"There's a fear I keep so deep / Knew it name since before I could speak (...) If some night I don't come home / Please don't think I've left you alone"- Keep The Car Running, Arcade Fire

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Sobre o tempo – Fita 2016

Duas peças encenadas na terça-feira, 7 de junho, na 12ª edição da Festa Internacional de Teatro de Angra – Fita, versaram sobre o tempo. A primeira, às 19h30, Vianinha conta o último combate do homem comum, presenteia o público com a tocante história de Souza e sua mulher, um casal na terceira idade que se vê às voltas com a possibilidade de ter que sair da casa onde sempre moraram por conta de obstáculos de cunho financeiro. Eles vão buscar nos filhos uma saída para a preocupante situação, e por conta disso, encontram problemas ainda mais complexos.

O texto de Oduvaldo Vianna Filho lança luz não apenas à questão dos desafios e questionamentos dos idosos, mas também sobre os conflitos familiares e as dificuldades de lidar com os diferentes “tempos” de cada um. Além de contar com um elenco muito bem entrosado e com uma fundição perfeita entre humor e drama, o grande mérito da peça é instigar a reflexão de cada um sobre o assunto tratado. Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais? Até o fim?


Vianinha conta o último combate do homem comum


Mais tarde, às 22h, o ator Roberto Bomtempo subiu ao palco do Teatro Municipal de Angra dos Reis para a apresentação da peça Plínio – A história do maldito bendito, um espetáculo que conta a vida e a trajetória profissional / teatral de Plínio Marcos, um dos grandes renovadores do cenário teatral brasileiro. Considerado maldito por conta das temáticas e das personagens utilizadas em suas obras, Plínio teve sucessos estrondosos e fracassos retumbantes, mas nunca abaixou a cabeça para nada. Críticas pesadas, ditaduras, falta de dinheiro, censura... Nada disso era capaz de abater o autor, interpretado – e defendido – com dignidade por Bomtempo.


A reflexão sobre os tempos de Plínio nesta vida termina de uma forma belíssima. Roberto / Plínio relembra quando, sem lugar para dormir em São Paulo, é ajudado por uma pessoa que estava no mesmo bar que ele. O homem permite que, temporariamente, ele passe as noites de um terrível inverno na coxia de um teatro. Instalado no local, Plínio se deita e, antes de dormir, lembra-se de todas as valorosas e também simples pessoas que passaram por sua vida, dando a entender que, assim como eles, também não vai desistir de lutar.


Plínio fecha os olhos e tudo escurece. A vida continua. Ele vive.


Plínio - A história do maldito bendito (foto por Eduardo Tarran)


Por Hugo Oliveira

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