"There's a fear I keep so deep / Knew it name since before I could speak (...) If some night I don't come home / Please don't think I've left you alone"- Keep The Car Running, Arcade Fire

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Contando estrelas

Há quem colecione casos, contabilize beijos, quantifique sexo e dessa matemática pessoal retire a equação do bem estar e da autoestima. Mas quantos destes momentos são memoráveis? Quantos destes encontros são lembrados com carinho e nostalgia ao fim de um ano?


“and I’m just trying to walk with you between the raindrops”

Em uma segunda-feira cansativa de trabalho, recebeu uma mensagem: teria companhia na cidade fantasma em que residia. Foi o tempo de passar em casa e ir encontrá-la. O curioso é que possuíam grande identificação musical, cinematográfica, no entanto, menos contato do que poderiam. Até então.

Entre chopps, conversas, encantamentos pelos mesmos discos, desencanto com o mundo por razões parecidas, as sutilezas compartilhadas dos Allens e Kar-Wais preferidos, arriscaram até tocar em temas pessoais, expondo, no caso dele, seu coração danificado.

A praça da cidade deserta do meio da noite parecia cenário de filme. Ainda encontraram um amigo comum e riram e divertiram-se como se crianças fossem. Era tarde, deixou-a em casa, um abraço desajeitado, novo ânimo para a semana de trabalho, e a sensação de que o mundo, às vezes, vale a pena.


“talk to me now I’m older
friday nights have been lonely
change your plans and then phone me”

Mais uma sexta-feira entediante. Seu telefone pisca com uma urgência contrastante ao clima lento do ar parado de seu quarto: “Como está você? Me tira de casa, por favor”. Convidou-a para sua casa, poderiam ouvir um som, conversar, beber alguma coisa. Sinceramente, não esperava que viesse... e foi docemente surpreendido.

Conheciam-se há cinco anos, mas nunca tiveram oportunidade de estreitar contato. E, ali, juntos, fizeram as horas voarem. Com a companhia de Ben Kweller e Cat Power, falaram sobre a vida: planos futuros, problemas presentes, ternura recíproca.

Um disco da Fiona, o clube dos corações solitários e a constatação, na simplicidade de uma noite mais do que agradável, do quanto menos pode ser mais, ou, nos versos de uma canção de FM que não toca no rádio, “felicidade é só questão de ser”.


Num mundo tão vazio, em que as pessoas apaixonam-se e desapaixonam-se como quem troca de canal, sentia-se privilegiado por ter vivido momentos como estes, mais até do que os pequenos casos que vivera recentemente. Houve desejo? Provavelmente, ainda que platônico, fragmentado, em algum momento, sim. Mais do que isso, foi a identificação e o compartilhamento que fizeram estes dois encontros tão especiais. Duas estrelas a trazer um pouco de beleza a um céu cansado da escuridão.

Por Ricardo Pereira

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