"There's a fear I keep so deep / Knew it name since before I could speak (...) If some night I don't come home / Please don't think I've left you alone"- Keep The Car Running, Arcade Fire

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Solar



Já falei por aqui, Ian McEwan é o melhor romancista da atualidade. Além de extremo domínio da narrativa, é um grande contador de histórias, construtor de tramas. Consegue conciliar virtuosismo narrativo com uma falsa simplicidade que faz o leitor se prender aos enredos criados e não querer mais largar os livros.

Esta noite terminei de ler seu último romance, Solar. Normalmente, McEwan relata as desventuras de seus personagens associando-as a algum momento histórico relevante. Aqui, o pano de fundo é o aquecimento global. O protagonista, Michael Beard, é um cientista, ganhador do prêmio Nobel, que envelhece ‘encostado’ em suas glórias passadas e passa a se interessar por “salvar o planeta” quando percebe o quão lucrativo isso pode ser. Beard é um sujeito desleixado, obeso, abusa de álcool, comidas, sexo e sua vida pessoal é um caos. Vários casamentos terminados por seu egoísmo, infantilidade e infidelidade. É brilhante o quanto seu desleixo reflete nossa falta de preocupação com o mundo, como sua decadência - física, moral, sentimental – é metáfora da decadência do planeta. Mas isso tudo sem ser entediante ou panfletário, ao contrário, mostra o cinismo e os múltiplos interesses envolvidos nas questões climáticas.

Solar é o quinto livro de McEwan que leio, e mais uma vez é possível perceber um eixo recorrente, o quanto um fato pequeno, uma palavra mal/bem colocada, uma escolha, um mal entendido podem modificar nossas vidas, muitas vezes irreversivelmente. Há que se destacar o humor presente em várias situações no romance, muito mais do que nos densos Reparação e Sábado, por exemplo. E é de impressionar as descrições científicas, tanto no trabalho vencedor do Nobel, quanto no ‘seu’ projeto para salvar o mundo a partir da energia solar.

O livro é dividido em três fases da vida de Beard (2000, 2005 e 2009) misturadas a flashbacks de seu passado, através dos devaneios do protagonista. A única crítica a fazer é o ritmo no final do livro, que me pareceu meio corrido, a despeito de sua excelente última cena. O que não apaga o brilho de mais um grande romance de Ian McEwan, um escritor que vem construindo clássicos de nossa geração.

Ian McEwan

Por Ricardo Pereira

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