Acabei de saber que o R.E.M. anunciou, em seu site oficial, o fim da banda. Talvez devesse esperar o impacto da notícia diminuir antes de vir escrever sobre isso, mas não resisto a comentar meu sentimento neste momento. Após o susto, meu primeiro pensamento foi o vazio de saber que não haverá mais discos novos da banda e que não poderei mais assisti-los ao vivo.
Não há luto, tristeza propriamente dita. Entendo a escolha dos caras de parar a banda enquanto ainda lançam material relevante, vide os dois ótimos últimos lançamentos. Já comentei aqui, ao falar sobre o Collapse Into Now, o orgulho que sinto deles, o quanto são importantes para mim. Eu e Hugo, meu companheiro de blog, sempre conversamos sobre o quando eles nos representam (e o nome do blog não é por acaso...), o quanto eles sempre conduziram a carreira de forma brilhante, conseguindo manter a integridade em todos os momentos.
Musicalmente, acompanham-me desde minha infância, seus álbuns foram fundamentais na minha formação não só musical, mas também pessoal. Fui atrás das referências que eles comentavam, os artistas que admiravam e foi, sem dúvida, junto com o Radiohead, a banda de rock n’ roll que mais ‘vivi’. Estiveram presentes nas Bizz que lia quando ainda não havia internet; no encantamento com a diversidade de Out of time (os anteriores fui conhecendo com o tempo); na certeza de estar frente a frente com um clássico desde a primeira vez que ouvi o Automatic for the people; no quanto o Up e sua beleza ‘torta’ viraram referência pra mim, tornando-se um dos discos mais importantes da minha vida. Pontuaram relacionamentos importantes, servindo de trilha sonora para momentos lindíssimos, nos discos que gravei para pessoas amadas, dos encontros e histórias bonitas com amigos. Enfim, um relacionamento entre fã e ídolos, como quase não existe para os jovens de hoje, criados com as facilidades e a transitoriedade próprias da internet.
E os shows? O primeiro a que assisti, há dez anos, no Rock In Rio, foi uma experiência de grande intensidade, porque com 20 anos era ainda mais deslumbrado e impressionável do que ainda sou aos 30. Sentir-me tão perto de meus ‘heróis’, cantando a poucos metros as canções ‘da minha vida’, ver as pessoas em volta no mesmo clima, o repertório irrepreensível, ‘Find the River’ de surpresa... Lançando mão de mais um clichê nesse texto tão pessoal, um momento mágico.
E o segundo, em 2008, turnê do Accelerate, junto com amigos queridos que gostam e vivem a banda tanto quanto eu. O grande diferencial deste show foi esse: meus irmãos Henrique, Fábio, Hugo, Pedro Henrique, Marcel e Carol juntos ali comigo, Michael, Mike, Buck e Berry (ok, este estava ‘no feno’, mas sempre está presente quando o assunto é R.E.M.).
Poderia falar das letras mais marcantes, dos fraseados de guitarra, dos backing vocals perfeitos de Mike Mills, mas esse texto não ambiciona ser uma análise técnica. É apenas um relato emocional, de um cara criado e mantido por heróis, ídolos. Sujeitos como os integrantes do R.E.M., que lançam o que muitos consideram ‘apenas’ canções, mas para ele são como os tijolos que sedimentam o caminho de sua existência.
E a despedida do título é apenas modo de dizer, pois as canções, essas sempre estarão por aqui.
Obrigado, caras.
Obrigado, caras.
Why not smile? You've been sad for a while |
Por Ricardo Pereira
Lindo texto, cara. Muito bem escrito... E emocionante na medida certa. O meu também sai nesta semana. Impossível não escrever sobre esses caras.
ResponderExcluirAbraços e parabéns!
Seu texto ficou show Ricardo.
ResponderExcluirA única coisa que eu discordo é quando diz que não há luto, tristeza propriamente dita. Para mim é muito triste.
abraços
Tino,
ResponderExcluirSeria pretensão minha dizer que mundo do rock ficou mais triste com essa notícia, mas com certeza eu fiquei mais triste hj... assim como vc... parece que um ente querido nosso partiu, deixando fotos de momentos incríveis vividos desde 1980... Enfim, apesar de sermos surpreendidos com o fim (?) penso que para nós fãs é hora de cantarmos com a alma:
"...Sometimes everything is wrong
Now it's time to sing along
When your day is night alone (Hold on, hold on)
If you feel like letting go (Hold on)
If you think you've had too much of this life
To hang on
'Cause everybody hurts
Take comfort in your friends
Everybody hurts
Don't throw your hand, oh no
Don't throw your hand
If you feel like you're alone
No, no, no, you're not alone..."
Thanks Michael, Peter, Mike and Tino!
pedrenrique
Texto carregado de emoção, adoro isso. E sei como se sente.
ResponderExcluirValeu, Hugo, Pedro, Paulo, Mayra! Sei o quanto significou pra vocês e é muito bom ter leitores com essa sensibilidade - e bom gosto, claro!
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