"There's a fear I keep so deep / Knew it name since before I could speak (...) If some night I don't come home / Please don't think I've left you alone"- Keep The Car Running, Arcade Fire

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Do amor e outros demônios

Sou obcecado por listas. Desde moleque, mesmo antes de Hornby, sempre gostei de catalogar discos, filmes, melhores músicas de aberturas de discos e por aí vai. E ao ver a lista de melhores álbuns do ano da revista Mojo – e aqui abro um parêntese, minhas listas do ano surgem essa semana e as da década entre a última semana do ano e a primeira de janeiro -, encontrei Queen of Denmark, de um cantor chamado John Grant.

Como não o conhecia, fui atrás do disco. E acabei encontrando um trabalho da linhagem de um Automatic for the people, do R.E.M.; do primeiro Damien Rice; do Out of Season, da Beth Gibbons; do Sky Blue Sky, do Wilco, só pra ficar entre ‘recentes’. Ou seja, um conjunto de canções pop melancólico, emocionante, que nem o ouvinte mais exigente seria capaz de mudar detalhe algum.

A primeira impressão que se tem é de um disco dos anos 70 gravado com a tecnologia atual. Mas a despeito de comparações ou de como é bem gravado, o que se destaca mesmo é o poder de emocionar de cada música. Um dos discos mais bonitos que escuto nos últimos tempos.

Grant possui um timbre de voz lindo e os arranjos criados são de uma elegância e estilo perfeitos para ele. O cantor parece ter o dom de artesão pop, capaz de criar melodias aparentemente simples e fazê-las crescerem no momento exato. Tematicamente, o disco trata, assim como grande parte dos citados anteriormente, das dores e dificuldades da vida, do amor. Há algo meio gauche, do homem que não se adapta ao mundo, e também uma melancolia e desejo de evasão tipicamente românticos. Mas a vantagem é que aqui não há auto-piedade ou drama excessivo e sim uma dose de sarcasmo e ironia que faz com que as letras fujam do lugar comum.

Então as canções, que em sua maioria possuem um clima melancólico, ganham uma dose de humor, como, por exemplo, em ‘JC Hates Faggots’ ou nas referências à ficção científica presentes em alguns momentos.

É possível detectar um pouquinho do melhor Elton John, Bowie ou Cohen em meio aos arranjos folks e orquestrados de números como ‘TC and Honeybear’ ou ‘Sigourney Weaver’. Mas surgem apenas como influência, nunca como ‘cópia’.

Em meio a cantores e bandas com sons e discursos padronizados, é um prazer ouvir Grant compor grandes canções atemporais, nesta que é das melhores estreias recentes. E para quem acha que é mais um dos tantos exageros do Ricardo, ouça a canção abaixo, ‘Where Dreams Go To Die’, e veja se não tenho razão.




Por Ricardo Pereira

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