Fui atrás deste Setembro do cantor e compositor pernambucano Junio Barreto após algumas críticas positivas. A grande motivação foi a referência a Guimarães Rosa, meu escritor brasileiro preferido, na maioria delas. Bem, o que há de roseano aqui é a natureza pontuando o disco praticamente todo: o mar, a chuva, o céu, as flores, o “ribeirinho” ilustram e enriquecem os sentimentos expostos em cada canção.
E a motivação literária acabou me apresentando a um disco que não consigo parar de ouvir e a um compositor interessantíssimo. Junio Barreto parte do samba, engloba diversos estilos, chegando a um resultado pop e brasileiro, antes de qualquer classificação.
A canção que abre o álbum, “Serenada solidão” é excelente cartão de visitas. A guitarra de Gustavo Ruiz e o teclado de Vitor Araujo constroem o balanço ideal para a bela letra, que chama a atenção pela sintaxe não convencional e escolha vocabular, que apresenta um letrista de léxico simples, mas que parece encaixar as palavras com esmero e requinte. A faixa título com refrão algo tropicalista tem como destaque a participação de Chiquinho, tecladista do Mombojó e a beleza de guitarra de Junior Boca. Beleza aliás é a terceira faixa, “Jardim Imperial”, uma espécie de marchinha melancólica, a tratar do “estrago” causado pela sempre “enganadora tentação”.
Há de se chamar a atenção para o excelente trabalho de Pupillo na produção e a sofisticação dos arranjos. Difícil encontrar na MPB recente canções belas e tão bem trabalhadas como “Noturna” e “Fineza”, esta última contando com um ótimo violão de Seu Jorge. E falando em participação, quem se faz presente novamente é o Mombojó, agora a banda inteira tocando a bem breguinha “Passione”. Intercaladas a esta há a irresistível “Gafieira da maré” e a instrumental “Vamos abraçar o sol”, esta sim com clima de gafieira e malandragem hugocarvânica. E Setembro fecha sutil, delicado, em piano, voz e sofisticação no “Alento da lagoinha”, com alguns dos versos mais bonitos do álbum.
O disco é curto, são dez canções, pérolas a aguardar a acolhida de ouvintes carentes de boa música brasileira. E brasileira aqui está longe de ser apenas por produzida no Brasil, Setembro é o conjunto de canções mais brasileiro que ouço em muito tempo, representativo do que há de belo neste país. Brasileiro, aí sim, como a literatura de João Guimarães Rosa.
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Por Ricardo Pereira
Muito interessantem, vou ouvir, =D.
ResponderExcluirSempre tem umas dicas muito boas nesse blog, hehe.