Estagnação – esta seria sua bandeira, sua pátria, sua palavra de ordem. Sobreviver e cumprir seu ciclo apenas. Já vinha fazendo isso há algum tempo, agora seria consciente. Possuía um emprego estável e burocrático, que lhe permitia pouco contato com as pessoas. Nos momentos em que necessitava do convívio social, optava por uma educação e cortesia extremas, que disfarçavam sua aversão às pessoas.
Envolver-se o mínimo possível. No campo sentimental, já havia meio caminho andado. Seu último relacionamento deixara uma cicatriz que o impedia de qualquer envolvimento amoroso mais profundo. Havia sido uma bonita história, intensa, apaixonada demais, mas os danos de um fim abrupto emudeceram sua alma e seus sentidos.
Passara os primeiros meses esperando que ela voltasse arrependida. Houve dias em que acordava com a certeza de sua aparição. A segunda etapa, mais prolongada, foi esperar que ela aparecesse para se desculpar, colocou em seu íntimo que precisava disso para prosseguir. Só aconteceu quando já não mais esperava. E não houve nada da beleza redentora que fantasiara inspirado nos romances que pateticamente foram os falsos profetas de toda a sua vida. Foi frio, distante e triste, apenas.
Não ficara o amor, nem as boas lembranças, tampouco a saudade. Um amargo arrependimento, somente. Fantasiava constantemente voltar no tempo para um instante antes de tudo começar e fugir, ainda que ridícula e precipitadamente. Não sendo possível, tratava de proteger o presente e salvaguardar o futuro.
Vivia seu dia-a-dia esperando ansioso um fim-de-semana que só lhe trazia vazio e frustração. Não obstante, permanecia íntegro em seu projeto de fuga de levar a vida evitando-a. Sem grandes emoções, sem grandes objetivos, e com o mínimo de dor possível.
Por Ricardo Pereira
Tenho razão ou não? Mas ficou lindo
ResponderExcluirRenata
Nossa, muito bonito.
ResponderExcluirObrigado, meninas!
ResponderExcluirE Renata, esqueceu das aulas de lit? Isso é ficção, confundir autor e personagem não rola, né? Seja nos clássicos da literatura ou em textos despretensiosos como o meu ;)
Caramba hein! bom mesmo!
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