"There's a fear I keep so deep / Knew it name since before I could speak (...) If some night I don't come home / Please don't think I've left you alone"- Keep The Car Running, Arcade Fire

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Apenas um incômodo


Já tive orkut, tenho facebook, nunca tive saco para o twitter. Penso que as redes sociais têm suas vantagens, recados rápidos, compartilhamento de notícias ou discos interessantes, recomendação de filmes, e servem também para manter contato com amigos distantes. Mas algo que me enche o saco é que no facebook ‘todo mundo’ é foda, quer ser bonito, inteligente e descolado. Falam do que não gostam ou nem conhecem, fingem ser o que não são para ostentar uma imagem encantadora. E tome simulação e frases de efeito!

Pode ser ataque de ranzinzice, ontem uma amiga disse que alguns textos aqui parecem de um velho e outros dão a impressão de eu ser, segundo as palavras dela, “um Ian Curtis nascido em Bangu e enterrado em Angra”. Posso não ser o sujeito mais descontraído do mundo, não consigo me comportar como se a vida fosse uma micareta, mas nem me identifico com o eu - lírico triste que ela identificou por aqui não.

Tenho sim minhas idiossincrasias, principalmente no que se refere a músicas, livros, filmes. Obsessões com ordem cronológica, ouvir as faixas de um disco na ordem em que foram escolhidas, esse tipo de coisas. E isso talvez corrobore a visão da velhice textual percebido por minha amiga. Hoje, por exemplo, já ia esquecendo de comprar o jornal de toda sexta para ler o Dapieve, cheguei em casa e resolvi ler na internet mesmo. Mas mal comecei e, quando vi que a coluna era sobre o último Woody Allen, tive que sair pra comprar o jornal. É essa obsessão pelo objeto que me faz ainda comprar CDs, livros e DVDs e sempre preferir o jornal a ler online.

É o tipo de comportamento bem idiota, reconheço. Mas até valeu a pena, vi hoje que estão sendo lançados dois livros do Rubem Fonseca: Axilas e outras histórias indecorosas, de contos e José, uma espécie de livro de memórias não necessariamente biográfico, em que Fonseca se aproveita ironicamente da curiosidade exagerada que as pessoas têm sobre ele. Ao menos foi isso que eu entendi.

Mas voltando. Sei que ontem fiquei com a referida conversa na cabeça e lembrei de outra amiga, da época do Ensino Médio. Éramos afastados e nos aproximamos mais para o final do 3º ano, e ela uma vez se disse surpreendida por me conhecer como eu era, tinha uma imagem de um cara deprimido, pra baixo... Não sei de onde as pessoas tiram isso. Talvez pelo fato de eu não ser afeito a grandes exaltações, exceto quando o assunto é futebol, claro. Posso ganhar na loteria, um vale-cds de um milhão ou o Radiohead tocando no meu aniversário que vou ficar feliz demais, mas não demonstrarei efusivamente. Às vezes preciso até ficar repetindo o quanto fiquei contente, pois as pessoas tendem a não acreditar.

E essa autoanálise inútil começou pelo fato de mais uma vez eu sentir vergonha pelos outros no facebook. Ou foi pela conversa de ontem? Não importa, gostaria que as pessoas fosse apenas 10% do que afetam nas redes sociais para iludirem os outros. E se enganarem também, claro.

Queria ver tirar essa onda na vida real...

Por Ricardo Pereira

6 comentários:

  1. Que bonitinho escreveu sobe a nossa conversa, podia ter me dado credito, quero ficar famosa kkkkkk

    Você é meio velho mesmo e, apesar do discurso, tem nada de triste, tinha só que confiar mais em voc~e; deixa o Marcos me ver falando isso kkkkk]

    Beijo,
    Renata

    ResponderExcluir
  2. Pelo visto temos uma opinião bem parecida sobre o Facebook, que eu já tinha sobre o Orkut antes. Mas pior, só o Twitter mesmo, mil frases de efeito por minuto (percebo só de ver minha irmã nele por alguns minutos).

    ResponderExcluir
  3. Pô, Renata ficar famosa aqui??? rs Mas nossa conversa rendeu bastante autoanálise por aqui, pode ter certeza! A gente tinha que dar um jeito de se encontrar, sem dinheiro pra psicólogo rs - "deixa o Marcos me ver falando isso" rs

    Oi Mayra, meu problema com twitter é que "falo demais", 140 caracteres limita muito... E no facebook não aguento o povo querendo se exibir mesmo.

    ResponderExcluir
  4. Essa coisa das pessoas serem virtualmente o que não são realmente,já vem desde o orkut mesmo...

    Entendo até certo ponto que as pessoas queiram demonstrar felicidade a todo momento ao invés de suas fraquezas, tristezas pois não é legal ficar espalhando sentimentos que são ruins até pelo próprio bem da pessoa e por que nem todo mundo está preparado para o que é verdadeiro.
    Mas sim, tem gente que passa dos limites, vive tanto no mundo da fantasia virtual que esquece da vida real e a tendência é só se frustrar mesmo!

    E eu não acho seus textos de velho. Eu gosto deles! me identifico pacas!
    bjao

    ResponderExcluir
  5. Oi Grazi, não é nem tanto o fato de "demonstrarem alegria o tempo inteiro", mas aquela coisa de querer se mostrar foda, perfeito, entendido de tudo e com tiradas espirituosas pra tudo...

    Mas escrevi isso num momento de desabafo, passou rs

    Obrigado pelos elogios,

    Beijo

    Ricardo

    ResponderExcluir