Alguns andam perguntando pela minha lista de filmes do ano passado, e, ao pensar nisso, primeiro acabo me espantando com quantos deixei de assistir. Nesses estão Drive, Melancolia, O garoto da bicicleta, Tio Boonmee, que pode recordar suas vidas passadas, Cópia fiel, O Vencedor, Incêndios e Medianeras, entre outros. Há aqueles sobre os quais criei grande expectativa e não corresponderam como, a despeito dos belos momentos, A árvore da vida, Um lugar qualquer e Blue Valentine.
Dos que mais gostei, sem ordem de preferência, destaco Cisne Negro, Bravura Indômita, Super 8, Um conto chinês, A árvore e George Harrison – Living in the material world. No entanto, os maiores destaques do ano foram os lançamentos de dois favoritos de sempre: Woody Allen e Almodóvar.
A pele que habito é, provavelmente, meu filme preferido de 2011. Chama atenção de cara por parecer pouco Almodóvar, mesmo sendo muito Almodóvar. É um filme mais “frio”, sem as cores marcantes ou o humor melancólico de sua filmografia costumaz, mas, ao mesmo tempo, os temas recorrentes estão ali, só que em outro tom. O filme é de deixar o espectador tenso e expectante o tempo inteiro, muito pela extrema habilidade narrativa apresentada, as idas e vindas temporais e a excelente trilha sonora. Recentemente, conversando com um grande amigo, falávamos sobre certa frustração deixada ao fim de Bravura Indômita porque depois de Oldboy qualquer filme de vingança parece menor. Tive que rever essa ideia ao sair do cinema dessa vez – não, não é melhor do que Oldboy, e vingança é apenas uma das facetas de A pele que habito. Grande filme, entra num top 3 do diretor pra mim, certamente.
Já em Meia noite em Paris, a sensação que fica é que tudo está no lugar certo, tudo funciona do jeito que deveria ser. Desde a abertura, com imagens deslumbrantes de Paris, lembrando a abertura de Manhattan, e a lindíssima “Si tu vois ma mère” de trilha sonora, somos transportados para o clima romântico, sonhador e saudosista proposto por Woody Allen. Há sim um pouco de A rosa púrpura do Cairo e Owen Wilson muitas vezes emula demais o jeito de Allen interpretar os personagens, o que não compromete nada o resultado final. São excelentes os retratos de Cole Porter, Hemingway, Zelda e Scott Fitzgerald, Picasso, Buñuel, entre outros – aliás, a piada com os surrealistas é ótima! – e a ideia da insatisfação constante com o presente é bem trabalhada. Saí da sessão imaginando um moleque assistindo a esse filme daqui a alguns anos e desejando voltar a Nova York em meados dos anos 70 e de repente ter contato com Bob Dylan, John Lennon, Alex Chilton, Marlon Brando e ... Woody Allen.
"Eu não sou o que sou, eu sou o que faço com as minhas mãos". |