Então é isso: a cantora britânica Amy Winehouse, 27, responsável por injetar sangue novo na música soul – e outras coisas nada saudáveis no seu próprio corpo –, morreu no último sábado. Sozinha num quarto. Provavelmente, empapuçada de drogas e birita.
Diva destes tempos marcados pelo imediatismo, tão zoneada quanto estilosa, a moça era chegada numa fossa, numa dor de cotovelo. E, mesmo vivendo em tempos de redes sociais e internet 2.0, não tem jeito: bebidas, substâncias ilícitas, cigarros e boemia, apesar de considerados “old school”, continuan bombando na cartilha da autodestruição.
Sim, porque o “cordão dos torturados” pode até não aumentar cada vez mais... Mas também não sai de moda. Estamos – me incluo nessa, claro – sempre esperando pelo próximo gênio/idiota que vai mandar uma bala para a cabeça, uma dose fatal à corrente sanguínea ou que vai improvisar uma forca na cozinha de casa.
Comoção. Corrida à loja de discos. Depoimentos emocionados. Tributos duvidosos. Cinebiografias. Aniversários de morte em datas redondas.
O próximo da fila, por favor.
É assim, rapeize. A morte na música pop é uma faca de dois gumes. Dr. Jekyll e Mr. Hyde. Tem um sentimento sincero de dor e de tristeza... Mas também tem um mega apelo de “vamos sugar até o último centavo!”. Culpe a indústria cultural, que foi se aprimorando cada vez mais em trepar com os cadáveres famosos até o último resquício de suspiro/lucro – em vez “gozei”, “vendi”. Culpe a si mesmo também, pois temos uma curiosidade mórbida e galopante a respeito dos “rich and famous”, né não? Ah, vá! Não fode, camarada. A maioria quer saber quem come quem, quem trai quem, quem matou quem. Quem? Aliás, daria um ótimo nome de revista, certo? Piada sem graça mode on...
Amy Winehouse, apesar de todos os micos, desafinações e falta de profissionalismo, era um talento inconteste. A cara dessa geração que usa tatuagem, bebe Stella Artois – hum! – e tem 1.357 amigos no Facebook. Não basta cantar pra caralho, ter uma bela banda de apoio e uma puta estrutura de divulgação e marketing. Tem que estar conectado com o seu tempo, cara... Porque o zeitgeist é o borogodó da parada. Nem vem que não tem, Manolo – sempre quis escrever “Manolo” num texto.
Amy era uma garota deste milênio. De agora. O penteado retrô, a pegada de “mulher sofredora”, a sonoridade regada a soul Motown/Stax... Nada disso funcionaria se a moça não tivesse a “fuça mais anos 2000 de todas”. Mais do que desdentada, drogada, siliconada e desajeitada, Amy era a menina do dia seguinte, do que ainda está por vir. Atitude modernosa fake? Não acredito. Talvez, o grande talento dela seja justamente viver as coisas sem se importar com os outros. Beleza: pode ser efeito colateral referente ao uso de drogas, também. Mas eu fico com a primeira opção.
Amy é vítima ou é culpada pelo rumo que sua vida tomou? Um pouquinho de cada coisa, acredito. Ah, claro. Nós também temos culpa no cartório. Eu, você, o porteiro do condomínio da Praia do Jardim – de cima – e até mesmo o pato cantor que eu vi hoje, num canal local. Todo mundo age, ao menos um tiquinho, como aquele clássico traficante... Com a clássica tirada. “Ó, vou te dar de graça o primeiro baseado. Mas o próximo tem que pagar!”. Motivos? Apenas um, my dear. Dá um tesão danado ver o circo pegar fogo. Principalmente quando nós não somos os animais na jaula.
Tá chocadinho, santa? Diz aê: quem é que não fica decepcionado quando o plantão da Rede Globo pinta na tela e não anuncia nenhuma morte?
Ninguém é inocente.
Não existe mulher feia... É você que não bebeu, fumou, cheirou e injetou demais |
Por Hugo Oliveira