“A respiração de Danny tornou-se
rápida e superficial, e então ele tentou desacelerá-la. O medo era perigoso.
Deixava entrar o verme: mais uma
palavra que Danny e seus amigos tinham inventado muitos anos antes, fumando
baseado, cheirando carreiras de cocaína e se perguntando como chamar aquele
negócio que acontecia com as pessoas quando elas perdiam a confiança e ficavam
falsas, esquisitas, ansiosas. Seria a paranoia?
Baixa autoestima? Insegurança? Pânico? Aquelas palavras eram todas rasas demais. Porém o verme, que foi a palavra que acabaram
escolhendo, era tridimensional: rastejava para dentro das pessoas e começava a
comer, até que tudo vinha abaixo, a vida deles por completo, e elas acabavam
ficando tensas, ou voltando para a casa dos pais, ou sendo internadas no
hospital Bellevue ou, no caso de uma garota que todos eles conheciam, pulando
do alto da ponte de Manhattan.”
“(...) e sentia um tranco de
alívio, e depois outro tranco que o obrigava a se sentar onde quer que
estivesse e olhar fixamente para o espaço vazio. Porque não acontecera com
Danny uma coisa que deveria ter acontecido. Ou talvez tivessem acontecido as
coisas erradas, ou talvez muitas coisas pequenas tivessem acontecido, em vez de
uma única coisa grande ou talvez não tivessem acontecido coisas pequenas
suficientes para se combinarem em uma
coisa grande.”
Dois trechos do primeiro capítulo
de O Torreão, primeiro romance de
Jennifer Egan e segundo publicado no Brasil. Encantei-me com sua escrita através
do brilhante A visita cruel do tempo
e o capítulo inicial de sua estreia já confirma seu talento, apresentando
enredo e protagonista instigantes e um narrador interessantíssimo, para dizer o
mínimo.
Fiquei pensando sobre o poder de
um início de narrativa, o que antecipa uma série que devo iniciar por estes
dias aqui no blog sobre grandes primeiros parágrafos da literatura mundial.
Fiquem de olho!
Jennifer Egan |
Por Ricardo Pereira
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