"Todos os dias José passava uma parte do seu tempo lendo na Biblioteca, e mesmo ao entrar para o curso ginasial, quando trabalhava durante o dia e estudava à noite, conseguia arranjar tempo para ir lá. Nas ocasiões em que tinha muita pressa, para voltar ao trabalho ou ao colégio, que também ficava no centro da cidade, ele preenchia rapidamente uma ficha de pedido de livro, sentava-se numa das cadeiras marrons do imenso e acolhedor salão de leitura, e enquanto aguardava o livro, que era entregue por um funcionário, entretinha-se a olhar as fileiras de estantes superpostas até o teto, que na época podiam ser vistas do salão, e sentia como era bom viver. Ficar, por menos que fosse o tempo, no meio daquela infinidade de livros do mundo inteiro era, para José, como estar no paraíso. Ele considerava da maior importância os inúmeros tradutores anônimos que verteram para o português os livros que lia então, escritos nas línguas que não conhecia. Sem o tradutor não existiria isso que se chama literatura universal. Tem, até hoje, uma espécie de broche usado num congresso de tradutores, na Alemanha, que diz, com razão, Übersetzer unersetzlich - o tradutor é insubstituível."
(Trecho de José, de Rubem Fonseca)
Por Ricardo Pereira
Adorei esse trecho. Rubem Fonseca é bem legal mesmo.
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