"There's a fear I keep so deep / Knew it name since before I could speak (...) If some night I don't come home / Please don't think I've left you alone"- Keep The Car Running, Arcade Fire

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

António Zambujo e o novo fado


 Tenho uma relação especial com Portugal, apesar de nunca ter ido lá. Muito por minha ascendência portuguesa, meus avós paternos vieram de lá e tenho várias características lusitanas, umas ‘no sangue’, outras adquiridas. A literatura é outro ponto de aproximação, Eça, Saramago e Abelaira foram grandes paixões em épocas diferentes. Inclusive, quando entrei no mestrado que não concluí, foi para Literatura Portuguesa. Por conta disso, passei a estudar a história de Portugal e me interessar ainda mais.

Em 2008, cismei que queria conhecer o que se produzia de música contemporânea portuguesa. E foi nessa pesquisa que conheci António Zambujo. Li que o disco ‘Outro Sentido’ (2007) havia recebido o prêmio de melhor disco de World Music numa revista francesa e fui atrás.

Simplesmente fiquei fascinado com o álbum, ouvi diariamente por cerca de um ano. Zambujo moderniza o fado ao juntá-lo com MPB, bossa nova e um toque de cool jazz. Para quem ainda não conhece, recomendo que comece com esse disco. É o terceiro de carreira e o primeiro a ser lançado no Brasil, via Universal. Gosto do álbum inteiro, há releituras de temas da música brasileira, como ‘Quando tu passas por mim’, de Vinicius, e interpretação de fados clássicos como ‘Amor de mel, amor de fel’, de Amália Rodrigues.

Há um clima especial, seja pelos arranjos suaves, que privilegiam a emoção e a voz – e que voz! – de Zambujo. Assisti a seu show as duas primeiras vezes em que esteve no Rio, em junho do ano passado, no Espaço Tom Jobim, e mais pro final do ano no Teatro Rival, a primeira vez com meu irmão e a segunda com meus pais. Foi algo especial, o poder da voz e da presença deste cantor é impressionante. Não fui a poucos shows e posso dizer que foi a melhor performance vocal que já presenciei ao vivo.

Este ano saiu seu novo disco, ‘Guia’, também lançado por aqui. Mais uma vez, estou encantando e ‘vivendo dentro’ do álbum. É um disco lindíssimo e que está me conquistando aos poucos, assim como seu antecessor. Mais uma vez, Vinicius se faz presente, com ‘Apelo’ e ‘Poema dos olhos da minha amada’, e a fórmula que me encantou em ‘Outro sentido’ está aqui aperfeiçoada, com arranjos ainda mais belos e os climas que fizeram com que me apaixonasse pela obra deste jovem fadista português.

Minhas preferidas por enquanto são ‘Não me dou longe de ti’, 'Barroco Tropical', ‘Zorro’ e ‘Quase um fado’, esta última de Rodrigo Maranhão, que, aliás, assina duas canções no álbum. Há também uma de Pedro Luís e já ouvi Zambujo elogiando o disco solo do Marcelo Camelo em entrevistas, o que mostra o quanto está por dentro do que é produzido por aqui também.

Mesmo que não tenha ligação tão forte com Portugal quanto eu, recomendo que vá atrás dos discos deste extraordinário cantor, que, com sua voz, consegue me transportar ao Alentejo, terra de meu avô. O seu Joaquim, que embora não esteja mais por aqui, tanto me orgulha e está tão presente em mim.


 
António Zambujo interpretando 'Zorro', tema de seu último álbum, Guia


Por Ricardo Pereira

Um comentário:

  1. Pelo que descreveu acho que vou gostar, conheço pouco da música de Portugal, mas acho fado lindo! Tenho uma canção com a Amália Rodrigues, belíssima, e uma versão de "ruas da minha cidade" com a Daniela LaSalvia que tb amo. Manda algo dele pra mim. Bjs!!!

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