Duas horas de conversa com um grande amigo, irmão de alma, sobre a vida, música, angústias, a importância e dificuldade de suportar o mundo sem algum tipo de refúgio, plano de fuga. Uma hora agradável em uma loja de discos em que o clima, o cheiro, os vendedores pareciam habitar outro mundo, outra época.
O caminho até a estação de metrô já foi tortuoso. Centenas de zumbis arrastando-se na rua, ostentando a euforia, a alegria obrigatória, a uma semana do Carnaval. Ao entrar no vagão, ouviu um coro bêbado de jovens cantando algo sobre alguém ser ‘devagar’, só falar e não ‘pegar’ ninguém. Portavam copos com fanta laranja, uma garrafa de vodka pela metade e um saco de gelo. Pareciam bem nascidos, estavam eufóricos, os olhos brilhando de ebriedade. Vestiam-se de forma parecida, agiam com a mesma espécie de idiotia e, ao olhar com mais atenção para um deles, sentiu pena, nojo, raiva, tudo ao mesmo tempo.
O grupo desceu para seu pré-carnaval e, mesmo com os lugares vagos, nosso passageiro ficou em pé a observar as pessoas. Viu o cansaço no semblante de quem voltava do trabalho: jovens adultos parecendo mais velhos em suas roupas sociais; mulheres mais velhas com o olhar perdido, talvez a procurar no vazio o rastro devastador da passagem do tempo; homens gordos de semblante entediado e terno amarrotado. No que pensavam, pra onde iam, o que sentiam?
Reparou que muitos esperavam sua estação de destino absortos no telefone celular, alheios ao que acontecia a sua volta, olhar fixo no aparelho, dedos ágeis teclando freneticamente. Um deles, rapaz aparentemente saudável, ao perceber-se observado, instintivamente desviou o olhar de seu aparelho por alguns segundos, fitou o desconhecido com olhar apatetado e voltou ao seu autismo.
Passou a observar as mulheres presentes, imaginando por quais delas se apaixonaria, suas prováveis qualidades e encantos. No entanto, sorriu ao vislumbrar não ser correspondido por não possuir a estupidez e agressividade que todas buscam, ainda que inconscientemente.
E se as pessoas pudessem enxergar e por acaso olhassem em sua direção, veriam um homem com um olhar de uma beleza cansada e ressentida, humilde e arrogante, agarrado à barra de sustentação do metrô, como se esta sustentasse não seu corpo, mas sua dignidade, sua solidão.
"Sorrindo, distante, de fora, no escuro. Minha lucidez nem me trouxe o futuro." |
Fico muito atordoado com a necessidade atual de se ter extrema euforia para se destacar com gritos, exageiros e exibições ridículas em público. O comportamento normal de nossa sociedade não se encaixa com quase nenhum cidadão quando estão em sua individualidade, mas basta um companheiro ou mais que a competição pelo acasalamento social se transforma em balbúrdia.
ResponderExcluirEduquem seus filhos com uma trindade que considero vital para uma sociedade agradável e de paz: Respeito, serenidade e Boa fé.
Isso aí Matheus! Falou tudo!
ResponderExcluirGrande abraço!
Lindo.
ResponderExcluirOi, Camila que bom que gostou! Obrigado,
ResponderExcluirBeijo