No Trabalho Sujo esses dias, o pessoal estava postando capas de disco em formato de jornal ao discutir o que seria o ‘newspaper album’ citado no site do Radiohead sobre o novo disco deles, a ser lançado sábado. Então me lembrei do obscuro e genial Cadáver pega fogo durante o velório.
Não lembro como conheci este disco, mas foi em 2007 e desde a primeira audição virei fã. O disco é uma coleção de, na falta de melhor definição, sambas mórbidos. Foi lançado em 1983 e teve problemas com a censura e acabou tornando-se uma daquelas pérolas ‘esquecidas’. As músicas são compostas por Fernando Pellon e os grandes destaques são as letras, apesar de o disco conter arranjos muito bons para as canções.
A primeira, ‘Porta Afora’, começa com o verso: “Quando soube que estava canceroso, ergui louvores ao Criador” e segue em um engraçado desabafo de um homem abandonado pela mulher, terminando em um final que gosto demais. A segunda canção, ‘Altivez’, é sobre masoquismo e a interpretação de Sinval Silva é irrepreensível e perfeita para o que está cantando. Outros destaques são ‘Com todas as letras’, em que o eu-lírico ingere uma dose letal de veneno e saí andando pela cidade, observando o mundo em seus últimos momentos; a sensacional ‘Carne no Jantar’, pequena e brilhante crônica social; ‘Cicatrizes’, belo samba em que o homem busca sua parceira por parecer com sua antiga mulher e ‘Tal como Nazareth’, canção emblemática do disco por servir quase como carta de intenções quando o autor afirma não gostar de eufemismos ou terminologia evasiva e acaba por comparar o amor à lepra!
Vale procurar este trabalho que, de certa forma, antecipa muito de Rogério Skylab e recupera outro tanto de Augusto dos Anjos ao ‘entortar’ nossa percepção da existência em canções excelentes e, infelizmente, pouco conhecidas.
Por Ricardo Pereira
Não ouví, mas pelo seu texto sei que virarei fã.
ResponderExcluirProcurá-lo-ei!
Valeu, Cadu! Fiquei feliz que gostou, do texto e do disco! rs
ResponderExcluirAbs