"There's a fear I keep so deep / Knew it name since before I could speak (...) If some night I don't come home / Please don't think I've left you alone"- Keep The Car Running, Arcade Fire

sábado, 31 de dezembro de 2011

All my lies are only wishes...

Mais um ano acabando. Inevitável pensar no que foi 2011 pra mim. 2011 foi o ano em que vi o Paul McCartney com meu pai; que mergulhei profundamente na obra do Bob Dylan e fui conquistado irreversivelmente; que Radiohead, R.E.M. e Wilco lançaram (bons) discos; que o R.E.M. acabou – ontem estava ouvindo o maravilhoso Live at Olympia e pensando que se tivesse que escolher cinco bandas da vida (e isso seria crueldade), Beatles, Radiohead e R.E.M. teriam lugares garantidos, Doors provavelmente também e a quinta eu deixo em branco para conseguir dormir em paz – e sinto orgulho enorme da obra que eles deixaram; que Almodóvar e Woody Allen lançaram filmes de que gostei muito; que Fringe e Sopranos ajudaram a ocupar o espaço que Lost ocupava serialmente na minha vida; que comecei a ler a ambiciosa e extraordinária biografia do Dostoievski escrita por Joseph Frank, estou no quarto volume, mas nesse terei que parar daqui a 150 páginas para reler O Idiota e daí a mais algumas para ler Os Demônios e depois, no meio do quinto volume, para reler O Adolescente, o que é garantia de mais alguns meses imerso neste projeto; que o Bloco fez dez anos, o V, vinte, e eu tinha certeza de que haveria um novo disco que seria tão impactante quanto esses pra mim e não rolou, mas provavelmente parte da culpa é minha; foi o ano em que fiquei mais só – e isso também é muito por minha responsabilidade – que me deixei de lado de uma forma incompreensível e só fui perceber há pouco.

...  I know I would die if I could come back new

No fim de uma espécie de retrospectiva do ano passado, afirmei 2010 ter sido um ano de despedidas – sim, todo ano é ano de despedidas... e de encontros e descobertas também, o que ajuda a vida a ser suportável – o fato é que listei algumas significativas e terminei o texto de forma até otimista. O que não contava era com sentir muito mais os efeitos de algumas daquelas despedidas durante este ano do que quando aconteceram, fazendo com que eu, sem perceber, esquecesse de mim. Isso comprometeu tanta coisa: trabalho, relações, minha saúde física e mental, a regularidade deste blog, enfim, diversos aspectos da minha vida. De, sei lá, outubro para cá, as coisas vêm, pouco a pouco, melhorando. Não posso deixar de citar pessoas que, de uma forma ou de outra, me ajudaram nos momentos complicados passados e me fizeram olhar para a frente: além dos seis aqui do núcleo familiar, Pedro Henrique, Hugo, Marcel, Camila, Marcella, Carol, Eugênia,  Isabella, Bartolomeu, Fábio, Roberto, Rodrigo, Loo e Cecel, Dani, Matheus, Sueli, Raquel... Nem todos vão ler ou ao menos têm ideia do quanto foram importantes em momentos específicos ou o tempo inteiro, mas fica aqui meu sincero agradecimento.

2011 foi um ano complicado a maior parte do tempo.

I survived
That’s good enough for now

Um 2012 melhor, mais feliz do que 2011, pra vocês e para mim.

Por Ricardo Pereira

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Os Vinte de V


Há vinte anos, em dezembro de 91, era lançado V, meu disco preferido da Legião Urbana. Um disco conceitual, denso, melancólico. E grande parte deste clima é devido a dois fatores fundamentais à época da feitura das canções, um político, e outro pessoal. O primeiro, os efeitos do governo Collor, que, para conter o colapso econômico do país, confiscou as poupanças e contas correntes de valor acima de 1200 dólares; e o segundo, o fato do cantor Renato Russo descobrir-se portador do vírus HIV. E a partir destes dois eixos é construído o alicerce de V.

O disco anterior, As quatro estações, canta o amor de diversas formas e foi extremamente bem sucedido, com todas as suas canções tocando no rádio e pelo menos seis mega hits. Em V há uma quebra, um choque. Ao invés de canções pop, uma coleção de números melancólicos, arrastados, longos, no que ficou conhecido como o disco “progressivo” da Legião – “Bem vindos aos anos 70!”, a banda saúda no encarte.

 Mas a ‘ruptura’ não é só musical.  Se na última faixa do álbum de 89, “Se fiquei esperando meu amor passar”, o amor é simples, fortalece, o eu - lírico afirma “quando se aprende a amar, o mundo passa a ser seu”, na primeira de V, “Love Song”, Russo canta os versos de uma cantiga do século XIII: “Pois naci nunca vi Amor (...) Pero sei que me quer matar”. Corte seco, sai Annie Hall, entra Interiores.

O modo que Renato encontra para entrelaçar os vieses político e pessoal que sustentam o álbum é voltando à Idade Média para falar do mundo contemporâneo. Em “Metal contra as nuvens”, épico de doze minutos dividido em quatro partes, o compositor encarna um cavaleiro medieval (“viajamos sete léguas / por entre abismos e florestas / por Deus nunca me vi tão só”), ecoando o momento político-social do país (“quase acreditei na sua promessa / e o que vejo é fome e destruição / perdi a minha sela e a minha espada / perdi o meu castelo e minha princesa”), sua situação pessoal (“é a verdade o que assombra / o descaso o que condena / a estupidez o que destrói/ eu vejo tudo que se foi / e o que não existe mais”) e arremata, levemente esperançoso, “não olhe para trás / (...) / o mundo começa agora / apenas começamos”.

O clima medieval continua na instrumental “A ordem dos templários”, lírica, melancólica, que desemboca em “A montanha mágica”, oito minutos de um blues lento, arrastado e uma das melhores letras de Renato Russo, sobre suas experiências com a heroína. Quatro canções, quase trinta minutos e nada sequer parecido com um hit, alguma semelhança com a banda d’As quatro estações.

Mas chegamos ao meio do álbum e ele ameaça se abrir, ao menos musicalmente, com “O teatro dos vampiros” e “Sereníssima”. A primeira, aliás, belíssima, ainda lenta como quase todo o disco e com versos expressando o desencanto do homem naquele começo da década de 90: “Vamos sair – mas não temos mais dinheiro / os meus amigos todos estão procurando emprego / voltamos a viver como há dez anos atrás / e a cada hora que passa / envelhecemos dez semanas”. Eu disse começo da década de 90, mas poderia ser começo dos 2000 ou dos 10, seria empobrecer demais o disco restringi-lo à era Collor, pois são versos atemporais. Como não se identificar, hoje, com estes ou outros da mesma estirpe contidos em todo o disco?

A sétima faixa, a balada “Vento no litoral”, é de uma beleza intensa e dolorida. Versa sobre a saudade em uma melodia triste, triste, como que refletindo o clima marítimo de uma praia cinza e desolada, em que o eu - lírico se pergunta, numa das definições de saudade de que mais gosto: “Aonde está você agora / além de aqui dentro de mim?”.

Para ‘quebrar’ um pouco a tristeza reinante, uma canção leve, sobre o cotidiano de um casal que se apronta para morar junto. Mas há também sombra, pois a necessidade do eu - lírico de fazer tudo pela pessoa amada, vem do fato de “o mundo andar tão complicado”. E o encerramento, metalinguístico, é uma beleza: “quero ouvir uma canção de amor / que fale da minha situação / de quem deixou a segurança do seu mundo / por amor”.

O peso retorna em “L’âge D’or”, com guitarras blueseiras e versos fortes, abordando, mais uma vez, as drogas: “Já tentei muitas coisas, de heroína a Jesus / e tudo que já fiz foi por vaidade”, e o disco encerra com “Come share my life”, canção tradicional americana, como não poderia deixar de ser, tristíssima.

V é o álbum que contém as melhores letras de Renato Russo e, provavelmente, em que a banda está em melhor forma musical. É um disco corajoso, por suceder de forma tão diferente a “coleção de hits” que foi As quatro estações, e é, pessoalmente, um disco muito importante pra mim. Foi minha bíblia musical de melancolia e solidão durante um bom tempo, provavelmente o disco que mais ouvi dos 11 aos 21, só havendo impacto semelhante quase dez anos depois de seu lançamento, quando do lançamento de Kid A, não por acaso, outro álbum de estranhamento e ruptura, em outro nível, outro contexto.

Por Ricardo Pereira

sábado, 24 de dezembro de 2011

Melhores Discos de 2011 - Internacionais



1 The Whole Love – Wilco

Após um álbum irregular, o Wilco volta à forma em um disco lindíssimo. A primeira música, a soberba “Art of almost”, até dá a impressão de que a banda voltou às experimentações dos clássicos Yankee Hotel Foxtrot e A Ghost is born, o que não se confirma no restante do álbum. Ainda assim, pra quem gosta de bonitas melodias, canções bem construídas e das letras geniais de Tweedy, o disco reserva pérolas como os rocks “Dawned on me”, “Born Alone” e “Standing O”; baladas da melhor safra como “Open Mind” e “Sunloathe”, e “Capitol City”, com clima Beatles circa 68.  Discaço.


 
2 Collapse Into Now – R.E.M.

O último disco de carreira do R.E.M. serviu como despedida em grande estilo. Um álbum irretocável, equilibrando rocks vigorosos e lindas baladas, contendo pérolas pops tipicamente R.E.M. como “Überlin” e “Oh My Heart”. Após o término da banda, fica a impressão que eles quiseram, na despedida, buscar um pouco do clima de cada fase marcante da carreira. Aos fãs, a saudade e uma dose de frustração por não terem a oportunidade de ver estas canções ao vivo.



3 The King of Limbs – Radiohead

A banda mais importante do mundo deu as caras em 2011 com um disco curto, apenas oito faixas, e que desapontou os admiradores da fase The Bends/Ok Computer e encantou os que acompanharam a banda pós Kid A. Há lirismo e suavidade em “Codex” e “Give up the ghost”, balanço e certa sensualidade em “Little by little” e “Lotus Flower” e a maravilhosa “Separator”. Fosse lançado em disco o ao vivo “From the basement”, com versões mais orgânicas das músicas do álbum, acrescidas de “Daily mail” e “Starcaise” – a melhor música do ano – estaria facilmente encabeçando esta lista.


 
4 The Harrow and the Harvest – Gillian Welch

É um álbum minimalista, com instrumental restrito aos violões/guitarras, banjo e gaita a serviço de canções sensíveis e emocionantes, resgatando temas tradicionais do folk, country e bluegrass. E toda esta delicadeza abriga letras muito boas, buscando inspiração na lírica recorrente do country tradicional adaptando-a aos dias atuais. Como se, habilmente, com seu canto envolvente, Welch nos levasse a Nashville idealizada por tantas histórias e canções, e por lá encontrássemos, se não a solução, uma proveitosa reflexão sobre o que passamos nos dias de hoje. 
Ouça: “Tennessee”, “Dark turn of mind” e “Down Along the Dixie Line”.


 
5 James Blake – James Blake

Disco trilha sonora de parte do meu 2011. Melancólico, cheio de silêncios, vazios, balbucios, repetições, tendo como moldura uma eletrônica algo minimalista. E um grande intérprete, que quando repete insistentemente que tudo que sabe é que está caindo, caindo, caindo..., não tenha dúvida, estamos nessa junto com ele.
Ouça: “Unluck”, “The Wilhelm Scream” e “I never learn to share”. 



6 The King is Dead – The Decemberists

Disco com clima setentista, há uma leveza, uma certa descontração (mais nas músicas do que nas letras) que permeia o álbum, um certo bucolismo em lindas baladas como ‘Rise to Me’, January Hymn’ e ‘Dear Avery’ ou em números mais agitados como ‘Rox in the Box’ ou ‘All Arise!’, uma das minhas preferidas. Há ainda participações de Peter Buck, guitarrista do R.E.M., e Gillian Welch.


 
7 Suck it and See – Arctic Monkeys

Disco mais maduro da banda até agora, com ênfase em belas melodias e nas letras cada vez melhores de Alex Turner, que consegue trazer para sua banda de origem um pouco da sensibilidade e pretensão do The Last Shadow Puppets.
Ouça: "She's Thunderstorms”, "Piledriver Waltz" e "Love is a Laserquest".


 
8 Mockingbird Time – The Jayhawks

Outro com sonoridade setentista, englobando folk e country-rock, lindas harmonias vocais e melodias arrebatadoras.
Ouça: “Tiny Arrows”, “Mockingbird time” e “Black-Eyed Susan”.


 
9 Apocalypse – Bill Callahan

O folk de Callahan aparece aqui acrescido de mais guitarras, que acrescentam peso e ainda mais intensidade às canções melancólicas e sensíveis do compositor norte-americano. Ora resvalando no jazz, ora no rock n’ roll, as lindas composições destacam sempre a poderosa voz de Callahan.
Ouça: “Universal Applicant”, “Free’s” e “One Fine Morning”.



10 Helplessness Blues – Fleet Foxes

Um álbum clássico, desde a capa até cada detalhe das canções. O Fleet Foxes trabalha sem se importar com a época em que vive, não adianta procurar contemporaneidade aqui. O clima é bucólico, folk com passagens levemente psicodélicas e harmonias vocais inacreditáveis de tão bonitas. Além disso, as letras são um passo a frente em relação ao primeiro disco.
Ouça: “Montezuma”, “The Shrine/ An Argument” e “Helplessness Blues”.

Poderiam estar na lista:

Bon Iver – Bon Iver
Bad as Me – Tom Waits
Circuital – My Morning Jacket
Fuerteventura – Russian Red
Wounded Rhymes – Likke Li
Rome – Danger Mouse and Daniele Luppi

Por Ricardo Pereira

Melhores Discos de 2011 - Nacionais



1 Kitsch Pop Cult – Felipe Cordeiro

O cantor e compositor paraense mistura lambada, carimbó, brega, rock e eletrônica num disco encantador. Há um pouco de Blitz em canções dialógicas com as meninas dos divertidos backing vocals e algo que me lembra o John dos primeiros discos do Pato Fu. Mas o que conquista mesmo é o quanto tanta mistura resulta em excelentes canções como a primeira, “Legal e Ilegal”, em que o cantor relaciona as drogas aos respectivos estilos musicais; as deliciosas “Fogo morena” e “Histórinha”; e as irresistíveis instrumentais “Lambada com farinha” e “Fim de festa”.



2 Setembro – Junio Barreto

O disco mais brasileiro do ano continua me encantando a cada audição. Canções belíssimas, partindo do samba, com arranjos inventivos e letras bem construídas, dando ênfase à natureza de forma tocante e original. Ouça: “Serenada solidão”, “Jardim Imperial” e “Noturna”.




3 Um labirinto em cada pé -  Romulo Fróes

Romulo mantém o nível do fundamental No chão sem o chão em seu sucessor. Um disco mais bem formatado, conciso, em que o que já foi catalogado de “samba triste” não para de evoluir em experimentações que não tiram o potencial pop das músicas. A destacar a simbiose do cavaquinho de Rodrigo Campos com as guitarras de Guilherme Held e as letras sempre instigantes de Clima e Nuno Ramos. Ouça: “Varre e sai”, “Tua beleza” e “Um labirinto em cada pé”.



4 Nó na orelha – Criolo

O rapper Criolo acerta em cheio num disco em que se aventura em estilos musicais variados, como o samba, reggae, dub, balada e brega, com resultados quase sempre excelentes. Um disco revigorante para o rap nacional. 
Ouça: “Bogotá”, “Subirusdoistiozin” e “Turma da Mônica do asfalto”.



 
5 Canções de apartamento – Cícero

Em Canções de apartamento, Cícero canta, adornado por melodias delicadas, mas não sem certa dose de tensão, o amor nos dias de hoje, as belezas e angústias de viver num mundo complicado, povoado de pessoas cada vez mais individualistas e solitárias. Um disco intimista e belo, grande companhia em vários momentos deste ano. 
Ouça: “Pelo Interfone”, “Açúcar ou adoçante” e “Tempo de pipa”.


 
6 Recanto – Gal Costa

Um disco de Gal Costa com músicas de Caetano Veloso, em 2011, tendo por base temas eletrônicos pode ser pra muitos uma visão do inferno. Não poderiam estar mais enganados. O álbum é belíssimo, melancólico, instigante, com excelente trabalho de Kassin nas programações e de Caetano e Moreno na produção. 
Ouça: “Recanto Escuro”, “Tudo dói” e “Madre Deus”.


 
7 Toque Dela – Marcelo Camelo

Mais enxuto do que o primeiro disco solo, Toque Dela apresenta um conjunto de canções tranquilo, reflexivo, cada vez mais distante do universo rock n’ roll. Entre ‘morenas’ e temas marítimos, Camelo canta a solidão e o amor em versos inspirados. 
Ouça: “Vermelho”, “Acostumar” e “Ôô”.


 
8 Que isso fique entre nós – Pélico

Um dos que mais ouvi este ano. Conjunto irresistível de canções pop influenciadas pela jovem guarda, tanto nas músicas, quanto nas letras carregadas de sentimentalismo, fazendo-se breguinhas na medida certa. 
Ouça: “Levarei”, “Não éramos tão assim” e “Sete minutos de solidão”.


 
9 Camiñando y Cantando – Wander Wildner

Em um disco de viagem, Wander Wildner, aparece mais lírico e melancólico do que qualquer outro de sua carreira. Belos violões e versos reflexivos constroem um álbum coeso, com excelentes versões de clássicos de Belchior e Sérgio Sampaio e pérolas como “Dani”, “A razão do meu viver” e “Boas notícias”.


 
10 Pitanga – Mallu Magalhães

Deixe o preconceito de lado e fique atento a essa menina. Melhor a cada disco, Mallu vai, aos poucos, amadurecendo e se “abrasileirando” musicalmente. Neste Pitanga aparecem os primeiros sinais da dificuldade de crescer, e isso rende bonitas canções como “Velha e Louca”, “Cena” e “Por que você faz assim comigo?”.


 
11 O que você quer saber de verdade – Marisa Monte

Marisa Monte, fora um ou outro deslize, costuma pautar sua carreira pelo bom gosto. Isso aparece neste disco na releitura de “Descalço no parque”, de Jorge Ben, e em números como “Era óbvio” e “Bem aqui”. No entanto, dessa vez, a cantora parece ter apostado – por razões mercadológicas, aproveitando o sucesso dos ultra cafonas sub-sertanejos? – em músicas com um pé (às vezes o corpo inteiro) no brega. E se sai bem nessa vertente em “Depois”, “Ainda bem” e “Aquela velha canção”, minhas preferidas do disco.


 
12 Boa parte de mim vai embora – Vanguart

E o Vanguart retorna, em seu segundo disco de inéditas, carregado de tristeza e melancolia. Não há a mudança radical de sonoridade apregoada por Hélio Flanders em entrevistas antes do lançamento, a base continua o pop-rock-folk do primeiro álbum, agora mais carregado de acidez e desilusão. 
Ouça: “Mi vida eres tu”, “Se tiver que ser na bala, vai” e “Engole (arde mais que brasa em pele quente)”.

Poderiam estar na lista:

Acústico-sucateiro – Apanhador Só
O destino vestido de noiva – Fábio Góes
Passo Torto – Passo Torto

Por Ricardo Pereira

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Relembrando Costello

Eu já escrevi neste espaço que admiro muito o trabalho do cantor e compositor Elvis Costello?


"Veronica" - Transformar o Mal de Alzheimer em canção não é para qualquer um. Ah, e ainda tem Paul MacCartney no baixo.


"(What's so funny 'bout) Peace, love and understanding - Cover de uma canção do cantor Nick Lowe. Letra simples e verdadeira. New wave apunkalhada. Foda.


"American gangster time" - Sonzeira incluída no ótimo disco "Monofuku", de 2008. Tecladinho com sonoridade de churrascaria, guitarras sujas e toda a classe do nerd mais cool do mundo ao cantar.

Por Hugo Oliveira

Paranoia epidêmica

Assisti ontem ao filme “Contágio”, do diretor Steven Soderbergh. São 106 minutos de paranoia geral, ancorados na história de um novo vírus que ameaça a humanidade não apenas através da doença que dissemina, mas, principalmente, pela confusão que causa entre políticos, pesquisadores da área de saúde, imprensa e a população.
A trama principal tem a ver com a tentativa de descobrir como – e onde – o vírus surgiu. Mais do que isso: encontrar uma possível cura para o mal. Ao redor disso, subtramas se desenrolam. O ator Matt Damon interpreta um chefe de família que manteve contato com uma das primeiras vítimas do vírus, sua atual esposa, Beth Emhoff – personagem defendida por Gwyneth Paltrow –, que teria contraído a doença por causa de uma viagem de negócios a Hong Kong; o médico Ellis Cheever – Laurence Fishburne – e a doutora Erin Mears – Kate Winslet – lutam contra o tempo para desvendar, seguindo as ordens dos manda-chuvas do Departamento de Segurança Nacional dos Estados Unidos, a questão que lhes foi colocada: o vírus, batizado de Mev-1, surgiu de forma acidental ou como uma arma biológica? Já a epidemiologista da Organização Mundial da Saúde, Leonora Orantes – Marion Cotillard –, recebe a missão de viajar a Hong Kong para pesquisar o provável local de origem da doença, e acaba sequestrada, dando início a um problema internacional.
O jornalista Alan Krumwiede – papel efetuado pelo ator Jude Law – é uma das personagens mais interessantes da película. Alan foi um dos primeiros que divulgou, em seu blog, o vídeo de uma pessoa aparentemente infectada pelo vírus. Daí em diante o jornalista vai ganhando credibilidade – ao mesmo tempo em que o Mev-1 vai se espalhando pelo globo –, chegando a apontar um remédio homeopático como a cura da doença e a pedir a seus leitores que não tomem a vacina produzida pelo governo.
“Contágio” não é um filme sobre uma doença. Tampouco a respeito de um vírus com o poder de devastar a humanidade. Na verdade, é uma obra que versa sobre uma espécie de “paranoia epidêmica”, expressão absolutamente plausível nos dias de hoje. Os sintomas, as mortes em massa, a tristeza pelas mortes dos entes queridos são itens secundários na criação de Soderbergh, que lança um olhar muito realista – e por vezes cruel – sobre o poder não de um, mas de vários “medos”. Para sair do cinema e lavar as mãos.

Você nunca mais vai encostar numa maçaneta como antigamente...

Por Hugo Oliveira

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Um brinde socrático

Não vi Sócrates jogar “ao vivo”. Apenas em tapes, nas histórias lidas e ouvidas por mestres e apreciadores do bom futebol. Ainda assim, sempre o considerei – provavelmente pelos motivos errados, alguns dirão – uma das figuras mais admiráveis do futebol brasileiro. Além de toda a categoria dentro das quatro linhas, suas histórias de participação política e seu estilo de vida boêmio e irreverente criaram um encantamento maior pelo personagem Sócrates.

Talvez por crescer – e permanecer – admirando a vida e obra de artistas tão geniais quanto autodestrutivos (Morrison, Janis, Chet e a lista não tem fim...), sempre nutri interesse especial por histórias como as de Gerson fumando nos intervalos das partidas e depois jogando o fino; Garrincha e seu alcoolismo e gênio incomum; e o mesmo se dava com a boemia de Sócrates. Aos que condenam a postura do craque corintiano, é bom lembrar que o mesmo era médico, sabia dos malefícios do álcool e escolheu viver assim. Há bem pouco tempo, em entrevista ao Sportv, declarou não se arrepender de nada, pois nunca poderia viver “careta”, ressaltando ter seus 60 anos muito bem vividos.

E para completar meu adeus-manifestação de admiração ao doutor Sócrates, deixo um trecho do excelente texto de Flávio Gomes (leiam inteiro que vale a pena):

" (...)
Avança a fita.

Ano passado, um velho e empoeirado e querido pub em Pinheiros, faz frio, as portas já fechadas, o dono não quer nem saber, quem quiser fumar, fume, fumem e bebam  antes que o mundo acabe, o amigo tocando violão, a gente ali, tentando entender o que estava acontecendo com nossas vidas, aí ele entra alto, forte, senta, pede um vinho, sorri, canta, sorri, bebe, sorri, fuma, e a gente tira foto com ele, e o mundo é um lugar até aceitável quando a gente vê que tem gente como ele, que jogava bola, que só vencia a timidez diante da multidão falando e tocando de calcanhar, e que sorria, e bebia e fumava.

Sócrates morreu de tanto viver, que é uma boa forma de morrer.”

"Well I'll tell you a story of whiskey and mystics and men...
Por Ricardo Pereira

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

People Are The Same Everywhere

Morrissey apresentando a inédita "People are the same everywhere" no programa do Conan O’Brien.



Por Ricardo Pereira

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Setembro - Junio Barreto

Fui atrás deste Setembro do cantor e compositor pernambucano Junio Barreto após algumas críticas positivas. A grande motivação foi a referência a Guimarães Rosa, meu escritor brasileiro preferido, na maioria delas. Bem, o que há de roseano aqui é a natureza pontuando o disco praticamente todo: o mar, a chuva, o céu, as flores, o “ribeirinho” ilustram e enriquecem os sentimentos expostos em cada canção.

E a motivação literária acabou me apresentando a um disco que não consigo parar de ouvir e a um compositor interessantíssimo. Junio Barreto parte do samba, engloba diversos estilos, chegando a um resultado pop e brasileiro, antes de qualquer classificação.

A canção que abre o álbum, “Serenada solidão” é excelente cartão de visitas. A guitarra de Gustavo Ruiz e o teclado de Vitor Araujo constroem o balanço ideal para a bela letra, que chama a atenção pela sintaxe não convencional e escolha vocabular, que apresenta um letrista de léxico simples, mas que parece encaixar as palavras com esmero e requinte. A faixa título com refrão algo tropicalista tem como destaque a participação de Chiquinho, tecladista do Mombojó e a beleza de guitarra de Junior Boca. Beleza aliás é a terceira faixa, “Jardim Imperial”, uma espécie de marchinha melancólica, a tratar do “estrago” causado pela sempre “enganadora tentação”.

Há de se chamar a atenção para o excelente trabalho de Pupillo na produção e a sofisticação dos arranjos. Difícil encontrar na MPB recente canções belas e tão bem trabalhadas como “Noturna” e “Fineza”, esta última contando com um ótimo violão de Seu Jorge. E falando em participação, quem se faz presente novamente é o Mombojó, agora a banda inteira tocando a bem breguinha “Passione”. Intercaladas a esta há a irresistível “Gafieira da maré” e a instrumental “Vamos abraçar o sol”, esta sim com clima de gafieira e malandragem hugocarvânica. E Setembro fecha sutil, delicado, em piano, voz e sofisticação no “Alento da lagoinha”, com alguns dos versos mais bonitos do álbum.

O disco é curto, são dez canções, pérolas a aguardar a acolhida de ouvintes carentes de boa música brasileira. E brasileira aqui está longe de ser apenas por produzida no Brasil, Setembro é o conjunto de canções mais brasileiro que ouço em muito tempo, representativo do que há de belo neste país. Brasileiro, aí sim, como a literatura de João Guimarães Rosa.

Baixe aqui. 
Por Ricardo Pereira

domingo, 27 de novembro de 2011

My reflection, dirty mirror

Ultimamente, por uma série de motivos, tenho pensado muito em como cheguei ao momento em que me encontro atualmente. Para alguns dos problemas, o diagnóstico é fácil; para outros, é recomendável cuidado até mesmo para que se pense em como resolvê-los. Não é minha intenção vir aqui dramatizar meu cotidiano, até porque o que há é apenas uma camada de hermetismo e solidão que resolvi impingir a mim mesmo. Os motivos? Talvez uma reflexão sobre ecos esparsos encontrados em um e outro elemento circundante ajude-me de alguma forma.

Em minha última postagem, falei sobre séries a que venho assistindo e que suprem a falta que Lost deixou desde seu término. Mas não falei de uma essencial que me acompanha há alguns anos e sempre mexe comigo de uma forma ou de outra: House. Seu protagonista, Gregory House, é um dos melhores personagens de qualquer estilo ficcional recente. Durante um tempo, forcei similitudes entre meu comportamento e o do genial especialista em diagnósticos e a única (des)vantagem que arrumei foi uma injustificada arrogância que foi a base de uma demissão.

Ainda assim, assistindo à série, vivo encontrando comportamentos com os quais me identifico (ou os quais, segundo uma grande amiga, me justificam). Um deles, na segunda metade da sétima temporada, mostra House desmarcando um compromisso com sua namorada, alegando a necessidade de sair com seu melhor amigo que precisava de seu apoio, pois estava recém-separado. Ao mesmo tempo, desmarcava o encontro com o amigo, pois era aniversário da namorada e não poderia deixar de estar com ela. Tudo o que queria era estar sozinho em seu apartamento, tomando seu uísque, assistindo a alguma série brega ou ouvindo um som.

O outro, já na oitava temporada, mostra House conversando com Wilson, seu melhor (único) amigo. Enquanto estão falando sobre o que o interessa, ele está atento. Mas, no momento, em que a conversa é desviada para um paciente de seu amigo, House não está mais ali, afinal, já não é mais sobre ele ou algo que importe a ele.

Outro espelho nem sempre saudável, é minha relação com o Botafogo. Outro dia postei aqui algo como: o Botafogo sou eu. Acredito nisso, há muitas semelhanças entre como sou e a personalidade de meu clube do coração. Sim, isso existe para todos os clubes e é mais forte do que a maioria das pessoas consegue enxergar, quando teima em considerar o futebol “apenas um jogo” ou  mera “distração para as massas”. 

Acontece que coincidências (?) não tão agradáveis marcam o meu percurso recentes e o do Botafogo de Futebol e Regatas. E na semana passada o comentarista Gilmar Ferreira dos Santos escreveu o seguinte sobre o momento atual do clube: “É impressionante a incapacidade do Botafogo em exorcizar seus fantasmas, e afastar-se das assombrações que o emperram nos momentos decisivos.” 

Talvez nenhum psicólogo/psiquiatra poderia falar melhor sobre mim neste momento.

there's no connection to myself
 Por Ricardo Pereira

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Bridge over troubled water

Edição especial  de "Bridge over troubled water" em mãos! A semana vai ser regada a folk, claro!

Abaixo, uma das canções mais bonitas do disco, ao vivo. Coisa fina.


"Song for the asking" - live at Long Beach Arena, California, 1969.

Por Hugo Oliveira

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Lollapalooza Brasil

Quanto tempo, não? Hora de tentar retomar o ritmo. As novidades musicais continuam pipocando, e uma delas merece destaque: o line-up da versão brasileira do festival alternativo Lollapalooza, que terá a sua primeira edição sendo realizada nos dias 7 e 8 de abril de 2012 - no Jockey Clube de São Paulo.
Divulgada na internet, na última semana, muitos cogitam que a escalação pode ser falsa, como já aconteceu com diversos eventos do tipo ao redor do mundo. Do contrário, o que pensar? Tem grandes nomes internacionais e nacionais - Foo Fighters, Arctic Monkeys, Jane's Addiction, O Rappa - e novidades - Skrillex, Foster The People, Cage The Elephant -, mas, ao menos para que este que vos escreve, não motiva a sair de casa e encarar o evento.

Esperava outros nomes, mas é um lance pessoal - Morrissey, Arcade Fire, Fleet Foxes, Elvis Costello, Brett Anderson/Suede, Pulp, Noel Gallagher, Richard Hawley. Festival dos sonhos só mesmo na nossa cabeça, certo? O lance é ir se divertindo com o que pinta. Aproveite por mim!

Mais um festival de peso no país


Por Hugo Oliveira

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Fringe, Dexter, Person of Interest ou o vazio pós-Lost

Com o fim de Lost, senti-me órfão. Comecei então uma procura por outra série que substituísse ou ao menos minimizasse a saudade. Nessa busca, entre algumas descartadas, ao menos três permanecem e seguem me acompanhando semana a semana.

Dexter me foi muito bem recomendada há pouco mais de um ano. No começo, estranhei a mistura de climas (músicas latinas e atmosfera sombria, por exemplo) e achei o protagonista algo caricato. Mas já na primeira temporada a série cresceu o bastante para manter meu interesse.

As contradições e angústias de um serial killer de serial killers, com um ideal que às vezes toma emprestado algo do super homem nietzschiano rende excelentes momentos e pelo menos uma temporada irretocável – a quarta. No momento, a série está no começo de seu sexto ano e parece se recuperar de uma quinta temporada frustrante, ao abordar como temas principais a fé e a religiosidade. Ah, confesso que com o decorrer da série fui me apaixonado perdidamente por Debra, irmã do protagonista...

 
Outra que venho acompanhando com interesse é Person of Interest, a “nova série do Ben”, que estreou há cerca de um mês. Nela, Finch, o sempre ótimo Michael Emerson, construiu uma máquina para o governo americano descobrir e evitar atentados terroristas após o 11 de setembro. Mas a partir dos resultados obtidos, sobram crimes “menores”, pessoais, que não interessam ao governo.
                
Ben, quer dizer, Finch, contrata então John Reese (Jim Caviezel), ex-agente da CIA, uma espécie de cruzamento entre Luke Skywalker e Stallone Cobra, para impedir que os assassinatos sejam cometidos. O começo da série é empolgante. Boas cenas de ação, lacunas no passado dos protagonistas que podem render mais à frente e a boa sacada do acompanhamento das cenas pelas câmeras de segurança vão construindo uma primeira temporada promissora.


E o grande destaque adquirido na ressaca pós-fim de Lost é, sem dúvida, Fringe. Meu interesse em assisti-la partiu do fato de ser criação de J.J. Abrams, um dos cérebros responsáveis por Lost e dos criadores mais instigantes a aparecer recentemente no mundo do entretenimento pop.

Não achei que me envolveria tanto com Fringe, pois nunca tive muita paciência para ficção científica. E, pra piorar, a primeira temporada começa oscilante, algo perdida, sem foco aparente. No entanto, cresce e se garante em sua segunda metade. E Abrams nos brinda com o que Lost teve de melhor: o completo domínio da técnica folhetinesca, criando ganchos fantásticos entre os episódios e as temporadas que deixam o espectador “preso” à trama; e, principalmente, a construção dos personagens.

Pois mais do que os aclamados efeitos especiais, os bons roteiros ou as intrincadas viradas e desenvolvimentos narrativos, foram os personagens e suas relações, sua “humanidade”, que consolidaram minha ligação com a série. Assim como em Lost os personagens complexos e esféricos, com seus defeitos e qualidades, mantinham e adicionavam interesse à batida premissa de pessoas perdidas numa ilha deserta, em Fringe, no meio de tantas complicações e “viagens” científicas, é a relação entre Peter Bishop e Olivia e, principalmente, Walter, que conduz a narrativa.

Walter Bishop, inclusive, é o grande personagem da série, sua genialidade em comunhão com uma imensa fragilidade emocional garante os melhores momentos de Fringe. Sem contar que é um prazer assistir a seu intérprete, John Noble, dar um show a cada episódio. Em minha opinião, a melhor das séries em curso.


Por Ricardo Pereira