Eu, pelo menos, vou me lembrar dele por causa da emoção que imprimia em suas palavras, ao falar de Angra. Acabava emocionando quem estava do outro lado da conversa, também. Foi assim na última vez em que o entrevistei, na casa dele. Sorrisão fácil no rosto, jeito tranquilo e um amor incondicional pela cidade que acolheu ele e sua família. Foi um ótimo papo... E você pode conferir logo abaixo - a entrevista foi realizada em novembro de 2010, e publicada um mês depois, no jornal Rumo Costa Verde.
Eu me lembro que, durante a sessão de fotos realizada na casa dele, eu caminhei até a sacada e dei uma boa olhada na Rua do Comércio, no movimento das pessoas. Fiquei imaginando Antuan ali, vendo aquela cidade que ele conheceu, pequena, se modificando, crescendo.
E de repente, eu saquei que ele não era apenas um morador de Angra. Ele era Angra dos Reis.
E continuará sendo, para sempre.
Boas fotos aí em cima, companheiro.
Cliques e perfeição
Alguns gostam de Angra; outros amam. O fotógrafo Antuan Abado Henne é daqueles que se encaixam no segundo exemplo, indiscutivelmente. Apesar de a família ser oriunda do Líbano, o caçula dos cinco irmãos nasceu na cidade e, assim como seu pai, que a visitou pela primeira vez aos 16 anos, enamorou-se perdidamente por ela. A paixão foi mais do que correspondida: o município, por sua vez, ofereceu ao futuro fundador da Associação Fotográfica e Cultural de Angra dos Reis – Afocar – o cenário perfeito para suas fotos. Não importa se os retratados em suas fotografias são pessoas, cenários ou situações. Tudo – e todos – parece agradecer a ele pelo amor oferecido à cidade, e assim, como forma de gratidão, presenteiam Antuan com toda a beleza e o mistério que existe. Ele, por sua vez, volta a retribuir, com cliques... Cliques e perfeição.
Jornal Rumo: Como é que se deu a chegada da sua família à cidade?
Antuan Abado: Meu pai já havia estado no Brasil, veio para cá com 16 anos. Passou por Rio Bonito e depois, como tinha alguns parentes em Angra, ficou na cidade, até os 30 anos. Daí, ele resolveu voltar para o Líbano. Lá chegando conheceu a minha mãe, se casou e disse a ela. “Meu país é o Brasil”. Retornou ao município em 1926, com minha mãe já grávida do primeiro filho.
JR: Quais são as primeiras lembranças afetivas que o senhor tem de Angra?
AA: São muitas... Angra era uma cidade pequena, colonial, em que todos os garotos da época brincavam nos sobrados de todas as famílias, o que criou um laço de amizade muito grande entre todos. As “peladas de futebol na rua”... Era tanta coisa boa.
JR: A fotografia apareceu na sua vida em qual circunstância?
AA: Em 1956. Estava em Barra Mansa , e eu tinha um amigo que me apresentou uma maquininha que eu adorei, a “Zais-Ikon” – é bem provável que ele esteja se referindo a Zeiss-Ikon. Me apaixonei, e resolvi comprar a dele. Dali para frente não larguei mais: fiz o curso Câmera da Nikon e outros. Levei à frente.
JR: Existe algum projeto ligado à fotografia em andamento ou em preparação?
AA: Nós, da Afocar, temos um projeto que está levando a arte fotográfica às comunidades de Angra. Começou pela Sapinhatuba, e nós ficamos tão entusiasmados que abraçamos essa ação com muita força. Tenho também um projeto fotográfico sobre as mãos: mãos que abençoam, que rezam, que afagam, que agridem... Já estou com umas 12 fotos, e estou sendo bem rigoroso na seleção.
JR: O senhor foi o primeiro diretor da Casa de Cultura Poeta Brasil dos Reis. Fale um pouco sobre esse período.
AA: Foi na primeira metade da década de 70. Sempre prestigiei os diversos segmentos culturais de Angra, e estava sempre junto das pessoas. Quando João Luiz – ex-prefeito de Angra – desapropriou o prédio, entregando-o ao estado para que ali funcionasse a Casa de Cultura da cidade, eles tiveram que indicar uma pessoa para ser o diretor do local. Um dia estava em casa, com uma febre de quase 40 graus, e bateram na minha porta: era um grupo de jovens, perguntando se eu aceitava ser o diretor. Disse a eles. “Eu não posso negar nada a vocês!” – risos. Aí, aceitei. Eles precisavam de um espaço, e a Casa de Cultura foi esse espaço, criando essa geração que hoje é responsável pela transmissão de toda a cultura aos novos artistas da cidade.
JR: Apesar de toda a ação do tempo, as fotografias têm o poder de fazer com que determinado momento seja imortalizado. Se o senhor tivesse que eternizar um momento da sua vida, qual seria?
AA: O nascimento das minhas duas filhas, que foi extremamente emocionante. Eu assisti ao parto das duas, e o da primeira foi realizado pelo meu irmão.
Angra dos Reis agradece |
Por Hugo Oliveira
Excelente, Angra agradece mesmo... Pessoa de uma sensibilidade incrível, imortalizada na arte que ficou!
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