Qual a utilidade de um herói? Salvar uma vida, a humanidade, livrar as pessoas de um perigo, trazer esperança, ideais, dar o mínimo em que se possa acreditar? São várias as respostas possíveis, pois é um conceito abrangente e pessoal. Para uns, pode ser o Batman, para outros, o Coringa, Lula, Chávez, Chaves, Bin Laden, Gandhi ou Capitão Nascimento.
Eu tenho alguns, na música, na literatura, na vida. Hoje falarei de um específico: José Saramago. Lembro o exato instante em que percebi o quanto o texto deste homem era poderoso e estava mudando minha vida. Levei uma ex-namorada para fazer uma prova de concurso e enquanto a esperava, fiquei lendo o Levantado do Chão, o primeiro que li dele. Já estava encantado com o texto – depois de uma pequena dificuldade inicial – e, nesse dia, não conseguia parar de ler. Pais entediados que esperavam seus filhos, maridos, namorados naquela espera chata de suas companheiras vinham puxar assunto e eu tive que me distanciar para conseguir ler em paz. Pois o que sentia ali, naquele momento, é daquelas sensações poucas vezes experimentadas no espaço de uma vida: a certeza de estar em contato com algo/alguém realmente importante.
Falo disso tudo, pois finalmente consegui assistir a José e Pilar, lindo filme de Miguel Gonçalves Mendes, que mostra imagens dos últimos anos de Saramago, momentos de seu cotidiano, rotina e seu relacionamento com Pilar. Além de achar divertido poder ‘compartilhar’ da intimidade de um ídolo, desde banalidades como o escritor se preparando para jogar paciência no computador, seus bocejos, sua (às vezes falta de) paciência nas entrevistas e eventos em sua homenagem; a alguns lindos momentos, como sua emoção ao assistir à adaptação cinematográfica de Ensaio sobre a cegueira ou o amor tão grande de José e Pilar. Mesmo em um relacionamento de mais de vinte anos juntos e com uma diferença de idade considerável, é possível perceber um carinho e um respeito entre os dois que nos faz acreditar na existência do amor em dias tão complicados e individualistas.
É interessante ver o quanto Pilar foi importante para Saramago, não só fisicamente em seus últimos anos de vida, mas também como suporte emocional e prático, cuidando das burocracias relativas à obra do escritor. Uma mulher que certamente passei a admirar ainda mais, muito bonita (me lembrou Eugênia, minha madrinha, em muitos momentos), forte, decidida e uma amante genuína, não só da obra, mas do homem José Saramago.
Uma cena em especial foi tocante para mim. É quando Saramago, em uma reunião íntima em sua biblioteca, ao ouvir um jovem cantor, se emociona. A câmera flagra a emoção em seus olhos, em sua voz embargada ao agradecer e elogiar o jovem cantor. E ao ‘presenciar’ um herói, tão importante para a minha vida, emocionado com uma canção, como acontece comigo, com você ou com qualquer pessoa, foi como se eu o abraçasse. Como se, vertido em Blimunda, eu acordasse e em jejum pudesse enxergar o José por trás do Saramago.
Por Ricardo Pereira
Lindo! Quero ver e quero ler Saramago!!! Beijos!
ResponderExcluirOi Norielem, se quiser posso te emprestar alguma coisa dele. Comecei com o 'Levantado do chão' e acho que fui na ordem. As pessoas costumam começar pelo 'Ensaio sobre a cegueira', mas recomendo um dos históricos, 'O evangelho segundo Jesus Cristo' ou 'Memorial do Convento' são boas pedidas!
ResponderExcluirBeijos
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEu quero sim, ia mesmo te pedir umas dicas. Procurei alguns para baixar, mas não encontrei. Queria ler este, O evangelho... Se vc tiver eu aceito emprestado. Bjs!!!
ResponderExcluirPensei que fosse só eu que me afastasse das pessoas pra poder ler em paz!
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