"There's a fear I keep so deep / Knew it name since before I could speak (...) If some night I don't come home / Please don't think I've left you alone"- Keep The Car Running, Arcade Fire

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Deixa o Lobo falar! - 50 anos a mil



Com longo atraso, finalmente li a autobiografia de Lobão, 50 anos a mil. Sempre admirei o grande Lobo por sua inteligência e postura polêmica e direta, características em falta no cenário cultural brasileiro. Além, é claro, de suas grandes canções.

Ouvia com gosto seus sucessos dos anos 80, mas comecei a me interessar de verdade por sua obra a partir do álbum de 1995, Nostalgia da Modernidade. Lembro de ter ouvido Lobão tocar uns sambas lindos num programa de rádio ou televisão, não me recordo, e, ao adquirir o disco, fiquei chapado: pareciam sambas de um Paulinho da Viola! E misturados a bons pop-rocks. Gostei também do eletrônico Noite, uma espécie de transição para os dois melhores trabalhos de Lobão, os magníficos A vida é doce e Canções dentro da noite escura. Ali ficava claro que Lobão não parou no tempo e que era o único da geração 80 do rock brasileiro atualizado musicalmente ou com talento (ou coragem) para lançar música nova e instigante e não ficar se repetindo eternamente como seus colegas de geração.

Conheci Lobão em 2004 por ocasião de um show seu na lona cultural de Realengo que acabou não acontecendo por problemas técnicos. Acabei me estendendo no local para tentar trocar meu ingresso e, quando estava saindo, Lobão saía também. Acabamos trocando ideia por bastante tempo, falamos sobre literatura, nosso encantamento pelo Radiohead e Portishead, entre outros assuntos. Fiquei com impressão ainda melhor do cara, atencioso, educado e sóbrio, em nada parecia com a imagem distorcida que até hoje parte da imprensa o impinge.

E é exatamente esta desmistificação uma das grandes qualidades do livro. Lobão conta sua história, pessoal e musical, com a sinceridade que lhe é característica, não poupando ninguém – nem a si mesmo – de pesadas críticas, mas também mostrando sua sensibilidade e doçura, o lado que as pessoas não costumam ter acesso.

O livro é divertidíssimo, daqueles que não se consegue parar, li suas quase 600 páginas em três dias. Repleto de episódios hilários, outros dramáticos, a impressão que se tem, durante a leitura, é de estar conversando com o Lobão num botequim. Embora a maioria dos leitores destaque as polêmicas, o que mais gostei no livro foi a descrição dos bastidores de composição e gravação dos discos e a repercussão deles na imprensa. É bonita também a história de amor entre Lobão e Regina, um relacionamento verdadeiro, raro, em que os dois se ajudam e seguem alimentando a paixão.

Senti falta de um detalhamento maior no período mais interessante e criativo de Lobão, seus álbuns a partir do Nostalgia da Modernidade, são poucas páginas dedicadas a seu melhor material, infelizmente pouco conhecido. Ainda assim, 50 anos a mil é muito bom, extremamente recomendado a todos que se interessam pela música popular produzida no Brasil nas últimas décadas.

Por Ricardo Pereira

Um comentário:

  1. O Lobão é um cara interessante. Confesso que até hoje não ouvi um disco dele. Mas depois de ler isso fiquei com vontade.

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