Este blog, como o próprio título faz alusão, veio ao mundo para que eu e meu amigo, Ricardo Pereira, falemos sobre nossas paixões. Uma delas, indiscutivelmente, é a música. Meu primeiro texto no “Talking about the passion” versa sobre o retorno da banda americana Green Day ao Brasil, mais precisamente, ao Rio de Janeiro. No dia 15 de outubro, quase 12 anos depois da primeira passagem do trio pop/punk pela capital carioca, Billie Joe – guitarra e voz –, Mike Dirnt – baixo – e Tré Cool – bateria –, voltaram à Barra da Tijuca para uma apresentação tão agitada quanto milimetricamente ensaiada. Eu estava no antigo Metropolitan naquele 6 de novembro de 1998; também marquei presença no HSBC Arena, numa agradável sexta-feira. O que mudou? Muitas coisas. Eu, principalmente.
Flashback, por favor!
1998: Hugo Oliveira morava em Angra dos Reis. Era auxiliar de serviços gerais naquela época. Trabalhava na drogaria Farmasim, localizada no centro. Ganhava uns R$ 200,00 – era pouco. Tinha 20 anos. Era vocalista da banda de punk rock Malkavianos. Pesava uns 60 quilos. Usava brincos nas duas orelhas. Havia acabado de romper com a namorada. Amigos inseparáveis: Gláucio, Squitch e Rafael Ramones. Foi ao show de carro, de carona com amigos. Usava uma camisa com a capa de “Dookie”, 3º disco do Green Day. Antes da apresentação, perambulou pelo Barra Shopping e comprou o CD – importado – “Meat is Murder”, do grupo inglês The Smiths. Assistiu ao show na pista, bem perto do palco. Não bebeu uma gota de álcool. Teve medo de tomar porrada no começo. Dançou durante quase toda a performance da banda. Músicas prediletas no show: She, Basket Case, When I Come Around, Nice Guys Finish Last, Hitchin a Ride e Good Riddance (Time of Your Life), sendo que a última fechou a apresentação. Voltou encharcado de suor. Teve uma forte cãibra na volta. Não dormiu quase nada, mas teve histórias para contar no trabalho.
Voltando ao presente
2010: Hugo Oliveira mora em Angra dos Reis. É jornalista e ainda faz uns bicos como discotecário. Trabalha na subsecretaria de Comunicação do município, localizada no centro. Recebe quase dez vezes mais do que ganhava – é pouco. Tem 32 anos. Não canta em nenhuma banda. Pesa 87 quilos. Tem marcas de brincos pelo corpo. Completou recentemente quatro anos e 11 meses de namoro. Amigos inseparáveis: Ricardo e Pedro. Para chegar ao show pegou táxi, barca, metrô e ônibus do metrô – integração –, acompanhado de amigos e da namorada. Usava uma camisa polo preta com listras coloridas – com uma insígnia de rato. Antes da apresentação, se apressou para ir ao bar e comprou algumas fichas de bebidas. Assistiu ao show da arquibancada superior, bem longe do palco. Bebeu quase dois litros de álcool. Viu uma briga de longe, no começo. Agitou pouco o corpo durante a performance da banda. Músicas prediletas no show: She, Basket Case, When I Come Around, Nice Guys Finish Last, Hitchin a Ride e Good Riddance (Time of Your Life), sendo que a última fechou a apresentação. Voltou com fome. Tirou uma bela soneca ao retornar. Dormiu muito, e quase não fez menção ao show no trabalho.
Conclusões
O tempo é agridoce. Faz rir e chorar, igualzinho ao show do Green Day. Sim, porque é engraçado ver uma banda que começou baseada no punk à Husker Dü/Buzzcocks se profissionalizar de tal forma que acaba parecida com, sei lá, o Kiss – grupo de rock clássico dos anos 70. Explosões no palco, poses e pulos ensaiados, cabelos estrategicamente desgrenhados... Isso sem contar com o número de integrantes, que praticamente dobrou – músicos de apoio. A música, infelizmente, é o de menos agora. Não que eu não soubesse que imagem é tudo, mas algo mudou. Isso não impediu que eu presenciasse momentos ainda emocionantes, como o já citado número final, “Good Riddance (Time of Your Life)”. A letra da música, um pequeno achado sobre a perda da inocência, fala sobre a passagem do tempo. Sobre se tornar adulto e ter que conviver com as inesquecíveis memórias da juventude.
Um dos meus amigos inseparáveis, o Pedro, estava do meu lado no momento em que a canção foi apresentada. Ele me ouviu cantar um pedaço da música e, de pronto, juntou as mãos, como se fosse um microfone, apontando-o em minha direção.
Eu balancei a cabeça e sorri, meio sem graça. Não cantei.
Aquele cara magrelo, com brincos na orelha e com a camisa do “Dookie”, cantaria.
Pena que ele não estava mais lá.
Por Hugo Oliveira
O trio (?) punk/pop (?) Green Day: temos todo o tempo do mundo? |
Eu tava lá no show em 1998 e, embora goste do meu amigo Hugo com seus atuais 27 kilos a mais, sinto falta dos Malkavianos e dos jovens que éramos.
ResponderExcluirDá-lhe nostalgia.
E por que você não cantou? A pessoa em que nos transformamos ao longo da vida não aparece de repente, ela vai se formando conforme vamos fazendo nossas escolhas. A maioria acha que "se tornar adulto" simplesmente é trabalhar, ganhar dinheiro e montar uma família. Tá, concordo com essa parte, mas que tipo de "adulto" você quer ser? Eu me esforço para não perder minhas características mais marcantes, e as que me fazem mais feliz. Quero ter dinheiro e família sim, mas não quero nunca deixar de ser "Nina". Então, porque você não cantou??
ResponderExcluirOi, Nina! Tudo bem? Quanto tempo, hein? Olha: eu não cantei porque não senti vontade. Concordo quando você diz que "a pessoa em que nos transformamos ao longo da vida não aparece de repente". É justamente sobre isso que eu estava falando. Por mais que a gente tente manter a nossa essência, também passamos por mudanças, sejam elas sutis ou radicais. É bem provável que, há 12 anos, eu tivesse cantado. Mas hoje, 12 anos depois, eu não quis cantar. Não foi um gesto de arrogância ou de negação em relação a tudo o que me influenciou e continua me influenciando. Foi só uma constatação de que eu mudei. De que tudo mudou. Beijão!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMudar é bom. Aliás é fundamental. E inevitável também. Costumamos olhar o passado com nostalgia e apego. Melhor quando a saudade e o desprendimento estão em equilíbrio. Precisamos continuamente deixar coisas para trás, para nos abrir para o novo. Eu não gostaria de ser a Amanda de 12 anos atrás. (Aliás, a adolescência é o período mais cretino da vida do ser humano) Robert Smith falava que não gostaria de chegar aos 40 anos cantando "Boys don't cry". E todos nós, que estamos próximos dos 30, sabemos que a vida é muito mais que a red guitar, three chords and the truth.
ResponderExcluirAh, esqueci de dizer.
ResponderExcluirHugo, que bom que vc não cantou!