"There's a fear I keep so deep / Knew it name since before I could speak (...) If some night I don't come home / Please don't think I've left you alone"- Keep The Car Running, Arcade Fire

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Cadáver pega fogo durante o velório



No Trabalho Sujo esses dias, o pessoal estava postando capas de disco em formato de jornal ao discutir o que seria o ‘newspaper album’ citado no site do Radiohead sobre o novo disco deles, a ser lançado sábado. Então me lembrei do obscuro e genial Cadáver pega fogo durante o velório.

Não lembro como conheci este disco, mas foi em 2007 e desde a primeira audição virei fã. O disco é uma coleção de, na falta de melhor definição, sambas mórbidos. Foi lançado em 1983 e teve problemas com a censura e acabou tornando-se uma daquelas pérolas ‘esquecidas’. As músicas são compostas por Fernando Pellon e os grandes destaques são as letras, apesar de o disco conter arranjos muito bons para as canções.

A primeira, ‘Porta Afora’, começa com o verso: “Quando soube que estava canceroso, ergui louvores ao Criador” e segue em um engraçado desabafo de um homem abandonado pela mulher, terminando em um final que gosto demais. A segunda canção, ‘Altivez’, é sobre masoquismo e a interpretação de Sinval Silva é irrepreensível e perfeita para o que está cantando. Outros destaques são ‘Com todas as letras’, em que o eu-lírico ingere uma dose letal de veneno e saí andando pela cidade, observando o mundo em seus últimos momentos; a sensacional ‘Carne no Jantar’, pequena e brilhante crônica social; ‘Cicatrizes’, belo samba em que o homem busca sua parceira por parecer com sua antiga mulher e ‘Tal como Nazareth’, canção emblemática do disco por servir quase como carta de intenções quando o autor afirma não gostar de eufemismos ou terminologia evasiva e acaba por comparar o amor à lepra!

Vale procurar este trabalho que, de certa forma, antecipa muito de Rogério Skylab e recupera outro tanto de Augusto dos Anjos ao ‘entortar’ nossa percepção da existência em canções excelentes e, infelizmente, pouco conhecidas.

Por Ricardo Pereira

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