Um dos grupos britânicos mais interessantes da década de 90,
o Suede, que desde o retorno aos palcos, em 2010, vem fazendo ótimos shows por
todo o planeta, também mostra que gravar discos inesquecíveis continua sendo um
dos objetivos do conjunto.
Os dois primeiros trabalhos do grupo – ainda com o brilhante
guitarrista Bernard Butler –, Suede
(1993) e Dog Man Star (1994), são
duas peças importantes em qualquer discoteca básica de rock moderno que se
preze. O álbum seguinte, Coming Up
(1996), já com novos integrantes, não apenas manteve o nível de qualidade, como
também alcançou um sucesso comercial inédito aos parâmetros da banda,
tornando-a mais conhecida fora da Inglaterra. Daí em diante, ladeira abaixo...
Mas sempre com elegância e bom gosto.
Seguiram-se discos menos inspirados, como Head Music (1999) e A New Morning (2002), o que desembocou na decisão do grupo em
encerrar as atividades em 2003, após o lançamento da ótima coletânea Singles. Era o fim da banda que soube
misturar David Bowie e The Smiths com maestria e originalidade, empacotando o
resultado numa embalagem chamativa para garotos e garotas que davam boas-vindas
ao segundo milênio, mas baseavam a trilha sonora da época em Glam Rock, Post-Punk e uma pitada do hedonismo herdado das raves e da
decadência fin-de-siècle.
Sete anos depois, o grupo retorna com uma série de
apresentações elogiadíssimas pela imprensa, incluindo aí uma passagem pelo
Brasil, no Planeta Terra Festival, em 2012. O primeiro disco pós-retorno, Bloodsports, é lançado em 2013. Se não consegue
chegar ao nível dos primeiros álbuns, o trabalho mostra um conjunto criativo e
fiel a suas raízes, defendendo uma coleção de boas canções com o tesão e o amor
de outrora.
Eis que chegamos a Night
Thoughts, lançado em janeiro deste ano. Confesso que ficaria até feliz em
repetir as palavras elogiosas, porém contidas, utilizadas ao citar o disco
anterior, mas não é o caso. O mais recente álbum do Suede é um trabalho
poderoso e dramático, belo e sombrio. Como se a banda recuperasse o espírito da
primeira metade dos 90 e o transportasse à atualidade, sem arestas a podar ou
concessões a fazer. Um disco para não perder a fé no rock, mesmo que a vida te
puxe para outras direções, prazeres e prioridades.
O começo climático com “When You Are Young” parece mesmo com
a música de abertura de algum filme. A voz de Brett Anderson, vocalista do
conjunto, aparece lá pelo meio da faixa, e emociona. Variando entre passagens
fortes e falsetes estilosos, Brett segue pontuando os trechos da curta canção
com intensidades diferentes, mostrando que um bom cantor faz a diferença.
A dobradinha que vem em seguida, formada por “Outsiders” e
“No Tomorrow”, é de chorar. A primeira, de instrumental mais sombrio, versa
aparentemente sobre um casal que, apesar da desolação relacionada à vida, segue
acreditando naquilo que se tem no momento – neste caso, o amor; a segunda, com
uma solar introdução de guitarra, é um convite ao enfrentamento das
dificuldades e tristezas, entendendo-se que não existe amanhã, e a vida é
agora.
“I Don’t Know How To Reach You” mostra a pegada mais
psicodélica do Suede, com um bonito refrão e uma letra sobre os problemas de
relacionamento com uma mesma pessoa, mas em diferentes fases. Já “What I’m
Trying To Tell You”, que vem em seguida, é o ponto alto do álbum. Por meio de
uma base dançante, Brett e os companheiros de banda vão saracoteando como um
bloco de carnaval britânico, cujo mestre-sala é Morrissey, e a porta-bandeira,
David Bowie. Uma homenagem às grandes influências do conjunto e ao próprio
caminho trilhado pelo grupo. Uma letra apaixonada sobre alguém que não sabe
como demonstrar o seu amor... Por conta de tanto amor.
O disco continua com duas baladas dramáticas, “Tightrope” e
“Learning To Be”. Talvez, por conta de aparecerem em sequência, elas fazem com
que o álbum perca embalo e urgência. De qualquer forma, quem surge em seguida é
“Like Kids”, um rock que coloca o álbum de volta aos trilhos. A próxima canção,
“I Can’t Give Her What She Wants”, também é uma faixa lenta, mas consegue se
destacar tanto pela forte letra sobre suicídio quanto pelo instrumental
pungente.
Night Thoughts
termina fazendo alusão ao início do álbum. Se a obra começa com “When You Are
Young” – quando você é jovem –, ao final, temos “When You Were Young” – quando
você era jovem –, que vem emendada com “The Fur & The Feathers”. A parte final do disco junta as peças do
quebra-cabeça: estamos diante de um trabalho conceitual, com canções que
dialogam entre si a respeito dos relacionamentos, do tempo, da vida e da morte.
Com seu mais novo disco, o Suede mostra que, apesar da
passagem dos anos, continua buscando novas e boas canções, entendendo que ainda
tem fogo a queimar e conquistas a efetuar. Se a banda voltou por grana,
aproveitando o bonde do revival? É
bem provável. Mesmo assim, o grupo segue excitado com as possibilidades e com,
como canta Brett na última faixa do álbum, “a emoção da perseguição”.
Grande resenha desse grande e surpreendente álbum. Abs.
ResponderExcluirObrigado por ler, Vitor!
ResponderExcluirAss: Hugo