez. Era domingo, e na segunda, eu começaria a trabalhar, numa farmácia da cidade. Muitas emoções... Na vida e no CD.
Funcionava assim: ia para o trabalho - uns 10 minutos da minha casa - e, na hora do almoço, escutava o disco, durante uns 30 minutos. Aquilo mudou a minha vida. Embalou a minha "adolescência estendida", o final de um namoro, um caso rápido com uma mulher casada e um novo amor. "I was looking for a job, and then I found a job/and heavens knows I'm a miserable now". Quase isso. Nada mais seria como antes. ""I would love to go/back to the old house/but I never will".
O CD começava com "William, it was really nothing". Coisa linda. Guitarras e violões "estalando", baixo e bateria na retaguarda, pontuando tudo com simplicidade e competência. A voz de Morrissey na frente, comandando. Emocionando. Arrebatando. Vingando um zilhão de garotos e garotas entediados com suas cidades de merda. "The rain falls hard on a humdrum town/This town has dragged you down/Oh, the rain falls hard on a humdrum town/This town has dragged you down". A segunda faixa, "What difference does it make?", foi uma grata surpresa para mim. A versão original, cheia de guitarras, não me agradava muito, e de repente, aparece essa faixa, repleta de simplicidade, defendida com tesão pelos quatro integrantes da banda. Bastou o riff original para a canção fazer todo o sentido do mundo. Em seguida pinta "These things take time", desesperada, urgente, com Morrissey dizendo que "aquelas tardes alcoólicas/quando sentávamos no seu quarto/elas significavam mais para mim do que qualquer coisa viva na terra/elas tinham mais valor do que qualquer coisa viva na terra". Para quem ele estava falando aquilo? Para uma menina? Para um cara? Foda-se. Ele estava mandando uma mensagem universal, sobre não saber lidar com os seus sentimentos, inaptidão amorosa, insegurança, angústia, enfim, essas coisas que passam... Depois que você morre.
Hora de sorrir. A versão de "This charming man" inclusa no disco é tão matadora quanto delicada. A guitarra de Johnny Marr não desperdiça uma nota. Nada de punheta sonora ou solos desnecessários. Só o essencial: um riff inesquecível, atemporal. Sempre existirá alguém para gritar "aeeeeeeeeeeeee!" quando essa música for tocada. Sempre. Colada com ela vem "How soon is now?", outro carro chefe do grupo. Aqui não tem nada de engraçado, nada leve. "Eu sou humano e preciso ser amado/como todo mundo precisa". Tudo isso apresentado com um instrumental gélido, sombrio. Para nunca mais esquecer. Já "Handsome devil", uma das primeiras canções escritas pela banda, é uma bobagem. Uma bobagem deliciosa e, por vezes, constrangedora. O instrumental é macho pacas, mas a letra... Lembro da minha mãe sentada na sala, ao meu lado, enquanto eu assistia a um show da banda, transmitido pelo canal Multishow. Na hora em que essa música foi tocada, e que as letras traduzidas foram divulgadas pelo canal, dona Jacilda perguntou. "Você gosta disso?", eu respondi que sim... Mas com uma puta vergonha. Por favor, preconceito zero por aqui... Mas frases como "deixe colocar minhas mãos em suas glândulas mamárias" ou "um garoto no mato vale mais que dois na mão" são realmente de matar.
A dobradinha "Hand in glove" e "Still ill", composta de dois clássicos dos Smiths, desce redonda. Tudo bem que a primeira vem numa versão um pouquinho diferente, mais lenta do que a original, mas isso não tira um pingo da relevância da canção. A segunda, uma das únicas músicas do primeiro disco que continuaram no repertório da banda, até o fim, soa radiante, e ainda conta com a participação do guitarrista na gaita, na introdução e no final da música. Uma das frases da letra é sempre recorrente por aqui. "O corpo controla a mente ou a mente controla o corpo/eu não sei". Nem eu, Morrissey, nem eu.
"Heaven knows I'm a miserable now" é uma das minhas canções favoritas do conjunto. Tem aquela que, na minha humilde opinião, é a linha de baixo mais bonita do mundo, e uma letra sempre atual. "Na minha vida/por que eu dou um tempo valoroso/a pessoas que não se importam se eu estou vivo ou morto?". Depois dela, uma pequena pérola "lado b" do grupo, "This night has opened my eyes". Letra arrepiante, sobre uma mãe que mata o seu bebê e que não fica nem feliz e nem triste. Dê uma olhada nessa tradução que eu peguei na internet e tire suas conclusões.

 

Esta Noite Abriu Meus Olhos

Em um rio cor de chumbo
Mergulhe a cabeça do bebê
Embrulhe-o em um jornal
Despeje-o na soleira de uma porta, garota
Esta noite abriu meus olhos
E eu nunca mais dormirei novamente

Você pulou e chorou como uma criança tripudiada
Um homem feito de vinte e cinco anos
Oh, ele disse que curaria seus males
Mas ele não o fez e nunca o fará
Então, salve sua vida
Porque você só tem uma

O sonho se foi
Mas o bebê é real
Oh, você fez uma coisa boa
Ela poderia ser uma poetisa
Ou ela poderia ser uma tola
Oh, você fez uma coisa ruim
E eu não estou feliz
E eu não estou triste

Uma criança descalça num balanço
Te faz lembrar a sua própria criança outra vez
Ela levou embora seus problemas
Oh, mas então, de novo
Ela deixou a dor
Então, por favor, salve sua vida
Porque você só tem uma

O sonho se foi
Mas o bebê é real
Oh, você fez uma coisa boa
Ela poderia ser uma poetisa
Ou ela poderia ser uma tola
Oh, você fez uma coisa ruim
E eu não estou feliz
E eu não estou triste
Oh...
E eu não estou feliz
E eu não estou triste

"You've got everything now" e "Accept yourself" são duas músicas que também não estão entre as mais famosas da banda, mas elas continuam mantendo o nível do disco lá em cima. A segunda principalmente, com uma mensagem de caráter mais positivo, sobre aceitar a si mesmo do jeito que se é. "Girl afraid" próxima do álbum, é a coisa mais próxima de uma "surf music pós-punk". Johnny Marr, mais uma vez, apresenta um trabalho de guitarras excelente, preenchendo todos os espaços com dedilhados e acordes certeiros. O poeta Manuel Bandeira disse que "faz versos como quem morre"? Johnny compõe como quem quer marcar o seu nome na música pop, aliás, como quem sabe que vai marcar.
Segura, peão. Prepare os lenços. "Back to the old house" é uma pintura em forma de canção, um quadro com a imagem de uma pessoa caminhando, seguindo em frente, mas com o rosto voltado para trás, olhando para a antiga casa onde "começaram todos os seus sonhos" e para onde o protagonista da música adoraria voltar, mas sabe que isso nunca vai acontecer. Morrissey na voz e Marr no violão. Três minutos e dois segundos de puro deleite melancólico. Ouça com moderação.
Já estamos quase no fim do disco. A penúltima música, "Reel around the fountain", outra faixa antológica da banda, vem numa versão diferente, mais simples e com um baixo mais marcante. A beleza e o poder da canção continuam intactos, muito pela capacidade do vocalista/letrista em sintetizar coisas que todos gostariam de dizer, às vezes, em poucas frases. "Quinze minutos com você/bem, eu não diria não/as pessoas não veem valor em você/mas eu vejo". Serve tanto como uma declaração de amor irrestrito quanto um desabafo sobre o poder que certas pessoas têm sobre nós.
A última canção do CD tem menos de dois minutos. Instrumentação baseada em cordas - baixo, guitarra, violão e bandolin -, belíssima. A letra é de uma tristeza só, fazendo alusão a uma pessoa que apenas quer conseguir realizar um desejo, ao menos, pela primeira vez... E Deus sabe que, caso isso aconteça, será mesmo a primeira vez. É uma faixa para botar no "repeat", infinitamente. Aliás, como todo o disco.
"Hatful of hollow" não é o album mais importante dos Smiths. Nem o mais famoso. É o disco que eu mais ouvi na vida. E eu precisava dividir isso com vocês.

O CD está bem arranhado e o encarte está desbotado... Mas roda que é uma beleza!



Por Hugo Oliveira

Give Up The Ghosts

Essa é a versão ao vivo que comentei aí embaixo:


Uma beleza, né?

Por Ricardo Pereira

I Might Be Wrong

Ontem ouvi três vezes o ‘The King of Limbs’, ainda não me sinto pronto pra escrever. Vou ouvir mais vezes antes de comentar as músicas. O que vem me impressionando é a quantidade de pessoas que querem dar um veredito com uma ou duas audições... Fico incomodado tanto com os que criticam quanto os que acham uma obra prima.

Engraçado também as pessoas que, desde o ‘Kid A’ (2000), a cada lançamento, lamentam-se de o disco não ser como o ‘The Bends’ (95) ou o ‘Ok Computer’ (97). Acham mesmo que a banda vai voltar a ser como a de 16 anos atrás?? Imagino sempre essas pessoas comprando um novo lançamento dos Beatles (‘Revolver’ ou ‘Abbey Road’) e reclamando de não serem mais os mesmos do ‘With The Beatles’ ou o do ‘Help’... Ou alguém não gostando do ‘Blonde on Blonde’ pois o Bob Dylan bom mesmo era o dos primeiros discos...

Vou esperar mais audições para escrever, mas adianto que gostei bem (novidade?), o disco situa-se entre o ‘Kid A’ e o ‘In Rainbows’ (novidade?) e minhas preferidas (e isso vai mudar muito à medida que for mergulhando mais no disco) até agora são ‘Separator’ e ‘Give Up The Ghost’, que eu já conhecia de uma linda versão ao vivo que rola por aí.

Posso dizer que ir descobrindo um novo disco do Radiohead é sempre um grande prazer.

Pra quem não leu, há esse texto sobre minha relação com a banda e algumas de minhas canções preferidas deles.

 
Por Ricardo Pereira


sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Hoje é dia de...

Radiohead, claro. Mas tô com uma gripe/sinusite arrebentando e estou esperando melhorar um pouco e também o sol baixar para ouvir pela primeira vez o 'The King Of Limbs'. Enquanto isso, uma pérola de Rochinha e Orlando Porto, cuja versão que mais gosto é a do genial e vascaíno Paulinho da Viola em seu disco 'Bebadosamba':

Vou imprimir novos rumos
Ao barco agitado
Que foi minha vida
Fiz minhas velas ao mar
Disse adeus sem chorar
E estou de partida
Todos os anos vividos
São portos perdidos
Que eu deixo pra trás
Quero viver diferente
Que a sorte da gente
É a gente que faz

Quando a vida nos cansa
E se perda a esperança
O melhor é partir
Ir procurar outros mares
Onde outros olhares
Nos façam sorrir
Levo no meu coração
Uma grande ilusão
Que contigo aprendi
Tu me ensinaste em verdade
Que a felicidade
Está longe de ti

Por Ricardo Pereira

Lotus Flower


Aqui, Thom Yorke ilustra minha opinião sobre dançar... rs

Mas a música é boa demais!

Já baixei o disco, vou ouvir umas duas, três vezes e depois comento aqui!


Por Ricardo Pereira

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Decemberists - James Blake


No espaço de um mês serão lançados novos discos de duas das minhas bandas preferidas que acabarão tomando espaço muito grande por aqui. Por isso, vou aproveitar para falar dos dois discos lançados este ano que mais me agradaram até agora, antes dos furacões R.E.M. e Radiohead.

The King is Dead – The Decemberists      


Sabe aqueles dias em que se quer sumir, que o trabalho não rende, você está de saco cheio das pessoas e que o mundo parece ‘jogar contra’? Então, é para um lugar como este disco que gostaríamos de ir.

Não conhecia a banda (Os Dezembreiros, como lindamente chamou meu amigo Matheus – aliás acho muito que o José Miguel vai gostar do clima desse disco...), só de ouvir falar, e pelo que li e ouvi dos outros trabalhos, este é um álbum diferente na carreira deles, mais ‘relaxado’, tranquilo.

Alguns dos melhores discos lançados nos últimos anos remetem aos anos de 1970, como o Sky Blue Sky, do Wilco, o Changing Horses, do Ben Kweller e o Queen of Denmark, do John Grant. E este aqui vai por um caminho parecido, emulando a sonoridade de bandas de country rock daquele período.

Outra referência marcante no álbum, apesar do título smithiano (seria uma versão macha do Queen is Dead?), é o R.E.M., inclusive com participação do guitarrista Peter Buck em algumas faixas. Como a segunda, ‘Calamity Song’, que poderia facilmente estar em algum dos clássicos primeiros trabalhos da banda de Michael Stipe.

Há uma leveza, uma certa descontração (mais nas músicas do que nas letras) que permeia o álbum, um certo bucolismo em lindas baladas como ‘Rise to Me’, January Hymn’ e ‘Dear Avery’ ou em números mais agitados como ‘Rox in the Box’ ou ‘All Arise!’, uma das minhas preferidas.

É um disco que te ganha a cada audição, não porque vai crescendo como o do John Grant, mas porque vai se tornando íntimo, como se sempre estivesse ali, um refúgio necessário aos nossos dias ruins.


James Blake – James Blake


Em outro extremo, temos o disco do cantor James Blake. Aqui não encontramos tranquilidade, paz. É um disco que se faz íntimo e presente, mas de outra forma, consegue trazer neblinas, penumbra e frio mesmo nesses dias de calor infernal. Há vazios, balbucios, repetições, algo da eletrônica minimalista que tanto admiro no disco solo do Thom Yorke.

É como um disco de trilha sonora pessoal, mas não de qualquer dia, e sim dos dias de angústia, de medo e hesitação. Quando o cantor repete insistentemente que tudo que sabe é que está caindo, caindo, caindo..., estamos nessa junto com ele. É um disco curto, daqueles que nos fazem querer repetir assim que acaba, habitar mais um pouco aquele mundo estranho, etéreo, um provável espelho de nossa alma nos momentos mais melancólicos.

Por Ricardo Pereira

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Cadáver pega fogo durante o velório



No Trabalho Sujo esses dias, o pessoal estava postando capas de disco em formato de jornal ao discutir o que seria o ‘newspaper album’ citado no site do Radiohead sobre o novo disco deles, a ser lançado sábado. Então me lembrei do obscuro e genial Cadáver pega fogo durante o velório.

Não lembro como conheci este disco, mas foi em 2007 e desde a primeira audição virei fã. O disco é uma coleção de, na falta de melhor definição, sambas mórbidos. Foi lançado em 1983 e teve problemas com a censura e acabou tornando-se uma daquelas pérolas ‘esquecidas’. As músicas são compostas por Fernando Pellon e os grandes destaques são as letras, apesar de o disco conter arranjos muito bons para as canções.

A primeira, ‘Porta Afora’, começa com o verso: “Quando soube que estava canceroso, ergui louvores ao Criador” e segue em um engraçado desabafo de um homem abandonado pela mulher, terminando em um final que gosto demais. A segunda canção, ‘Altivez’, é sobre masoquismo e a interpretação de Sinval Silva é irrepreensível e perfeita para o que está cantando. Outros destaques são ‘Com todas as letras’, em que o eu-lírico ingere uma dose letal de veneno e saí andando pela cidade, observando o mundo em seus últimos momentos; a sensacional ‘Carne no Jantar’, pequena e brilhante crônica social; ‘Cicatrizes’, belo samba em que o homem busca sua parceira por parecer com sua antiga mulher e ‘Tal como Nazareth’, canção emblemática do disco por servir quase como carta de intenções quando o autor afirma não gostar de eufemismos ou terminologia evasiva e acaba por comparar o amor à lepra!

Vale procurar este trabalho que, de certa forma, antecipa muito de Rogério Skylab e recupera outro tanto de Augusto dos Anjos ao ‘entortar’ nossa percepção da existência em canções excelentes e, infelizmente, pouco conhecidas.

Por Ricardo Pereira

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

The King Of Limbs


Melhor notícia do ano até agora: dia 19 sai o novo Radiohead, que vai se chamar The King of Limbs. Ansioso? Um pouquinho só, queria apenas dormir e acordar sábado...

Por Ricardo Pereira

Quatro segundos e a eternidade pop

Quanto tempo, hein? Pois é: trabalho, correria, lazer... Por falar em lazer, no último sábado eu e meu companheiro de blog, Ricardo Pereira, matamos a saudade de outro amigo nosso, Pedro Henrique - e de sua esposa, Isabela Malta. Conversa vai, cerveja vem e, à noite, Ricardo mandou um comentário do tipo. "Eu não entendo essas pessoas que saem para dançar. O que leva uma pessoa a querer ficar mexendo o corpo enquanto a música toca?". PH concordou com ele, na hora. Isabela se mostrou aparentemente neutra. Eu? Não concordo... E nem discordo. Entendeu? É mais ou menos assim: eu curto dançar uns troços na pista de dança... Mas depois de beber, é claro. De cara limpa eu acho difícil. Também acho meio escrota essa afirmação, "sair para dançar". Mas eu entendo quem dança. Ao menos, um pouquinho...




Essa introdução confusa para falar sobre Michael Jackson. Bem, quase todo mundo sabe que ele ainda é o "Rei do Pop", que defendeu várias canções inesquecíveis e que, acima de tudo, se tornou, talvez, o maior ícone pop deste planeta. Ok, Beatles, Elvis, Madonna e agora, Lady Gaga, também estão por aí, mas acredito que Michael é o campeão, é aquele que está no imaginário coletivo - do seu irmão, do seu pai e até da sua avó; É aquele do "gritinho" e da "mão na genitália"; é aquele que gostava de garotinhos e que morreu em circunstâncias misteriosas; é aquele que teve, talvez, a primeira "boy band" do mundo - Jacksons 5 -, e que lançou um disco, intitulado "Thriller", que, ao menos até 2006, foi o mais vendido do mundo




Ah, sim: foi o cara que também ficou marcado por um passo de dança, o "moonwalk". Foram necessários apenas quatro segundos para que Michael mostrasse a todos a que veio. Era dia 25 de março, 1983. Michael fazia um playback para o especial de 25 anos da gravadora Motown, que estava sendo transmitido pela TV. Lembro de um relato - acho que na biografia "Mais pesado do que o céu", sobre Kurt Cobain - sobre as pessoas assistindo pela primeira vez ao Nirvana tocando "Smells like teen spirits"... E vomitando de emoção, por causa da beleza - e da fúria - da canção. Vomitaria fácil ao ver Michael fazendo o "moonwalk" pela primeira vez. Sinta o drama no vídeo abaixo:



Os milhares de imitadores do mundo agradecem, Jacko!

Por Hugo Oliveira

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Uma ode ao tédio

"Todo Dia Parece Domingo" (Morrissey)
Arrastando-se devagar sobre a areia molhada
De volta ao banco
Onde suas roupas foram roubadas
Esta é a cidade costeira
Que esqueceram de interditar
Armagedon - venha, Armagedon!
Venha, Armagedon! venha!
Todo dia é como domingo
Todo dia é silencioso e cinza
Esconder-se no calçadão
Rabiscar em um cartão-postal
"Como eu adoraria não estar aqui"
Nesta cidade litorânea...que esqueceram de bombardear
Venha! venha! venha - bomba nuclear!
Todo dia é como domingo
Todo dia é silencioso e cinza
Arrastando-se de volta sobre seixos e areia
E uma poeira estranha pousa sobre suas mãos(E sobre seu rosto
Sobre seu rosto...Sobre seu rosto...Sobre sue rosto...)
Todo dia é como domingo
"Concorra e ganhe uma bandeja barata"
Divida um pouco de chá engordurado comigo
Todo dia é silencioso e cinza


A versão ao vivo mais bonita que eu já ouvi desta música...

Por Hugo Oliveira

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Traduzindo Angra numa canção

Segue uma letra - ainda não finalizada - sobre a cidade onde vivo, Angra dos Reis.

... Porque é impossível não manter uma relação de amor & ódio com o lugar onde vivemos.

Ao morrer (Angra dos Reis)

São seus, os meus passos
É meu, o seu chão
E nossos desejos são iguais

Em suas ruas encontro atalhos
Que sigo com o coração
Confio em seus planos para mim

O sol me parece eterno
E os jovens, sem diversão
As lojas que fecham cedo
Turistas e comoção
os velhos que sabem tudo
Festas e bares iguais
O presente é o passado e o futuro
Em Angra dos Reis

Angra dos Reis
Permita-me, por favor
Deitar-me em seu colo
Ao morrer (2 x)

O mar vem beijar meus pés
Crianças beijando mãos
Avôs e avós que beijam
os seus netos

Permita-me Aluízio Silva
Número 132
Cantar a canção de todos
E de ninguém

O sol me parece eterno
E os jovens, sem diversão
As lojas que fecham cedo
Turistas e comoção
os velhos que sabem tudo
Festas e bares iguais
O presente é o passado e o futuro
Em Angra dos Reis

Angra dos Reis
Permita-me, por favor
Deitar-me em seu colo
Ao morrer (2 x)

Ao morrer (6x)

Por Hugo Oliveira

Pedrão: esta é para você



Por Hugo Oliveira e, certamente, Ricardo Dias Pereira

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Loco 'Ídolo' Abreu


Um ídolo não é feito apenas de seu talento. É preciso, além de brilhantismo em sua área de atuação, algo mais, atitude, personalidade, uma ‘presença’ diferente. De Lennon a Allen, de Renato Russo a Chico, sempre admirei meus ídolos por atitudes e vivo relendo entrevistas destes que muitas vezes me inspiram quase tanto quanto suas obras.

Da mesma forma, no futebol não é preciso apenas talento ou ganhar títulos para o jogador ser  ídolo. E eu sou cada vez mais fã de um cara que possui todas as características para tal : Sebastian ‘Loco’ Abreu. Não é um jogador super habilidoso, mas enxerga o jogo como poucos, é inteligente dentro e fora de campo. Suas entrevistas são muito boas, pois fogem do lugar comum dos demais jogadores, sempre mostra personalidade e, por isso mesmo, desestabiliza parte amadora de nossa imprensa que adora criar problemas.

Há muitos bons jogadores no futebol carioca: Fred, Ronaldinho, Felipe, Thiago Neves, Conca, mas não trocaria nenhum deles ou mesmo todos eles pelo prazer de ver o Loco envergando a camisa do Botafogo. Pois uma das características que mais admiro neste jogador é o fato de estudar e se identificar com a história do Glorioso, inclusive citando em várias oportunidades os grandes ídolos do clube da Estrela Solitária.

Sei que ganharemos e perderemos com ele em campo, que meu coração vai quase parar toda vez que ele for bater um pênalti (essas cavadinhas...) e sei também que quando tiver um filho, ao conversarmos de futebol, vou relembrar com orgulho de um uruguaio e suas ‘loucuras’ dentro e fora de campo.

Abaixo, algumas respostas certeiras de Loco a nossa “imprensa” esportiva parcial.


Por Ricardo Pereira

Jens Lekman

Vai um Jens Lekman aí?


"Postcard to Nina" - uma das letras mais engraçadas e bonitas que eu já ouvi


"Shirin" - uma música que começa com a frase "Quando Shirin corta o meu cabelo/é como uma relação de amor" não pode ser ruim.


"You are the light" - adoro esse clipe

Por Hugo Oliveira

Adeus a Antuan

Não sei se você sabe, mas eu moro em Angra dos Reis. Trabalho com jornalismo na cidade, desde o começo de 2007. Em algumas ocasiões tive o prazer de entrevistar um dos maiores nomes relacionados à cultura, no município: Antuan Abado Henne. Mais do que um ótimo fotógrafo - e um aficionado pela, grosso modo, história fotográfica da cidade -, Antuan era um ANGRENSE com todas as letras maiúsculas. Era apaixonado pelo município que tanto deu alegrias a ele, assim como forneceu a matéria-prima  para suas belas fotos. Antuan foi o primeiro diretor da Casa de Cultura de Angra. Além disso, também foi membro fundador da Associação Fotográfica e Cultural de Angra dos Reis - Afocar - e do Ateneu Angrense de Letras e Artes. Mesmo assim, acredito que ele nem faria muita questão de ser lembrado por causa disso.

Eu, pelo menos, vou me lembrar dele por causa da emoção que imprimia em suas palavras, ao falar de Angra. Acabava emocionando quem estava do outro lado da conversa, também. Foi assim na última vez em que o entrevistei, na casa dele. Sorrisão fácil no rosto, jeito tranquilo e um amor incondicional pela cidade que acolheu ele e sua família. Foi um ótimo papo... E você pode conferir logo abaixo - a entrevista foi realizada em novembro de 2010, e publicada um mês depois, no jornal Rumo Costa Verde.

Eu me lembro que, durante a sessão de fotos realizada na casa dele, eu caminhei até a sacada e dei uma boa olhada na Rua do Comércio, no movimento das pessoas. Fiquei imaginando Antuan ali, vendo aquela cidade que ele conheceu, pequena, se modificando, crescendo.

E de repente, eu saquei que ele não era apenas um morador de Angra. Ele era Angra dos Reis.
E continuará sendo, para sempre.

Boas fotos aí em cima, companheiro.

Cliques e perfeição
Alguns gostam de Angra; outros amam. O fotógrafo Antuan Abado Henne é daqueles que se encaixam no segundo exemplo, indiscutivelmente. Apesar de a família ser oriunda do Líbano, o caçula dos cinco irmãos nasceu na cidade e, assim como seu pai, que a visitou pela primeira vez aos 16 anos, enamorou-se perdidamente por ela. A paixão foi mais do que correspondida: o município, por sua vez, ofereceu ao futuro fundador da Associação Fotográfica e Cultural de Angra dos Reis – Afocar – o cenário perfeito para suas fotos. Não importa se os retratados em suas fotografias são pessoas, cenários ou situações. Tudo – e todos – parece agradecer a ele pelo amor oferecido à cidade, e assim, como forma de gratidão, presenteiam Antuan com toda a beleza e o mistério que existe. Ele, por sua vez, volta a retribuir, com cliques... Cliques e perfeição.   

Jornal Rumo: Como é que se deu a chegada da sua família à cidade?

Antuan Abado: Meu pai já havia estado no Brasil, veio para cá com 16 anos. Passou por Rio Bonito e depois, como tinha alguns parentes em Angra, ficou na cidade, até os 30 anos. Daí, ele resolveu voltar para o Líbano. Lá chegando conheceu a minha mãe, se casou e disse a ela. “Meu país é o Brasil”. Retornou ao município em 1926, com minha mãe já grávida do primeiro filho.  

JR: Quais são as primeiras lembranças afetivas que o senhor tem de Angra?

AA: São muitas... Angra era uma cidade pequena, colonial, em que todos os garotos da época brincavam nos sobrados de todas as famílias, o que criou um laço de amizade muito grande entre todos. As “peladas de futebol na rua”... Era tanta coisa boa.

JR: A fotografia apareceu na sua vida em qual circunstância?

AA: Em 1956. Estava em Barra Mansa, e eu tinha um amigo que me apresentou uma maquininha que eu adorei, a “Zais-Ikon” – é bem provável que ele esteja se referindo a Zeiss-Ikon. Me apaixonei, e resolvi comprar a dele. Dali para frente não larguei mais: fiz o curso Câmera da Nikon e outros. Levei à frente.



JR: Existe algum projeto ligado à fotografia em andamento ou em preparação?

AA: Nós, da Afocar, temos um projeto que está levando a arte fotográfica às comunidades de Angra. Começou pela Sapinhatuba, e nós ficamos tão entusiasmados que abraçamos essa ação com muita força. Tenho também um projeto fotográfico sobre as mãos: mãos que abençoam, que rezam, que afagam, que agridem... Já estou com umas 12 fotos, e estou sendo bem rigoroso na seleção.


JR: O senhor foi o primeiro diretor da Casa de Cultura Poeta Brasil dos Reis. Fale um pouco sobre esse período.

AA: Foi na primeira metade da década de 70. Sempre prestigiei os diversos segmentos culturais de Angra, e estava sempre junto das pessoas. Quando João Luiz – ex-prefeito de Angra – desapropriou o prédio, entregando-o ao estado para que ali funcionasse a Casa de Cultura da cidade, eles tiveram que indicar uma pessoa para ser o diretor do local. Um dia estava em casa, com uma febre de quase 40 graus, e bateram na minha porta: era um grupo de jovens, perguntando se eu aceitava ser o diretor. Disse a eles. “Eu não posso negar nada a vocês!” – risos. Aí, aceitei. Eles precisavam de um espaço, e a Casa de Cultura foi esse espaço, criando essa geração que hoje é responsável pela transmissão de toda a cultura aos novos artistas da cidade.



JR: Apesar de toda a ação do tempo, as fotografias têm o poder de fazer com que determinado momento seja imortalizado. Se o senhor tivesse que eternizar um momento da sua vida, qual seria?


AA: O nascimento das minhas duas filhas, que foi extremamente emocionante. Eu assisti ao parto das duas, e o da primeira foi realizado pelo meu irmão.





Angra dos Reis agradece

Por Hugo Oliveira