"There's a fear I keep so deep / Knew it name since before I could speak (...) If some night I don't come home / Please don't think I've left you alone"- Keep The Car Running, Arcade Fire

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Erlendur: assassino, detetive e vítima

Conheci o trabalho do escritor islandês Arnaldur Indridason através do livro O segredo do lago (2013), lançado pela Companhia das Letras. A mesma editora já havia colocado nas livrarias brasileiras dois volumes do autor, O silêncio do túmulo (2011) e Vozes(2012), mas antes de todos eles, a Record lançou A cidade dos vidros (2008).

Os quatro livros representam para mim o que há de melhor na atual literatura policial. Ao menos, naquela que eu venho lendo ao longo dos anos. Confesso que não sou um expert no assunto, mas tenho minhas predileções. Destas, Arnaldur e seu detetive, o grande – e deveras humano – Erlendur, estão em primeiro lugar.




Não existem exageros ligados a tiros, mortes e cenas de ação nas aventuras de Erlendur e sua equipe, formada pelos detetives Elínborg e Sigurdur Óli. O andamento das tramas, apesar de ágil, contempla outras nuances, e talvez por isso o universo de Indridason seja tão especial. O passado, tanto nos casos investigados pelo detetive quanto na própria vida de Erlendur, tem total importância nas histórias, e é de lá que emana a força dos livros.

Erlendur tem dois filhos de um casamento fracassado, Eva Lind e Sindri. Ele abandonou a mulher e as crianças, e estas, ao crescerem, tornaram-se adultos problemáticos. Eva é usuária de drogas pesadas e vive se metendo em encrencas; Sindri, um jovem que não fala muito, aparecendo de tempos em tempos na casa do pai.



Para completar, grande parte dos dramas psicológicos de Erlendur floresceram por conta do sumiço do irmão, durante uma forte nevasca, quando os dois ainda eram crianças. Já crescido, o detetive continua sonhando com ele, culpando-se por se perder do irmão durante o tempo inóspito. Nada de sobrenatural ou fantástico: apenas fantasmas do destino, assombrando-o constantemente. A vida normal pode ser mais assustadora e sinistra do que qualquer caso de polícia.

Os questionamentos e as idiossincrasias de Erlendur e das pessoas que o rodeiam são tão interessantes quanto às histórias que vão sendo contadas ao longo dos livros. Na verdade, o enredo que se desenrola em aparente segundo plano nos volumes é o principal motivo de as tramas protagonizadas pelo detetive apresentarem muito mais do que crimes, investigações, reviravoltas e, por fim, a solução do caso. Arnaldur Indridason está escrevendo uma narrativa sobre um homem que, em meio a várias tormentas, ainda tem que dar conta do dilúvio de dor e arrependimento que invadiu sua vida pessoal.



No olho do furacão, Erlendur se segura como pode. Parece com alguém que você conhece?




Por Hugo Oliveira 

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