Revi na última semana, junto com minha esposa, o filme Alta Fidelidade, baseado no livro de
mesmo nome do escritor inglês Nick Hornby. O longa foi lançado no Brasil em
2000, dois anos depois de a editora Rocco traduzir o best seller para o português. Uma década e meia entre a sessão
inicial, numa sala do Cine Angra Shopping quase vazia, e a mais recente, no televisor
da minha casa, fizeram com que eu assistisse ao filme com outros olhos, outras
lágrimas.
A história é simples: Rob Gordon – John Cusack –, um quase
quarentão fanático por música pop, entra em parafuso por conta de ter sido,
mais uma vez, abandonado por uma namorada – Laura, interpretada por Iben Hjejle.
Para tentar chegar ao âmago do problema, resolve questionar suas ex quanto aos
rompimentos... Mas não gratuitamente. Louco por listas, ele vai procurar pelas
“cinco separações memoráveis”, surpreendendo-se com o resultado da busca.
No filme, Rob divide seu tempo entre a resolução das
questões de ordem afetiva e o trabalho na Championship Vinyl, loja de discos
que mantém com a ajuda de dois funcionários tão exóticos quanto ele, Dick –
Todd Louiso – e Barry – numa interpretação hilária de Jack Black. As partes do
longa rodadas na Championship são engraçadíssimas e repletas de referências
musicais. Smiths, Bob Dylan,
Belle & Sebastian, Green Day… Eu me remexia na cadeira do cinema,
emocionado pelas menções honrosas. Além
do mais, aquele cara tinha algo de mim.
Aos 22 anos, tudo o que eu sonhava em relação à vida estava
diretamente ligado à música. A faculdade que eu começaria a cursar no início do
outro ano era a de jornalismo, por conta da possibilidade de trabalhar com
crítica musical. Continuava compondo e também ensaiando com bandas de garagem, com
a cabeça no sonho e os pés bem longe do chão. Ah, e eu comprava CD’s
desesperadamente, apesar de não ter muita grana. Aonde isso ia dar?
Quinze anos depois isso deu num cara que, de alguma forma,
foi fiel à caminhada que se propôs. Escrevo sobre muitos assuntos neste blog,
principalmente música, embora o que me sustente seja meu trabalho como assessor
de imprensa; continuo compondo, e os ensaios são realizados junto com a minha
esposa, Letícia, que é a outra parte do “duo de garagem” Feito Café; não compro
mais CD’s desesperadamente: adquiro-os com alguma responsabilidade. Mas a
paixão pelo assunto é a mesma, assim como o prazer em conversar sobre o tema.
Assistir ao filme pela segunda vez, num espaço significativo
entre as exibições – 15 anos –, foi fundamental. Ao mesmo tempo em que me vi na
pele de Rob em algumas situações, em outras, entendi que amadureci muito. E é
reconfortante enxergar esse avanço. Para que isso acontecesse, não agi sozinho.
Familiares, amigos, amores, colegas de trabalho, todos eles, de alguma forma,
ajudaram no meu crescimento pessoal. E o mestrado de companheirismo e amor que
venho cursando desde 2012, com a Letícia, tem papel importantíssimo nisso tudo.
Deixar a fantasia de lado e partir para a realidade de um
casamento, de uma vida a dois, compartilhando felicidades e tristezas, não é
tarefa fácil. É tão complicado quanto eleger o melhor dedilhado do Johnny Marr
ou o melhor disco de rock psicodélico lançado em 1967; mais complexo do que
escolher entre Pistols e Clash, Blur e Oasis. E minha esposa vem, na medida do
possível, comandando esse show selvagem com o brilhantismo de um Freddie
Mercury... Porque ela sabe que o espetáculo tem que continuar. E eu também.
Não sei se consegui me fazer entender ao longo destas
linhas. Estaria eu propondo um texto sobre o filme ou a respeito de mim? Uma
homenagem a Letícia ou uma revisão de pontos importantes da minha vida? Acho
que tudo isso junto. O que não dá para negar é que as lágrimas escorreram
timidamente pelos meus olhos quando, ao final do longa, Rob e Laura começam a
dançar numa festa, felizes, ao som da banda de Barry.
Você não notou, Letícia. Mas eu estava dizendo que te amava
naquele exato momento.
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Rob e Laura ao som da banda Sonic Death Monkey |
Por Hugo Oliveira