"There's a fear I keep so deep / Knew it name since before I could speak (...) If some night I don't come home / Please don't think I've left you alone"- Keep The Car Running, Arcade Fire

domingo, 13 de janeiro de 2013

A lenda de Skwit


- O Skwit está por aqui hoje?
- Quem??
- O Rodrigo. É folga dele?
- Trabalha nenhum Rodrigo aqui não...

Saiu da loja de instrumentos musicais sem entender. Ligou então para o celular do amigo: “Este número não existe, favor consultar a lista telefônica”. O que estaria acontecendo? Foi à casa dele e ninguém conhecia Rodrigo Honorato.

Tudo começara na véspera quando mandaram o link de um vídeo feito por celular em que aparecia com seus amigos na frente de um conhecido bar da região morrendo de rir aparentemente de nada, apontando para o vazio. Estavam, na verdade, rindo de mais uma série de katas protagonizada pelo Skwit depois de mais uma noite de álcool. Mas, onde estava o Skwit que não aparecia no vídeo?

Ligou para um amigo comum que o tranquilizou. Na véspera, havia tomado umas cervejas com ele, que estava inclusive preocupado em como iria abrir a loja no dia seguinte. As coisas não fechavam, estaria enlouquecendo? Encontrou amigos proprietários de um bar e estes asseguravam que todo santo dia o Skwit aparecia por lá bebendo com alguém.

Contou o que estava acontecendo. A princípio, não acreditaram, mas, ao assistir ao vídeo em que riam pateticamente para o vazio, resolveram também procurá-lo. E nada... Fora os amigos mais íntimos, ninguém sabia dele, era como se não existisse para o resto do mundo. Procuraram nas redes sociais e nem na internet havia sinal de sua existência.

É claro! Através da música o encontrariam com facilidade, afinal era um dos raros bateristas da cidade e, por isso, tocava com diversas bandas. Primeiro, procuraram um vídeo de sua primeira banda, Malkavianos, e qual não foi a surpresa ao assistirem a banda tocando seu punk pop com... uma bateria eletrônica. Ainda havia uma entrevista do guitarrista, Gláucio, afirmando que, por não encontrarem um baterista, e inspirados pelos dois primeiros álbuns do Pato Fu, esta fora a solução encontrada.

Pesquisando mais, descobriram assombrados que este procedimento virou uma febre na cidade. Era grande o número de bandas com bateria eletrônica, nos últimos anos até bandas de blues e trash metal utilizaram este artifício. A última a fazer sucesso dessa forma era a Valleriana, que possuía uma bateria eletrônica mais moderna e bem programada do que a da época do Malkavianos.

Terrificados, descobriram ser o Skwit uma alucinação coletiva. A perfeita tradução do amigo imaginário, um cara que estava presente os fazendo rir com seu senso de humor, katas, danças esquisitas, mas que também conversava sério quando precisavam. Não foi difícil descobrir o que ativava sua aparição: a doideira.

Pediram uma cerveja e viram o Skwit se materializar aos poucos. Primeiro, a mão - pra segurar o copo, claro - e, conforme bebiam, o resto do corpo aparecia como mágica. Bastava virar uma pinga para vê-lo serelepe imitando o Mick Jagger ou ligando para o Gláucio.

O que ignoravam então é que Skwit era uma espécie de divindade da doideira e havia inclusive um culto secreto à sua figura espalhado por todo o mundo, como uma maçonaria de bêbados tendo por referência aquela adorável criatura. Na verdade, todos que despejavam bebidas “pro santo” era para ele que as destinavam. E todos os bebuns facilmente encontrados por aí rindo e falando sozinhos na realidade não estavam solitários e, sim, na companhia de Rodrigo “Skwit” Honorato.

Busto de Skwit construído em Recife.
Por Ricardo Pereira

11 comentários:

  1. Cara, que foda!
    Adorei o texto!

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  2. ainda acho que isso pode virar um livro =D sensacional

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  3. Muito bem escrito esse texto, adorei! E me senti meio com medo, mas agora vou entender se eu encontrar o Skwit num bar aqui no Rio!!

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  4. Apesar do deboche óbvio, um texto bonito e uma bela homenagem.

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  5. Haha! Gostei muito do texto, e a foto acompanhou muito bem!

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  6. Divindade da doideira! haahahahahahha Muito bom!!

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  7. Aí, gente. Obrigado pelos elogios. O texto não sairia tão bom se eu não tivesse um personagem desse nível hehe

    Abraços!

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