São dez anos desde o último álbum
de inéditas, oito desde o término da banda. Qual o sentido de assistir, então,
a uma apresentação do Los Hermanos em 2015? Nostalgia é a resposta mais óbvia,
claro. Mesmo sabendo que não é possível recuperar a aura envolvida nas
apresentações da época do Bloco do Eu
sozinho (2001) ou do Ventura (2003), em que uma
banda quente, querendo mostrar serviço, com surpresas no setlist (covers de
Strokes, Roberto Carlos, Belchior, Arnaldo Antunes ou Adriana Calcanhoto) e um público
ainda longe da mitificação e deslumbramento excessivos garantiam normalmente
grandes shows, parti para a Marina da Glória, no último sábado, sem maiores
expectativas.
Se algo me motivava no evento era
a quantidade de pessoas queridas reunidas para assistir ao show e a abertura, a
cargo do Pato Fu. Aliás, permitam-me um parêntese. Se o mundo fosse um lugar
justo, os mineiros deveriam fechar a noite. Mais tempo de estrada, maior
quantidade de discos e canções memoráveis, carreira sólida equilibrando ousadia
e senso pop com grande versatilidade, foram relegados, no entanto, a uma mini
apresentação começando cedo demais e com som pavoroso... Uma pena.
Por mais que já tenha assistido a
dezenas de shows do Los Hermanos, ainda impressiona a receptividade do público,
urrando cada verso das canções como se a própria vida, ou melhor, como se a
permanência da internet no celular de cada um dependesse disso. Bonito. E
funcionou à perfeição nas cinco primeiras do set (O Vencedor, Retrato pra Iaiá, Além do que
se vê, Todo carnaval tem seu fim e O Vento – quantas bandas brasileiras podem
enfileirar cinco dessas para iniciar uma apresentação?).
A banda mostrou-se empolgada, não
parecia burocrática e desinteressada como no broxante show de abertura para o
Radiohead em 2009; o som estava ótimo (pena o Pato Fu não ter tido o mesmo
privilégio...); bastante interação entre os integrantes e Rodrigo Barba cada
vez melhor baterista, seguro e criativo. No entanto, depois de um início
avassalador, o repertório força uma queda na energia do público, apostando em
uma quantidade excessiva de números lentos ou menores em sequência, fazendo com que
momentos como “Sentimental” ou “Pois é”
não tivessem o impacto que poderiam. Mais para o final, a apresentação volta a
esquentar, muito pela presença maior de músicas do subestimado primeiro disco,
inclusive uma acelerada “Anna Júlia”.
Mas, como sempre, assistir ao Los
Hermanos ao vivo é mais do que música – exatamente o tipo de
sentimento/declaração que afasta os detratores da banda. Eu, que partia para o
show cético, peguei-me, por momentos, emocionado ao conferir o encantamento de
minha irmã com o seu primeiro show do conjunto; por estar de novo com primos,
primas e amigos cantando como se estivéssemos em 2002 e, principalmente, ao
vislumbrar em algumas frases das letras, trechos de melodias e trocas de
olhares com uma amiga querida que, eu podia perceber, sentia o mesmo, uma espécie de espelho partido em que podia
enxergar cacos de um passado perdido, estacionado no tempo. E que lá deve ficar, como antigas canções queridas que, de quando em quando, valem a pena ser revisitadas.
O que é que há, velhinhos? |
Por Ricardo Pereira
Perfeito!
ResponderExcluirOrgulho de ser amigo de vcs!!
Sempre tão perfeitos!
Parabéns
Ótimo texto, Ricardo!
ResponderExcluirMuito bom o texto! Queria ter ido no show com vocês. Várias lembranças boas...
ResponderExcluirAbraço
Texto muito bom!! Da pra sentir exatamente os mesmos sentimentos que senti na hora das músicas: nostalgia, emoção, paixão e tristeza...rs.
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