Rob Fleming, personagem do livro “Alta fidelidade”, de Nick Hornby.
“(...) Algumas das minhas canções favoritas: “Only Love Can Break Your Heart”, de Neil Young; “Last Night I Dreamed That Someboby Loved Me”, dos Smiths; “Call Me”, com Aretha Franklin; “I Don’t Want To Talk About It”, com qualquer um. E há também “Love Hurts” e “When Love Breaks Down” e “How Can You Mend A Broken Heart” e “The Speed Of The Sound Of Loneliness” e “She’s Gone” E “I Just Don’t Know What To Do With Myself” e… algumas destas canções eu ouvi cerca de uma vez por semana, em média (trezentas vezes no primeiro mês, e de vez em quando depois disso), desde os dezesseis ou dezenove ou vinte e um anos de idade. Como é que isso pode não deixar você magoado de alguma forma? Como é que isso pode não transformá-lo no tipo de pessoa passível de se quebrar em pedacinhos quando seu primeiro amor dá todo errado? O que veio primeiro, a música ou a dor? Eu ouvia música porque estava infeliz? Ou estava infeliz porque ouvia a música? Esses discos todos transformam você numa pessoa melancólica? As pessoas se preocupam com o fato das crianças brincarem com armas e dos adolescentes assistirem a vídeos violentos; temos medo de que assimilem um certo tipo de culto à violência. Ninguém se preocupa com o fato das crianças ouvirem milhares – literalmente milhares – de canções sobre amores perdidos e rejeição e dor e infelicidade e perda. As pessoas afetivamente mais infelizes que conheço são as que mais gostam de música pop; e não sei se foi a música pop que causou tal infelicidade, mas sei que elas vêm ouvindo as canções tristes há mais tempo do que vêm vivendo suas vidas infelizes”.
Tom Hansen, personagem de Joseph Gordon-Levitt em “500 dias com ela”, grosso modo, desabafando sobre os cartões postais que eram feitos na empresa em que ele trabalhava.
“(...) E esse, com os corações bonitinhos? Acho que sei que tipo de cartão é esse. ‘Feliz dia dos namorados, docinho. Eu te amo’. Não é lindo? O amor não é ótimo? É exatamente disso que estou falando. O que isso significa, amor? Você sabe? Você? Alguém? Se alguém me desse esse cartão, Sr. Vance, eu o comeria. São esses cartões, os filmes e as músicas pop, eles são os culpados por todas essas mentiras e pela dor, por tudo. Nós somos responsáveis. Eu sou responsável. Acho que nós fazemos uma coisa ruim aqui. As pessoas deveriam poder dizer como se sentem, como realmente se sentem, e não, como vocês sabem, usar palavras que um estranho coloca em suas bocas. Palavras como amor, que não significam nada”.
Tradução da música “Sad Songs”, de Elton John.
Canções tristes
Acho que, às vezes, todos precisamos compartilhar nossas dores
E ajustar os pontos difíceis
É a pior parte quando as memórias permanecem
E é em momentos como esse que precisamos ouvir o rádio
Pois dos lábios de algum cantor antigo
Nós podemos compartilhar os problemas que já conhecemos
Ligue, ligue
Ligue naquelas músicas tristes.
Quando toda esperança se for
Por que você não sintoniza e liga?
Elas penetram dentro seu quarto,
Apenas sinta seu toque gentil.
Quando toda esperança está acabada,
Canções tristes dizem tanto...
Se alguém mais está sofrendo o suficiente para por isso no papel,
Quando cada simples palavra faz sentido,
Então fica mais fácil ter aquelas canções por perto
O impulso interior está naquela frase que conquista você
E parece tão bom se magoar tanto
E sofrer apenas o suficiente para cantar as tristezas...
Canções tristes, elas dizem...
Canções tristes, elas dizem...
Canções tristes, elas dizem...
Canções tristes, elas dizem tanto...
Acredito que, de uma forma ou de outra, todas as citações inclusas nesta postagem têm ligação com o ótimo texto do Ricardo, intitulado “Não adianta”.
Se seríamos mais felizes hoje, se conseguiríamos levar o mundo de forma mais leve, se pensaríamos menos, enfim, se aproveitaríamos mais a vida estando longe da cultura pop? Acho que teremos que conviver com a dúvida. Não dá para voltar atrás. Somos aquilo que nossos pais, familiares e amigos nos ensinaram, mas também somos o que lemos, ouvimos e assistimos. Logo, mesmo se fizéssemos um “regime pesado”, essas músicas/filmes/livros continuariam lá, no nosso corpo, como um punhado de pele flácida. A sorte é que não estamos sozinhos nessa. Não estamos sozinhos em estar sozinho nesse mundão cruel.
Por Hugo Oliveira
Ei, é uma camisa do Joy Division? Isso não é um bom sinal... |
Isso aí, cara, ilustrou perfeitamente o que quis dizer! E esse trecho do 'Alta Fidelidade' é foda!
ResponderExcluirAbs
Acreditando na Badabauisse, Hugo consegue transccender a boiolidade genética e dá uma salto à sensibilidade poética que lhe é característica, depois de um festival de teatro apaixonante.
ResponderExcluirPArabéns Hugo.
FAzendo Blog Hein !!!! Quem diria ! Vou fazer um com o Chiquiho
KKKKKKKKKKKKKKKKKK... Porra, Léo: esse comentário foi melhor do que qualquer uma de suas poesias!
ResponderExcluirHugo e Ricardo,
ResponderExcluirApós ler os textos de vcs dois, fiz um comentário mixando informações do texto de um e do outro. Não foi intencional, na verdade foi um furo, me desculpem, mas de certa forma, ainda que inconscientemente, captei um possível link entre os textos lidos, já que ambos, em algum momento, falam da música e das suas influências em suas vidas... e na vida de todos nós.
Acho que captei a afinidade entre vocês dois...rsrs...
Lindos os textos! Bjs
É isso mesmo, Eugênia. Os textos acabam realmente se mixando. Obrigado por ler... Sua opinião é muito importante. Beijão!
ResponderExcluirHUgo, realmente esse texto foi bem legal, porém não entendi até agora onde entra o filme do RAmbo ? Onde se encontra Ulisses Guimarães ? enfim, diversas questões importantes, como o show do Green Day foi importante na sua vida sexual ? são coisas que só você sabe no seu fundo do íntimo !
ResponderExcluirBAdabaueira danada !!!!!!