"There's a fear I keep so deep / Knew it name since before I could speak (...) If some night I don't come home / Please don't think I've left you alone"- Keep The Car Running, Arcade Fire

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Fringe, Dexter, Person of Interest ou o vazio pós-Lost

Com o fim de Lost, senti-me órfão. Comecei então uma procura por outra série que substituísse ou ao menos minimizasse a saudade. Nessa busca, entre algumas descartadas, ao menos três permanecem e seguem me acompanhando semana a semana.

Dexter me foi muito bem recomendada há pouco mais de um ano. No começo, estranhei a mistura de climas (músicas latinas e atmosfera sombria, por exemplo) e achei o protagonista algo caricato. Mas já na primeira temporada a série cresceu o bastante para manter meu interesse.

As contradições e angústias de um serial killer de serial killers, com um ideal que às vezes toma emprestado algo do super homem nietzschiano rende excelentes momentos e pelo menos uma temporada irretocável – a quarta. No momento, a série está no começo de seu sexto ano e parece se recuperar de uma quinta temporada frustrante, ao abordar como temas principais a fé e a religiosidade. Ah, confesso que com o decorrer da série fui me apaixonado perdidamente por Debra, irmã do protagonista...

 
Outra que venho acompanhando com interesse é Person of Interest, a “nova série do Ben”, que estreou há cerca de um mês. Nela, Finch, o sempre ótimo Michael Emerson, construiu uma máquina para o governo americano descobrir e evitar atentados terroristas após o 11 de setembro. Mas a partir dos resultados obtidos, sobram crimes “menores”, pessoais, que não interessam ao governo.
                
Ben, quer dizer, Finch, contrata então John Reese (Jim Caviezel), ex-agente da CIA, uma espécie de cruzamento entre Luke Skywalker e Stallone Cobra, para impedir que os assassinatos sejam cometidos. O começo da série é empolgante. Boas cenas de ação, lacunas no passado dos protagonistas que podem render mais à frente e a boa sacada do acompanhamento das cenas pelas câmeras de segurança vão construindo uma primeira temporada promissora.


E o grande destaque adquirido na ressaca pós-fim de Lost é, sem dúvida, Fringe. Meu interesse em assisti-la partiu do fato de ser criação de J.J. Abrams, um dos cérebros responsáveis por Lost e dos criadores mais instigantes a aparecer recentemente no mundo do entretenimento pop.

Não achei que me envolveria tanto com Fringe, pois nunca tive muita paciência para ficção científica. E, pra piorar, a primeira temporada começa oscilante, algo perdida, sem foco aparente. No entanto, cresce e se garante em sua segunda metade. E Abrams nos brinda com o que Lost teve de melhor: o completo domínio da técnica folhetinesca, criando ganchos fantásticos entre os episódios e as temporadas que deixam o espectador “preso” à trama; e, principalmente, a construção dos personagens.

Pois mais do que os aclamados efeitos especiais, os bons roteiros ou as intrincadas viradas e desenvolvimentos narrativos, foram os personagens e suas relações, sua “humanidade”, que consolidaram minha ligação com a série. Assim como em Lost os personagens complexos e esféricos, com seus defeitos e qualidades, mantinham e adicionavam interesse à batida premissa de pessoas perdidas numa ilha deserta, em Fringe, no meio de tantas complicações e “viagens” científicas, é a relação entre Peter Bishop e Olivia e, principalmente, Walter, que conduz a narrativa.

Walter Bishop, inclusive, é o grande personagem da série, sua genialidade em comunhão com uma imensa fragilidade emocional garante os melhores momentos de Fringe. Sem contar que é um prazer assistir a seu intérprete, John Noble, dar um show a cada episódio. Em minha opinião, a melhor das séries em curso.


Por Ricardo Pereira

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