Em uma aula recente de Redação, sobre análise crítica, uma aluna perguntou em que gênero os Beatles se enquadravam. Respondi rock, mas rock, ela associava a metal e tosqueira. Música pop? “Mas professor, Lady Gaga não é pop? Justin Bieber?” E enveredamos pela tortuosa definição de pop, pop-rock, rock clássico e por aí vai...
E acabei voltando ao preconceito que “ser pop” carrega, principalmente, entre os ‘alternativos’. Pois hoje vou falar de um disco pop no melhor sentido do termo, pop em cada faixa, pop pop pop no melhor que a música pop tem a oferecer. Refiro-me a ‘Feito pra Acabar’, álbum de estreia de Marcelo Jeneci.
Jeneci já foi um Cidadão Instigado, trabalhou com Arnaldo Antunes e vem se apresentando com Tulipa Ruiz, que lançou o outro grande disco nacional do ano. Em seu debut, Marcelo montou uma superbanda, com Curumim na bateria, Scandurra na guitarra, Régis Damasceno no baixo e o próprio cantor com piano e sanfona, seu instrumento de origem. A linda voz de Linda Lavieri divide o álbum quase todo com Jeneci e a produção de Kassin arredonda tudo.
Os arranjos são lindos, as letras acima da média na produção musical brasileira recente, mas o que mais me ganhou no disco é o clima, a leveza que perpassa o álbum todo e faz com que você queira ouvir de novo assim que o mesmo acaba. Ouvindo ‘Quarto de dormir’ é impossível não lembrar o melhor de Roberto e Erasmo da década de 70, como bem me lembrou meu amigo Cadu. É uma das minhas preferidas. Mas se o leitor quer ter a noção do potencial ‘popístico’ do disco, recomendo a audição de ‘Pra sonhar’, música que me traz sentimentos inexplicáveis, desde a introdução, com destaque para a sanfona, à melodia perfeita e à letra singela. Possivelmente a melhor canção nacional que ouvi este ano.
Há ‘Longe’, que Arnaldo Antunes já havia gravado em seu ótimo último álbum e aqui aparece com interpretação inspirada de Laura Lavieri. ‘Dar-te-ei’ é uma linda declaração de amor e aqui reside um dos méritos de Jeneci: saber ser romântico sem ser brega. Qualquer um que já tenha tentado compor uma canção de amor sabe o quanto isso é difícil.
E o álbum segue, sem pontos baixos, até seu fechamento com a bela canção título. Recomendo a todos que se dispam dos preconceitos e ouçam com atenção este disco, que junto com ‘Êfemera’, da Tulipa Ruiz e ‘Berlim Texas’, de Thiago Pethit, desmente os que apregoam não se fazer música pop de qualidade hoje em dia no Brasil.
Por Ricardo Pereira
Baixem, comprem: ouçam! |
Nenhum comentário:
Postar um comentário