"There's a fear I keep so deep / Knew it name since before I could speak (...) If some night I don't come home / Please don't think I've left you alone"- Keep The Car Running, Arcade Fire

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Escolha o próximo documentário do Sessões Talk About The Passion!

Caro leitor: neste mês, por conta das festividades do fim de ano, os responsáveis por este blog não vão realizar o Sessões Talk About The Passion, evento dedicado à exibição de documentários e filmes voltados à cultura pop - em Angra dos Reis.

Em janeiro de 2016, voltaremos com força total e mais uma novidade: você é que vai escolher o documentário a ser exibido!

Vamos oferecer quatro opções de filmes. Para dar o seu voto a respeito daquele que, na sua opinião, tem que ser o escolhido, é só escrever um comentário sobre o seu documentário predileto entre as opções sugeridas nesta postagem e torcer para que mais pessoas pensem como você.

E ainda vão rolar umas surpresas no dia da exibição do filme escolhido. Prepare-se!

Vamos às opções:


Tropicália, de Marcelo Machado (2012)




When You're Strange, de Tom DiCillo (2009)





Rock de Brasília - Era de ouro, de Vladimir Carvalho (2011)





Titãs - A vida até parece uma festa, de Oscar Rodrigues Alves e Branco Mello (2009)




Por Hugo Oliveira

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Nem sempre se pode ser Deus - John Lennon, por Philip Norman

A algumas histórias sou capaz de retornar com frequência. É sempre um renovado prazer assistir a Godfather, Manhattan ou Sopranos; fundamental reler Grande Sertão: Veredas, os Borges, Saramagos ou os primeiros contos do Rubem Fonseca. E nesse grupo, incluo as histórias de dois pilares fundamentais da minha formação: os Beatles e Bob Dylan.

Por isso, ainda que já tenha lido dezenas de biografias, artigos, reportagens e ensaios sobre os Beatles, lancei-me com sofreguidão à leitura de John Lennon, extensa biografia escrita por Philip Norman, como se nada soubesse da trajetória do biografado.

Com relação à infância, sua criação e os anos Beatles são poucas as novas informações, mas é ótimo “reviver” os bastidores de gravações e processo criativo dos álbuns e canções que mudaram o jeito de se pensar a música popular em todo o mundo. Como a história da banda é contada aqui tendo Lennon como foco, temos acesso ao incômodo com as privações que o sucesso exagerado trouxe; o quanto toda a blindagem e o meticuloso aparato de marketing que envolvia os Beatles foram minando a satisfação de John em fazer música e até na vida pessoal e também a dificuldade em lidar com algo que se transformou não apenas em uma banda, mas numa entidade muito maior e mais significativa do que qualquer ser humano teria condições de carregar e manter “funcionando”.

E o que mais me atraiu no livro foi justamente a humanidade com que John Lennon é retratado, sem o endeusamento ao qual o compositor foi submetido após sua morte prematura. Foi conveniente para o mundo que Lennon passasse a ser retratado como um modelo de espiritualidade e perfeição, um Jesus contemporâneo a caminhar – barbudo e cabeludo – entoando a Verdade em versos de canções como “Give peace a chance” ou “Imagine”, um sujeito abnegado e superior que largou toda a riqueza de ser um beatle por amor a uma mulher fora do padrão de beleza vigente. Um santo, enfim.



Mas sabemos que não é nada disso. E o livro mostra todas as contradições do homem John Lennon, seu fascínio pelo mórbido, bizarro e escatológico; sua atração/repulsão por pessoas deficientes, que o fazia imitar seus trejeitos inclusive no palco durante o auge da beatlemania; sua inveja e vontade de se sentir superior a seus parceiros/concorrentes musicais; uma ganância talvez excessiva em uma época em que já possuía muito materialmente e, sobretudo, uma carência, insegurança e vulnerabilidade desmedida presentes durante toda a vida.

E aí está o grande mérito de Philip Norman, mostrar que o sujeito foi um artista genial sim, mas também um homem repleto de falhas e defeitos, assim como eu e você. Alguns desses defeitos inclusive podem ter sido responsáveis pela grande empatia causada por suas canções, que deram voz a inseguranças, raivas, melancolias e inadequações parecidas com as suas ao redor do mundo, como especula seu filho Sean, em determinado momento.

O livro peca em não se aprofundar em sua discografia solo. Gostaria de mais detalhes de composição e estúdio de seus álbuns da década de 1970, assim como há com os dos Beatles. Entretanto, é um pequeno defeito frente à necessária desmistificação e ao retrato por vezes naturalista propostos pelo livro, sem, no entanto, deixar de lado a mágica criativa de uma das personalidades fundamentais do século passado. Um cara que soube colocar coração em cada nota, acorde e palavra escrita e cantada. O que não pode ser feito em vão, em um mundo como o nosso, sem ser transformado em um alvo ambulante. Nesse caso, literalmente.

... por isso estou gritando!
Por Ricardo Pereira

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Decemberists: dois álbuns e a mesma beleza

A partir de 2013, quando tive a “brilhante” ideia de abrir um bar em Angra dos Reis, meu já escasso tempo voltado à audição de discos e às sessões de cinema rareou de vez. Tantas coisas aconteceram nesse período que, curiosamente, o único hábito que consegui manter foi o da leitura. Mas não foi sem tristeza que aceitei a falta de condição em acompanhar o que vinha ocorrendo no cenário cultural. Principalmente na música.

Os poucos discos que ouvi entre 2013 e 2015, e que conseguiram prender minha atenção, foram trabalhos de assimilação imediata. Obras musicais de alto teor pop, ao menos, na minha concepção do que é pop. Neste sentido, os dois álbuns lançados pela banda americana Decemberists, The King Is Dead (2012) e What a Terrible World, What a Beautiful World (2015), renderam muitas horas de alegria e encantamento. E são, certamente, os “prediletos do triênio”.

Banda formada em Portland, nos Estados Unidos, o Decemberists apresenta uma sonoridade influenciada por Folk, Indie Rock e Pop. Liderados pelo vocalista, instrumentista e principal compositor, Colin Meloy, eles têm sete discos de estúdio no currículo, numa caminhada musical repleta de acertos e aprendizados. Ao que parece, os últimos trabalhos espelham toda a experiência adquirida durante a carreira, sobrando pouco espaço para arestas e exageros. Música simples, tocada com emoção e carregada de alguma pretensão artística. Parece Punk, mas não é.

Não conheço os primeiros trabalhos da banda, Castaways and Cutouts (2002) e Her Majesty The Decemberists (2003), e nem os EP’s e singles lançados pelo conjunto. O primeiro contato com o grupo se deu através do disco Picaresque (2005), que continha canções que me conquistaram já na primeira audição, caso de “Eli, The Barrow Boy”, “The Engine Driver” e a perfeita “We Both Go Down Together”. Seguiu-se um trabalho igualmente inspirado, The Crane Wife (2006), e uma quase “ópera Folk Indie”, The Hazards of Love (2009), que mostrava uma banda pretensiosa, mas menos pop do que nos trabalhos anteriores.

Em 2011, o quinteto juntou tudo o que tinha de melhor, chamou convidados do quilate de Peter Buck – R.E.M –, Dave Rawlings e Gillian Welch – os dois últimos, músicos com ótimos trabalhos voltados à sonoridade americana – e colocou todas as qualidades musicais e literárias de suas canções e letras a serviço de um álbum irrepreensível, The King is Dead (2011). O disco flagrou a banda em seu melhor momento, inspiradíssima, apresentando Folk e Country processados via R.E.M, Smiths e Waterboys. Chapéu de cowboy colocado na cabeça da geração do smartphone; bandolim, harmônica e violino compartilhados pela internet.



Nenhuma faixa sequer em The King is Dead pode ser considerada menos que boa. Do começo movido pela gaita de Colin em “Don’t Carry It All” e pela beleza acelerada de “Calamity Song”, passando pela linda “Rox in the Box” e pelo poderoso single “Down by the Water”, uma das canções mais emblemáticas da banda, nota-se que o conjunto queria, mais do que fazer um ótimo disco, transforma-se num oásis de boas canções àqueles que ainda acreditam que é possível soar pop, interessante e, sem qualquer traço de ironia, inteligente.

O disco foi o primeiro da banda a entrar na primeiríssima colocação da Billboard americana, relacionada aos 200 melhores álbuns no início de fevereiro de 2011. Revistas como a Uncut e a Rolling Stone colocaram o trabalho do conjunto entre os melhores do ano. As premiações e resenhas elogiosas iam crescendo na mesma medida que as expectativas ligadas ao próximo trabalho do grupo. O que viria depois daquele álbum tão redondo, tão perfeito?

Quatro anos depois, a resposta veio através de What a Terrible World, What a Beautiful World (2015), um disco tão bom ou até melhor do que o anterior. Gravado com o mesmo produtor do trabalho anterior, Tucker Martine, o álbum consegue soar um pouco mais refinado e diversificado do que The King is Dead, sem perder nada no quesito empolgação. A letra autoexplicativa de "The Singer Addresses His Audience", a dobradinha pop perfeito de “Calvary Captain” – minha música preferida – e “Philomena”, o single setentista “Make You Better” e a lindíssima balada “Lake Song” fazem parte apenas da primeira parte do disco. E não se engane: ele mantém a qualidade ao longo das 14 faixas.

E a banda segue incansável. Ainda colhendo os frutos do último álbum, resolveu lançar um EP intitulado Florasongs, com cinco músicas. Torço para que o conjunto se apresente no Brasil e, de preferência, realize ao menos um show no Rio de Janeiro. Enquanto isso não acontece, sigo ouvindo dois álbuns maravilhosos, repletos de canções memoráveis. Se eu fosse você, faria o mesmo.





Por Hugo Oliveira



segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Minha vida são dois livros abertos

O ano que está prestes a acabar foi muito proveitoso em se tratando do tempo que tive para ler. Não vi muitos filmes e também não escutei uma quantidade considerável de discos, novos ou velhos. Em compensação, devorei uns 20 livros, de diversos gêneros. E a lista ainda pode aumentar.

Nesta postagem do Talk About The Passion falarei sobre dois volumes. A morte do pai, do escritor norueguês Karl Ove Knausgard, e Ainda estou aqui, do brasileiro Marcelo Rubens Paiva.

O primeiro livro, parte inicial de uma trilogia intitulada Minha luta, narra de forma autobiográfica a infância, a adolescência e a vida recente do próprio autor, interligando as diferentes fases através da morte do pai de Karl; o segundo traz à tona a história de Eunice, mãe de Marcelo e esposa do deputado Rubens Paiva, este último, desaparecido após ter sido preso por agentes da ditadura. As lutas de Eunice, por respostas relacionadas ao paradeiro do marido e contra o Alzheimer, são os pontos principais do volume, escrito através das memórias do autor de Feliz ano velho.


Em ambos, chama atenção o talento dos escritores quanto à transformação das lembranças pessoais em documentos literários de primeira grandeza. As particularidades de cada vida são colocadas a serviço da reflexão e do deleite de milhares de leitores. Impossível não se identificar, em algum momento, com as histórias oferecidas por Karl e Marcelo. E o motivo é simples: eles estão falando de você.

Li os livros durante um período pessoal muito conturbado. Em setembro de 2014, minha mãe adoeceu por conta de uma moléstia que, até agora, ainda não foi descoberta. Eu poderia falar sobre milhões de sentimentos e sensações que passaram e continuam passando pela minha cabeça; a respeito do medo e da esperança que rondam sem parar, revezando-se numa velocidade alucinante. Ainda assim, em vez de exercitar a mente sobre como vai ser o futuro, só consigo olhar para trás. E acho que é lá onde dormem os monstros.

O passado é um camaleão. Ao mesmo tempo em que funciona como o combustível de Karl e Marcelo nos dois livros citados, transforma-se em freio, em curvas sinuosas e inesquecíveis, em números de uma quilometragem que não para de aumentar. Trinta e sete anos e contando – eu; sessenta e duas primaveras seguindo em frente – minha mãe. Quantos anos você tem, leitor?


Ainda que não estivesse passando por situações tão delicadas, tenho certeza que os volumes não perderiam nada em matéria de impacto emocional. Nossas trajetórias, embora aparentemente ordinárias, escondem tramas e lances riquíssimos. Talvez, busquemos a ficção para emergir do fundo do oceano de dores e felicidades tão fantásticas que guardamos no fundo do peito nunca pacífico. Como que para buscar um pouco de ar e mergulhar novamente.

No silêncio de cada um de nós.


Por Hugo Oliveira

domingo, 15 de novembro de 2015

Um trem descarrilhado

Por que diabos guardamos cartas antigas? Os mais novos não saberão a que me refiro, trocam e-mails, mensagens, snaps, o que seja que não perdura. Eles não correrão o risco de encontrar por acaso, numa gaveta empoeirada, papéis levemente envelhecidos com a tinta da caneta escrita por mãos apaixonadas, magoadas, saudosas ou arrependidas.

Num domingo chuvoso e melancólico em que, a despeito de uma enorme carga de trabalho, sair da cama parece um sacrifício, ao finalmente tomar a decisão, procurar um texto repleto de anotações que me seriam preciosas para uma aula da semana, encontro um amontoado de cartas. Saco duas aleatoriamente, datadas com diferença de um ano e alguns meses e ponho-me a ler, já sabendo as possíveis consequências. Não é possível mexer com o passado e sair ileso. Não em um dia como hoje.

O disco da Iris DeMent consegue tornar tudo ainda mais patético – um brinde à música country por sentimentalizar qualquer momento, até o que não precisa de auxílio algum. As duas cartas flagram momentos absolutamente distintos. Na primeira, o encantamento por uma relação que só cresce e se fortifica com o tempo e as dificuldades, a narrativa de belos momentos vividos, a esperança-quase certeza de que com o tempo seria possível chegar a um patamar ainda maior e mais bonito e amor declarado com letras maiúsculas. A segunda carta é o oposto, há amor não declarado abertamente, há muita saudade e há, acima de tudo, a perplexidade em tentar entender como tudo aquilo chegou ao fim, como conseguir levar a vida sem a presença do outro (eu, mas hoje não mais o que sou, outro eu muito menos eu do que gostaria de ser sem saber se serei um dia capaz de ser mais eu sendo um pouco do eu que fui outrora). Há lágrima, vazio, ar parado, espaço ainda não preenchido.

A juventude é uma doença, li em algum lugar. As cartas datam de mais de dez anos, hoje sei o que poderia ser feito, o que deveria ter feito, o que ao menos precisaria ser tentado, mas o orgulho, a impaciência, a precipitação e a arrogância, sintomas dessa patologia juvenil não deixaram, não deixariam e nem deveriam. “Tudo tem um porquê, mas pra mim tardou demais, demorou demais” – canta a voz do disco que entra em sequência.

Guardamos as cartas, é óbvio, para acessar a saudade e também para lembrar que já fomos capazes de viver tanta beleza. “Ao avistar você, amor, eu soube que iria me perder” – será que meus discos, suas canções realmente conversam comigo, sabem o que se passa por aqui? Seria bonito pensar assim, mas não. Daqui a pouco serei lembrado que “o peso da decisão, da escolha definitiva cai sobre mim”, no entanto o tempo passou, gosto de pensar que venci o “desafio ao meu poder de cicatrização”, ainda que esse texto pareça dizer o contrário.

Seguindo com o álbum – Trovões a me atingir, Jair Naves –, sigo em busca de seguir em frente com o que tenho no presente, em busca “do bem maior”, com a certeza de que “a luta se faz valer por quem me amou e por quem eu amei”.

“Então fecha os meus olhos,
que o amor encubra o som do mundo a ruir."
Por Ricardo Pereira

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Nirvana – 5 canções (parte 2)

Pego carona na última postagem do Ricardo aqui no Talk About The Passion e exibo também a minha lista das cinco canções prediletas do Nirvana. A discografia do conjunto é pequena, mas algumas músicas valem pelas obras completas de muitas bandecas por aí, do passado e do presente. E não tem que parar por aqui: sinta-se livre para colocar a sua lista pessoal nos comentários do blog!

1. Sliver

Single lançado entre os discos Bleach (1989) e Nevermind (1991), e incluído posteriormente no álbum de raridades Incesticide (1992), Sliver é uma canção que antecipou a fórmula calmaria/barulho utilizada magistralmente em grande parte das faixas do segundo álbum do trio. Pratinho marcando, baixo dialogando com a voz e esporro sonoro pop no refrão: um caminho a seguir.  Apesar de ser uma música cuja letra versa sobre abandono, dá a impressão de que os caras estavam se divertindo muito na gravação.



2. Heart-Shaped Box

Tem algo de muito sombrio nessa música, e o clipe oficial só reforça essa impressão. A estrutura “montanha-russa” da canção, começando de forma lenta e despencando no ápice, ainda está lá, mas já se nota certa sutileza. Como acontece com toda banda que encerra suas atividades no auge, fica uma curiosidade gigante para saber o que aconteceria no próximo álbum. Infelizmente, não conseguimos descobrir isso... E nem qual era o “conselho sem preço” da letra. Faixa forte, crua, áspera. E brilhante.



3. Drain You

“One baby to another says – I’m luck to have met you”. Duas frases da letra e uma explosão simultânea de guitarra, baixo e bateria que ganha o ouvinte de cara, aos sete segundos da música. Concordo com o Ricardo: é, ou era para ser, um dos mais memoráveis hits da banda. Todos os ingredientes que tornaram o trio famoso mundialmente estão lá.  Segundo o jornalista e escritor Charles R. Cross, autor da biografia Mais pesando que o céu – traduzida no Brasil pela Editora Globo –, a letra é dedicada a Tobi Vail, ex-namorada de Kurt Cobain. Mas não sei se a garota tem muito do que se gabar, não.



4. Where Did You Sleep Last Night

Não é uma música de autoria do conjunto, mas a interpretação é tão Nirvana que parece ter sido desde sempre composta por Kurt e Cia. Escolhida especialmente para integrar o disco Unplugged In New York – gravado em 1993 e lançado em 1994 –, a canção, do músico de blues e folk Huddie William Ledbetter, é uma súplica torturada. Kurt canta, grita, desafina, faz o que dá na telha, sempre a serviço da dor genuína de não saber onde sua namorada dormiu na noite passada.



5. Smells Like Teen Spirits

Difícil escrever a respeito de uma música tão emblemática para a minha geração e para o rock. Os acordes iniciais são tocados e você, de alguma forma, sabe que se trata de um clássico. Quem não entende como uma canção tão simples e aparentemente ininteligível pode ter feito tanto estrago no planeta não saca absolutamente nada de música, nunca sacou. E nunca sacará. Perfeição do começo ao fim; tensão e tesão indissociáveis. Uma mensagem clara em forma de punk rock, para garotos de todo o mundo. Inclusive, do Morro do Carmo e da Praia do Jardim.




 Por Hugo Oliveira

Nirvana - 5 canções



Aproveitando o texto anterior do Hugo sobre, entre outras coisas, Rob Gordon, um sujeito apaixonado por listas e já servindo como preparação para a exibição do documentário Cobain: Montage of Heck, que vai acontecer amanhã no Centro Cultural Teophilo Massad (Angra dos Reis), listo minhas cinco canções preferidas do Nirvana. Não se trata das cinco melhores ou mais importantes da banda, mas das que mais mexem comigo de alguma forma. Vamos então a elas.

1. Pennyroyal Tea

In Utero (1993) ficou célebre por ser um disco sujo e pesado demais. Tal visão procedente provavelmente de quem esperava um novo Nevermind. Na realidade, é um mergulho profundo num lirismo e sutileza que só se esboçava nos álbuns anteriores do Nirvana. Essa característica está bem representada nessa belíssima canção que estava saindo como single quando do suicídio de Cobain. Os singles foram recolhidos, pois a tristeza da letra tratando de modo tortuoso da ineficácia da tomada de decisões e da culpa por suas escolhas somada à saída de cena de seu autor poderia ter consequências ainda mais trágicas. A versão do Unplugged MTV em que o vocalista pede para interpretar essa sozinho é emocionante e dolorida em sua crueza.


2. Lounge Act

Nevermind, você sabe, é um amontoado de hits: Lithium, Come as you are, Polly, In Bloom, Smells like Teen Spirit… No entanto, minha canção preferida é essa pérola escondida lá pro final do disco, como querendo esconder sua beleza do ouvinte já chapado pelo poder da sequência do lado A do disco, como a menina “normalzinha” em meio às líderes de torcida desejadas pela maioria dos garotos. Não se engane, é com ela que você vai querer casar. É um rock direto que Kurt Cobain desmonta rasgando a garganta ao berrar a segunda parte da letra em um efeito destruidor e que não perde o impacto com o tempo.



3. Frances Farmer Will Have Her Revenge on Seattle

Minha música favorita do meu disco preferido do Nirvana, Frances Farmer Will Have Her Revenge on Seattle homenageia a turbulenta carreira da atriz Frances Farmer, que não se enquadrava e, na verdade, não fazia nenhuma questão de se enquadrar nos padrões hollywoodianos ao mesmo tempo em que sua imagem era usada e rendia bastante para o mercado cinematográfico. Lembrou da trajetória de alguém? Então preste atenção à intensidade com que o refrão-desabafo (“I miss the confort in being sad”) é cantado e tire qualquer dúvida.


4. Drain You

Complexo indie?, perguntará o leitor ao perceber a escolha das canções preferidas do Nirvana por Ricardo. Nada, meu caro. “Drain You” é um dos mais memoráveis hits da banda, uma declaração de amor intensa e exagerada - “Não me importo com o que pensa, desde que seja sobre mim” – recheada de referências tipicamente cobanianas como maçãs envenenadas, carne mastigada num beijo e o desejo de drenar a amada completamente viajando num tubo até chegar à sua infecção.


5. On a Plain 

Para fechar a lista, mais uma subestimada do Nervermind. Outro rock básico em que Kurt Cobain parece debochar dos ouvintes que procuram exaustivamente significados nas letras de música assim como John Lennon havia feito vinte anos antes da existência no Nirvana em “Glass Onion”: “It is now time to make it unclear /To write off lines that don't make sense (...) And one more special message to go / And then I'm done, and I can go home /I love myself better than you / I know it's wrong so what should I do?”. Interessante jogo metalinguístico que parece jogar na cara do ouvinte que o Nirvana estava ali para ser sentido/curtido e não necessariamente entendido.



Por Ricardo Pereira

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Outros olhos, outras lágrimas (para Letícia)

Revi na última semana, junto com minha esposa, o filme Alta Fidelidade, baseado no livro de mesmo nome do escritor inglês Nick Hornby. O longa foi lançado no Brasil em 2000, dois anos depois de a editora Rocco traduzir o best seller para o português. Uma década e meia entre a sessão inicial, numa sala do Cine Angra Shopping quase vazia, e a mais recente, no televisor da minha casa, fizeram com que eu assistisse ao filme com outros olhos, outras lágrimas.

A história é simples: Rob Gordon – John Cusack –, um quase quarentão fanático por música pop, entra em parafuso por conta de ter sido, mais uma vez, abandonado por uma namorada – Laura, interpretada por Iben Hjejle. Para tentar chegar ao âmago do problema, resolve questionar suas ex quanto aos rompimentos... Mas não gratuitamente. Louco por listas, ele vai procurar pelas “cinco separações memoráveis”, surpreendendo-se com o resultado da busca.

No filme, Rob divide seu tempo entre a resolução das questões de ordem afetiva e o trabalho na Championship Vinyl, loja de discos que mantém com a ajuda de dois funcionários tão exóticos quanto ele, Dick – Todd Louiso – e Barry – numa interpretação hilária de Jack Black. As partes do longa rodadas na Championship são engraçadíssimas e repletas de referências musicais. Smiths, Bob Dylan, Belle & Sebastian, Green Day… Eu me remexia na cadeira do cinema, emocionado pelas menções honrosas.  Além do mais, aquele cara tinha algo de mim.

Aos 22 anos, tudo o que eu sonhava em relação à vida estava diretamente ligado à música. A faculdade que eu começaria a cursar no início do outro ano era a de jornalismo, por conta da possibilidade de trabalhar com crítica musical. Continuava compondo e também ensaiando com bandas de garagem, com a cabeça no sonho e os pés bem longe do chão. Ah, e eu comprava CD’s desesperadamente, apesar de não ter muita grana. Aonde isso ia dar?

Quinze anos depois isso deu num cara que, de alguma forma, foi fiel à caminhada que se propôs. Escrevo sobre muitos assuntos neste blog, principalmente música, embora o que me sustente seja meu trabalho como assessor de imprensa; continuo compondo, e os ensaios são realizados junto com a minha esposa, Letícia, que é a outra parte do “duo de garagem” Feito Café; não compro mais CD’s desesperadamente: adquiro-os com alguma responsabilidade. Mas a paixão pelo assunto é a mesma, assim como o prazer em conversar sobre o tema.

Assistir ao filme pela segunda vez, num espaço significativo entre as exibições – 15 anos –, foi fundamental. Ao mesmo tempo em que me vi na pele de Rob em algumas situações, em outras, entendi que amadureci muito. E é reconfortante enxergar esse avanço. Para que isso acontecesse, não agi sozinho. Familiares, amigos, amores, colegas de trabalho, todos eles, de alguma forma, ajudaram no meu crescimento pessoal. E o mestrado de companheirismo e amor que venho cursando desde 2012, com a Letícia, tem papel importantíssimo nisso tudo.

Deixar a fantasia de lado e partir para a realidade de um casamento, de uma vida a dois, compartilhando felicidades e tristezas, não é tarefa fácil. É tão complicado quanto eleger o melhor dedilhado do Johnny Marr ou o melhor disco de rock psicodélico lançado em 1967; mais complexo do que escolher entre Pistols e Clash, Blur e Oasis. E minha esposa vem, na medida do possível, comandando esse show selvagem com o brilhantismo de um Freddie Mercury... Porque ela sabe que o espetáculo tem que continuar. E eu também.

Não sei se consegui me fazer entender ao longo destas linhas. Estaria eu propondo um texto sobre o filme ou a respeito de mim? Uma homenagem a Letícia ou uma revisão de pontos importantes da minha vida? Acho que tudo isso junto. O que não dá para negar é que as lágrimas escorreram timidamente pelos meus olhos quando, ao final do longa, Rob e Laura começam a dançar numa festa, felizes, ao som da banda de Barry.

Você não notou, Letícia. Mas eu estava dizendo que te amava naquele exato momento.


 
Rob e Laura ao som da banda Sonic Death Monkey





 Por Hugo Oliveira


terça-feira, 10 de novembro de 2015

Espetáculo bilateral - Pearl Jam na Argentina, 2015

Era preciso superar uma incômoda dívida existente quanto ao Pearl Jam. Embora soubesse tratar-se de um dos grandes shows de rock n’ roll da atualidade, ainda não os havia assistido ao vivo, tendo perdido inclusive, por questões pessoais, uma oportunidade com ingresso comprado. Para resgatar o débito, nada melhor do que um concerto na Argentina, célebre por possuir um público diferenciado, vibrante e participativo.

É, realmente, impressionante. Viajei com um amigo grande fã da banda, o qual me apresentou a outros admiradores que fazem valer a alcunha de fanáticos. Em alguns momentos parecia estar entre adoradores do Grateful Dead a discutir repertórios de cada show a que estiveram presentes, que músicas de toda a discografia faltavam assistir ao vivo, discutindo o fato de que o próximo concerto coincidiria com o aniversário da esposa do Eddie Vedder (!) e o que isso poderia trazer de surpresa no repertório, uma relação de proximidade curiosa.

No que diz respeito ao público argentino especificamente, é algo espantoso. Fiquei a princípio desapontado com o fato de ser proibida a venda de bebida alcoólica no local do show. Ao comentar isso com um amigo argentino, esse declarou que a proibição era correta, pois do contrário seria “um massacre”. A força de tal declaração apontava para o que estava para presenciar. Primeiramente, eles vivem o rock n’ roll culturalmente muito mais do que estamos acostumados no Brasil. Demonstraram atenção e incentivo à enérgica apresentação da banda de abertura, Capsula, como raramente vejo acontecer por aqui. E a energia e participação durante a atração principal é algo extraordinário, que se assemelha a uma torcida de futebol em dia de jogo decisivo. Tal paralelo pareceu materializado quando, após tocar “Dissident”, a banda parece sem reação, entre deslumbrada e apalermada ao presenciar a torcida, digo, público entoar um canto futebolístico adaptado ao Pearl Jam. Veja os dois primeiros minutos do vídeo abaixo, emocionante é pouco.


Tal comportamento da audiência obviamente reflete na performance da banda, que fez um show de mais de três horas de duração, numa simbiose perfeita de experiência de banda clássica com empolgação de iniciantes. Pedro Henrique, amigo que já assistiu a dezenas de apresentações do Pearl Jam, disse nunca ter visto um desempenho tão incendiário do guitarrista Mike McCready, possivelmente incentivado pela massa que cantava, não só as letras, mas também as linhas de guitarra de cada uma das canções. Era possível perceber a mistura de satisfação e incredulidade na troca de olhares entre os integrantes da banda em diversos desses momentos.

Uma das grandes virtudes de um show do Pearl Jam é a imprevisibilidade. Assim como acontece com um concerto do Wilco, por exemplo, você pode esperar qualquer canção já gravada pela banda incluída no repertório do show, o que gera um clima expectante entre cada intervalo de música. Foi minha estreia em uma apresentação deles e, para mim, não poderia ser melhor, já que executaram grande parte de meu álbum preferido, Vs (1993) - seis canções (sete, se consideramos a inserção de “W.M.A” em “Daughter”), parte do ótimo último álbum lançado, Lightning Bolt (2013), além dos números clássicos e covers sempre presentes.

Os destaques para mim foram algumas surpresas como “Red Mosquito”, presente no set a pedido do público; a já citada “Dissident”, em ótima execução; “Swallowed Whole”, canção do último disco e que parece emular/homenager o R.E.M. - ao vivo começou mais devagar e foi crescendo lindamente; a inesperada e belíssima “Footsteps”, acompanhada por um raro momento de silêncio dos presentes como se a reconhecer a raridade e delicadeza da ocasião; e uma “Immortality” executada com intensidade incomum.

Ao contrário do que me pareceu a princípio, assistir ao show sóbrio trouxe-me algumas vantagens. Se não estive tão envolvido emocionalmente como normalmente estaria, pude apreciar detalhes com uma calma e atenção que a ebriedade não permitiria. E isso fez com que eu percebesse uma sinceridade na banda e em Eddie Vedder de que algumas vezes duvidei. A escolha de “Imagine” para homenagear os 75 anos de nascimento de John Lennon e a importância de suas canções poderia soar populista ou panfletária, mas soa verdadeiramente tocante; assim como não dá para duvidar da humildade contida na declaração do vocalista agradecido pelas manifestações da plateia, que os faziam sentirem-se tão grandes.

E quanto ao Eddie afirmar que o público argentino é uma de suas “bandas preferidas”, olha, depois do que presenciei, não há como não concordar com ele. 


Por Ricardo Pereira

domingo, 8 de novembro de 2015

Morrissey: adeus e olá

Na semana passada, adquiri dois ingressos para o show que o cantor inglês Morrissey vai efetuar no Rio de Janeiro, neste mês. A apresentação cairia numa quarta-feira, 25 de novembro, mas, por conta de uma confusão na agenda da casa de shows, teve que ser antecipada para um dia antes, terça, 24.

Comprei as entradas por um valor promocional, duas pelo preço de uma. Mesmo assim, desisti. Dei conta de que sair de Angra em direção ao Rio de Janeiro – Barra da Tijuca –, no começo da semana, seria tão trabalhoso quanto organizar a sonhada reunião do The Smiths, antigo grupo de Moz.

Trabalhoso e dispendioso. Eu e minha esposa não temos carro. Teríamos, então, que ir e voltar de ônibus, assim como alugar um quarto de hotel para passarmos o final da noite e o começo da madrugada, levantando acampamento assim que o sol começasse a nascer.

Estive presente nas duas ocasiões anteriores em que Morrissey se apresentou no Rio de Janeiro, em 2000 e 2012. O primeiro show foi mágico por conta de ter ficado frente a frente com o ídolo pela primeiríssima vez; o segundo, apesar de contar com um repertório melhor, foi um pouco decepcionante do ponto de vista emocional, além de seguir um roteiro à prova de surpresa. Nenhuma música diferente e nada de covers ou versões diferenciadas. Tudo absolutamente ensaiado. E previsível.

Não tinha muitas expectativas em relação ao próximo show. A motivação para comparecer ao espetáculo estava diretamente ligada às entrevistas mais recentes que Morrissey cedeu. Nelas, as pistas de que a aposentadoria musical estava chegando eram claras, o que transformava a apresentação do dia 24 numa provável despedida dos palcos brasileiros... Para sempre.

Caso o fim das apresentações e das gravações se configure, nada de tristeza por aqui. Morrissey marcou seu nome na música através de sua carreira com o The Smiths. Em voo solo, alternou bons discos e trabalhos irregulares, mas nunca deixou de lançar canções inesquecíveis. Missão cumprida.

Ainda não adquiri o disco World Peace Is None Of Your Business, último lançado por Moz, que serve de base para a atual turnê. Provavelmente, assistiria ao show sem conhecer o álbum, correndo o risco de prejudicar o julgamento relacionado ao desempenho do cantor e sua banda. Mas isso não importa; Moz será sempre Moz, para o bem e para o mal. E enquanto ele se despede com um adeus, minha devoção, agora ‘reservista’, dá-se através de um eterno ‘olá’ às músicas escritas por ele e seus parceiros.

Love, peace and harmony? Oh, very nice... But maybe in the next world.

 
Let me get my hands on your mammary glands: Morrissey é único



Por Hugo Oliveira

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Sessões Talk About The Passion

E começa a fase dois do Talk About The Passion. Isso mesmo: a partir desta segunda encarnação do diário virtual, eu e Ricardo pretendemos esticar os tentáculos do blog em direção a outros formatos, na intenção de interagir diretamente com um número ainda maior de pessoas que enxergam a vida através das lentes da cultura.

Para quem mora em Angra dos Reis, no estado do Rio de Janeiro, a notícia é boa: sábado, dia 14 de novembro, às 17h, estreia no Centro Cultural Teophilo Massad – CCTM o evento Sessões Talk About The Passion, voltado à exibição de documentários e filmes ligados à cultura pop. Além de apresentar ao público obras que dificilmente apareceriam no circuito comercial da cidade, os responsáveis pelo blog também efetuarão um bate-papo a cada edição do “Sessões”, contando, em muitas oportunidades, com convidados especiais.

Na primeira edição do evento será exibido o documentário Cobain: Montage of Heck, do diretor Brett Morgen. O filme, lançado em junho deste ano, é dedicado à trajetória do vocalista e guitarrista da banda americana Nirvana, Kurt Cobain, que cometeu suicídio em 1994. Junto com seus companheiros de conjunto, Kurt lançou aquele que pode ter sido o último grande disco de rock da era anterior à popularização da internet,Nevermind (1991).

O filme tem duração de 145 minutos – classificação etária: 14 anos. Os ingressos para assistir ao documentário serão distribuídos gratuitamente através da bilheteria do Teatro Municipal de Angra dos Reis, a partir das 15h. A sala de vídeo do CCTM tem capacidade para 50 pessoas, e fica localizada na Praça Marinha Greenhalg, S/N, São Bento.

E não é só isso. Em alguns dias anunciaremos mais novidades relacionadas ao Talk About The Passion, ou melhor, à maneira como os textos do blog chegarão até os leitores. Muitos já devem saber, mas não custa repetir: cultura pop é o que nos move, e acreditamos que isso também vale para você.

  
Documentário sobre Kurt Cobain será o primeiro filme a ser exibido no evento Sessões Talk About The Passion


Por Hugo Oliveira

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Cevando o amargo - Los Hermanos no Rio, 2015

São dez anos desde o último álbum de inéditas, oito desde o término da banda. Qual o sentido de assistir, então, a uma apresentação do Los Hermanos em 2015? Nostalgia é a resposta mais óbvia, claro. Mesmo sabendo que não é possível recuperar a aura envolvida nas apresentações da época do Bloco do Eu sozinho (2001) ou do Ventura (2003), em que uma banda quente, querendo mostrar serviço, com surpresas no setlist (covers de Strokes, Roberto Carlos, Belchior, Arnaldo Antunes ou Adriana Calcanhoto) e um público ainda longe da mitificação e deslumbramento excessivos garantiam normalmente grandes shows, parti para a Marina da Glória, no último sábado, sem maiores expectativas.

Se algo me motivava no evento era a quantidade de pessoas queridas reunidas para assistir ao show e a abertura, a cargo do Pato Fu. Aliás, permitam-me um parêntese. Se o mundo fosse um lugar justo, os mineiros deveriam fechar a noite. Mais tempo de estrada, maior quantidade de discos e canções memoráveis, carreira sólida equilibrando ousadia e senso pop com grande versatilidade, foram relegados, no entanto, a uma mini apresentação começando cedo demais e com som pavoroso... Uma pena.

Por mais que já tenha assistido a dezenas de shows do Los Hermanos, ainda impressiona a receptividade do público, urrando cada verso das canções como se a própria vida, ou melhor, como se a permanência da internet no celular de cada um dependesse disso. Bonito. E funcionou à perfeição nas cinco primeiras do set (O Vencedor, Retrato pra Iaiá, Além do que se vê, Todo carnaval tem seu fim e O Vento – quantas bandas brasileiras podem enfileirar cinco dessas para iniciar uma apresentação?).

A banda mostrou-se empolgada, não parecia burocrática e desinteressada como no broxante show de abertura para o Radiohead em 2009; o som estava ótimo (pena o Pato Fu não ter tido o mesmo privilégio...); bastante interação entre os integrantes e Rodrigo Barba cada vez melhor baterista, seguro e criativo. No entanto, depois de um início avassalador, o repertório força uma queda na energia do público, apostando em uma quantidade excessiva de números lentos ou menores em sequência, fazendo com que momentos como “Sentimental” ou  “Pois é” não tivessem o impacto que poderiam. Mais para o final, a apresentação volta a esquentar, muito pela presença maior de músicas do subestimado primeiro disco, inclusive uma acelerada “Anna Júlia”.

Mas, como sempre, assistir ao Los Hermanos ao vivo é mais do que música – exatamente o tipo de sentimento/declaração que afasta os detratores da banda. Eu, que partia para o show cético, peguei-me, por momentos, emocionado ao conferir o encantamento de minha irmã com o seu primeiro show do conjunto; por estar de novo com primos, primas e amigos cantando como se estivéssemos em 2002 e, principalmente, ao vislumbrar em algumas frases das letras, trechos de melodias e trocas de olhares com uma amiga querida que, eu podia perceber, sentia o mesmo,  uma espécie de espelho partido em que podia enxergar cacos de um passado perdido, estacionado no tempo. E que lá deve ficar, como antigas canções queridas que, de quando em quando, valem a pena ser revisitadas.

Porque passada a euforia da apresentação, seguimos todos; mais identificados agora com o Velho do que com o Moço. Tateando pela vida, rindo muito, sofrendo às vezes, aprendendo sempre.

O que é que há, velhinhos?
Por Ricardo Pereira

Cinco ‘baladas’ dos anos 80


Certamente já deve ter acontecido com você: caminhando por alguma rua, com a cabeça mergulhada em preocupações, uma caixa de som começa a tocar uma canção batida, daquelas que todo mundo já escutou. Mesmo assim, a imprevisibilidade do momento faz com que a música soe tão forte que a sensação é de que estamos ouvindo aqueles sons pela primeira vez.  E adorando-os.

A seleção que organizei aqui é voltada apenas às canções de bandas e artistas dos anos 80. Também não é uma lista definitiva, já que muita coisa boa da época ficou de fora, por esquecimento mesmo. Sem mais delongas, seguem as músicas dos anos 80 que, quando eu escuto na rua, na chuva ou na fazenda, tenho que parar o que estou fazendo para reverenciá-las. Prepare as ombreiras, modele os mullets e som na caixa!


“Kissing a Fool” – George Michael – Muita gente pode questionar, dizendo que “Careless Whisper” é mais famosa. Pode até ser, mas não a mais bonita. Michael canta sobre uma base que mistura Jazz, Pop e todo o bom gosto possível de se condensar em quatro minutos e 34 segundos.  A letra, que fala sobre uma decepção amorosa motivada por ‘intrigas’ de terceiros, é tão certeira que parece ter sido baseada numa história que qualquer um de nós já viveu. O final é devastador: Strange that I was wrong enough / To think you'd love me too / I guess you were kissing a fool / You must have been kissing a fool.” Do disco Faith (1987).



“There is a Light That Never Goes Out” – The Smiths – Quarteto inglês responsável pela popularização do indie rock, o The Smiths, de Manchester, rompeu as barreiras da música alternativa com a canção em questão, uma declaração de amor belíssima, que segue angariando fãs tanto pela parte instrumental quanto pela letra. Incluída num dos melhores discos da banda, The Queen is Dead (1986), ela abusa da perfeição no refrão. “And if a double-decker bus crashes into us / To die by your side is such a heavenly way to die / And if a ten-ton truck kills the both of us / To die by your side / Well the pleasure and the privilege is mine”.



“Hunting High and Low” – A-ha – Nunca duvidei do potencial pop do trio norueguês.  Acredito que a credibilidade do conjunto tenha sido colocada em xeque por causa do saudosismo avassalador – e duvidoso – dos órfãos da década de 80. Uma das faixas principais do álbum Hunting High and Low (1985), “Hunting” é grandiosa e melodramática, no bom sentido. A interpretação do cantor Morten Harket também é um dos triunfos da canção, alternando suavidade, agudos e falsete de forma perfeita. E se alguns teclados soam um pouco datados hoje em dia, o clipe criado para a música ainda emociona.



“Don’t Dream it’s Over” – Crowded House – Banda natural da Austrália, mas formada pelo neozelandês Neil Finn – voz e guitarra –, o trio lançou seu primeiro e autointitulado disco, Crowded House, em 1986. É de lá que vem “Don’t Dream it’s Over”, um arrasa-quarteirão emocional que fez muito sucesso no planeta, inclusive no Brasil, integrando a trilha sonora internacional da novela O outro. A guitarrinha chorosa de Finn abre a faixa, que segue num instrumental econômico e absolutamente certeiro, prontinho para embalar paixões impossíveis de adolescentes do mundo inteiro. “Hey now, Hey now / Don’t Dream it’s Over”.



“Save a Prayer” – Duran Duran – Mais do que colocar o quinteto inglês nas paradas de sucesso mundiais, a faixa “Save a Prayer”, oriunda do segundo e clássico disco do grupo, Rio (1982), carimbou o passaporte do conjunto para a nova geração de jovens que nascia com a MTV, no ano anterior, através de um videoclipe exótico e estiloso – para a época. De qualquer forma, nada disso seria possível se a canção não fosse tão boa. Ancorada pelos teclados de Nick Rhodes e pela voz charmosa de Simon Le Bon, a música tem um refrão marcante e uma “frase-cantada” esperta. “Some people call it a one night stand / But we can call it paradise”.




Por Hugo Oliveira