"There's a fear I keep so deep / Knew it name since before I could speak (...) If some night I don't come home / Please don't think I've left you alone"- Keep The Car Running, Arcade Fire

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Cidadão Instigado e o tempo

Mês passado assisti ao show de lançamento do disco de estreia do Marcelo Jeneci no Rio e, por mais que esperasse um bom show, tive mais do que isso. Foi mais bonito do que eu esperava, o cara reproduziu todo o disco no palco, com cordas e metais, em versões muito bonitas e emocionadas. Além disso, participações de Tulipa e Marcelo Camelo abrilhantaram o concerto. Lembro de ter achado bacana o Jeneci e o Camelo cantando juntos, um novo compositor, que acabara de lançar um dos grandes discos nacionais do ano passado com outro que é responsável por alguns dos discos mais importantes de música brasileira recente.

Ontem, fui assistir ao Cidadão Instigado no Rival e confesso que minha expectativa era ainda maior. Penso que é a melhor banda em atividade no Brasil e ainda não havia os visto ao vivo. Fui com meu amigo Cadu e não nos decepcionamos, um showzaço. Lembro que desde a abertura, com ‘Doido’, comentei que nenhuma banda ‘normal’ abriria daquela forma e o show prosseguiu com interpretações magistrais de pérolas como ‘Deus é uma viagem’ e ‘Como as Luzes’, até Catatau chamar uma participação especial: Dado Villa-Lobos. Ficamos agradavelmente surpresos, até porque não estava no roteiro. Gostei ainda mais que ele tocou ‘Homem Velho’, das minhas preferidas do último álbum da banda, uma tocante homenagem a Deus, quer dizer, Neil Young. Mas nem podíamos imaginar o que vinha depois...

Já tinha visto o Dado tocar em shows de outras bandas e é sempre legal, mas dessa vez foi diferente. Ele entrou no palco com a simplicidade de sempre, parecendo congelado no tempo, vestindo uma camiseta do Blur e após a bonita interpretação de ‘Homem Velho’, a banda emendou inacreditavelmente com uma das melhores canções da Legião Urbana, ‘Andrea Doria’, em versão fiel à original. Foi especial porque bateu tudo muito forte ali, assistir aquela canção ao vivo, com o guitarrista da banda que mais ouvi na minha adolescência junto com a banda que mais admiro atualmente. E o fato de ver o Catatau cantando era como se cada um de nós cantasse ali no palco, por ele representar o oposto do comportamento messiânico de Renato Russo. Ainda tocaram ‘Tempo Perdido’, “um dos momentos mais lindamente melancólicos da história da música pop”, como definiu Hermano Vianna, e a música da Legião que meu pai mais gosta.

Tudo é questão de feeling, o lugar certo, na hora certa, e naquele momento foi como se um filme da vida passasse em minha mente. Foi significante ver o Cidadão Instigado tocando Legião com o Dado, o encontro de referências importantes para mim, situados em espaços tão distintos de tempo. Pelo inesperado, pela nostalgia, foi daqueles momentos inesquecíveis. E, significativamente, a próxima música que a banda tocou foi ‘O Tempo’ e versos como “olha pra mim, eu já não sou mais o menino que você deixou” ou “o tempo é um amigo precioso” fizeram ainda mais sentido.

Poderia falar do quanto a banda ainda é mais criativa no palco do que no estúdio; que Catatau só confirmou o que eu já sabia, que é o melhor guitarrista de sua geração; que Dado ainda voltou para tocar com muita empolgação mais músicas do Cidadão... Mas prefiro deixar essa última imagem, a torrente de sentimentos que me invadiu naquele momento: Cidadão Instigado, Legião Urbana, ‘Andrea Doria’, ‘O Tempo’, o tempo...


Por Ricardo Pereira

2 comentários:

  1. Amigo, foi mesmo um show incrível apesar da lacuna deixada pela "Te encontra logo".
    2011 tá com tudo. Janeiro com Jeneci e fevereiro com Cidadão: que show nos guarda em março?
    Abç

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  2. Cara, 'Te encontra logo' fez falta mesmo, é das que eu queria mais ouvir...

    E se conseguirmos manter essa média de shows até o final do ano tá bom demais! rs

    Abraço

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