Nunca fui fã incondicional de Dexter. Apesar de gostar da série desde
seu início, algumas soluções encontradas nos desfechos das temporadas me
traziam certo desconforto. Era como se, num passe de mágica, tudo colaborasse
para que o (anti) herói se safasse dos crimes cometidos e dos que o perseguiam.
Para isso, os roteiristas abusavam de coincidências ou lances de sorte
absurdos.
Mas relevava, pois Dexter é um
grande personagem. Serial killer com espírito “justiceiro”, possuía um código
de ética para matar: a vítima deveria merecer e ele só concretizaria seu ritual
após se assegurar de que o alvo se enquadrava em seus parâmetros. Mas nunca foi
movido apenas por justiça, tinha prazer em assassinar e só assim encontrava paz
de espírito.
O que torna tudo mais
interessante é acompanhar as tentativas de Dexter de parecer “normal”. A série
é conduzida por uma narração feita pelo protagonista, através da qual temos acesso
a seus pensamentos, desejos e reais motivações. E, assim, somos conduzidos a
presenciar um cara desajustado procurando parecer o mais ajustado possível ao
mundo. E, pra melhorar, Dexter trabalha numa delegacia de homicídios!
Há ainda trauma de infância,
relações familiares confusas e interessantes personagens secundários que
sustentam a trama. Deb, a irmã passional, detetive/tenente dedicada e
desbocada; a misteriosa La
Guerta ; o carismático Batista, o desconfiado Doakes.
Ingredientes mais do que suficientes para proporcionar duas primeiras
temporadas excelentes, uma terceira boa e a quarta irretocável, com o melhor
vilão (Trinity, interpretado pelo excelente Arthur Mitchell) e um final
destruidor.
A partir daí é que as coisas
desandam. A quarta temporada havia deixado excelente gancho e o mesmo é
desperdiçado em uma temporada pífia, que indicava os rumos lamentáveis em que a
série se encontra atualmente. Para começar, pouco a pouco, os personagens
começam a ser descaracterizados, como se a cada temporada que começasse muito
do que acompanhamos antes não tivesse mais importância: o que vai importar é o
que vai ser contado nos próximos doze episódios.
E para isso, abdicaram de dois
princípios básicos de qualquer boa narrativa: coerência e verossimilhança. E,
assim, nas últimas três temporadas, situações esdrúxulas vão se sucedendo,
personagens inúteis entram e saem da trama de qualquer maneira e a narração da
série por Dexter tornou-se redundante e, muitas vezes, idiotizante, como a
duvidar da inteligência do espectador, em explicações tatibitate
desnecessárias.
O razoável sexto ano da série
havia deixado em seu final uma esperança de que as coisas poderiam ser
revertidas, mas a confusa sétima temporada enterrou (o mais adequado talvez
fosse jogou ao mar) qualquer boa expectativa para a continuidade. Deb, que
pouco a pouco foi se tornando uma de minhas personagens preferidas do seriado,
apagou-se quase completamente e Dexter
passou do prazo de validade.
Continuo assistindo pelo carinho
desenvolvido no decorrer da série e para saber de que forma vão concluir a
história que acompanho por tanto tempo. Mas, a cada um dos últimos episódios
assistidos, a sensação era de presenciar o seriado enrolado em plástico,
nauseado, esperando a estocada final que o redimisse dos pecados recentes.
Por Ricardo Pereira
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